quinta-feira, 7 de maio de 2020

Com curva de casos em alta, ministro prevê lockdown pelo país e OMS alerta sobre fim precipitado de isolamento

Foto: Reprodução
Ministro da Saúde fala em bloqueio total após Brasil registrar 615 mortes e 10.503 casos em 24 horas. Capitais de quatro estados já adotaram medida mais rígida de isolamento. São Paulo e Rio avaliam opção. Percentual de pacientes recuperados também diminui.

elo segundo dia consecutivo, o Brasil bateu recorde ao confirmar o maior número de mortes pelo novo coronavírus de um dia para outro. Com um acréscimo de 615 óbitos, o total oficial de vítimas da covid-19 no Brasil subiu de 7.921 para 8.536. O número oficial de casos confirmados da doença no país passou de 114.715 para 125.218, sendo 10.503 novos casos registrados entre terça e quarta-feira.

Diante dos números cada vez mais acentuados, o ministro da Saúde, Nelson Teich, que assumiu a pasta com o objetivo de aproximá-la do posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, admitiu pela primeira vez a possibilidade de lockdown nas cidades mais afetadas pelo vírus. Dos 9 estados que, juntos, concentram 90% das mortes no país, quatro já anunciaram bloqueio total e o restante cogita adotar a medida.

“Vai ter lugar em que o lock-down é necessário, vai ter lugar em que eu vou poder pensar em flexibilização. O que eu preciso é que a gente pare de tratar isso de uma forma radical, até para que a gente tenha a tranquilidade de poder implementar as medidas em cada lugar do país onde a melhor coisa vai ser feita naquela situação”, afirmou Teich. O ministro pediu para que a polarização e a discussão política sobre o isolamento sejam deixadas de lado nesse momento.

“É importante que a gente discuta as estratégias de acordo com a situação de cada lugar para que a gente não generalize ser a favor ou contra o lockdown. Ele vai ser importante nas cidades em que a situação estiver muito difícil, com incidência alta, alta ocupação de leitos, número crescente de pacientes chegando nos hospitais, infraestrutura que não conseguiu se adaptar”, explicou.

São 10 unidades da federação que já registram mais de 100 mortes: São Paulo (3.045), Rio de Janeiro (1.205), Ceará (848), Pernambuco (803), Amazonas (751), Maranhão (291), Pará (392), Bahia (160), Espírito Santo (145) e Paraná (101). Juntos, esses estados somam 7.741 mortes, ou seja, 90% dos óbitos no Brasil.

Nesta semana, capitais de quatro dos 10 estados passam a adotar isolamento social obrigatório, com imposição de multa e até prisão para quem sair na rua sem justificativa. O restante aponta para o mesmo caminho. Após São Luís do Maranhão, Fortaleza, Salvador e Belém anunciarem a forma mais rígida de distanciamento social, o prefeito de São Paulo disse considerar o regime como opção em breve para frear o avanço do novo coronavírus.

Pressão no Rio

Enquanto isso, o Ministério Público do Rio de Janeiro pressiona autoridades a implantarem o bloqueio total no estado. O argumento é de que a medida “é eficaz para a redução da curva de casos e dá tempo para reorganização do sistema em situação de aceleração descontrolada de casos e óbitos. Os países que implementaram, conseguiram sair mais rápido do momento mais crítico”. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encaminhou um relatório ao MPRJ com os estudos técnico-científicos que embasam o posicionamento da instituição.

O governador Wilson Witzel se pronunciou, dizendo que avalia a implementação. Já a prefeitura do Rio anunciou lockdown parcial, focado nas grandes zonas de circulação onde a população não está respeitando as orientações. Calçadas inteiras devem ser interditadas a partir de hoje, ficando o monitoramento a cargo da polícia municipal. Serviços essenciais não devem ser afetados.

No Amazonas, o MP fez apelo semelhante ao governador e prefeitos. Foi protocolada uma ação civil pública solicitando que o estado adote as medidas que configuram o lock-down por dez dias, com possibilidade de prorrogação. A 1ª Vara da Fazenda Pública indeferiu o pedido inicial, mas a medida será discutida entre os governantes. Na avaliação do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, a medida é arriscada e deveria ser levada a uma reunião mais ampla. “Sugiro adotarmos medidas mais rígidas que forcem a adesão das pessoas ao isolamento social, sem a decisão extrema e arriscada do lockdown”, disse.

Após ver de perto a situação crítica vivenciada no Amazonas, o ministro da Saúde, Nelson Teich, comunicou que pretende incorporar à agenda a rotina de visitas aos locais mais afetados do país. “No início, vamos focar naquelas (cidades) que estão com mais problemas. Vamos trabalhar, também, as cidades que potencialmente podem evoluir para uma situação mais delicada”, pontuou. O objetivo é conseguir se aproximar das demandas e entender de que forma podem ser sanadas de forma mais rápida e efetiva possível.

Novo patamar

Pela primeira vez desde o início da pandemia, o país atingiu o patamar de mais de 10 mil casos confirmados em um único dia. Ontem, o balanço do Ministério da Saúde registrou 10.503 casos, chegando a 125.218. o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira.

Enquanto a curva dispara em relação ao aumento de casos e mortes, o percentual de pessoas recuperadas diminui. São 51.370 pacientes curados, o que representa 41% do total de infectados. Duas semanas atrás, o índice era de 54%.

Nesse contexto, o Brasil observa uma ocupação cada vez maior de leitos de UTI em hospitais do país. Na cidade de São Paulo, a taxa de ocupação reservada para atendimento à covid-19 é de 86,6%. No Rio de Janeiro, o índice fica em torno de 97% no SUS. As duas capitais somam o maior número de casos confirmados e de mortes no Brasil.  

Bloqueio total

Confira como está a situação dos 10 estados que, juntos, concentram 90% das mortes por covid-19 no Brasil

Onde foi decretado

Maranhão (São Luís)
Ceará (Fortaleza)
Pará (10 municípios)
Bahia (Salvador)

Onde é cogitado

Rio de Janeiro
São Paulo
Pernambuco 
Amazonas
Espírito Santo
Paraná


OMS alerta sobre fim precipitado de isolamento


Diretor diz que transições devem ser feitas com muito cuidado

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, alertou, nessa quarta-feira (6), sobre os riscos de ser necessário retornar ao confinamento, caso os países que estejam deixando as restrições para combater a pandemia de coronavírus não administrem as transições “com muito cuidado e em uma abordagem em fases”.

Ele listou uma série de medidas necessárias antes que os países afrouxem medidas destinadas a controlar a propagação da covid-19, doença respiratória do provocada pelo coronavírus, como controles de vigilância e preparação do sistema de saúde.

“O risco de retornar ao bloqueio permanece muito real se os países não administrarem a transição com muito cuidado e com uma abordagem em fases”, afirmou ele em um briefing online em Genebra.

Tedros, que chegou a ser criticado pela forma de lidar com o surto, disse que fará uma análise da resposta dada pela agência, mas que vai aguardar até que a pandemia recue.

“Enquanto o fogo está aceso, acho que nosso foco não deve ser dividido”,afirmou.

O diretor defendeu o protocolo da OMS de alerta sobre o potencial de transmissão de pessoa para pessoa do novo coronavírus, lembrando que informou o mundo disso no início de janeiro.

A organização, com sede em Genebra, tem sido acusada pelo seu principal doador, os Estados Unidos (EUA), de ser “centrada na China”. Os EUA têm cortado o financiamento ao órgão.

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, vem afirmando que tem “evidências” de que o novo coronavírus surgiu em um laboratório em Wuhan, na China, enquanto os cientistas têm informado à OMS que a origem é animal.

Fonte: oimparcial / Via Correio Braziliense / Ag. Brasil


Não é o momento de relaxar o isolamento social