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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Explorando a Mente Criativa e a Carreira de Zeca Baleiro – Uma Conversa Sobre Música e Reflexões

Imagem: reprodução

A música, em toda a sua diversidade e magia, é capaz de capturar os sentimentos humanos mais profundos e oferecer uma lente através da qual podemos enxergar o mundo de maneiras únicas. No contexto da carreira multifacetada de Zeca Baleiro, um dos artistas mais influentes e prolíficos de nossa época, essa premissa ganha vida de maneira vibrante. Com seu último álbum, “Mambo Só”, lançado recentemente, Zeca Baleiro nos presenteia com uma coleção de músicas que abraçam temas que vão desde a interseção da tecnologia com nossas vidas até os aspectos eternos do amor e da saudade. Em uma entrevista reveladora, exploramos a mente criativa por trás desse disco e os altos e baixos de uma carreira que abrange mais de duas décadas.

Entrevista Zeca Baleiro

Qual foi a inspiração por trás do seu último álbum lançado?

Zeca Baleiro: Eu comecei fazendo umas experiências meio que sem compromisso. Os temas foram vindo naturalmente, redes sociais, uso exagerado de tecnologia em nossas vidas, IA etc… Mas tem também canções de amor, de saudade, de solidão, os temas eternos. O disco se chama “Mambo Só” e tem colaborações de Edson Cordeiro, Daíra e Moda de Rock, dupla de violeiros roqueiros.

Como é o seu processo criativo na composição de músicas?

É caótico rs. Não tenho ritual. Gosto de trabalhar no silêncio, coisa rara hoje em dia. Mas hoje consigo compor até no trânsito de São Paulo, se precisar. Tudo é uma questão de exercício.

Quais são as principais influências musicais que moldaram seu estilo?

Minha casa da infância era muito musical. Então fui um ouvinte de música muito aberto, que ouvia rádio o dia todo, rádio Am, onde se ouvia música de todos os gêneros, e em casa se ouvia também discos de muitos artistas diferentes… Quando comecei a compor, naturalmente foram surgindo todas essas referências na minha composição. De Odair José a Mercedes Sosa, de Paulo Diniz a Raul Seixas, ouvi um pouco de tudo.

Existe alguma música em particular que você considera como a mais significativa em sua carreira?

O primeiro disco é um marco, o dueto com a Gal Costa no “Acústico” dela também, cantando “Flor da Pele”.  “Telegrama” também tornou-se um fenômeno, tem mais de 80 milhões de streamings no Spotify e versões em tudo quanto é gênero: samba, reggae, rock, sertanejo, axé, forró, vários remixes…

Como você descreveria a evolução do seu estilo musical ao longo dos anos?

Acho que experimentei bastante coisa no início da carreira – mistura de ritmos (tão cara à minha geração), disco folk acústico, disco mais eletrônico etc etc. Isso me deu muita liberdade, a partir desse início discográfico. Hoje me sinto à vontade pra fazer qualquer coisa, tipo um disco de pop e outro de samba no mesmo ano, como farei agora, marcando estes 26 anos de carreira.

Quais são os desafios e as recompensas de ser um artista independente no cenário musical atual?

Os desafios são sobretudo manter a classe (rs) e mostrar ao público que você ainda está ativo, produzindo, que não vive só de hits. O lado bom é que você lança o que quiser à hora que quiser, não pede permissão a ninguém, não espera planos de gravadora (que às vezes eram equivocados), enfim, há mais liberdade. O que lamento é que a veiculação de muitos produtos levou a uma certa pulverização, a uma banalização da audição de música.

Você já colaborou com diversos artistas ao longo de sua carreira. Existe alguém com quem você ainda gostaria de trabalhar?

Eu nunca forço nada, rola se tiver que rolar. Sempre foi assim, nasce da admiração, que deve ser mútua, claro. Agora há planos de um collab com o Vitor Kley. Se rolar, vou adorar, sou fã dele. Acho muito honesto o som que ele faz.

Além da música, quais são suas outras paixões ou interesses?

Adorava futebol e cinema, mas tenho uma visão pessimista quanto a ambos. O futebol está indo pra um lugar muito estranho, sem poesia. E em minha opinião, o cinema caminha pra um quase fim. Acabei de ver “Openheimer” e é um filmaço, mas é 1 em 1 milhão. A cultura das séries, hoje produzidas em larga escala, o crescimento da TV por assinatura e a própria falência de uma estética cinematográfica tá levando essa arte pra outro lugar. É assim mesmo, é o processo histórico e natural. A música tem se transformado também. A favor da música, conta a sua fluidez, a facilidade de penetração, a onipresença da música hoje em todo lugar, e o fato de que ela passeia sem filtros pelo universo afetivo do ouvinte. Mas está mudando também.

Como você enxerga o papel da música na sociedade e qual mensagem você espera transmitir através das suas composições?

A arte pode despertar a consciência das pessoas sobre a vida social e política de forma lúdica, divertida, lírica, amorosa. Esse é o grande poder, ser diversão e ter também esse papel de despertar as pessoas, fazer pensar, refletir e em alguns casos extremos, transformar a própria vida delas.

Fonte: culturaenegocios

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Flávio Dino diz já ter novidades no caso Marielle: “Vamos chegar a uma solução do crime”

Imagem: reprodução

Ministro da Justiça falou à Pública ainda sobre narcogarimpo, extremismo político, bolsonarismo e violência nas escolas.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, demonstra ter cada vez mais certeza da solução de um dos crimes mais emblemáticos da história recente do Brasil, o assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018.

Em entrevista exclusiva concedida à Agência Pública no fim de junho em Brasília, ele trata o caso com o que definiu como “otimismo moderado”, em decorrência do tempo passado após o crime e da destruição de provas. Cauteloso e sem adiantar informações da investigação sigilosa, Dino garantiu ter “novidades” sobre o caso e disse: “Acredito que vamos chegar a uma solução do crime”.

O ministro tratou também de diversos temas ao longo da entrevista, como narcogarimpo, policiamento da Amazônia, extremismo político e violência em escolas. Sobre a inelegibilidade do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, ele diz que foi uma ação firme do Judiciário para interromper a onda de ataques ao sistema eleitoral, mas, realista, diz que ainda é cedo para se considerar controlada a sanha golpista contra a democracia. “Há uma luz amarela no semáforo da história: o extremismo político está vivo”.


“Deixar [Bolsonaro] inelegível é muito importante, porque ele é um facínora, mas é suficiente? Não. O extremismo político ainda encontra raízes muito fortes no Brasil: o vemos na cultura do ódio, da desinformação, do preconceito e da violência”, ressalta.

 

Passados mais de seis meses da invasão do Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro diz que a “personalidade despótica, autoritária e patológica de Bolsonaro” une os atentados promovidos entre o resultado da eleição, em 30 de outubro passado, ao caos do 8 de janeiro. Para Dino, não há dúvidas de que o ex-presidente está no centro da tentativa de golpe.


“Havia o ajudante de ordens [Mauro Cid], o ex-ministro Anderson Torres, outras pessoas muito ligadas a ele. É possível inferir, também por sua personalidade despótica, autoritária, que de algum modo ele orientava – ou que pelo menos compactuava, autorizava”, afirma o ministro, que ainda define o ex-presidente como “um golpista fracassado”.

 

Para o ministro, o atentado de 8 de janeiro serviria para criar um clima de instabilidade política e anomia institucional, forçando a cúpula militar a aderir ao golpismo. “A ideia deles era que o 8 de janeiro fosse um estopim, com efeito dominó em outras manifestações ao longo do Brasil, para tentar mostrar que o novo governo não tinha condições de gerir o país”, afirma.

Segundo Dino, ao sair da eleição com 49% dos votos, Bolsonaro tinha “uma base social razoável”, mas não o apoio internacional  nem da elite empresarial brasileira – condições que, em 1964, permitiram aos militares depor o ex-presidente João Goulart. “Daqui muitos anos, quando forem abertos os arquivos de 2022 do governo dos Estados Unidos, vão encontrar o que levou as Forças Armadas a não se engajarem no golpe”, disse o ministro.

Flávio Dino garantiu que o governo vai fortalecer sua presença na Amazônia, com a criação de uma companhia de policiamento ambiental, formada por mais de mil homens da Força Nacional, cuja finalidade é fiscalizar, intensificar operações e combater as organizações criminosas de inspiração mafiosa – que, segundo o ministro, se infiltraram na política, nos garimpos e demais atividades ilegais que cresceram no vácuo de fiscalização deixado pelo governo Bolsonaro.

Dino assegurou que o governo Lula retomará as demarcações de terras indígenas, interrompidas por Bolsonaro, por meio de decisões conjuntas entre os ministérios dos Povos Indígenas, da Justiça e Segurança Pública e da Casa Civil.

Contra o marco temporal defendido pelos ruralistas, o ministro se alinha à ideia do ministro do STF Alexandre de Moraes, que, independentemente do que o Congresso decidir, sinalizou uma solução intermediária ao conflito – sem marco, mas respeitando a peculiaridade de regiões densamente habitadas, como cidades consolidadas. Leia, a seguir, a entrevista.

Quais os reflexos da inelegibilidade de Bolsonaro?

A extrema direita brasileira perde força, perde seu principal porta-voz, o que sem dúvida altera certos desdobramentos no plano da política. Destaco, sobretudo, os aspectos constitucionais e legais com a consagração de uma diretriz jurisprudencial no Brasil sobre a chamada desinformação. Juridicamente, nós temos uma rejeição muito clara e, portanto, a declaração da abusividade da conduta de quem no processo eleitoral espalha, deliberadamente, desinformação como uma ferramenta para obter votos e hipotéticas vitórias eleitorais. É um precedente muito relevante para o futuro, no sentido de que um dos principais desafios da democracia contemporânea recebe uma resposta jurídica.

A inelegibilidade interrompe o extremismo de direita?

Espero que, se não paralise definitivamente, pelo menos atenue. Com a revolução científico-tecnológica, levando, por exemplo, ao incremento das ferramentas de inteligência artificial, nós temos tendencialmente o agravamento do problema da indústria da desinformação nos processos eleitorais. Isso distorce muito fortemente a legitimidade do processo eleitoral. O que o TSE afirmou é que há uma disposição firme de fazer esse “breque” contra a manipulação das consciências dos cidadãos. O TSE afirmou que espalhar desinformação é uma fraude eleitoral e, portanto, quem pratica esse tipo de conduta deve ser punido.

Passados mais de seis meses, o que dizem as investigações sobre os responsáveis pelo 8 de janeiro?

Uma investigação dessas é como se você pegasse um quebra-cabeça, daqueles de mil peças, e jogasse numa praia, com vento forte. Tem um período que você tem que recolher as pecinhas, mas grande parte desse quebra-cabeça já está montada.

Houve os perpetradores dos atos violentos, as pessoas que cercaram quartéis, que vieram pra cá; a via organizadora e, sobretudo, segmentos empresariais locais, que davam carne, água, apoio material, banheiro químico, barracas etc., em todo o país. O financiamento era, sobretudo, de segmentos empresariais locais, do agro e comerciantes, também de gente ligada a esse mundo do armamentismo, que financiavam isto.

Havia os incitadores, que estavam, sobretudo, nos segmentos armados – membros da ativa e da reserva das Forças Armadas, das forças policiais, mas também CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores] e proprietários de clube de tiro, de lojas de armas e assim sucessivamente. Eram segmentos armados da sociedade, com grande engajamento e um comando político mais ou menos organizado, muito próximo do Bolsonaro.

Jair Bolsonaro participou?

Só posso falar, pelo cargo que eu exerço, a partir de provas. Nesse momento eu tenho alguma prova cabal de que o Bolsonaro, direta e pessoalmente, participou do golpismo? Não tenho. Agora, é possível deduzir isso logicamente, no plano argumentativo? Sim, claro. Por que digo que é possível deduzir isso no plano argumentativo? Porque todas as pessoas que, de algum modo, aparecem na cena eram muito ligadas a ele. Havia os ajudantes de ordem, o ex-ministro Anderson Torres, pessoas muito ligadas a ele. Por dedução, é possível inferir, também por sua personalidade despótica, autoritária, que de algum modo ele orientava – ou pelo menos compactuava ou autorizava [o golpe].


Para Dino, não há dúvidas de que o ex-presidente Bolsonaro está no centro da tentativa de
golpe em 8 de janeiro - Foto: reprodução

É possível afirmar que o extremismo está sob controle?

Sou obrigado a chamar atenção para uma luz amarela no semáforo da história: a luz amarela é o extremismo político, que está vivo. Deixar o Bolsonaro inelegível é muito importante, porque ele é um facínora, um déspota. Agora, isso é suficiente para dizermos que o extremismo político foi superado no Brasil, o extremismo de direita? Não, não é.

Mesmo que você veja uma luz verde, poderosa, no sentido de haver uma continuidade da construção democrática do Brasil, é preciso olhar numa perspectiva lateral, olhar esse alerta – que o extremismo político ainda encontra raízes muito fortes no Brasil. Vivemos na cultura do ódio, da desinformação, do preconceito, da violência. Então, nós temos sinais sociais disto.

Caso dos ataques nas escolas?

Os ataques nas escolas são um sinal muito poderoso de que a cultura da violência está muito forte no Brasil. Vejamos o que aconteceu recentemente, naquele brutal ataque a uma escola no Paraná: uma pessoa foi lá e apertou o gatilho, o que já é terrível, mas havia outras pessoas estimulando, apoiando, filmando, transmitindo a morte de jovens. Isso mostra a força da cultura da violência, até porque praticamente todas as semanas – nessa, inclusive – nós temos prisões de nazistas e neonazistas.

O controle de armas avançou?

Tivemos dois decretos, teremos mais um nas próximas semanas, diminuindo mais uma vez o acesso a armas e munições, criando regras mais rígidas para o porte de arma, para abertura de clubes de tiro, acabando com os clubes de tiro 24h – que estavam funcionando como uma fachada para o porte de arma clandestino. Bolsonaro passou a permitir o porte em trânsito com a arma municiada, mas agora estamos voltando, para que seja apenas “desmuniciado”.

O clube funcionava como álibi: o cidadão era pego numa blitz, com a arma municiada. Ele dizia: “Não! Estou indo no clube de tiro, por isso que a arma está municiada”. É por isso, também, que os clubes de tiro passaram a funcionar 24h, o que é esdrúxulo. Alguém imagina uma pessoa, às 3 horas da manhã, que vai dar tiro em um clube? Será publicado um decreto bastante amplo, acabando com a autodeclaração de necessidade, algo criado pelo governo Bolsonaro. Que nada mais era que uma espécie de presunção de necessidade, a partir de autodeclaração.

Qual o resultado das operações contra o excesso de armas?

Veja que, em menos da metade do ano de 2023, foram apreendidas mais armas pela Polícia Federal do que em todo o ano de 2022, o que mostra exatamente essa carência de fiscalização das atividades ilegais, de um modo geral. Isso valia para garimpo legal, para invasão de terrenos, para armamentismo e clubes de tiro. Ninguém fiscalizava nada porque tinha gente ganhando dinheiro com isso.

Estamos falando de bilhões de reais, bilhões nas atividades, chamemos assim, legais das lojas e clubes de tiro, mas também no comércio clandestino de armas e munições para organizações criminosas. O que essa gente estava fazendo? Alugando armas para o PCC [Primeiro Comando da Capital], para o CV [Comando Vermelho].

Fizemos uma operação, que inclusive envolveu uma parte nos Estados Unidos, contra lojas [de armas] na Baixada Fluminense, e assim descobrimos quase 2 mil armas ilegais que iam, exatamente, para o crime organizado. Com essa dupla face, o negócio legal, visível, como esse que falamos – da loja, do clube de tiro –, também havia o negócio ilegal, de comercialização e barateamento no acesso a armas de fogo para quadrilhas.

O maior incentivo para as organizações criminosas do Brasil foi esse armamentismo irresponsável, que fortaleceu o poder das organizações criminosas, barateou o acesso a armamento por meio da aplicação da lei da oferta e da procura: quanto mais produtos há no mercado, obviamente mais o preço cai.

O senhor mandou abrir um novo inquérito na PF sobre os assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes, as investigações já avançaram?

Trabalho sempre com um conceito de “otimismo moderado”. Otimismo porque temos um trabalho sério, uma equipe da PF trabalhando só no caso Marielle há três meses. Isso me dá esperança. Mas por que minha moderação? Porque se passaram cinco anos. Imagens, impressões digitais, indícios de um modo geral se perderam.

Se tivesse imagens daquele dia do assassinato [de Marielle]… Imagine a quantidade de câmeras no centro do Rio de Janeiro. Rapidamente se chegaria aos assassinos, ao carro [usado no crime], de onde ele veio, de onde saiu, qual percurso fez, isso com base na ERB [antena de telefonia celular] dos celulares… você chegaria rapidamente [aos culpados]. Hoje a tecnologia é amiga da investigação, não existe crime perfeito. Mas, infelizmente, não temos mais os dados da ERB, não temos as [imagens das] câmeras, e essa é a razão da minha moderação. Não existe crime perfeito, mas infelizmente não temos mais os dados completos.

Mas existe algo palpável, algum fato novo?

Temos novidades, sim. Não tenho uma previsão [de quando será divulgado], porque há coisas que faço questão de não saber, mas, sim, as equipes me informaram que conseguiram avançar… até onde, não posso dizer. Teremos de esperar. Mas acredito que vamos chegar a uma solução do crime, sim.


“Acredito que vamos chegar a uma solução do crime”, afirma o ministro sobre o caso
 Marielle Franco - Foto: reprodução

Mudando de assunto, como o crime organizado se entrelaça às atividades ilegais na região da Amazônia?

Nós temos hoje no Brasil algo muito além das quadrilhas do tipo tradicional: temos organizações de tipo mafioso, com face legal, operadas por empresas e que estão em vários negócios visíveis — um prédio residencial, uma imobiliária, revenda de automóveis etc. E ela também penetra na política. São organizações tipo máfia que se implantaram na Amazônia, exatamente pela ausência estatal, entre as quais está o PCC.

É o chamado narcogarimpo, uma atividade que demanda grandes investimentos, não é mais aquela imagem [do garimpo] de Serra Pelada, dos anos 1970 e 1980. Desde os episódios do Vale do Javari, do assassinato do Dom Phillips e do Bruno Pereira, isso ficou bem evidente. Você tem organizações criminosas atuando na Amazônia em atividades aparentemente legais – como venda de aviões, barcos, comida, combustível etc… É o avanço do narcogarimpo, na prática.

Como resolver?

Há dois problemas muito fortes na Amazônia. Primeiro, há a questão social, pois a Amazônia tem os piores indicadores sociais do Brasil. Você não enfrenta o narcogarimpo, narcotráfico, a caça ilegal, a exploração ilegal de madeira e a pesca ilegal só com policiamento. Se você não melhora as condições sociais do povo amazônico, como você vai dizer para o cara para deixar de ser “soldado” do narcogarimpo, ganhando R$ 3 mil por mês, para oferecer um Bolsa Família de R$ 700? O Bolsa Família é bom, mas apenas como incentivo para as condições brasileiras, claro. Em termos de incentivo econômico, é claro que ele se sente mais atraído [pelo garimpo] porque não há alternativa.

É necessário elevar as condições de vida do povo da Amazônia como uma prioridade brasileira relativa à proteção ao meio ambiente. É cruzando sustentabilidade ambiental com sustentabilidade social. E o segundo problema é exatamente essa ampliação do poder bélico dessas quadrilhas criminosas. Isso realmente exige a qualificação da presença estatal na Amazônia.

Como o governo federal pode fortalecer as ações contra crimes ambientais na região?

Formulamos um programa, que apresentamos ao BNDES, uma proposta de estruturar o trabalho, com policiamento ambiental na Amazônia e uma coordenação nacional – que, hoje, não existe.

Inicialmente, estamos dimensionando R$ 1,3 bilhão, porque, com isso, conseguiremos implantar uma companhia de policiamento ambiental da Força Nacional numa cidade da Amazônia, ainda a ser decidida e ainda sem um efetivo fechado, mas certamente seria algo em torno de mil policiais.

Implantaríamos a companhia de policiamento ambiental da Força Nacional e daria para comprar equipamentos para, em cada estado, ter um pelotão desta companhia, cada um com um helicóptero, com efetivo, armamento e, portanto, com uma coordenação regional. Também compraríamos equipamentos para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.

Nós já criamos a diretoria de Amazônia e Crimes Ambientais na Polícia Federal. Foi uma das decisões mais certas que a gente tomou. Saímos, em 2022, de algo em torno de 30 operações da Polícia Federal na Amazônia contra o garimpo ilegal para mais de 300 neste ano. Em cinco meses destruímos mais de 300 garimpos, centenas de balsas, e por aí vai. Hoje temos um delegado da Polícia Federal só dedicado [ao combate] aos crimes ambientais. Foi uma das decisões mais certas que a gente tomou. Todos os indicadores de atuação da PF na Amazônia melhoraram, sem exceção, inclusive as condições da água, com a diminuição de mercúrio.


Governo pretende fortalecer sua presença na Amazônia com a criação de uma companhia
de policiamento ambiental - Foto: reprodução

Quais os resultados das ações do Conselho Nacional da Amazônia, gerido no governo anterior pelo ex-vice presidente e atual senador Hamilton Mourão?

Não funcionou aquilo lá. Não funcionou porque, primeiro, me parece que se gastou muito em GLO [operações de Garantia da Lei e da Ordem, sob comando estritamente militar] ambiental, eu acho, mas não sei nem para onde foi esse dinheiro, para ser franco. Quer dizer, o Conselho da Amazônia [Legal, CNAL], eu não sei como está hoje, não sei como ficou. Tinha aquela [operação] Verde Brasil, uma GLO ambiental, realmente se gastou [verba pública] naquilo. Mas ficou algum legado? Não, não tem. Nem o campo político deles [bolsonaristas] acreditava naquilo. Não tinha articulação com os estados e nem comando político, que dizia o contrário [da política ambiental]: “toquem fogo”, dizia, “matem, comprem armas”. É claro que, naquele ambiente, nem que ele [Hamilton Mourão] tivesse boa vontade, era impossível alguma coisa dar certo.

O bolsonarismo ainda está entranhado nas instituições?

Ainda temos problemas [com bolsonaristas] na PF, na PRF, nas Forças Armadas, sim, mas temos um comando que no dia 1º de janeiro não tínhamos, nem no dia 2, nem no dia 3, nem no dia 8 de janeiro. Quer dizer, fomos ocupando o comando das instituições, apesar das dificuldades, das resistências. Ocupando com uma cultura institucional, assim, de respeito ao direito das pessoas, e estamos avançando nesse caminho.

No governo anterior, uma secretaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Seopi, foi acusada de espionar oponentes. O que o senhor encontrou dessa estrutura?

O que chegou na minha mão, antes do dia 8 de janeiro, foi um relatório da PF. Depois, apareceu que alguns órgãos regionais desse sistema de inteligência, que era a Seopi [Secretaria de Operações Integradas], hoje chamada de Diop [Diretoria de Operações Integradas e Inteligência], que fica dentro da Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública]. Eram alguns relatórios regionais, do Norte e do Nordeste, falando em mobilizações, caravanas, acampamentos etc.

Hoje, nós temos, de ilegal, a identificação daquele documento que levou à operação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno [em regiões indicadas por pesquisas eleitorais como redutos do então candidato a presidente Lula]. Este documento foi produzido aqui, dentro do Ministério da Justiça. O BI [Business Intelligence] do Ministério foi utilizado para extrair dados sobre desempenho de candidatos, para concentrar operações da Polícia Rodoviária Federal [em locais onde Lula havia tido melhor desempenho no primeiro turno] no segundo turno da eleição. Isso foi feito aqui no Ministério da Justiça. Houve, de fato, essa produção de dados. Agora, coisas pretéritas, ilegais de um modo geral, eu realmente nunca tive conhecimento. Além disso, foram feitas outras, uma muito conhecida, aquela história dos policiais antifascistas. Fora isso, realmente não ficaram, digamos, dados materiais dessa atuação.

Houve espionagem contra movimentos sociais ou oponentes do governo anterior?

Até hoje eu não posso afirmar nem que sim nem que não, porque até hoje não chegou nada na minha mão nesse sentido. Pode ser que, mais na frente, chegue algo, mas nunca houve isso.

Como o Ministério da Justiça controla movimentos suspeitos de terrorismo?

Aqui no Ministério da Justiça, não fazemos esse tipo de trabalho, de modo organizado, não mais — e nem a PF. Hoje, nossa orientação com a PF é investigação de crime, inquérito, não tem nenhum tipo de trabalho de inteligência. Aqui no Ministério, isso tudo, hoje, está praticamente desativado. A Polícia Judiciária não é agência de inteligência.

Existe o informe de inteligência? Não existe. Existe o da Abin [Agência Brasileira de Inteligência], que hoje eu recebo como devo receber: por escrito, no envelope, que é tarefa da inteligência. A inteligência que existe aqui é a de segurança pública. Não é uma inteligência “política”. A inteligência de segurança pública aponta que será feita uma operação contra o garimpo ilegal, com levantamento de informações, e por aí vai. Mas inteligência “política” é zero, aqui é zero. Não há no ministério nem na PF.

Qual a sua posição sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas?

A meu ver, a instância que vai definir isso é o Supremo Tribunal Federal. Acho que a ideia de marco temporal não passa.

Mesmo que o Congresso aprove a regra?

O Supremo vai prevalecer. Se o Supremo disser, é o Supremo quem está interpretando a Constituição. Então, se você vota uma lei, é óbvio que essa lei não é maior do que o Supremo fixar. Se passar no Congresso, não terá um caráter superior à interpretação que o Supremo vier a fixar sobre o artigo 231 [relativo aos direitos dos povos indígenas].


Dino assegura que o governo Lula retomará as demarcações de terras indígenas
- Foto: reprodução

Como o governo deve encaminhar as demarcações?

Teremos reunião no ministério, com a Casa Civil, o MPI [Ministério dos Povos Indígenas], MGI [Ministério da Gestão e Inovação], para discutir a nova regra. Antes era aqui, depois passou para o MPI, agora veio a lei e voltou para cá, mas não queremos, de forma alguma, que o MPI fique sem função no âmbito das demarcações. A ideia hoje vigente é criar uma espécie de portaria conjunta, minha com o MPI, com a Casa Civil, eventualmente, que regule o processo de demarcação, via Funai e MPI. Aqui, fazemos uma análise da legalidade, da compatibilidade com os procedimentos legais, e mandamos para o presidente [Lula]. A tendência é essa: conversamos bastante, eu e Sônia [Guajajara]. Não passa pela minha cabeça a ideia que o Ministério da Justiça esvaziará o MPI. Por força da lei, por uma decisão do Congresso, participaremos também [das demarcações], mas acredito que o nascimento dos processos de demarcação deve continuar no MPI.

O agro quer o marco temporal. Qual o modelo de demarcação o senhor defende?

Acho que o voto que o ministro Alexandre de Moraes apresentou é um voto adequado, porque afasta o marco temporal – ele diz que não existe esse marco, de 1988 –, mas ao mesmo tempo aponta caminhos intermediários, adianta algumas orientações, que me parecem razoáveis porque há o cotejo de direitos. Uma coisa é um território na Amazônia em que houve uma grilagem, outra, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, são áreas ocupadas por cidades inteiras. Você vai remover essas cidades? Ele [ministro Moraes] diz: “Não, pode haver algum tipo de compensação negociada, pactuada”. Então, acho que é uma boa saída, justa, pois preserva também os direitos que, às vezes, são centenários. Às vezes você tem pessoas cujas famílias estão morando [na área originalmente indígena] há 100, 200 anos, então não tem como retirar. Inclusive, o caso em julgamento no Supremo refere-se a pequenos agricultores de Santa Catarina, contra a demanda dos indígenas Xokleng.


Fonte: agenciapublica.org


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Lula falar em 'narrativa da Venezuela' não ajuda o Brasil, diz professor

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O professor de relações internacionais Paulo Velasco, da Uerj, afirmou em entrevista ao UOL News que a fala do presidente Lula (PT) durante a visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não ajuda o Brasil.



"Ele de alguma maneira sugere no encontro com Maduro que a Venezuela é uma democracia legítima e que tudo o que se diz a respeito do país faz parte de uma construção de narrativas de adversários. Ele não mencionou quais seriam, mas claramente fica a sugestão na sua fala de que os EUA fazem parte". 

"Não é certamente o tom que ajuda o Brasil a resgatar a sua legitimidade internacional depois de anos tão confusos em política externa", completou.

 


Chico Alves: Com Maduro, Lula troca visita protocolar por mais um cavalo de batalha.

O colunista do UOL Chico Alves também criticou as declarações do presidente Lula durante a visita de Maduro ao Brasil. Para o colunista, Lula acaba alimentando a oposição com esse tipo de declaração.

"Tem o aspecto político interno. Lula tem muitos problemas no Brasil, estamos aí hoje com votações cruciais para o governo dele e aí o presidente Lula acaba arranjando um novo problema para si falando de Maduro, quando poderia tê-lo recebido de forma protocolar, sido cordial, feito uma fala protocolar e a vida seguiria".

"Mas, com esse destaque dado a Maduro, é mais um cavalo de batalha que a direita aproveita no Congresso, para dar declarações contra Lula. Num momento que está cheio de problemas internos, o presidente Lula acaba trazendo um problema de fora para dentro", completou.

Chico Alves também afirmou que as declarações de Lula acabam sendo prejudiciais até mesmo para as pretensões do presidente com relação aos outros países da América Latina.

"Falas muito inadequadas de Lula e que, no âmbito desse encontro com chefes de estado latino-americanos, têm um efeito muito ruim, ao contrário do que se esperava para essa reunião aqui no Brasil. Ele gostaria de capitalizar isso e sair como um líder da América Latina, mas, na verdade, sai marcando a divisão, as diferenças entre os chefes de Estado".

 


Carla Araújo: Maduro no Brasil cria novo desgaste em semana importante para o governo no Congresso, diz Carla

A colunista do UOL Carla Araújo afirmou que a visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acaba criando mais um desgaste para o governo Lula em uma semana importante para o governo junto ao Congresso.

A gente ouve o governo novo e o governo antigo também. É aquela coisa, dizem: "Imagina se é o Bolsonaro". O próprio Mourão foi às redes sociais dizendo: "Não foi o Lula que pediu para não associar ele durante a campanha ao Maduro e agora recebe o Maduro". Tem aí as narrativas para as críticas da oposição para dizer: "Olha, o Lula da campanha é diferente do Lula presidente".

A colunista afirmou, contudo, que as pessoas próximas ao presidente afirmam que o balanço da visita é positivo.

"O entorno do presidente, com quem consegui falar para tirar um balanço da visita, da postura do presidente, da reação da oposição, tem feito um movimento de falar que está tudo certo, que o presidente está colocando o Brasil num protagonismo importante na América do Sul".



Fonte: UOL


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quarta-feira, 3 de maio de 2023

PL das Fake News pode ferir liberdade de expressão, diz especialista

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O diretor executivo do ITS (Instituto de Tecnologia Social) Fabro Steibel afirmouno.

que o PL das Fake News pode ferir a liberdade de expressão.

Ele fere? Ele pode [ferir]. Uma das coisas que está no PL é essa capacidade do Poder Executivo de fazer com que uma ordem tenha 30 dias e renove ela várias vezes. Por que isso pode ferir a liberdade de expressão? Porque você dá um grande poder para o Executivo sem dar segurança, sem dar mecanismos para abusos e falha de governo".


"Como você só dá um mecanismo de retirar ou moderar, mas não cria mecanismo se esse poder for abusado, esse é um risco que tem [de ferir a liberdade de expressão]".

"O bom seriam mais discussões. O Congresso Nacional é um ótimo lugar para isso".

"Como 40% do PL é novo, apesar de haver acúmulos de discussões, muito dele é novo".



Fonte: UOL


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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Ronaldo Ferreira Junior fala tudo sobre o Live Marketing

Foto: reprodução

Pensando nas mudanças que o Live Marketing tem feito no mercado brasileiro e internacional, convidamos Ronaldo Ferreira Junior para uma entrevista exclusiva.

Ronaldo é empresário, CEO da uma Diversidade Criativa, agência especializada na realização de eventos, incentivos e trade. Empreendedor, sócio-fundador do programa de capacitação MDI Mestre Diversidade Inclusiva, em parceria com a Pearson Educacional.

Além disso, também é membro permanente do conselho da AMPRO – Associação Brasileira de Live Marketing. Formado em Comunicação Social e Marketing, é defensor da Diversidade, Equidade e Inclusão como principais valores para a gestão de pessoas no mundo corporativo.

Confira a entrevista com Ronaldo:

1) Como sua agência vê o live marketing, em termos de tendências e de tempos pós-pandemia?

Ronaldo: Enxergamos o futuro de forma positiva e libertadora. E não é uma visão comercial “Poliana”, mas sim uma visão repleta de possibilidades. De verdade, como pessoas e como organizações não estamos felizes com as coisas como elas estão. Nós queremos e podemos encontrar soluções melhores para os negócios e para as pessoas. Despertar a consciência das pessoas e das marcas, para atenderem as necessidades e os desejos reais dos consumidores e dos clientes. Esta é a tendência – E isso acontecerá se apostarmos na conexão gigante que o Live Marketing consegue ter com as pessoas.

2) Pode mencionar e descrever em linhas gerais uma ação de live marketing que você considere um case de sucesso?

Ronaldo: Acho que temos conseguindo resultados muito interessantes a partir do nosso propósito de abraçar as diferenças no mundo corporativo. Estamos ajudando nossos clientes a criarem grandes exércitos de aliados da Diversidade e Inclusão. Temos conseguido a partir destas lentes, provocar a consciência dos colaboradores e colaboradoras de nossos clientes, e partir daí, influenciar na criação de eventos mais inclusivos para os clientes de nossos clientes. E isso vai desde a indústria da Comunicação até o Agronegócio. Para que isso fosse possível, tivemos que investir em programas inovadores de letramento e capacitação de pessoas. Hoje temos trilhas de conhecimento, via whatsapp, com jornadas de 20 minutinhos por dia, na palma da mão das pessoas. Tudo 100% acessível e personalizado.

3) Qual o diferencial de sua agência nesta área, e como é o trabalho em equipe?

Ronaldo: Neste mundo complexo em que vivemos é quase impossível se dar bem e entender o que está acontecendo, sem reunir e ouvir diferentes pessoas dentro de sua agência. Este é o nosso diferencial. Tentamos ser um time cada dia mais diverso. Protegemos nossos clientes com soluções criadas por pessoas diversas e conectadas à realidade.

Nossos profissionais entendem não precisam mais de escritório físico para trabalhar ou status de um cargo para liderar. Todos são gestores de negócios que influenciam e transformam resultados.

E para que isso aconteça, o eco sistema que representa a agência precisa ser um lugar seguro para que as pessoas possam ter a liberdade de ser quem são.

Fonte: ADNEWS


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Inteligência artificial: como usar no marketing?

Imagem: reprodução

Marcel Jientara, da Alana AI, explica as funcionalidades da ferramenta para o setor

Assunto em alta nos últimos meses desde o lançamento do ChatGPT, os usos da inteligência artificial (IA) nos diferentes setores começam a ser pensados. Um futuro que parecia distante se torna mais visível. Para além do lançamento, as ferramentas de IA já vem sendo usadas por empresas em diferentes seguimentos. Um exemplo disso é a Alana AI, empresa de inteligência artificial proprietária para marketing. Mas, como usar a IA no marketing?

Para explorar o tema e contar como essas funcionalidades já podem ser usadas no setor, Marcel Jientara CEO & Co-Founder da Alana AI, conversou com Meio & Mensagem. 

Como a inteligência artificial pode ajudar o marketing?

Marcel Jientara – A inteligência artificial tem três capacidades incríveis: a primeira é de personalização, que a torna capaz de criar uma forma de aproximação que estimula o engajamento dos consumidores com uma marca sem, é claro, perder de vista o valor e a relevância do produto. A segunda é a escalabilidade, que permite que a marca consiga entregar o mesmo nível de personalização para dez, cem, mil, 10 mil ou 100 mil clientes sem escalar os custos, o que seria impossível com um time composto apenas por humanos. O motivo é aquele que muitos conhecem: existe um limite para o trabalho que uma pessoa consegue fazer em um dia, principalmente em termos de quantidade. Por último, mas não menos importante, a inteligência artificial tem a habilidade de interpretar dados, utilizá-los para o próprio aprendizado e gerar conhecimento importante para elevar os objetivos e conquistas de uma marca. É o maior diferencial da IA na área de marketing: sempre adaptar as estratégias de acordo com os novos dados e as análises geradas por relatórios de performance.

O que já é possível fazer e o que é preciso?

Jientara – Hoje, a inteligência artificial consegue atuar em todo o ciclo de marketing. É possível, por exemplo, segmentar o mercado com base no comportamento do consumidor, gerar insights para posicionamento de marca e suportar a tomada de decisões em marketing com base em fatos e dados. A plataforma traz os insights gerados pela Alana de acordo com os objetivos da marca selecionada e os dados coletados. Caso você seja um cliente, por exemplo, é possível definir como objetivo o aumento da taxa de engajamento. Uma vez conectada, a Alana fará uma varredura, analisará dados para formular estratégias possível e, assim que pronta, trará insights dentro da própria plataforma para que sua equipe possa atuar de maneira mais direcionada.

Quais os benefícios e vantagens de trabalhar com IA no marketing?

Jientara – Para o marketing, a implantação da IA também tem sido muito significativa. A rotina das equipes se torna mais simples e processos como criação de campanhas, estratégias e relacionamento com clientes passam a ser feitos de forma muito mais segura e assertiva. A tendência para o futuro é que o marketing IA se torne cada vez mais simples e mais personalizado devido a capacidade de analisar uma grande quantidade de dados e interpretá-los de forma inteligente.

O mercado brasileiro já está preparado para o uso da ferramenta? Como anda a adesão?

Jientara – O Brasil é, dentre os países latino-americanos, o país que mais utiliza a IA em suas indústrias. Parte desse uso, porém, está restrito a grandes empresas e companhias especializadas no assunto devido ao alto custo dessas tecnologias.

Quais são as maiores dificuldades e obstáculos?

Jientara – Ainda existem barreiras para a adoção completa de AI no País, mas  vemos duas como principais. A primeira é o alto custo. Inteligência artificial de qualidade é muito cara, projetando, assim, um cenário em que apenas as grandes marcas podem adotá-la no dia a dia. A segunda é a barreira linguística: existem pouquíssimas inteligências artificiais que operam nativamente em português. A enorme maioria das pessoas que utiliza IA no Brasil usa tradutores automáticos, o que compromete muito a qualidade do resultado final. Por isso, desde o dia 1, investimos em pesquisa e tecnologia proprietária. Criamos a Alana totalmente do zero para funcionar nativamente em português. Isso não só extingue o risco de problemas com tradução, mas também garante que entenda regionalismos, gírias, expressões e até mesmo erros gramaticais de maneira muito melhor. Isso também é parte do motivo pelo qual conseguimos reduzir o preço: como a tecnologia é nossa, não precisamos repassar nenhum custo adicional para o cliente. Isso torna a tecnologia acessível para pequenas e médias marcas que, em outras condições, não poderiam utilizá-la para o próprio benefício.

Quais as diferenças do uso no Brasil e no exterior?

Jientara – Existe muito material sobre inteligência artificial em inglês, mas pouco em português. Aliás, como eu disse na pergunta anterior, a grande maioria das inteligências artificiais foram feitas para funcionar em inglês e, quando vêm para cá, vêm com o auxílio da tradução. Por isso, tomamos a frente e estamos desenvolvendo o cenário da inteligência artificial no Brasil, investindo em cursos abertos ao público, centros de pesquisa, eventos e palestras. O Brasil é um país muito grande, possui um idioma riquíssimo e não pode ser coadjuvante nesse cenário. 

Fonte: meioemensagem / via proxxima


sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Educação é prioridade de Professora Dorinha

Foto: Reprodução

A senadora eleita Professora Dorinha Seabra Rezende (União-TO) anunciou, em entrevista à TV Senado, que o aperfeiçoamento do modelo educacional público no Brasil será a tônica de sua atuação. Deputada desde 2011, Professora Dorinha foi eleita senadora pelo Tocantins com cerca de 400 mil votos em 2022, a maior votação para o Senado na história de Tocantins.

Na entrevista, Professora Dorinha lembrou que foi a relatora, em 2020, da nova regulamentação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que aumentou a participação da União no fundo, e o incluiu na Constituição (emenda 108). Pedagoga, professora universitária e ex-secretária de Educação de Tocantins por 11 anos (de 1998 a 2009), Professora Dorinha deixa claro que continuará lutando para que os professores recebam melhores salários e que as escolas públicas melhorem a infraestrutura.

—  Quando relatei o novo Fundeb, debati muito com a equipe econômica (do ex-ministro Paulo Guedes). Eles defendiam a tese de que o Brasil já investia muito em educação, de que nossos gargalos seriam a gestão e qualidade deste investimento. Só que isso não é verdade, a imensa maioria dos professores brasileiros, mesmo quando tem mestrado e doutorado, ganham muito pouco. A imensa maioria dos professores, mesmo com pós-graduação, se aposenta com vencimentos em torno de R$ 5 mil. Além disso, todos sabemos que a maioria das escolas públicas em nosso país ainda não tem sequer um saneamento básico adequado. Um país nessas condições não pode achar que os investimentos em educação já são suficientes — explica.

Foi com base nesse ponto de vista que Professora Dorinha incluiu no novo Fundeb que parte do aumento dos recursos da União seja voltado à infraestrutura escolar e à formação docente. A senadora eleita também conseguiu incluir mecanismos voltados à medição da melhoria da qualidade do ensino. Professora Dorinha não se conforma que, em pleno século XXI, ainda seja comum que muitos alunos terminem o Ensino Fundamental de forma precária.

— É inaceitável que ainda hajam alunos que chegam ao 9º ano do Ensino Fundamental sem saber efetivamente ler e escrever ou com resultados ainda muito abaixo do que deveriam atingir ao concluir essa fase escolar. Ou mesmo terminar o Ensino Médio sem atingir níveis satisfatórios de compreensão de textos ou sem o nível adequado em Matemática e outras disciplinas de Ciências exatas. Parte da solução desse grave problema passa pela consolidação do ensino integral — defende Professora Dorinha.

A senadora eleita afirma que a expressão "ensino integral", em que o aluno passa oito horas por dia envolvido nas atividades escolares, só existe em países como o Brasil, que ainda exigem da imensa maioria de seus alunos, especialmente no setor público, apenas quatro horas diárias de atividades escolares. Nos países que de fato priorizam a educação, entre eles os mais desenvolvidos do planeta, a expressão "ensino integral" sequer é utilizada, pois a permanência de crianças e jovens durante todo o dia nas atividades educacionais é algo natural.

Além da pauta educacional, Professora Dorinha ressalta que dará continuidade à luta pela causa feminista. Na Câmara, ela presidiu a Frente Parlamentar que reunia todas as deputadas, independentemente de orientação partidária ou ideológica. Ela está convencida que o Brasil ganha com uma maior participação das mulheres na política.

— A maioria das pessoas com formação superior no Brasil são mulheres. O que não falta no Brasil são mulheres que se destacam na Ciência e outras inúmeras atividades profissionais e técnicas. Mas isso se contrasta com estruturas partidárias e legislativas ainda totalmente dominadas por homens. Esse é o gap que precisa ser enfrentado, inclusive por meio de iniciativas legislativas. No mundo político, ainda prevalece a visão de que a maioria da mulheres não gosta de política, mas isso precisa ser superado, inclusive pela representação garantida pelas cotas — defende.

Fonte: Agência Senado

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

“Damos tanta atenção à felicidade que não lidamos com a tristeza”

Imagem: Reprodução

Em entrevista, o historiador norte-americano Peter. N. Stearns fala sobre seu novo livro lançado no Brasil, que aponta como a noção de felicidade mudou ao longo dos séculos.

A busca pela felicidade é tratada por filósofos, religiosos e políticos desde as primeiras civilizações. Na China do século 5 a.C., Confúcio pregava que o contentamento resulta da harmonia, embora esse estado fosse incompatível com o contexto de guerra que o pensador vivia. Para Aristóteles, um século depois, toda ação humana tinha como objetivo a felicidade. Na Idade Média, no entanto, essa associação ficou de lado. A Igreja Católica passou a sugerir que a verdadeira felicidade só poderia ser atingida após a morte e que, em vida, as mazelas nos fortaleceriam.

Outra virada ocorreu no final do século 17: com os iluministas, o desejo de ser feliz voltou ao centro do debate social, político e até econômico. Essa visão, aliás, ainda perdura no Ocidente. Nessa parte do mundo também imperam os valores das Revoluções Industriais, nos séculos 18 e 19, que aproximaram a noção de felicidade da necessidade de bens materiais.

As nuances e os vários fatores que contribuíram para a ideia de felicidade que temos hoje estão descritos no livro História da Felicidade, do estadunidense Peter N. Stearns, lançado no Brasil em outubro pela Editora Contexto. Formado em história pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Stearns é professor da Universidade George Mason, também nos EUA, onde foi reitor entre 2000 e 2014. Sempre muito interessado em desvendar outras culturas, ele se dedica a conhecê-las por meio do estudo da história das emoções. “Devemos olhar ao redor do mundo e tentar entender como operam essas diferentes visões”, sugere o estudioso de 86 anos, em entrevista.

Autor também dos livros A infância (2006), História das relações de gênero (2007) e História da sexualidade (2010), todos publicados no Brasil pela Contexto, Stearns reflete sobre como podemos nos beneficiar de pesquisas sobre a felicidade. Na entrevista a seguir, ele também comenta as dificuldades de construir uma perspectiva histórica e global do contentamento e como esse sentimento tem sido abalado pela pandemia de Covid-19.

Quando falamos em história, primeiro vêm à mente guerras, revoluções, dinastias. Mas você escolheu se especializar em aspectos mais subjetivos que atravessam a história da humanidade, como a infância, as relações de gênero e, agora, a felicidade. De onde vem esse interesse?

Eu tenho trabalhado com a história das emoções desde a década de 1980, inicialmente com foco em raiva e ciúmes, porque percebi que a compreensão sobre determinadas emoções pode mudar ao longo do tempo. Então, como historiador, tento descobrir por que e como essas concepções foram se transformando e, assim, vou ajudando a construir um conhecimento adicional que nos dá uma perspectiva maior sobre como nossas emoções contemporâneas se desenvolveram.

Quais são os maiores desafios ao fazer essa retrospectiva da evolução das nossas emoções?

Há muitas dificuldades. A primeira delas é que, obviamente, as ideias sobre determinada emoção diferem muito de uma região para outra. Por exemplo, o Japão é um país muito próspero e bem- -sucedido, mas não se sai muito bem em pesquisas sobre felicidade. Então, é preciso tentar descobrir o que acontece na cultura nipônica e determinar se os japoneses são realmente menos felizes do que outros povos ou se simplesmente definem a felicidade de forma diferente do tipo de felicidade que a pesquisa tentou mensurar.

É fascinante apreciar essas diferentes visões, mas é também desafiador. Particularmente se não há muita pesquisa sobre certo assunto. Por exemplo, é necessário produzir mais trabalhos sobre o padrão de felicidade na África Subsaariana, inclusive do ponto de vista histórico. Ter informações o bastante é outro desafio. É bem fácil falar sobre o que pensadores como Aristóteles e Confúcio disseram sobre felicidade, mas muito, muito mais difícil dizer o que pessoas comuns pensavam sobre isso.

É necessário produzir mais trabalhos sobre o padrão de felicidade na África Subsaariana, inclusive do ponto de vista histórico”

— Peter N. Stearns reflete sobre a falta de pesquisas fora da Europa Ocidental

No livro história da felicidade, você também cita como desafio o fato de a maior parte das pesquisas sobre o assunto serem feitas sobre e sob a perspectiva da europa ocidental. o que tem sido feito para mudar essa tendência?

Há um crescente interesse sobre a história da felicidade em outras culturas. Então, talvez daqui alguns anos isso deixe de ser um problema. Na América Latina, acabam de criar uma nova sociedade focada na história das emoções [Sociedad Iberoamericana de Historia de las Emociones y la Experiencia]. Esta é uma região onde a pesquisa está realmente crescendo, mas ainda não é tão abundante quanto na Europa Ocidental. Ainda assim, os estudos têm começado a se diversificar em termos de origem.

Outra região sobre a qual precisamos saber mais é a Ásia. De forma geral, temos mais registros sobre a felicidade no leste do continente. As comunidades dessa região costumam ser menos individualistas do que as ocidentais. Enquanto nós nos sentimos mais confortáveis ao falar sobre a importância da felicidade individual e, em alguns casos, até mesmo dizer como os outros podem ficar mais felizes, as culturas do Leste Asiático estão mais focadas em conexões e questões coletivas, na importância do pertencimento. Essa é uma diferença fundamental.

Ao menos no ocidente, a ideia de felicidade está muito ligada ao acesso a bens materiais e serviços que até pouco tempo nem existiam. Quando olhamos para aquelas culturas que viviam de hábitos agrários e formaram as primeiras sociedades, o que importava para ser feliz?

As sociedades agrárias colocavam muita ênfase no número de filhos que a família deveria ter. Isso foi, por um tempo, um fator de definição de felicidade para os gregos, por exemplo. Muitas sociedades agrárias eram bastante religiosas. Então, na história da felicidade, é importante procurar entender o que diferentes religiões diziam sobre essa emoção. Por exemplo, o Cristianismo falava sobre ser feliz nesta vida, mas despendia mais atenção à felicidade na vida após a morte. O papel da família e da religião são dois fatores que foram fundamentais para as sociedades agrárias até se tornarem mais industriais.

Seu livro aponta o iluminismo e a revolução industrial como acontecimentos essenciais para moldar a concepção contemporânea de felicidade. Como você explica a influência de cada um desses episódios hoje em dia?

O Iluminismo é absolutamente fundamental na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e na América Latina. O movimento argumentava que a felicidade neste mundo é perfeitamente normal e defendia que as pessoas deveriam tentar ser felizes. Os iluministas discorreram sobre o direito à felicidade, uma ideia bem inovadora, e pensavam que, em uma sociedade adequadamente organizada, a felicidade social e individual deveria aumentar. Essa é uma mudança muito dramática em comparação a visões mais tradicionais que prevaleciam até então. Com o Iluminismo, os teóricos políticos começaram a falar sobre como suas teorias promoveriam mais felicidade. Essa é uma mudança fundamental na visão global sobre a emoção.

A industrialização é um processo cujo papel é ambíguo, já que ela dificultou a vida para muitas pessoas — pelo menos por um tempo. Esse processo criou novas divisões, mas, a longo prazo, ajudou a promover a ideia de que uma vida material melhor era um aspecto crucial da felicidade e que, se a economia estivesse bem, a felicidade estaria garantida. Enfatizar o papel do crescimento econômico é exagerado, mas acho que é uma visão comum ainda hoje e a industrialização encorajou essa conexão.

Temos uma necessidade de não apenas ser felizes, mas de parecermos. você apontaria algum fator histórico que tenha contribuído para essa imposição?

Acho que há algumas diferenças dependendo de em qual sociedade você vive. Mas, pelo menos em lugares como a Europa Ocidental, o Iluminismo também reforçou a necessidade de parecermos alegres. As pessoas eram encorajadas a sorrir mais, as crianças também deveriam ser mais felizes e desfrutar de sua infância. Preocupar-se com pessoas que não pareciam ser felizes o bastante também foi um aspecto importante nessa nova ênfase na felicidade.

Em 2005, um artigo publicado na revista review of general psychology ficou famoso ao concluir que cerca de 50% do nosso contentamento depende de fatores genéticos. O que isso muda no debate sobre a felicidade?

A partir dessa descoberta, é possível inferir que algumas pessoas têm maior predisposição para personalidades mais alegres. Mas a genética não é o único fator. Diferentes padrões culturais e situações da vida real interagem com a genética. Se você está em uma situação de guerra ou doença, isso vai desafiar a sua felicidade genética. Afinal, a felicidade é composta por uma combinação de fatores.

“Se você está em uma situação de guerra ou doença, isso vai desafiar sua felicidade genética. A felicidade é composta por uma combinação de fatores”

— Stearns pondera a influência da genética na felicidade

Afinal, como os estudos sobre felicidade podem ajudar a melhorar nossa vida?

Estudar a felicidade, primeiramente, nos dá a compreensão de que as definições acerca dela são parcialmente construídas pela nossa sociedade. Isso não significa que os padrões contemporâneos estejam errados, mas podemos entender que eles se desenvolveram ao longo do tempo e reagir diferentemente a eles. Para mim, a maior vantagem de estudar a felicidade é dar aos indivíduos a oportunidade de pensar quais são suas próprias definições.

Fotografia do livro "História da Felicidade" escrita por Peter N. Stearns
( (Editora Contexto, 368 páginas) — Foto: Arquivo pessoal

Muitos condicionam a felicidade a padrões de vida, consumo e luxos; enquanto outros a definem por um senso de realização, um desejo de contribuir para a sociedade. Esse tipo de discussão ajuda indivíduos a decidirem quais são seus modelos. Estudar a felicidade não dita às pessoas como ser feliz, mas sugere formas de refletir sobre isso, para que tenham uma perspectiva mais ampla e clara sobre o assunto.

Analisando o passado e nosso contexto atual, em recuperação de uma pandemia, é possível estabelecer alguma tendência sobre a felicidade nos próximos anos?

Agora, a felicidade está um pouco abalada em todo o mundo. A pandemia claramente perturbou a todos. Em lugares como os Estados Unidos e o Brasil, há também divisões políticas e ameaças de violência. A felicidade está comprometida, mas eu espero que isso seja temporário e que possamos prosseguir com a possibilidade de ter uma maior felicidade ou uma maior atenção à nossa felicidade quando nos recuperarmos da pandemia e de alguns desafios econômicos.

Para a maior parte das pessoas, no mundo todo, encontrar a felicidade agora é mais difícil do que há alguns anos. Teremos que observar o quão durável será esse período.

Você tem alguma lição que tenha aprendido sobre a felicidade ao longo da produção do livro e que possa compartilhar com os leitores brasileiros?

A lição número um é que é importante reconhecer que a sociedade está diferente e que há definições culturais distintas sobre ela. Devemos olhar o mundo e tentar entender como operam essas diferentes visões.

Mas eu acho que a maior lição, pelo menos para a cultura ocidental, é não prestar muita atenção, o tempo todo, ao quanto somos felizes. Damos tanta atenção à felicidade que não lidamos com a tristeza ou com contratempos tão bem quanto deveríamos. É importante manter o equilíbrio entre felicidade e outros aspectos da vida, outras pressões.

Por fim, escrever este livro sobre a felicidade fez você mais feliz?

Boa pergunta [risos]! Sim, me fez mais feliz porque eu amo pesquisar. Ter essa publicação traduzida para o português também me fez mais feliz, então, o saldo é positivo

Fonte: revistagalileu


sábado, 14 de agosto de 2021

Comportamento do consumidor: o poder das empresas que sabem ‘minerar’ dados

Imagem: Reprodução

Como saber que um cliente vai cancelar a assinatura de um serviço antes dele mesmo? Por que a aposentadoria precoce reduz a expectativa de vida? Por que os vegetarianos perdem menos voos? Como a Target descobre que uma mulher está grávida? Como a Hewlett-Packard deduz que um funcionário está prestes a pedir demissão? Como, enfim, prever o comportamento do consumidor?

As respostas a perguntas como essas estão longe do campo da adivinhação: moram na ciência de dados. A forma como as empresas captam, mineram e usam esses dados permite que elas tomem decisões melhores, determinando que consumidor deve ser abordado, de que forma e quando.

“[A análise preditiva] direciona anúncios, otimiza a cadeia de suprimentos e oferece suporte a decisões sobre produtos e vitrines – em quais SKUs focar e onde construir o próximo ponto de venda”, explica Eric Siegel, um dos maiores especialistas no assunto e autor do livro “Análise Preditiva: O poder de prever quem vai clicar, comprar, mentir ou morrer”.

Siegel será um dos destaques do Latam Retail Show 2021, maior evento de consumo e varejo B2B do Brasil, que será realizado entre os dias 14 e 16 de setembro (clique aqui para mais informações). Em entrevista à Mercado&Consumo, ele explicou como a ciência de dados ajuda as empresas a compreender o comportamento do consumidor e falou sobre como as mudanças no consumo decorrentes da pandemia de Covid-19 intensificaram a necessidade de análises preditivas.


Eric Siegel, autor do livro “Análise Preditiva: O poder de prever quem vai clicar,
comprar, mentir ou morrer” - Foto: Reprodução

M&C: Que valor a análise preditiva oferece às empresas de varejo quando se fala em prever o comportamento do consumidor?

Eric Siegel: A análise preditiva, que é outra palavra para machine learning (quando aplicada a negócios), gera uma pontuação preditiva para cada indivíduo – como cada cliente, usuário, transação, etc. O valor vem em como essa função é aplicada. Em marketing, é um meio de direcionar, seja para adquirir novos clientes, seja para reter clientes existentes. Por exemplo, visando aqueles que estão em maior risco de cancelamento, a fim de fornecer-lhes uma oferta de retenção.

Além do marketing, a pontuação preditiva se aplica amplamente a empresas de varejo e a todos os setores. É o meio de detectar e filtrar transações fraudulentas. Ela direciona anúncios, otimiza a cadeia de suprimentos e oferece suporte a decisões sobre produtos e vitrines – em quais SKUs focar e onde construir o próximo ponto de venda.

M&C: Que tipo de transformação – e evolução – a ciência de dados teve durante a pandemia de Covid-19?

ES: Ciência de dados é uma expressão ampla que pode muito bem se referir a qualquer esforço para usar dados para valor de negócios, então irei abordar a questão conforme ela se aplica a análises preditivas e machine learning, uma vez que são bem definidos. As mudanças intensas no comportamento do consumidor decorrentes da pandemia intensificam a necessidade de análises preditivas. A forma de gerar pontuações preditivas é pelo aprendizado com os dados. Cada vez que você cria um novo modelo preditivo, está usando dados mais recentes, portanto, está “aprendendo” com o histórico mais recente. Portanto, dada a maneira como a pandemia pode criar um “novo mundo” em qualquer semana, a capacidade de atualizar o comportamento dos negócios para se adaptar rapidamente ao “novo normal” é muito mais importante.

M&C: Quais são os maiores desafios na adoção da análise preditiva?

ES: O grande desafio é organizacional, não técnico. É o requisito frequentemente esquecido de uma prática de liderança muito particular para garantir que a análise de números realmente gere valor de negócios, o que só acontece se o modelo preditivo for realmente implantado. Essa implantação significa que as previsões por indivíduo são incorporadas às operações de negócios existentes para que essas operações sejam alteradas e aprimoradas levando-se em consideração as pontuações. Esse resultado final muitas vezes não é alcançado e, portanto, todo o projeto de machine learning é um fracasso do ponto de vista do negócio. Para resolver isso, esse plano de implantação deve ser compreendido e acordado em toda a organização. Essa meta organizacional só é alcançada seguindo um processo de liderança de machine learning muito específico.

M&C: Quais são as tendências atuais em análises e com que rapidez elas mudam?

O método de machine learning mais eficiente atualmente é o deep learning. É muito avançado e poderoso. No entanto, para a aplicação nos negócios, geralmente é um exagero. Muitas vezes, não vale a pena o aumento da complexidade, pois pode representar um ganho muito pequeno na melhoria preditiva. Em geral, melhorar a quantidade e a qualidade dos dados compensa muito mais do que aumentar a complexidade do método de modelagem.

M&C: Que desafios você vê para os profissionais da área de análise de dados?

ES: De longe, o maior desafio – o problema que mais frequentemente mata um projeto de análise preditiva – é o dilema organizacional que mencionei acima, a falta de um caminho pré-estabelecido para uma implantação bem-sucedida. O motivo pelo qual essa prática de liderança específica deve ser adotada é que o foco da maioria das pessoas está muito na tecnologia central “empolgante”, em vez de em como ela realmente exigirá grandes mudanças nas operações de grande escala existentes. As necessidades de gerenciamento de mudanças são subestimadas. Certifique-se de planejar exatamente como o valor será gerado ativamente com o machine learning. A análise principal e a análise de números não são independentes – não podem ser conduzidas no vácuo. É apenas um componente de um projeto de toda a organização.

Fonte: mercadoeconsumo