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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Feminismo atual é voltado a uma minoria privilegiada, diz filósofa feminista

Imagem: reprodução

O feminismo atual é "distante" para a grande maioria das mulheres e só encontra eco entre as "muito privilegiadas". Essa avaliação é feita por Nancy Fraser, filósofa americana e professora titular de ciências políticas e sociais da New School for Social Research, em Nova York.

Feminista, Fraser publicou diversos livros sobre filosofia política e social nos EUA e Brasil, incluindo Feminismo para 99% - um manifesto, e conversou com a BBC News Brasil sobre o debate acerca da diversidade e pautas identitárias que toma conta do cenário político atual.

Ela faz críticas à esquerda sobre representantes de movimentos identitários que, segundo ela, se unem a uma "agenda neoliberal", que teve efeitos negativos no bem-estar social dos trabalhadores em todo o mundo, em uma luta para 1% da população.

"O feminismo para os 99%, como entendemos, é um projeto de entender que você não pode separar gênero de raça, classe, sexualidade, ecologia, democracia e políticas econômicas", disse.

Fraser cunhou o termo "neoliberalismo progressista" para tentar descrever uma aliança entre parte da elite capitalista, centrada em Wall Street e no Vale do Silício - e que busca o livre mercado para empresas e a redução da intervenção do Estado - e liberais de movimentos feministas, antirracistas, ambientalistas e LGBTQIA+.

Para ela, a aliança do "neoliberalismo progressista" dominou a pauta política das últimas décadas e ajudou na ascensão de nomes como Donald Trump, nos EUA, e de Jair Bolsonaro, no Brasil.

Fraser também critica o debate que se formou acerca da indicação do advogado Cristiano Zanin Martins para a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste mês. Políticos de esquerda e representantes da sociedade civil afirmaram que a opção deveria ter sido por uma mulher negra.


'O feminismo atual é um grito distante para a grande maioria e faz eco apenas para
essas mulheres muito privilegiadas', diz Nancy Fraser - foto: reprodução

Para a filósofa, contudo, as condições de sexo e raça do candidato não devem ser as únicas a serem consideradas para a escolha.

Confira a entrevista da BBC News Brasil com a filósofa:

BBC News Brasil -Para começar, queria entender melhor a sua definição do "neoliberalismo progressista" e como a senhora vê a atual crise pela qual a democracia passa em países como EUA e Brasil?

Nancy Fraser - O neoliberalismo progressista é um termo que cunhei para tentar descrever uma aliança entre uma fração da elite capitalista, centrada em Wall Street, no Vale do Silício e Hollywood, lugares simbólicos do capital hi-tech, e de parte dos liberais mainstream de movimentos feministas, antirracistas, ambientalistas e LGBTQIA+.

Em muitos países, o neoliberalismo se consolidou com esse tipo de aliança com os progressistas. Você poderia citar Ronald Reagan [ex-presidente dos EUA] e Margaret Thatcher [ex-primeira ministra do Reino Unido], tipos originais de conservadores e que introduziram o neoliberalismo nesses países, mas em outros locais, o neoliberalismo foi realmente consolidado por um tipo de política quase que de centro-esquerda.

Falamos, por exemplo, de Bill Clinton, que construiu o que chamamos de “Novos Democratas” - uma força política utilizada para marginalizar a ala esquerda do partido Democrata. Podemos citar também o novo Partido Trabalhista de Tony Blair, no Reino Unido, que são os exemplos mais célebres.

Clinton e Blair colocaram, em um mesmo movimento político, feministas, antirracistas, ambientalistas e ativistas LBGTQIA+ de um lado e uma parte muito cosmopolita e super tecnológica dos empresários do outro.

A ideia era realmente promover uma liberalização, mercantilização e financeirização da economia, mas que teve efeitos muito negativos na segurança econômica e no bem-estar social das classes trabalhadoras em todo o mundo.

As forças que desejavam esse tipo de projeto econômico precisavam de algum carisma, algum tipo de toque especial, que faria esse projeto se tornar atrativo e vinculado a algo que poderia obter amplo apoio. Isso, de certa forma, forneceria cobertura perante a sociedade, dado que essa política econômica é feita para os ricos, mas que, com isso, poderia ser vista como algo amigável pelo restante.

Portanto, tal política econômica foi fundida com uma forma de feminismo meritocrático, antirracista e ambientalista. Com isso, essa forma de política socioeconômica conseguiu a imagem de ser algo emancipatória, excitante, que olhava para frente.

Em alguns países, como na Alemanha liderada pelo ex-primeiro-ministro Gerhard Schröder, do SPD (Partido Social-Democrata alemão), essa política teve muito sucesso, mas acho que nunca houve um nome para isso. Por isso, comecei a definir esse conjunto de políticas como “neoliberalismo progressista”, pois eu queria realmente sinalizar o neoliberalismo como um projeto econômico muito inconstante e oportunista.

BBC News Brasil - O "neoliberalismo progressista" fez com que as discussões se tornassem mais identitárias, ao invés de econômicas, tanto nos EUA como no Brasil?

Fraser - Eu distinguiria a discussão entre políticas de distribuição e políticas de reconhecimento. Distribuição é exatamente sobre economia. É sobre trabalho, seguros, salários, sobre também quem paga impostos, quanto as empresas deveriam pagar ou quanto a classe média deveria pagar. Tudo isso é o que eu penso sobre as políticas de distribuição.


Fraser afirma que 'para ter uma sociedade genuinamente justa, precisamos de uma política
de inclusão e reconhecimento e de políticas de distribuição igualitárias' - foto: reprodução

Do outro lado, há as políticas de reconhecimento, que tem a ver realmente como nós reconhecemos todos os membros da nossa sociedade. Pessoas que pertencem a grupos que são historicamente marginalizados, como, por exemplo, gays e lésbicas, trans, mulheres negras, imigrantes, minorias religiosas, entre outros.

Essas pessoas serão reconhecidas como membros plenos da nossa sociedade? Eles terão os mesmos direitos? Para mim, você precisa das duas discussões. Para ter uma sociedade genuinamente justa, precisamos de uma política de inclusão e reconhecimento e de políticas de distribuição igualitárias. E, caso haja um desbalanceamento, se focar em um e ignorar o outro, as coisas irão dar errado.

Eu diria que na era do New Deal e da social democracia nos EUA, havia um grande stress sobre políticas mais igualitárias de distribuição, sem uma atenção igual para políticas de reconhecimento. Nas décadas seguintes, em especial nas décadas de 1980, 1990 e 2000, a ênfase mudou apenas para o reconhecimento ou diversidade.

Acredito que, por muito tempo, isso sugou o oxigênio de outras discussões. O foco principal dos movimentos sociais progressistas não estava na parte da distribuição, o que foi um desastre porque foi nessas décadas que o neoliberalismo estava se desenrolando e que era o momento real em que você precisava redobrar a atenção sobre a distribuição de renda.

Ao invés de trabalharmos para que ambas políticas fossem o foco e houvesse uma conexões entre eles, nós tivemos o foco apenas no reconhecimento ou, como você diz, nas pautas identitárias.

Mas, tenho que dizer que recentemente as coisas estão mudando novamente. Eu acho que nós estamos tendo, desde a eleição de Trump nos EUA em 2016, uma mudança das massas, que começam a se virar contra o sistema.

Com essas circunstâncias, há mais atenção sobre distribuição e há versões disso na direita e na esquerda, como Trump e Sanders, nos EUA, por exemplo. Agora, a diferença entre os dois está no reconhecimento. Trump é um branco, nacionalista, anti-imigração, antigay e antitrans, enquanto que do outro lado há inclusão.

Estamos começando a retornar nessa questão de distribuição e reconhecimento e, nos EUA, neste momento, a direita está fomentando uma guerra cultural focada naquilo que podemos falar nas escolas, o que devemos ensinar sobre o racismo nas escolas, dentre outras coisas.

Isso é uma estratégia deliberada para distrair a atenção para longe das políticas econômicas porque os Republicanos, incluindo Trump e seus concorrentes, ainda têm um programa econômico pró-ricos. Eles não querem falar muito sobre isso. Isso é distração.

Então, o desafio para o outro lado é resistir a ser tragado pela guerra cultural e deixar o debate econômico de lado ou, ao menos, entender como conectar essas duas visões novamente.

A diversidade está se tornando uma palavra utilizada apenas pelas empresas. Todas as companhias, toda universidade, tem um departamento de diversidade e essas pessoas são completamente desconectadas de qualquer ideia de como um conteúdo crítico deveria ser. Isso é uma política muito rasa. Não é algo igualitário.

As vezes, aqui nos EUA, nós dizemos "black faces in high places". Então, sem qualquer atenção para a situação da massa das pessoas negras, essa diversidade não possui um conteúdo real e é uma nova distração basicamente.

BBC News Brasil - Mas isso ocorreu por causa da própria esquerda ou a extrema-direita pautou o debate?

Fraser - Eu acho que é uma ótima questão, mas muito complicada. Eu venho pensando muito nisso. De um lado, nós não devemos fazer parte dessa política de distração, não podemos deixar com que todos os debates institucionais sejam sobre esses problemas. Nós não podemos jogar o jogo deles.

Ao mesmo tempo, o que eles estão fazendo é tornar alvo e usando de bode expiatório pessoas reais. Então, nós não podemos lidar com um projeto que nega serviços sociais para uma juventude trans, por exemplo, que está em uma situação frágil e vulnerável.

Nós temos que, de alguma forma, estarmos preparados para defender indivíduos que estão sendo usados, ao mesmo tempo que defendemos os direitos de reprodução, que é um outro foco de ataque.

Por isso, deveríamos falar sobre tais pontos, mas a parte difícil é perceber como conectar esses dois problemas. Isso não é fácil.

BBC News Brasil - A senhora acha que esse "neoliberalismo progressista" ajudou na eleição de presidentes da direita radical, como Trump nos EUA e Bolsonaro, no Brasil?

Fraser - Sim, com certeza. Nos EUA não há dúvidas que o bloco do neoliberalismo progressista, que consolidou o neoliberalismo e marginalizou a parte pró-trabalhista do partido Democrata, realmente tem uma grande parte de responsabilidade na deterioração das condições e dos padrões de vida no país.

No chamado Cinturão da Ferrugem, que é historicamente o coração da indústria americana e hoje é um terreno baldio com muitos problemas de vício em opioides e violência armada, o neoliberalismo progressista tem muito o que responder. Eles, basicamente, supervisionaram a transição de uma classe trabalhadora altamente sindicalizada para uma massa de trabalho mal paga e precarizada.

Não há dúvidas que isso ajudou Trump, mas também ajudou Bernie Sanders. Em outras palavras, as pessoas entenderam, em um certo momento, que eles não poderiam seguir essas políticas neoliberais, que eles precisavam de uma alternativa para uma situação que Antonio Gramsci chama de “crise da hegemonia”.

Elas perceberam que o establishment não é mais confiável, o senso comum já não era mais persuasivo, então as pessoas estavam olhando para uma alternativa radical. Algumas olharam para Trump, outras para Sanders, e o que é muito interessante é que às vezes elas optavam por Sanders, mas com ele fora da disputa, votaram em Trump, em um fenômeno semelhante ao que ocorreu no Brasil, com o voto “Bolsolula”.


Para Fraser, em alguns países, como os EUA, 'o feminismo liberal vem sendo
hegemônico' - foto: reprodução

Qualquer forma de neoliberalismo se tornou tóxica, politicamente falando. As pessoas começaram a procurar alternativas para esse sistema. Em um país como os EUA, onde o neoliberalismo se aliou aos progressistas, é compreensível que Trump fosse o beneficiário maior dessa busca. Isso porque o neoliberalismo se associou muito ao tema da diversidade e, ao rejeitar esse sistema econômico, acabam por rejeitar também a pauta identitária.

BBC News Brasil - No livro Feminismo para os 99% por que a senhora afirma que “o feminismo liberal está falido” e que “é necessário um feminismo para a grande maioria”. O que seria isso?

Fraser - O feminismo sempre foi um movimento com muitas correntes e facções diferentes, ou seja, o feminismo é algo com muitas visões e argumentações. No entanto, em países como os EUA, o feminismo liberal vem sendo hegemônico. Isso se tornou um padrão porque o liberalismo é muito forte na nossa cultura, em geral.

O feminismo surgiu como um movimento radical, em uma nova esquerda, anti-imperialista e anticapitalista, mas assim que a poeira baixou, o feminismo virou um grupo de interesse por assim dizer, e amplamente colado ao partido Democrata nos EUA.

Isso se tornou um assunto normal, uma tendência, e mais e mais focado em como colocar um pequeno número de mulheres em posições de poder dentro de uma hierarquia corporativa, do mundo político e até mesmo na hierarquia militar.

A ideia era que segurar as mulheres embaixo seria uma discriminação e se removessemos essa discriminação, essas mulheres super talentosas poderiam alcançar o topo. Isso é uma visão absurdamente rasa, que ignora completamente as bases da subordinação das mulheres em uma sociedade moderna, que é como dividimos o trabalho produtivo do trabalho de reprodução social, onde pagamos um e o outro não.

Isso é uma característica arraigada profundamente na sociedade, que tem efeitos gigantescos nas chances de vida de homens e mulheres. Então, focaram na ideia de que queremos a meritocracia, da ascensão talentosa, mas a meritocracia não é o mesmo do que igualdade.


Para Fraser, é necessário ir além da legalização do aborto - foto: reprodução

Eu acho que nós tivemos evidências suficientes nos últimos 40 anos para ver que esse feminismo realmente não é capaz de garantir uma condição satisfatória e igualitária para mulheres de todas as classes sociais e raças.

Isso foi manejado de maneira perfeita pela classe dominante, que já tem uma boa educação, boa formação cultural e muitos recursos, mas por isso nós tivemos basicamente um “feminismo de uma só questão”, focado apenas no gênero de uma mesma classe social.

Então, agora eu acredito que o problema é conseguir entender que não podemos isolar a questão de gênero. Se tentarmos, nós acabaremos no feminismo para 1% da população.

O feminismo atual é um grito distante para a grande maioria e faz eco apenas para essas mulheres muito privilegiadas, que possuem o luxo de dizer que nós não precisamos nos preocupar com classes, cor ou temas econômicos, apenas com gênero. O feminismo para os 99%, como entendemos, é um projeto de entender que você não pode separar gênero de raça, classe, sexualidade, ecologia, democracia e políticas econômicas.

Eu acho que sempre houve feministas que praticam esse tipo de feminismo para os 99%, mas que pode ter outros nomes pelo mundo. Nos EUA, os movimentos feministas populares existem, mas são muito marginalizados, enquanto que a mídia foca no feminismo de Hillary Clinton, das atrizes de Hollywood com o movimento “Me too”, mesmo que a maioria das vítimas de assédio sexual sejam trabalhadoras de fazendas ou de hotéis, por exemplo.

Quando Hillary Clinton perdeu para Donald Trump, no exato momento em que estávamos escrevendo o livro, pensamos que seria um tipo de chamado, uma derrota do feminismo liberal. Agora, eu não diria que o feminismo liberal está derrotado, mas acho que há mais abertura agora para formar alternativas de feminismo, como o que ocorre no Brasil e Argentina, onde algumas feministas conquistaram grande visibilidade e que representam o que chamamos de feminismo para 99%.

BBC News Brasil - No Brasil, o STF deverá colocar em julgamento a possibilidade do aborto legal ainda neste ano. No mesmo livro, as autoras afirmam que “o aborto legal faz pouco pelas mulheres pobres”. O que isso significa? A luta pelo aborto legal, em si, não é suficiente?

Fraser - Eu sou uma forte apoiadora do aborto legal, quero deixar isso bem claro. Mas, se você pensar qual é o objetivo que buscamos alcançar ao tornar o aborto legal é tentar dar as pessoas a liberdade, incluindo os recursos que elas precisam para entender a liberdade e fazer que a decisão de ter um filho seja autônoma. Para que elas consigam organizar suas vidas, elas precisam viver com o poder de decisão, mas também com dignidade, segurança e com suporte de um sistema público forte.

De maneira simples, eu estou dizendo que o fato de podermos interromper a gravidez quando nós quisermos é necessário, mas não o suficiente para ter uma autonomia reprodutiva. Aborto legal é uma condição absolutamente necessária, mas apenas uma. Há outras e precisamos de segurança dos meios de subsistência, moradia decente e acessível, assistência médica e suporte para as crianças, com escolas, etc. Isso faria com que as mulheres tivessem uma decisão realmente empoderada e autônoma.

No momento, as pessoas estão fazendo o seu melhor em termos de tentar dar o poder de decisão sobre a gravidez, mas infelizmente isso não é o ideal. Agpra, é a hora das feministas de esquerda tentar unir o direito ao aborto para o serviço social, com garantia de renda e moradia.

É o mesmo caso da violência contra a mulher. A esquerda entendeu que apenas colocar o parceiro abusador na cadeia não é o suficiente, que é necessário oferecer saídas reais para que as mulheres possam realmente sair de relações abusivas. Elas precisam ter um local seguro para criar suas crianças e reconstruir suas vidas, o que, novamente, é algo para o serviço social e o direito à renda e moradia.

BBC News Brasil - Neste mês, o presidente Lula indicou seu ex-advogado, um homem branco, para a Suprema Corte. Parte da esquerda criticou a indicação apenas por ser um homem branco, enquanto que a outra parte silenciou, mas sem uma discussão acerca das posições políticas do indicado. Como a senhora vê isso?

Fraser - Em uma escolha para uma Suprema Corte, eu acredito que é necessário prestar muita atenção para entender as posições jurídicas e em relação ao mundo do candidato.

Se voltarmos às eleições de 2016 nos EUA, eu apoiei Bernie Sanders contra Hillary Clinton. Eu sou uma feminista. Você acha que eu achei incrível ter mais um homem branco na Casa Branca? Mas o mais importante para mim, naquele momento, era o que Bernie e Hillary representavam. Para ser honesta, as feministas estavam divididas e também existiu esse tipo de debate que surgiu agora no Brasil.


Fraser vê como um erro o foco 'apenas na questão identitária' - foto: reprodução

Nós tivemos a experiência de eleger o primeiro presidente negro dos EUA, Barack Obama, e foi um momento de muita esperança, mas que se tornou uma grande decepção. Isso mostra os limites sobre essa discussão de ter que eleger um político que apenas pareça você fisicamente.

Claro que seria incrível ter uma pessoa negra e tenho certeza que há muitos negros e negras qualificados para serem indicados para o STF no Brasil. Mas, eu diria que focar exclusivamente na questão identitária é um problema.

BBC News Brasil - Discussões sobre as escolhas no STF baseada em diversidade também fazem surgir críticas sobre a suposta “americanização” da política brasileira, cada dia mais influenciada e pautada pelos debates e formas dos EUA. A senhora acredita nisso?

Fraser - Eu não tenho certeza. Vocês ao menos têm um partido dos trabalhadores, coisa que não temos por aqui (risos). Eu diria que o que ocorre em todo lugar é a influência das redes sociais e da tecnologia na comunicação política.

Isso é uma mudança no jogo e, com certeza, tem um efeito gigantesco. Se você me perguntar o que fez Trump ter a possibilidade de capitalizar os efeitos negativos do neoliberalismo na classe trabalhadora, eu responderia a mudança radical na estrutura da mídia e na comunicação política.

O que começou lá atrás, com a rádio, depois TVs como a Fox News, se transformou para as redes sociais. Agora, temos um mundo estranho da não-comunicação, fatos alternativos, etc. Discutimos os depoimentos de Trump para a Justiça, mas nas redes a população se divide como eles enxergam isso.

Não sei se as coisas são exatamente assim no Brasil, mas claramente podemos ver como a tecnologia também impacta a política por aí. Quando essa tecnologia de transformação encontra a deterioração das condições de vida da população, coisas como a eleição de Trump, que é um gênio da comunicação e da demagogia, podem ocorrer. Então espero que o Brasil consiga escapar dessa espiral.

Fonte: BBC Brasil


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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Explorando a Mente Criativa e a Carreira de Zeca Baleiro – Uma Conversa Sobre Música e Reflexões

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A música, em toda a sua diversidade e magia, é capaz de capturar os sentimentos humanos mais profundos e oferecer uma lente através da qual podemos enxergar o mundo de maneiras únicas. No contexto da carreira multifacetada de Zeca Baleiro, um dos artistas mais influentes e prolíficos de nossa época, essa premissa ganha vida de maneira vibrante. Com seu último álbum, “Mambo Só”, lançado recentemente, Zeca Baleiro nos presenteia com uma coleção de músicas que abraçam temas que vão desde a interseção da tecnologia com nossas vidas até os aspectos eternos do amor e da saudade. Em uma entrevista reveladora, exploramos a mente criativa por trás desse disco e os altos e baixos de uma carreira que abrange mais de duas décadas.

Entrevista Zeca Baleiro

Qual foi a inspiração por trás do seu último álbum lançado?

Zeca Baleiro: Eu comecei fazendo umas experiências meio que sem compromisso. Os temas foram vindo naturalmente, redes sociais, uso exagerado de tecnologia em nossas vidas, IA etc… Mas tem também canções de amor, de saudade, de solidão, os temas eternos. O disco se chama “Mambo Só” e tem colaborações de Edson Cordeiro, Daíra e Moda de Rock, dupla de violeiros roqueiros.

Como é o seu processo criativo na composição de músicas?

É caótico rs. Não tenho ritual. Gosto de trabalhar no silêncio, coisa rara hoje em dia. Mas hoje consigo compor até no trânsito de São Paulo, se precisar. Tudo é uma questão de exercício.

Quais são as principais influências musicais que moldaram seu estilo?

Minha casa da infância era muito musical. Então fui um ouvinte de música muito aberto, que ouvia rádio o dia todo, rádio Am, onde se ouvia música de todos os gêneros, e em casa se ouvia também discos de muitos artistas diferentes… Quando comecei a compor, naturalmente foram surgindo todas essas referências na minha composição. De Odair José a Mercedes Sosa, de Paulo Diniz a Raul Seixas, ouvi um pouco de tudo.

Existe alguma música em particular que você considera como a mais significativa em sua carreira?

O primeiro disco é um marco, o dueto com a Gal Costa no “Acústico” dela também, cantando “Flor da Pele”.  “Telegrama” também tornou-se um fenômeno, tem mais de 80 milhões de streamings no Spotify e versões em tudo quanto é gênero: samba, reggae, rock, sertanejo, axé, forró, vários remixes…

Como você descreveria a evolução do seu estilo musical ao longo dos anos?

Acho que experimentei bastante coisa no início da carreira – mistura de ritmos (tão cara à minha geração), disco folk acústico, disco mais eletrônico etc etc. Isso me deu muita liberdade, a partir desse início discográfico. Hoje me sinto à vontade pra fazer qualquer coisa, tipo um disco de pop e outro de samba no mesmo ano, como farei agora, marcando estes 26 anos de carreira.

Quais são os desafios e as recompensas de ser um artista independente no cenário musical atual?

Os desafios são sobretudo manter a classe (rs) e mostrar ao público que você ainda está ativo, produzindo, que não vive só de hits. O lado bom é que você lança o que quiser à hora que quiser, não pede permissão a ninguém, não espera planos de gravadora (que às vezes eram equivocados), enfim, há mais liberdade. O que lamento é que a veiculação de muitos produtos levou a uma certa pulverização, a uma banalização da audição de música.

Você já colaborou com diversos artistas ao longo de sua carreira. Existe alguém com quem você ainda gostaria de trabalhar?

Eu nunca forço nada, rola se tiver que rolar. Sempre foi assim, nasce da admiração, que deve ser mútua, claro. Agora há planos de um collab com o Vitor Kley. Se rolar, vou adorar, sou fã dele. Acho muito honesto o som que ele faz.

Além da música, quais são suas outras paixões ou interesses?

Adorava futebol e cinema, mas tenho uma visão pessimista quanto a ambos. O futebol está indo pra um lugar muito estranho, sem poesia. E em minha opinião, o cinema caminha pra um quase fim. Acabei de ver “Openheimer” e é um filmaço, mas é 1 em 1 milhão. A cultura das séries, hoje produzidas em larga escala, o crescimento da TV por assinatura e a própria falência de uma estética cinematográfica tá levando essa arte pra outro lugar. É assim mesmo, é o processo histórico e natural. A música tem se transformado também. A favor da música, conta a sua fluidez, a facilidade de penetração, a onipresença da música hoje em todo lugar, e o fato de que ela passeia sem filtros pelo universo afetivo do ouvinte. Mas está mudando também.

Como você enxerga o papel da música na sociedade e qual mensagem você espera transmitir através das suas composições?

A arte pode despertar a consciência das pessoas sobre a vida social e política de forma lúdica, divertida, lírica, amorosa. Esse é o grande poder, ser diversão e ter também esse papel de despertar as pessoas, fazer pensar, refletir e em alguns casos extremos, transformar a própria vida delas.

Fonte: culturaenegocios

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Flávio Dino diz já ter novidades no caso Marielle: “Vamos chegar a uma solução do crime”

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Ministro da Justiça falou à Pública ainda sobre narcogarimpo, extremismo político, bolsonarismo e violência nas escolas.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, demonstra ter cada vez mais certeza da solução de um dos crimes mais emblemáticos da história recente do Brasil, o assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018.

Em entrevista exclusiva concedida à Agência Pública no fim de junho em Brasília, ele trata o caso com o que definiu como “otimismo moderado”, em decorrência do tempo passado após o crime e da destruição de provas. Cauteloso e sem adiantar informações da investigação sigilosa, Dino garantiu ter “novidades” sobre o caso e disse: “Acredito que vamos chegar a uma solução do crime”.

O ministro tratou também de diversos temas ao longo da entrevista, como narcogarimpo, policiamento da Amazônia, extremismo político e violência em escolas. Sobre a inelegibilidade do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, ele diz que foi uma ação firme do Judiciário para interromper a onda de ataques ao sistema eleitoral, mas, realista, diz que ainda é cedo para se considerar controlada a sanha golpista contra a democracia. “Há uma luz amarela no semáforo da história: o extremismo político está vivo”.


“Deixar [Bolsonaro] inelegível é muito importante, porque ele é um facínora, mas é suficiente? Não. O extremismo político ainda encontra raízes muito fortes no Brasil: o vemos na cultura do ódio, da desinformação, do preconceito e da violência”, ressalta.

 

Passados mais de seis meses da invasão do Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro diz que a “personalidade despótica, autoritária e patológica de Bolsonaro” une os atentados promovidos entre o resultado da eleição, em 30 de outubro passado, ao caos do 8 de janeiro. Para Dino, não há dúvidas de que o ex-presidente está no centro da tentativa de golpe.


“Havia o ajudante de ordens [Mauro Cid], o ex-ministro Anderson Torres, outras pessoas muito ligadas a ele. É possível inferir, também por sua personalidade despótica, autoritária, que de algum modo ele orientava – ou que pelo menos compactuava, autorizava”, afirma o ministro, que ainda define o ex-presidente como “um golpista fracassado”.

 

Para o ministro, o atentado de 8 de janeiro serviria para criar um clima de instabilidade política e anomia institucional, forçando a cúpula militar a aderir ao golpismo. “A ideia deles era que o 8 de janeiro fosse um estopim, com efeito dominó em outras manifestações ao longo do Brasil, para tentar mostrar que o novo governo não tinha condições de gerir o país”, afirma.

Segundo Dino, ao sair da eleição com 49% dos votos, Bolsonaro tinha “uma base social razoável”, mas não o apoio internacional  nem da elite empresarial brasileira – condições que, em 1964, permitiram aos militares depor o ex-presidente João Goulart. “Daqui muitos anos, quando forem abertos os arquivos de 2022 do governo dos Estados Unidos, vão encontrar o que levou as Forças Armadas a não se engajarem no golpe”, disse o ministro.

Flávio Dino garantiu que o governo vai fortalecer sua presença na Amazônia, com a criação de uma companhia de policiamento ambiental, formada por mais de mil homens da Força Nacional, cuja finalidade é fiscalizar, intensificar operações e combater as organizações criminosas de inspiração mafiosa – que, segundo o ministro, se infiltraram na política, nos garimpos e demais atividades ilegais que cresceram no vácuo de fiscalização deixado pelo governo Bolsonaro.

Dino assegurou que o governo Lula retomará as demarcações de terras indígenas, interrompidas por Bolsonaro, por meio de decisões conjuntas entre os ministérios dos Povos Indígenas, da Justiça e Segurança Pública e da Casa Civil.

Contra o marco temporal defendido pelos ruralistas, o ministro se alinha à ideia do ministro do STF Alexandre de Moraes, que, independentemente do que o Congresso decidir, sinalizou uma solução intermediária ao conflito – sem marco, mas respeitando a peculiaridade de regiões densamente habitadas, como cidades consolidadas. Leia, a seguir, a entrevista.

Quais os reflexos da inelegibilidade de Bolsonaro?

A extrema direita brasileira perde força, perde seu principal porta-voz, o que sem dúvida altera certos desdobramentos no plano da política. Destaco, sobretudo, os aspectos constitucionais e legais com a consagração de uma diretriz jurisprudencial no Brasil sobre a chamada desinformação. Juridicamente, nós temos uma rejeição muito clara e, portanto, a declaração da abusividade da conduta de quem no processo eleitoral espalha, deliberadamente, desinformação como uma ferramenta para obter votos e hipotéticas vitórias eleitorais. É um precedente muito relevante para o futuro, no sentido de que um dos principais desafios da democracia contemporânea recebe uma resposta jurídica.

A inelegibilidade interrompe o extremismo de direita?

Espero que, se não paralise definitivamente, pelo menos atenue. Com a revolução científico-tecnológica, levando, por exemplo, ao incremento das ferramentas de inteligência artificial, nós temos tendencialmente o agravamento do problema da indústria da desinformação nos processos eleitorais. Isso distorce muito fortemente a legitimidade do processo eleitoral. O que o TSE afirmou é que há uma disposição firme de fazer esse “breque” contra a manipulação das consciências dos cidadãos. O TSE afirmou que espalhar desinformação é uma fraude eleitoral e, portanto, quem pratica esse tipo de conduta deve ser punido.

Passados mais de seis meses, o que dizem as investigações sobre os responsáveis pelo 8 de janeiro?

Uma investigação dessas é como se você pegasse um quebra-cabeça, daqueles de mil peças, e jogasse numa praia, com vento forte. Tem um período que você tem que recolher as pecinhas, mas grande parte desse quebra-cabeça já está montada.

Houve os perpetradores dos atos violentos, as pessoas que cercaram quartéis, que vieram pra cá; a via organizadora e, sobretudo, segmentos empresariais locais, que davam carne, água, apoio material, banheiro químico, barracas etc., em todo o país. O financiamento era, sobretudo, de segmentos empresariais locais, do agro e comerciantes, também de gente ligada a esse mundo do armamentismo, que financiavam isto.

Havia os incitadores, que estavam, sobretudo, nos segmentos armados – membros da ativa e da reserva das Forças Armadas, das forças policiais, mas também CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores] e proprietários de clube de tiro, de lojas de armas e assim sucessivamente. Eram segmentos armados da sociedade, com grande engajamento e um comando político mais ou menos organizado, muito próximo do Bolsonaro.

Jair Bolsonaro participou?

Só posso falar, pelo cargo que eu exerço, a partir de provas. Nesse momento eu tenho alguma prova cabal de que o Bolsonaro, direta e pessoalmente, participou do golpismo? Não tenho. Agora, é possível deduzir isso logicamente, no plano argumentativo? Sim, claro. Por que digo que é possível deduzir isso no plano argumentativo? Porque todas as pessoas que, de algum modo, aparecem na cena eram muito ligadas a ele. Havia os ajudantes de ordem, o ex-ministro Anderson Torres, pessoas muito ligadas a ele. Por dedução, é possível inferir, também por sua personalidade despótica, autoritária, que de algum modo ele orientava – ou pelo menos compactuava ou autorizava [o golpe].


Para Dino, não há dúvidas de que o ex-presidente Bolsonaro está no centro da tentativa de
golpe em 8 de janeiro - Foto: reprodução

É possível afirmar que o extremismo está sob controle?

Sou obrigado a chamar atenção para uma luz amarela no semáforo da história: a luz amarela é o extremismo político, que está vivo. Deixar o Bolsonaro inelegível é muito importante, porque ele é um facínora, um déspota. Agora, isso é suficiente para dizermos que o extremismo político foi superado no Brasil, o extremismo de direita? Não, não é.

Mesmo que você veja uma luz verde, poderosa, no sentido de haver uma continuidade da construção democrática do Brasil, é preciso olhar numa perspectiva lateral, olhar esse alerta – que o extremismo político ainda encontra raízes muito fortes no Brasil. Vivemos na cultura do ódio, da desinformação, do preconceito, da violência. Então, nós temos sinais sociais disto.

Caso dos ataques nas escolas?

Os ataques nas escolas são um sinal muito poderoso de que a cultura da violência está muito forte no Brasil. Vejamos o que aconteceu recentemente, naquele brutal ataque a uma escola no Paraná: uma pessoa foi lá e apertou o gatilho, o que já é terrível, mas havia outras pessoas estimulando, apoiando, filmando, transmitindo a morte de jovens. Isso mostra a força da cultura da violência, até porque praticamente todas as semanas – nessa, inclusive – nós temos prisões de nazistas e neonazistas.

O controle de armas avançou?

Tivemos dois decretos, teremos mais um nas próximas semanas, diminuindo mais uma vez o acesso a armas e munições, criando regras mais rígidas para o porte de arma, para abertura de clubes de tiro, acabando com os clubes de tiro 24h – que estavam funcionando como uma fachada para o porte de arma clandestino. Bolsonaro passou a permitir o porte em trânsito com a arma municiada, mas agora estamos voltando, para que seja apenas “desmuniciado”.

O clube funcionava como álibi: o cidadão era pego numa blitz, com a arma municiada. Ele dizia: “Não! Estou indo no clube de tiro, por isso que a arma está municiada”. É por isso, também, que os clubes de tiro passaram a funcionar 24h, o que é esdrúxulo. Alguém imagina uma pessoa, às 3 horas da manhã, que vai dar tiro em um clube? Será publicado um decreto bastante amplo, acabando com a autodeclaração de necessidade, algo criado pelo governo Bolsonaro. Que nada mais era que uma espécie de presunção de necessidade, a partir de autodeclaração.

Qual o resultado das operações contra o excesso de armas?

Veja que, em menos da metade do ano de 2023, foram apreendidas mais armas pela Polícia Federal do que em todo o ano de 2022, o que mostra exatamente essa carência de fiscalização das atividades ilegais, de um modo geral. Isso valia para garimpo legal, para invasão de terrenos, para armamentismo e clubes de tiro. Ninguém fiscalizava nada porque tinha gente ganhando dinheiro com isso.

Estamos falando de bilhões de reais, bilhões nas atividades, chamemos assim, legais das lojas e clubes de tiro, mas também no comércio clandestino de armas e munições para organizações criminosas. O que essa gente estava fazendo? Alugando armas para o PCC [Primeiro Comando da Capital], para o CV [Comando Vermelho].

Fizemos uma operação, que inclusive envolveu uma parte nos Estados Unidos, contra lojas [de armas] na Baixada Fluminense, e assim descobrimos quase 2 mil armas ilegais que iam, exatamente, para o crime organizado. Com essa dupla face, o negócio legal, visível, como esse que falamos – da loja, do clube de tiro –, também havia o negócio ilegal, de comercialização e barateamento no acesso a armas de fogo para quadrilhas.

O maior incentivo para as organizações criminosas do Brasil foi esse armamentismo irresponsável, que fortaleceu o poder das organizações criminosas, barateou o acesso a armamento por meio da aplicação da lei da oferta e da procura: quanto mais produtos há no mercado, obviamente mais o preço cai.

O senhor mandou abrir um novo inquérito na PF sobre os assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes, as investigações já avançaram?

Trabalho sempre com um conceito de “otimismo moderado”. Otimismo porque temos um trabalho sério, uma equipe da PF trabalhando só no caso Marielle há três meses. Isso me dá esperança. Mas por que minha moderação? Porque se passaram cinco anos. Imagens, impressões digitais, indícios de um modo geral se perderam.

Se tivesse imagens daquele dia do assassinato [de Marielle]… Imagine a quantidade de câmeras no centro do Rio de Janeiro. Rapidamente se chegaria aos assassinos, ao carro [usado no crime], de onde ele veio, de onde saiu, qual percurso fez, isso com base na ERB [antena de telefonia celular] dos celulares… você chegaria rapidamente [aos culpados]. Hoje a tecnologia é amiga da investigação, não existe crime perfeito. Mas, infelizmente, não temos mais os dados da ERB, não temos as [imagens das] câmeras, e essa é a razão da minha moderação. Não existe crime perfeito, mas infelizmente não temos mais os dados completos.

Mas existe algo palpável, algum fato novo?

Temos novidades, sim. Não tenho uma previsão [de quando será divulgado], porque há coisas que faço questão de não saber, mas, sim, as equipes me informaram que conseguiram avançar… até onde, não posso dizer. Teremos de esperar. Mas acredito que vamos chegar a uma solução do crime, sim.


“Acredito que vamos chegar a uma solução do crime”, afirma o ministro sobre o caso
 Marielle Franco - Foto: reprodução

Mudando de assunto, como o crime organizado se entrelaça às atividades ilegais na região da Amazônia?

Nós temos hoje no Brasil algo muito além das quadrilhas do tipo tradicional: temos organizações de tipo mafioso, com face legal, operadas por empresas e que estão em vários negócios visíveis — um prédio residencial, uma imobiliária, revenda de automóveis etc. E ela também penetra na política. São organizações tipo máfia que se implantaram na Amazônia, exatamente pela ausência estatal, entre as quais está o PCC.

É o chamado narcogarimpo, uma atividade que demanda grandes investimentos, não é mais aquela imagem [do garimpo] de Serra Pelada, dos anos 1970 e 1980. Desde os episódios do Vale do Javari, do assassinato do Dom Phillips e do Bruno Pereira, isso ficou bem evidente. Você tem organizações criminosas atuando na Amazônia em atividades aparentemente legais – como venda de aviões, barcos, comida, combustível etc… É o avanço do narcogarimpo, na prática.

Como resolver?

Há dois problemas muito fortes na Amazônia. Primeiro, há a questão social, pois a Amazônia tem os piores indicadores sociais do Brasil. Você não enfrenta o narcogarimpo, narcotráfico, a caça ilegal, a exploração ilegal de madeira e a pesca ilegal só com policiamento. Se você não melhora as condições sociais do povo amazônico, como você vai dizer para o cara para deixar de ser “soldado” do narcogarimpo, ganhando R$ 3 mil por mês, para oferecer um Bolsa Família de R$ 700? O Bolsa Família é bom, mas apenas como incentivo para as condições brasileiras, claro. Em termos de incentivo econômico, é claro que ele se sente mais atraído [pelo garimpo] porque não há alternativa.

É necessário elevar as condições de vida do povo da Amazônia como uma prioridade brasileira relativa à proteção ao meio ambiente. É cruzando sustentabilidade ambiental com sustentabilidade social. E o segundo problema é exatamente essa ampliação do poder bélico dessas quadrilhas criminosas. Isso realmente exige a qualificação da presença estatal na Amazônia.

Como o governo federal pode fortalecer as ações contra crimes ambientais na região?

Formulamos um programa, que apresentamos ao BNDES, uma proposta de estruturar o trabalho, com policiamento ambiental na Amazônia e uma coordenação nacional – que, hoje, não existe.

Inicialmente, estamos dimensionando R$ 1,3 bilhão, porque, com isso, conseguiremos implantar uma companhia de policiamento ambiental da Força Nacional numa cidade da Amazônia, ainda a ser decidida e ainda sem um efetivo fechado, mas certamente seria algo em torno de mil policiais.

Implantaríamos a companhia de policiamento ambiental da Força Nacional e daria para comprar equipamentos para, em cada estado, ter um pelotão desta companhia, cada um com um helicóptero, com efetivo, armamento e, portanto, com uma coordenação regional. Também compraríamos equipamentos para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.

Nós já criamos a diretoria de Amazônia e Crimes Ambientais na Polícia Federal. Foi uma das decisões mais certas que a gente tomou. Saímos, em 2022, de algo em torno de 30 operações da Polícia Federal na Amazônia contra o garimpo ilegal para mais de 300 neste ano. Em cinco meses destruímos mais de 300 garimpos, centenas de balsas, e por aí vai. Hoje temos um delegado da Polícia Federal só dedicado [ao combate] aos crimes ambientais. Foi uma das decisões mais certas que a gente tomou. Todos os indicadores de atuação da PF na Amazônia melhoraram, sem exceção, inclusive as condições da água, com a diminuição de mercúrio.


Governo pretende fortalecer sua presença na Amazônia com a criação de uma companhia
de policiamento ambiental - Foto: reprodução

Quais os resultados das ações do Conselho Nacional da Amazônia, gerido no governo anterior pelo ex-vice presidente e atual senador Hamilton Mourão?

Não funcionou aquilo lá. Não funcionou porque, primeiro, me parece que se gastou muito em GLO [operações de Garantia da Lei e da Ordem, sob comando estritamente militar] ambiental, eu acho, mas não sei nem para onde foi esse dinheiro, para ser franco. Quer dizer, o Conselho da Amazônia [Legal, CNAL], eu não sei como está hoje, não sei como ficou. Tinha aquela [operação] Verde Brasil, uma GLO ambiental, realmente se gastou [verba pública] naquilo. Mas ficou algum legado? Não, não tem. Nem o campo político deles [bolsonaristas] acreditava naquilo. Não tinha articulação com os estados e nem comando político, que dizia o contrário [da política ambiental]: “toquem fogo”, dizia, “matem, comprem armas”. É claro que, naquele ambiente, nem que ele [Hamilton Mourão] tivesse boa vontade, era impossível alguma coisa dar certo.

O bolsonarismo ainda está entranhado nas instituições?

Ainda temos problemas [com bolsonaristas] na PF, na PRF, nas Forças Armadas, sim, mas temos um comando que no dia 1º de janeiro não tínhamos, nem no dia 2, nem no dia 3, nem no dia 8 de janeiro. Quer dizer, fomos ocupando o comando das instituições, apesar das dificuldades, das resistências. Ocupando com uma cultura institucional, assim, de respeito ao direito das pessoas, e estamos avançando nesse caminho.

No governo anterior, uma secretaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Seopi, foi acusada de espionar oponentes. O que o senhor encontrou dessa estrutura?

O que chegou na minha mão, antes do dia 8 de janeiro, foi um relatório da PF. Depois, apareceu que alguns órgãos regionais desse sistema de inteligência, que era a Seopi [Secretaria de Operações Integradas], hoje chamada de Diop [Diretoria de Operações Integradas e Inteligência], que fica dentro da Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública]. Eram alguns relatórios regionais, do Norte e do Nordeste, falando em mobilizações, caravanas, acampamentos etc.

Hoje, nós temos, de ilegal, a identificação daquele documento que levou à operação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno [em regiões indicadas por pesquisas eleitorais como redutos do então candidato a presidente Lula]. Este documento foi produzido aqui, dentro do Ministério da Justiça. O BI [Business Intelligence] do Ministério foi utilizado para extrair dados sobre desempenho de candidatos, para concentrar operações da Polícia Rodoviária Federal [em locais onde Lula havia tido melhor desempenho no primeiro turno] no segundo turno da eleição. Isso foi feito aqui no Ministério da Justiça. Houve, de fato, essa produção de dados. Agora, coisas pretéritas, ilegais de um modo geral, eu realmente nunca tive conhecimento. Além disso, foram feitas outras, uma muito conhecida, aquela história dos policiais antifascistas. Fora isso, realmente não ficaram, digamos, dados materiais dessa atuação.

Houve espionagem contra movimentos sociais ou oponentes do governo anterior?

Até hoje eu não posso afirmar nem que sim nem que não, porque até hoje não chegou nada na minha mão nesse sentido. Pode ser que, mais na frente, chegue algo, mas nunca houve isso.

Como o Ministério da Justiça controla movimentos suspeitos de terrorismo?

Aqui no Ministério da Justiça, não fazemos esse tipo de trabalho, de modo organizado, não mais — e nem a PF. Hoje, nossa orientação com a PF é investigação de crime, inquérito, não tem nenhum tipo de trabalho de inteligência. Aqui no Ministério, isso tudo, hoje, está praticamente desativado. A Polícia Judiciária não é agência de inteligência.

Existe o informe de inteligência? Não existe. Existe o da Abin [Agência Brasileira de Inteligência], que hoje eu recebo como devo receber: por escrito, no envelope, que é tarefa da inteligência. A inteligência que existe aqui é a de segurança pública. Não é uma inteligência “política”. A inteligência de segurança pública aponta que será feita uma operação contra o garimpo ilegal, com levantamento de informações, e por aí vai. Mas inteligência “política” é zero, aqui é zero. Não há no ministério nem na PF.

Qual a sua posição sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas?

A meu ver, a instância que vai definir isso é o Supremo Tribunal Federal. Acho que a ideia de marco temporal não passa.

Mesmo que o Congresso aprove a regra?

O Supremo vai prevalecer. Se o Supremo disser, é o Supremo quem está interpretando a Constituição. Então, se você vota uma lei, é óbvio que essa lei não é maior do que o Supremo fixar. Se passar no Congresso, não terá um caráter superior à interpretação que o Supremo vier a fixar sobre o artigo 231 [relativo aos direitos dos povos indígenas].


Dino assegura que o governo Lula retomará as demarcações de terras indígenas
- Foto: reprodução

Como o governo deve encaminhar as demarcações?

Teremos reunião no ministério, com a Casa Civil, o MPI [Ministério dos Povos Indígenas], MGI [Ministério da Gestão e Inovação], para discutir a nova regra. Antes era aqui, depois passou para o MPI, agora veio a lei e voltou para cá, mas não queremos, de forma alguma, que o MPI fique sem função no âmbito das demarcações. A ideia hoje vigente é criar uma espécie de portaria conjunta, minha com o MPI, com a Casa Civil, eventualmente, que regule o processo de demarcação, via Funai e MPI. Aqui, fazemos uma análise da legalidade, da compatibilidade com os procedimentos legais, e mandamos para o presidente [Lula]. A tendência é essa: conversamos bastante, eu e Sônia [Guajajara]. Não passa pela minha cabeça a ideia que o Ministério da Justiça esvaziará o MPI. Por força da lei, por uma decisão do Congresso, participaremos também [das demarcações], mas acredito que o nascimento dos processos de demarcação deve continuar no MPI.

O agro quer o marco temporal. Qual o modelo de demarcação o senhor defende?

Acho que o voto que o ministro Alexandre de Moraes apresentou é um voto adequado, porque afasta o marco temporal – ele diz que não existe esse marco, de 1988 –, mas ao mesmo tempo aponta caminhos intermediários, adianta algumas orientações, que me parecem razoáveis porque há o cotejo de direitos. Uma coisa é um território na Amazônia em que houve uma grilagem, outra, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, são áreas ocupadas por cidades inteiras. Você vai remover essas cidades? Ele [ministro Moraes] diz: “Não, pode haver algum tipo de compensação negociada, pactuada”. Então, acho que é uma boa saída, justa, pois preserva também os direitos que, às vezes, são centenários. Às vezes você tem pessoas cujas famílias estão morando [na área originalmente indígena] há 100, 200 anos, então não tem como retirar. Inclusive, o caso em julgamento no Supremo refere-se a pequenos agricultores de Santa Catarina, contra a demanda dos indígenas Xokleng.


Fonte: agenciapublica.org


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Lula falar em 'narrativa da Venezuela' não ajuda o Brasil, diz professor

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O professor de relações internacionais Paulo Velasco, da Uerj, afirmou em entrevista ao UOL News que a fala do presidente Lula (PT) durante a visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não ajuda o Brasil.



"Ele de alguma maneira sugere no encontro com Maduro que a Venezuela é uma democracia legítima e que tudo o que se diz a respeito do país faz parte de uma construção de narrativas de adversários. Ele não mencionou quais seriam, mas claramente fica a sugestão na sua fala de que os EUA fazem parte". 

"Não é certamente o tom que ajuda o Brasil a resgatar a sua legitimidade internacional depois de anos tão confusos em política externa", completou.

 


Chico Alves: Com Maduro, Lula troca visita protocolar por mais um cavalo de batalha.

O colunista do UOL Chico Alves também criticou as declarações do presidente Lula durante a visita de Maduro ao Brasil. Para o colunista, Lula acaba alimentando a oposição com esse tipo de declaração.

"Tem o aspecto político interno. Lula tem muitos problemas no Brasil, estamos aí hoje com votações cruciais para o governo dele e aí o presidente Lula acaba arranjando um novo problema para si falando de Maduro, quando poderia tê-lo recebido de forma protocolar, sido cordial, feito uma fala protocolar e a vida seguiria".

"Mas, com esse destaque dado a Maduro, é mais um cavalo de batalha que a direita aproveita no Congresso, para dar declarações contra Lula. Num momento que está cheio de problemas internos, o presidente Lula acaba trazendo um problema de fora para dentro", completou.

Chico Alves também afirmou que as declarações de Lula acabam sendo prejudiciais até mesmo para as pretensões do presidente com relação aos outros países da América Latina.

"Falas muito inadequadas de Lula e que, no âmbito desse encontro com chefes de estado latino-americanos, têm um efeito muito ruim, ao contrário do que se esperava para essa reunião aqui no Brasil. Ele gostaria de capitalizar isso e sair como um líder da América Latina, mas, na verdade, sai marcando a divisão, as diferenças entre os chefes de Estado".

 


Carla Araújo: Maduro no Brasil cria novo desgaste em semana importante para o governo no Congresso, diz Carla

A colunista do UOL Carla Araújo afirmou que a visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acaba criando mais um desgaste para o governo Lula em uma semana importante para o governo junto ao Congresso.

A gente ouve o governo novo e o governo antigo também. É aquela coisa, dizem: "Imagina se é o Bolsonaro". O próprio Mourão foi às redes sociais dizendo: "Não foi o Lula que pediu para não associar ele durante a campanha ao Maduro e agora recebe o Maduro". Tem aí as narrativas para as críticas da oposição para dizer: "Olha, o Lula da campanha é diferente do Lula presidente".

A colunista afirmou, contudo, que as pessoas próximas ao presidente afirmam que o balanço da visita é positivo.

"O entorno do presidente, com quem consegui falar para tirar um balanço da visita, da postura do presidente, da reação da oposição, tem feito um movimento de falar que está tudo certo, que o presidente está colocando o Brasil num protagonismo importante na América do Sul".



Fonte: UOL


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quarta-feira, 3 de maio de 2023

PL das Fake News pode ferir liberdade de expressão, diz especialista

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O diretor executivo do ITS (Instituto de Tecnologia Social) Fabro Steibel afirmouno.

que o PL das Fake News pode ferir a liberdade de expressão.

Ele fere? Ele pode [ferir]. Uma das coisas que está no PL é essa capacidade do Poder Executivo de fazer com que uma ordem tenha 30 dias e renove ela várias vezes. Por que isso pode ferir a liberdade de expressão? Porque você dá um grande poder para o Executivo sem dar segurança, sem dar mecanismos para abusos e falha de governo".


"Como você só dá um mecanismo de retirar ou moderar, mas não cria mecanismo se esse poder for abusado, esse é um risco que tem [de ferir a liberdade de expressão]".

"O bom seriam mais discussões. O Congresso Nacional é um ótimo lugar para isso".

"Como 40% do PL é novo, apesar de haver acúmulos de discussões, muito dele é novo".



Fonte: UOL


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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Ronaldo Ferreira Junior fala tudo sobre o Live Marketing

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Pensando nas mudanças que o Live Marketing tem feito no mercado brasileiro e internacional, convidamos Ronaldo Ferreira Junior para uma entrevista exclusiva.

Ronaldo é empresário, CEO da uma Diversidade Criativa, agência especializada na realização de eventos, incentivos e trade. Empreendedor, sócio-fundador do programa de capacitação MDI Mestre Diversidade Inclusiva, em parceria com a Pearson Educacional.

Além disso, também é membro permanente do conselho da AMPRO – Associação Brasileira de Live Marketing. Formado em Comunicação Social e Marketing, é defensor da Diversidade, Equidade e Inclusão como principais valores para a gestão de pessoas no mundo corporativo.

Confira a entrevista com Ronaldo:

1) Como sua agência vê o live marketing, em termos de tendências e de tempos pós-pandemia?

Ronaldo: Enxergamos o futuro de forma positiva e libertadora. E não é uma visão comercial “Poliana”, mas sim uma visão repleta de possibilidades. De verdade, como pessoas e como organizações não estamos felizes com as coisas como elas estão. Nós queremos e podemos encontrar soluções melhores para os negócios e para as pessoas. Despertar a consciência das pessoas e das marcas, para atenderem as necessidades e os desejos reais dos consumidores e dos clientes. Esta é a tendência – E isso acontecerá se apostarmos na conexão gigante que o Live Marketing consegue ter com as pessoas.

2) Pode mencionar e descrever em linhas gerais uma ação de live marketing que você considere um case de sucesso?

Ronaldo: Acho que temos conseguindo resultados muito interessantes a partir do nosso propósito de abraçar as diferenças no mundo corporativo. Estamos ajudando nossos clientes a criarem grandes exércitos de aliados da Diversidade e Inclusão. Temos conseguido a partir destas lentes, provocar a consciência dos colaboradores e colaboradoras de nossos clientes, e partir daí, influenciar na criação de eventos mais inclusivos para os clientes de nossos clientes. E isso vai desde a indústria da Comunicação até o Agronegócio. Para que isso fosse possível, tivemos que investir em programas inovadores de letramento e capacitação de pessoas. Hoje temos trilhas de conhecimento, via whatsapp, com jornadas de 20 minutinhos por dia, na palma da mão das pessoas. Tudo 100% acessível e personalizado.

3) Qual o diferencial de sua agência nesta área, e como é o trabalho em equipe?

Ronaldo: Neste mundo complexo em que vivemos é quase impossível se dar bem e entender o que está acontecendo, sem reunir e ouvir diferentes pessoas dentro de sua agência. Este é o nosso diferencial. Tentamos ser um time cada dia mais diverso. Protegemos nossos clientes com soluções criadas por pessoas diversas e conectadas à realidade.

Nossos profissionais entendem não precisam mais de escritório físico para trabalhar ou status de um cargo para liderar. Todos são gestores de negócios que influenciam e transformam resultados.

E para que isso aconteça, o eco sistema que representa a agência precisa ser um lugar seguro para que as pessoas possam ter a liberdade de ser quem são.

Fonte: ADNEWS


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Inteligência artificial: como usar no marketing?

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Marcel Jientara, da Alana AI, explica as funcionalidades da ferramenta para o setor

Assunto em alta nos últimos meses desde o lançamento do ChatGPT, os usos da inteligência artificial (IA) nos diferentes setores começam a ser pensados. Um futuro que parecia distante se torna mais visível. Para além do lançamento, as ferramentas de IA já vem sendo usadas por empresas em diferentes seguimentos. Um exemplo disso é a Alana AI, empresa de inteligência artificial proprietária para marketing. Mas, como usar a IA no marketing?

Para explorar o tema e contar como essas funcionalidades já podem ser usadas no setor, Marcel Jientara CEO & Co-Founder da Alana AI, conversou com Meio & Mensagem. 

Como a inteligência artificial pode ajudar o marketing?

Marcel Jientara – A inteligência artificial tem três capacidades incríveis: a primeira é de personalização, que a torna capaz de criar uma forma de aproximação que estimula o engajamento dos consumidores com uma marca sem, é claro, perder de vista o valor e a relevância do produto. A segunda é a escalabilidade, que permite que a marca consiga entregar o mesmo nível de personalização para dez, cem, mil, 10 mil ou 100 mil clientes sem escalar os custos, o que seria impossível com um time composto apenas por humanos. O motivo é aquele que muitos conhecem: existe um limite para o trabalho que uma pessoa consegue fazer em um dia, principalmente em termos de quantidade. Por último, mas não menos importante, a inteligência artificial tem a habilidade de interpretar dados, utilizá-los para o próprio aprendizado e gerar conhecimento importante para elevar os objetivos e conquistas de uma marca. É o maior diferencial da IA na área de marketing: sempre adaptar as estratégias de acordo com os novos dados e as análises geradas por relatórios de performance.

O que já é possível fazer e o que é preciso?

Jientara – Hoje, a inteligência artificial consegue atuar em todo o ciclo de marketing. É possível, por exemplo, segmentar o mercado com base no comportamento do consumidor, gerar insights para posicionamento de marca e suportar a tomada de decisões em marketing com base em fatos e dados. A plataforma traz os insights gerados pela Alana de acordo com os objetivos da marca selecionada e os dados coletados. Caso você seja um cliente, por exemplo, é possível definir como objetivo o aumento da taxa de engajamento. Uma vez conectada, a Alana fará uma varredura, analisará dados para formular estratégias possível e, assim que pronta, trará insights dentro da própria plataforma para que sua equipe possa atuar de maneira mais direcionada.

Quais os benefícios e vantagens de trabalhar com IA no marketing?

Jientara – Para o marketing, a implantação da IA também tem sido muito significativa. A rotina das equipes se torna mais simples e processos como criação de campanhas, estratégias e relacionamento com clientes passam a ser feitos de forma muito mais segura e assertiva. A tendência para o futuro é que o marketing IA se torne cada vez mais simples e mais personalizado devido a capacidade de analisar uma grande quantidade de dados e interpretá-los de forma inteligente.

O mercado brasileiro já está preparado para o uso da ferramenta? Como anda a adesão?

Jientara – O Brasil é, dentre os países latino-americanos, o país que mais utiliza a IA em suas indústrias. Parte desse uso, porém, está restrito a grandes empresas e companhias especializadas no assunto devido ao alto custo dessas tecnologias.

Quais são as maiores dificuldades e obstáculos?

Jientara – Ainda existem barreiras para a adoção completa de AI no País, mas  vemos duas como principais. A primeira é o alto custo. Inteligência artificial de qualidade é muito cara, projetando, assim, um cenário em que apenas as grandes marcas podem adotá-la no dia a dia. A segunda é a barreira linguística: existem pouquíssimas inteligências artificiais que operam nativamente em português. A enorme maioria das pessoas que utiliza IA no Brasil usa tradutores automáticos, o que compromete muito a qualidade do resultado final. Por isso, desde o dia 1, investimos em pesquisa e tecnologia proprietária. Criamos a Alana totalmente do zero para funcionar nativamente em português. Isso não só extingue o risco de problemas com tradução, mas também garante que entenda regionalismos, gírias, expressões e até mesmo erros gramaticais de maneira muito melhor. Isso também é parte do motivo pelo qual conseguimos reduzir o preço: como a tecnologia é nossa, não precisamos repassar nenhum custo adicional para o cliente. Isso torna a tecnologia acessível para pequenas e médias marcas que, em outras condições, não poderiam utilizá-la para o próprio benefício.

Quais as diferenças do uso no Brasil e no exterior?

Jientara – Existe muito material sobre inteligência artificial em inglês, mas pouco em português. Aliás, como eu disse na pergunta anterior, a grande maioria das inteligências artificiais foram feitas para funcionar em inglês e, quando vêm para cá, vêm com o auxílio da tradução. Por isso, tomamos a frente e estamos desenvolvendo o cenário da inteligência artificial no Brasil, investindo em cursos abertos ao público, centros de pesquisa, eventos e palestras. O Brasil é um país muito grande, possui um idioma riquíssimo e não pode ser coadjuvante nesse cenário. 

Fonte: meioemensagem / via proxxima