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quinta-feira, 18 de abril de 2024

PEC das drogas deve piorar índices de violência, alertam especialistas

Imagem: reprodução

Em retaliação ao Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado aprovou, na última terça-feira (17), a PEC apresentada pela oposição que inclui a criminalização expressa das drogas no artigo 5º da Constituição, trecho destinado à definição das liberdades individuais. A proposta, de acordo com especialistas, pode resultar na piora dos índices de criminalidade tanto por ação de facções criminosas quanto por truculência policial.

A proposta foi uma resposta direta ao Senado ao julgamento que ocorre no STF, onde se discute a descriminalização do porte da maconha, e que caminha na direção de permitir ao usuário carregar até 10g consigo. A oposição na Casa considerou a possibilidade como uma afronta ao Poder Legislativo, tese que foi abraçada pelo presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

De acordo com o advogado Gabriel Sampaio, diretor de Litigância e Incidência da ONG Conectas Direitos Humanos, a proposta, agora enviada à Câmara dos Deputados, representa um sério risco em especial para a população negra e periférica. “Ela é grave justamente porque essa criminalização, na forma do Art. 5º, está estigmatizando a população usuária, está trazendo à porta de entrada do sistema de justiça criminal pessoas que merecem a atenção da saúde pública”, apontou.

O especialista ressalta que a PEC pode agravar um dos problemas resultantes da Lei de Drogas de 2006, tema da ação que corre no Supremo. “A PEC preserva a adoção de aspectos muito subjetivos para diferenciar a pessoa usuária da pessoa traficante. A experiência demonstrou, pelo retrato do sistema penitenciário, que os mais afetados por essa subjetividade são as pessoas pobres e periféricas, que acabam sempre sendo consideradas como envolvidas em uma atuação criminal mais grave e classificadas como traficantes”.

A proposta também preocupa o líder do governo na Comissão de Segurança Pública na Câmara dos Deputados, Henrique Vieira (Psol-RJ). Ele chama atenção para o impacto da criminalização das drogas sobre o sistema prisional. “A proibição, hoje, é o principal dispositivo jurídico e policial para provocar o encarceramento em massa e a letalidade”. O encarceramento em larga escala acaba por beneficiar facções criminosas como PCC e Comando Vermelho, que utilizam a precariedade dos presídios como instrumento de obtenção de novos membros em troca de amparo.

O parlamentar acrescenta que não há contrapartida em termos de efeitos no atual modelo de proibição de drogas. “É uma política hipócrita: você não diminui o uso abusivo, não amplia a rede de atenção psicossocial para socorrer e ajudar essas pessoas e a execução se dá no varejo, com ações policiais acontecendo nas favelas enquanto o mercado internacional bilionário que envolve evasão de divisas, lavagem de dinheiro e tráfico de armas fica intocado”, alertou.

Gabriel Sampaio também destacou esse aspecto da criminalização das drogas. “A guerra às drogas retira um tempo precioso e recursos preciosos da atuação das forças policiais e do sistema de justiça criminal, que poderiam ser utilizados para enfrentar o grande tráfico, para lidar com as facções criminosas”.

De acordo com o Ministério da Justiça, até o final de 2023, cerca de 193 mil pessoas se encontravam presas por tráfico de drogas ou por associação ao tráfico, descartados os envolvidos em tráfico internacional de drogas. Esse número representa 29% de toda a população prisional brasileira.

Outra possível consequência da constitucionalização da criminalização de drogas que preocupa o jurista Gabriel Sampaio é o risco de piora nos índices de violência cometida por policiais. “Por meio da Constituição, se está reforçando até uma obrigação aos agentes públicos, às forças policiais, em ter que abordar a pessoa usuária e levar ao sistema de justiça criminal. Acaba sendo uma resposta nada inteligente, vai ocupar os agentes da polícia e do Judiciário para tratar de um problema que seria muito melhor resolvido pela saúde pública”.

Experiência internacional

De acordo com e consultor em segurança pública e pós-doutor em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Marcos Rolim, a constitucionalização da proibição das drogas segue na contramão da experiência internacional sobre o tema, em especial ao se tratar da maconha, que segue em processo de legalização em diversos países do mundo.

Ele ressalta que a política de guerra às drogas começou nos Estados Unidos, onde diversos estados já abriram mão dessa abordagem justamente para resolver o problema da superlotação de presídios. “Cada vez mais, o esforço de boa parte dos estados americanos é direcionado à redução do número de presos. A simples legalização da maconha em estados como Califórnia e Colorado significou um conjunto muito amplo de pessoas libertadas, até então condenadas pelo posse da maconha”, relatou.

Essa legalização, de acordo com o professor, não afetou os índices de criminalidade, que permaneceram os mesmos de antes. Houve melhora, porém, em outros aspectos socioeconômicos. “Se observou, por exemplo, o aumento na receita desses estados, que passaram a arrecadar com a tributação sobre a cannabis e seus derivados”.

Metade dos estados americanos, incluindo alguns dos mais desenvolvidos como Califórnia, Massachusetts e Nova York já legalizaram o uso recreativo da cannabis. O porte também é permitido no Canadá, Uruguai, Países Baixos e outros países da União Europeia. O caso mais recente foi na Alemanha, que aprovou a legalização do porte de até 25g de maconha no início de abril.

Por Lucas Neiva


Fonte: congressoemfoco


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terça-feira, 9 de abril de 2024

Entenda como a campanha de Elon Musk contra Alexandre de Moraes pode beneficiar a extrema-direita

Foto: reprodução

A campanha promovida pelo empresário sul-africano Elon Musk contra as decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinando o bloqueio de perfis de alvos do inquérito das milícias digitais no Twitter pode surtir efeito sobre o comportamento de eleitores na disputa municipal de 2024. De acordo com especialistas, o atrito entre o bilionário e o Judiciário pode se converter em combustível para a mobilização do eleitorado de extrema-direita.

De acordo com o analista legislativo e doutor em filosofia André Sathler, há uma simpatia natural entre a extrema-direita brasileira e o discurso de Elon Musk. “Ele se posiciona contra o STF em defesa de uma espécie de liberdade de expressão irrestrita, que é uma das principais bandeiras adotadas pelos bolsonaristas”, esclareceu. Ao acusar Moraes de praticar a censura contra aliados de Jair Bolsonaro, Musk acaba mobilizando essa parcela de eleitores.

Para além da discussão sobre liberdade de expressão em si, Elon Musk ameaçou descumprir deliberadamente as decisões da justiça brasileira, tensionando a disputa em direção à possibilidade de um fechamento, mesmo que temporário, de sua plataforma no Brasil. “Se fechar o Twitter, no ponto de vista da liberdade de expressão, vai ter muita gente se queixando”, apontou. Uma decisão nesse sentido também comprometeria a própria credibilidade do inquérito das milícias digitais, que já é alvo de questionamentos de diversos atores políticos dada a sua longa duração.

Por outro lado, Sathler considera esse tensionamento arriscado para a própria extrema-direita diante da dependência desse grupo político na plataforma. “Apesar das diversas tentativas de se criar um canal de comunicação próprio, o Twitter nunca deixou de ser o ambiente de maior repercussão da extrema-direita. Se a situação evoluir ao ponto de um fechamento, mesmo que temporário da plataforma, a comunicação deles sai perdendo”, relembrou.

Independente do conflito resultar ou não no encerramento da plataforma, a campanha de Musk garantiu, intencionalmente ou não, o acirramento da polarização nas eleições municipais, o que também beneficia a extrema-direita. Breno Guimarães, sócio do escritório de relações governamentais Impetus, ressalta que a tendência para outubro é de uma disputa “extremamente nacionalizada” e atrelada “à emoção dos eleitores”, aumentando assim o impacto de discussões sobre temas caros à sociedade como a liberdade de expressão.

Interesse local

A comunicóloga Letícia Oliveira, especialista em monitoramento de grupos de extrema-direita, ressalta que os ataques de Musk acontecem em um momento de maior interesse de lideranças da extrema-direita fora do país em assuntos domésticos.

“Há um esforço para desestabilizar as instituições brasileiras para obstruir uma eventual condenação de Bolsonaro na justiça. As declarações de Elon Musk vieram após um esforço de figuras como Benjamin Netanyahu em descredibilizar o atual governo na discussão em torno da guerra na Palestina e até mesmo do governo húngaro ao abrigar o ex-presidente na embaixada”, apontou.

Ela acrescenta que ações do tipo tendem a se intensificar na medida em que se aproximam as eleições presidenciais nos Estados Unidos, onde o ex-presidente Donald Trump tenta consolidar e proteger seus principais aliados internacionais, incluindo potenciais candidatos em países da área de interesse dos Estados Unidos.

Regulamentação das redes

Além de alimentar pautas de interesse da extrema direita, o atrito entre Musk e Morais trouxe um novo fôlego à discussão ao redor do PL 2630/2020, conhecido como PL das Fake News, projeto apoiado pelo governo como proposta de regulamentação das redes sociais. Em entrevista à Globo News, o relator Orlando Silva (PCdoB-SP) chegou a anunciar que trataria do tema novamente com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para pautar o projeto em plenário.

O governo também intensificou as cobranças para que o texto seja votado, havendo manifestações tanto do líder da bancada na Câmara, José Guimarães (PT-CE), quanto do secretário de Relações Institucionais do Planalto, Alexandre Padilha, a respeito. A executiva nacional do PT também se pronunciou ressaltando a necessidade de se regulamentar as plataformas de rede social para evitar novos ataques à soberania por proprietários estrangeiros.

Apesar do reavivamento da discussão, o cientista político André Pereira César considera pouco provável que o projeto consiga ser aprovado em decorrência dos ataques de Elon Musk. “Sem dúvida, a conduta dele se transforma em um combustível para a argumentação em prol do projeto. Mas é importante afirmar que o governo ainda tem uma base pouco comprometida com questões sensíveis como essa, e até o momento, não houve manifestação dos partidos que formam essa base. Sem esse posicionamento, me parece pouco provável ver esse projeto aprovado no Congresso Nacional”, explicou.

Por Lucas Neiva


Fonte: congressoemfoco


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quinta-feira, 4 de abril de 2024

Deputado italiano relata horror na Faixa de Gaza: “amputam perna com arame”

Imagem: reprodução

Com início em outubro de 2023, a guerra entre Israel e o Hamas já dura 174 dias. Quase seis meses depois, o que se vê na região é horror, segundo o deputado italiano Angelo Bonelli em entrevista ao Congresso em Foco.

Segundo Bonelli, ao menos 1.500 caminhões de ajuda humanitária chegaram a ficar retidos por Israel na barreira de acesso à cidade de Rafah, na Faixa de Gaza, com o Egito, “em uma fila interminável” de caixas enviadas por diversos países. Com isso, a situação para crianças e pessoas feridas se agravou, segundo ele.

“Existem crianças morrendo de fome e falta de água, com os caminhões com farinha e água parados”, disse Bonelli. “Eu conversei com muitos doutores, cirurgiões e eles me falaram que não têm anestésico para fazer cirurgias. Amputações de pernas são feitas com arame farpado. Não tem nada, não tem medicamentos, instrumentos sanitários, anestésicos. É uma situação indescritível”.

Bonelli fez parte de uma comitiva de 14 deputados italianos que esteve, no início de março, na região. Segundo ele, mesmo itens básicos para atendimento médico foram parados na fronteira de Gaza.

“Não tem nada, não tem medicamentos, instrumentos sanitários, anestésicos. É uma situação
indescritível”, diz Angelo Bonelli. Foto: Reprodução/Instagram

Entre os caminhões de ajuda humanitária barrados, estão 30 caixas com filtros de água e freezers enviadas pelo Brasil como ajuda humanitária às vítimas dos bombardeios na Faixa de Gaza. Veja aqui a ajuda humanitária barrada. “Fui na tenda da Cruz Vermelha no lado egípcio onde fica as cargas humanitárias rejeitadas. Nessa tenda tem muitas caixas do Brasil”, disse Bonelli. O parlamentar italiano fala português fluentemente, resultado do período em que morou em Santarém (PA).

Brasil e Israel vivem uma crise diplomática desde que o presidente Lula (PT) acusou Israel de promover um genocídio, e o governo de Benjamin Netanyahu, em resposta, chamou o embaixador brasileiro em Tel-Aviv e declarou o petista “persona non grata“.

De acordo com o Itamaraty, Israel dá justificativas técnicas para não entregar os kits, entre elas o fato de que a energia solar que mantém os filtros em funcionamento representam um risco para a segurança israelense. O argumento é que as pequenas placas poderiam ser utilizadas pelo Hamas.

O governo brasileiro, no entanto, questiona a escolha de Israel de barrar a ajuda humanitária. Segundo o ministro Mauro Vieira, há uma estimativa de que 15 mil toneladas de itens estejam paradas na fronteira. “Sem sombra de dúvidas, o bloqueio à ajuda humanitária consiste em uma violação do direito internacional”, disse o ministro ao Senado nesta semana.

Para Bonelli, não é necessário fazer comparações com a Segunda Guerra Mundial ou com o Holocausto sofrido por judeus durante o governo nazista da Alemanha. Para ele, é claro que o que está acontecendo contra palestinos é um crime contra a humanidade

“Não preciso fazer comparação com o passado. É analisar o que está acontecendo agora, que é um genocídio. É uma política que está procurando um genocídio“, disse Borelli. O deputado europeu destacou ainda que falas nesse sentido não são um ataque aos judeus. “Não é uma responsabilidade do povo de Israel, mas do governo de Netanyahu”.

Desde que o Hamas atacou Israel, deixando mais de 1.400 pessoas mortas e sequestrando outras 240, mais de 30 mil pessoas foram mortas e cerca de 72 mil ficaram feridas na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde da Palestina.

Um dos momentos que classifica o momento atual como um crime contra a humanidade foi o chamado “massacre da farinha”, quando cerca de 120 pessoas morreram e outras 750 ficaram feridas em meio a um bombardeio sobre a população civil da Palestina, que fazia fila para receber ajuda humanitária.

Fonte: congressoemfoco


terça-feira, 12 de março de 2024

Alessandro Vieira cobra Pacheco por permitir que Lira amplie poder da câmara

 

Foto: reprodução

Congresso em Foco Podcast recebeu, para seu terceiro episódio, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE). Delegado da Polícia Civil de Sergipe, Vieira foi eleito em 2018 e ganhou notoriedade na CPI da Covid-19, na qual sua postura técnica enquanto investigador lhe rendeu a alcunha de “Delegado da CPI”. Buscando não se limitar a interesses ideológicos nem do governo e nem da oposição, o senador ganhou notoriedade por cobrar tanto investigações sobre abusos de poder cometidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro quanto uma fiscalização intensa sobre ações de membros da cúpula do Judiciário.

Em sua participação no programa, Alessandro Vieira teceu duras críticas à condução de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara dos Deputados, em especial diante das manobras regimentais adotadas pelo parlamentar para aumentar o poder de sua Casa. O senador considera insuficiente a forma como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lida com a situação, e cobra uma ação contundente contra o deputado a quem se refere como “um radical de si mesmo”.

Em sua participação no programa, Alessandro Vieira teceu duras críticas à condução de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara dos Deputados, em especial diante das manobras regimentais adotadas pelo parlamentar para aumentar o poder de sua Casa. O senador considera insuficiente a forma como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lida com a situação, e cobra uma ação contundente contra o deputado a quem se refere como “um radical de si mesmo”.

O rito originalmente estabelecido para projetos de lei ordinária prevê um sistema de igualdade de forças para a Câmara e Senado. Quando uma Casa aprova um texto, este é enviado para a outra, que deverá apresentar um relatório definindo se aprova o projeto como está, o rejeita ou o modifica. Em caso de modificação, o texto retorna à Casa originária, que decide se mantém o relatório original ou se aprova a lei com as modificações da revisora.

No segundo semestre de 2023, Arthur Lira encontrou uma forma de fazer com que a Câmara dos Deputados obtivesse sempre a palavra final sobre projetos vindos do Senado. Ao receber um projeto de lei, este é apensado a um pré-existente em tramitação na Câmara, e passa a circular como se esta fosse sua Casa de origem. Com isso, o Senado perde a capacidade de impor mudanças no texto.

Pacheco, o moderado

Alessandro Vieira é a principal voz a se posicionar no Senado contra a manobra regimental de Arthur Lira, constantemente se pronunciando em Plenário por uma resposta institucional dura de Rodrigo Pacheco. O perfil dos dois presidentes, porém, o faz considerar pouco provável uma solução vinda de dentro do Legislativo.

“O presidente Pacheco é um moderado. Ele tenta o diálogo, a composição com o presidente Arthur Lira. Mas Arthur Lira não é um moderado. Arthur Lira é um radical de si mesmo, não ideológico. Ele quer a concentração do poder, ele não quer nenhum tipo de cautela, respeito institucional, limite constitucional. Ele simplesmente toma o poder e invade cada vez mais para que possa ter acesso a recursos, ao orçamento, a cargos, indicações”, criticou o senador.

Durante a entrevista, Alessandro antecipou a probabilidade de, nesta semana, novamente cobrar uma ação por parte de Pacheco e este responder que busca uma solução no diálogo. “Não adianta, não com gente como Arthur Lira. O que há é o caminho da Justiça, através da Mesa Diretora do Senado, que seria legitimada para acionar por descumprimento claro e flagrante da Constituição”, exigiu.



O parlamentar ponderou que, diante da manobra regimental da Câmara, a população brasileira acaba sendo a grande prejudicada. “Ela quebra o sistema bicameral, que é constitucional. (…) Isto retarda a entrega de leis para as pessoas, para o cidadão. Ao invés de termos um projeto mais qualificado, mais sistêmico, mais transparente, se faz uma escolha deliberada pelo pior processo, mais lento, mais opaco, e consegue concentrar poderes”, alertou.

Fonte: congressoemfoco

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Em despedida no senado, Dino propõe fim de pagamento de aposentadoria a juízes infratores

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O senador e futuro ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino (PSB-MA), conseguiu as 27 assinaturas para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que coloca um fim na aposentadoria compulsória como uma punição no Poder Judiciário. A proposta foi protocolada na terça-feira (20) no Senado.

A apresentação da PEC foi o último ato político de Dino. Na quinta-feira (22), ele deve assumir a cadeira no STF e deixar a vida política partidária. O senador fez um discurso de despedida na terça-feira (20) no plenário do Senado.

Com apoio principalmente dos partidos de base aliada ao governo Lula (PT), a PEC de Dino quer proibir que a aposentadoria seja considerada uma punição para casos de infrações disciplinares no serviço público. A medida é utilizada, por exemplo, pelo Poder Judiciário e por militares.

Em discurso no Senado na segunda-feira (19), Dino criticou a prática. O senador lembrou que a aposentadoria é um direito do trabalhador e, para ele, não uma punição.

“Se um servidor público civil pratica um ato de corrupção, ele é processado administrativamente e é demitido, perde o cargo. Praticamente 99% dos servidores públicos são submetidos a essa lógica”, disse Dino, citando que o mesmo não é seguido para magistrados, servidores do Ministério Público e militares.

Na justificativa para apresentação da PEC, Dino afirma que se a aposentadoria é um direito pela dignidade do trabalhador, é inadequado que a medida seja tomada para uma forma de punição de servidores que cometem atos de “desmoralização do serviço público”, não importando se o cargo é considerado vitalício ou não.

“Esse raciocínio, em virtude da supremacia do interesse público e da moralidade que deve permear as instituições públicas, deve alcançar todos os agentes públicos, inclusive aqueles a quem seja assegurada a vitaliciedade. Não há vitaliciedade que se sobreponha à moralidade administrativa”, diz o texto.

Agora, a PEC deve seguir para análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Terá que passar pelo colegiado antes de ser analisada pelo plenário da Casa Alta.

Por GABRIELLA SOARES


Fonte: congressoemfoco


sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Entenda 15 propostas aprovadas pelo Congresso em 2023 que mexem com a sua vida

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Com um Congresso mais alinhado à direita em relação ao governo, o primeiro ano da legislatura foi marcado por embates entre o Executivo e o Legislativo, em meio a vitórias e derrotas das pautas governistas. Essa resistência inicial ao governo Lula pode ser vista como reflexo da composição das Casas. A maior bancada partidária da Câmara dos Deputados, por exemplo, foi o PL, partido de Bolsonaro, com 99 parlamentares, seguido pelo PT, de Lula, com 68. Enquanto o petista, fundador e líder da principal sigla de esquerda do país, teve de fazer aliança com o centro para voltar ao poder, a maior parte da sociedade elegeu o Parlamento mais conservador da história recente.

marco temporal das terras indígenas e a desoneração da folha de pagamento foram algumas das derrotas de Lula na esfera do Legislativo, uma vez que os vetos presidenciais às leis foram, em sua maioria, derrubados. Por outro lado, o Senado e a Câmara demonstraram comprometimento com a pauta econômica do Executivo. A reforma tributária, esperada por mais de 40 anos, além de representar uma vitória histórica do governo, também teve o carimbo de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado. Outros projetos aprovados como a taxação das apostas esportivas e dos super-ricos deram margem para o Executivo perseguir a meta fiscal prevista. 

Relembre 15 das principais matérias aprovadas pelo Congresso e que viraram lei em 2023. Algumas delas mexem diretamente em sua vida, outras, indiretamente, na medida em que podem elevar a arrecadação do governo, repercutindo em políticas públicas.

Reforma tributária

reforma tributária foi a principal matéria legislativa aprovada neste primeiro ano de legislatura. Promulgada no último dia 20, sob relatoria de Eduardo Braga (MDB-AM) no Senado e de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) na Câmara, a Emenda à Constituição 132/23 promoveu mudanças substanciais no sistema tributário do país, a começar pela unificação de impostos. 

A reforma tributária unifica os atuais cinco tributos na área de comércio, bens e serviços em duas novas categorias. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) serão substituídos pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) em nível federal. Enquanto o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS) serão unificados no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). 

A transição, porém, começa apenas em 2026, quando os dois novos impostos, CBS e IBS, gradualmente começarão a substituir os atuais. Em 2032, haverá a substituição total dos tributos. Outro ponto da reforma é a origem da tributação. De acordo com o texto, a cobrança dos impostos será no destino do serviço ou bem, e não mais na origem. O período para essa transição, contudo, é mais longo, com início em 2029 e previsão de terminar em 2077. 

Arcabouço fiscal 

O projeto foi um dos pontos de tensão entre Legislativo e Executivo neste ano. A matéria era para disciplinar os gastos públicos e substituir o teto de gastos, criado em 2016 durante o governo Temer. Uma das mudanças previstas pelo arcabouço fiscal era a autorização do aumento das despesas mediante a variação da receita. A União fica autorizada a elevar os gastos em até 70% do aumento da receita. Essa medida, no entanto, foi derrubada pelo Congresso, impedindo espaço de manobra em relação ao déficit fiscal. 

Além disso, o orçamento anual, estabelecido pela Lei Orçamentária Anual (LOA), é elaborado com base nas metas previstas pelo arcabouço fiscal. 

Desoneração da folha

O Congresso aprovou lei que prorroga o prazo da desoneração da folha de pagamento de 17 setores até 2027. O impacto na renúncia fiscal estimado pelo governo era de R$ 18 bilhões, afetando diretamente a arrecadação de recursos e a perseguição da meta fiscal de déficit zero. Por esse motivo, a lei enfrentou vetos da presidência, que também foram derrubados pelos parlamentares. O governo pretende apresentar uma nova proposta para os congressistas. 

Para a maioria dos parlamentares, a desoneração é uma medida de garantia de postos de emprego, pois diminui o custo operacional das empresas na contratação de mão de obra. Outro ponto contemplado pela lei é a redução de 20% para 8% a contribuição a todos os municípios com até 142 mil habitantes, o equivalente a 5.377 cidades. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nessa quinta-feira (28) que o governo vai propor reoneração gradual da folha. A proposta já enfrenta resistência no Congresso.

Desempate no Carf

O Planalto e a equipe econômica conseguiram importante vitória no Congresso ao restabelecer o voto de desempate a favor do governo nas votações do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O Carf é o órgão do Ministério da Fazenda que decide as disputas tributárias entre os contribuintes e a Receita Federal. Até 2020, quando havia empate nas decisões, prevalecia o voto do presidente da câmara de julgamento — sempre um representante da Fazenda.

Lei 13.988, de 2020, extinguiu o voto de qualidade e deu vantagem aos contribuintes nas votações que terminassem empatadas. Segundo o Ministério da Fazenda, a retomada do voto de qualidade pode evitar uma perda anual de R$ 59 bilhões para a União.

Taxação das apostas esportivas

A pauta econômica foi de grande interesse do governo durante o primeiro ano da legislatura a fim de aumentar a arrecadação. Um dos projetos com essa intenção foi o PL das bets, como foi chamado. Empresas do ramo de apostas esportivas precisarão, de acordo com a lei, ter autorização do Ministério da Fazenda para funcionar. Além disso, as casas de apostas deverão pagar imposto de 12% sobre a receita obtida, e os ganhadores de apostas pagarão 15% em prêmios que excederem R$2.112. A expectativa do governo é arrecadar R$ 1,6 bilhão com a taxação.

Taxação dos super-ricos

Outro projeto da pauta econômica, a tributação de aplicações financeiras em fundos especiais de investimento e em offshores, instituições sediadas fora do Brasil cujos investimentos não são tributados, promete arrecadar uma cifra bilionária em 2024. R$ 7,05 bilhões com a tributação das aplicações no exterior e R$ 13,28 bilhões com os fundos de investimentos exclusivos. A medida ajuda o governo a perseguir a meta fiscal e cumpre com a promessa de campanha de taxar grandes fortunas. 

Valorização do salário mínimo

Uma das promessas de campanha de Lula, a retomada da política de reajuste do salário mínimo foi aprovada pelo Congresso este ano. Conforme a nova regra, o valor é definido com base na correção anual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), mais o Produto Interno Bruto (PIB) consolidado de dois anos anteriores. Até 2019 o salário mínimo era definido considerando-se o PIB do ano retrasado e a inflação medida pelo INPC. O governo Bolsonaro mudou o cálculo e passou a levar em conta apenas a variação da inflação do INPC. Antes de sair de recesso, Lula assinou decreto elevando de R$ 1.320 para R$ 1.412 o salário mínimo em 2024. Com o novo valor, o mínimo terá alta de R$ 92, o equivalente a 6,97% – percentual acima da inflação do IPNC, que acumulou 3,85% em 12 meses até novembro.

Desenrola Brasil

O Congresso aprovou o Programa Desenrola Brasil, de renegociação de dívidas, de autoria do Executivo. Cerca de 11,5 milhões de pessoas foram atendidas pelo Desenrola Brasil, que já renegociou R$ 32,5 bilhões em dívidas desde o lançamento da iniciativa, conforme o Executivo. Criado com o objetivo de recuperar as condições de crédito de devedores com dívidas negativadas, a iniciativa foi prorrogada até 31 de março de 2024.

Cartão de crédito

Em acordo com o governo, os parlamentares incluíram no mesmo projeto do Desenrola Brasil limite para os juros do rotativo e do parcelado do cartão de crédito. Embora não tenha imposto um percentual para o teto, o texto deu 90 dias, a partir da publicação da norma, em outubro, para que as emissoras de cartões apresentem uma proposta de teto, a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O rotativo do cartão de crédito ocorre quando o cliente não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte. Atualmente, a taxa média anual dos juros rotativos do cartão de crédito é de 445,7%.

Terras indígenas

Lula, em sua subida na rampa do Palácio do Planalto, durante a cerimônia de posse, estava acompanhado do cacique Raoni, em um claro aceno e compromisso em defesa dos povos indígenas, em franca oposição à guerra aberta pelo governo Bolsonaro com os povos originários. O governo até tentou frear o marco temporal, vetando trechos da proposta aprovada às pressas pelos parlamentares após derrota em julgamento no Supremo, mas foi derrotado pelo Congresso. O texto do senador Marcos Rogério (PL-RO) estabelece o marco temporal para terras indígenas. Com isso, os povos indígenas só teriam direito a terras que ocupavam ou disputavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.

A matéria foi uma das que mais evidenciou o cabo de guerra entre Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o entendimento da Corte, a tese é inconstitucional. Após a decisão, o projeto foi votado a toque de caixa, em requerimento de urgência, e amplo apoio dos congressistas. No final de setembro, durante a votação no plenário do Senado, o PL recebeu 43 votos favoráveis e 21 contrários. Na votação dos vetos, na Câmara, 327 deputados votaram para derrubar o veto, enquanto 121 para manter, e um se absteve. No Senado, o placar foi de 53 votos para derrubar o veto de Lula e 19 para mantê-lo.

Lei dos Agrotóxicos

O presidente Lula sancionou com vetos, nesta semana, a lei que flexibiliza as regras de aprovação e comercialização de agrotóxicos no país. O projeto tinha como intenção original modernizar o mercado desses insumos, a solução encontrada pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES), relator da matéria, era encontrar um meio termo entre os interesses da bancada ruralista e dos ambientalistas. O presidente Lula vetou trechos da lei, como a exclusividade do Ministério da Agricultura para decidir sobre o uso dos agrotóxicos, o que excluía Ibama e Anvisa.

Bolsa para estudantes de baixa renda

O governo sancionou lei complementar que direciona até R$ 6 bilhões do superávit do Fundo Social, do Ministério do Desenvolvimento Social, no Orçamento de 2023, para o pagamento de bolsas estudantis para estudantes do Ensino Médio inscritos no Cadastro Único. A lei pretende, por meio da bolsa estudantil, incentivar a permanência de estudantes desfavorecidos na escola, minando a evasão escolar que muitas vezes se dá pela necessidade de trabalhar e contribuir com despesas domésticas. 

Igualdade salarial

Sancionada em julho, a lei que estabelece igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem o mesmo cargo altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O texto propõe que empresas que descumpram a medida paguem multa no valor de dez vezes o salário que a mulher deveria receber, pautado em quanto recebe o homem que exerce o mesmo cargo. Se houver reincidência o valor da multa pode ser cobrado em dobro. 

Apesar da medida estabelecer paridade entre os gêneros, não foi consenso no Congresso. Inclusive, as seguintes deputadas votaram contra o projeto de lei: Julia Zanatta (PL-SC), Silvia Waiãpi (PL-AP), Chris Tonietto (PL-RJ), Caroline de Toni (PL-SC), Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Rosângela Moro (União-SP), Dani Cunha (União-RJ), Adriana Ventura (Novo-SP) e Any Ortiz (Cidadania-RS). 

Lei de Cotas

A lei que institui cotas para ingresso em instituições federais no ensino superior, promulgada em 2012, foi atualizada pelo Congresso em 2023. Pretos, pardos, indígenas, quilombolas e portadores de deficiência fazem parte da política. Outro ponto da lei é a reserva de 50% das vagas de ingresso nos cursos de graduação para estudantes com renda familiar igual ou menor a um salário mínimo. O monitoramento será anual e a avaliação da política de cotas acontecerá a cada dez anos. 

Dia da Consciência Negra

Antes feriado apenas em seis estados e em 1,2 mil municípios, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, 20 de novembro, tornou-se feriado nacional. A sanção de Lula para a lei aconteceu neste mês e o dia já figura no calendário de feriados de 2024, divulgado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. 

Por Pedro Sales


Fonte: congressoemfoco


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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Imprensa responde por declarações de entrevistados, define STF

Imagem: reprodução
O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, na quarta-feira (29), que a responsabilidade por declarações caluniosas ou falsas de entrevistados em matérias jornalísticas se aplicam também aos veículos de comunicação que publicaram a matéria. Apesar de já existir condenação anterior nesse mesmo sentido, ela não possuía repercussão geral até então.

O voto vencedor, do ministro Alexandre de Moraes, prevê que a responsabilidade dos veículos será aplicada em ações por danos morais quando houver indício concreto de que a afirmação do entrevistado é falsa, bem como quando não for plenamente cumprido o “dever de cuidado” do veículo de comunicação no na verificação dos fatos relatados pelo entrevistado.

De acordo com o ministro, a proteção constitucional à liberdade de expressão vem acompanhada da responsabilidade do conteúdo publicado, prevendo a possibilidade de responsabilização civil em casos de produção de conteúdo nocivo e/ou comprovadamente calunioso, injurioso ou mentiroso.

O caso que deu origem ao processo foi uma matéria do Diário de Pernambuco de 1995, quando o delegado pernambucano Wandenkolk Wanderley acusou, em entrevista, o ex-deputado Ricardo Zarattini Filho de ter participado de um atentado terrorista em 1968. O falecido parlamentar venceu a disputa judicial no STF, afirmando que o jornal também havia cometido crime contra sua honra.

Antes mesmo do julgamento da repercussão geral, diversas organizações de defesa do jornalismo já haviam se posicionado de forma contrária ao entendimento de que o veículo seja co-responsável. Sete associações, que incluem a Federação Nacional dos Jornalistas, Associação de Jornalismo Digital e o Instituto Vladimir Herzog publicaram um manifesto argumentando contra a decisão.


“Imputar uma responsabilidade que não cabe aos veículos pode forçá-los, por exemplo, a ter que fazer um controle prévio das respostas de seus entrevistados ou então a deixar de entrevistar, principalmente ao vivo, muitas pessoas, sob risco de terem que enfrentar posteriormente ações judiciais que podem esgotar os recursos do meio de comunicação ou do próprio jornalista processado”, alertaram as entidades.

 

Os signatários também chamaram a atenção para o contexto do país durante o julgamento, com aumento gradual dos casos de assédio judicial contra jornalistas. “Uma tese firmada pela mais alta corte do país que abra margem para pedidos descabidos de responsabilização dos veículos por declarações de entrevistados pode ser um perigoso combustível para esta perseguição pelas vias judiciais”, argumentam.

Fonte: congressoemfoco



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