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terça-feira, 16 de abril de 2024

Precisamos mesmo de tantas leis?

Imagem: reprodução


O Direito surgiu como uma forma de organizar melhor as sociedades, uma vez que já havia algumas tradições reproduzidas a partir de exemplos ou de determinações orais que alguns grupos, especialmente os familiares, seguiam. Contudo, nem todos usavam esses costumes como parâmetro de comportamento em sociedade.

Então, havia certo excesso de liberdade em que um indivíduo poderia, simplesmente, discordar de uma postura e decidir não a seguir, sem sofrer nenhuma consequência por seus atos.

Conforme os povos foram evoluindo e as comunidades foram crescendo, ficou mais evidente a necessidade de um ordenamento desses regulamentos, a fim de que houvesse maior controle da população, isto é, uma maneira de estabelecer o que era adequado e o que cruzava a linha do limite.

Assim, as pessoas sabiam – em teoria – o que esperar umas das outras, bem como as consequências de burlar as regras estabelecidas. Essa premissa não mudou até hoje.

Em outras palavras, o Direito surge como uma forma de promover a harmonia da sociedade e de responsabilizar-se por ela. Ele consiste em um aglomerado de princípios que precisam ser seguidos no cotidiano para evitar que o egoísmo do ser humano fale mais alto e dificulte o equilíbrio da convivência em comunidade.

Não há uma data exata para o surgimento do Direito porque, além de não haver registros, ele se originou a partir de comportamentos, de visões e de necessidades de alguns grupos. Então, está claro que o Direito se manifesta a partir da necessidade de conter o comportamento do ser humano diante do outro.

Isto é, se um indivíduo fosse o único em um pedaço de terra ou mesmo em um país, ele não precisaria criar e se submeter a um sistema desse tipo, porque não haveria a possibilidade de causar qualquer dano ou constrangimento a alguém, tampouco de transpassar os direitos basilares de outra pessoa. Por isso, o Direito é fundamental para que a sociedade se mantenha civilizada.

Importante reforçar que ele sofre mudanças conforme a exigência do momento e, portanto, não permanece o mesmo. Embora seja natural questionar a quantidade e a complexidade das leis em vigor, é inegável que elas desempenham um papel crucial na manutenção da ordem e na proteção dos direitos, especialmente nesse mundo em constante evolução.

Ao refletir sobre a importância das leis, devemos lembrar que elas representam um pacto social que visa proteger os interesses coletivos e individuais. Embora possamos buscar formas de simplificação e aprimoramento do sistema legal, devemos sempre valorizar sua função primordial na promoção da justiça e na garantia da ordem social.

Por Marco Túlio Elias Alves - Advogado e professor, autor de “Primeiros Passos para Entender a História do Direito”


Fonte: lcagencia / Misael Freitas


quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Jon Fosse: 5 obras para conhecer o vencedor do Nobel de Literatura 2023

Foto: reprosução
Norueguês autor de romances, poesias e peças teve seus livros traduzidos para mais de 50 idiomas, incluindo português; editora Fósforo irá lançar uma das obras neste mês.

Nesta quinta-feira (5), a Academia Real Sueca de Ciências concedeu o Prêmio Nobel de Literatura de 2023 ao autor norueguês Jon Fosse por "suas peças e prosa inovadoras que dão voz ao indizível." Os livros dele já foram traduzidos para mais de 50 idiomas.

O escritor nascido em 1959 na comuna de Haugesund, na Noruega, redige na língua nova norueguesa, uma variante minoritária do idioma que compila dialetos falados sobretudo na costa do país escandinavo. Ele já se aventurou por diversos gêneros: romance, poesia, conto, ensaio, traduções, literatura infantil e teatro. "Embora seja hoje um dos dramaturgos mais amplamente encenados no mundo, ele também tem sido cada vez mais reconhecido por sua prosa", ressalta o comitê do Nobel.

Em uma entrevista concedida ao The Guardian em 2014, Fosse, que havia sido uma das apostas da premiação no ano anterior, admitiu que gostaria de vencê-la. “Mas a verdade é que fiquei muito satisfeito quando chegou a notícia de que não fui eu", relatou, na época. "Normalmente, eles escolhem escritores muito antigos, e há uma sabedoria nisso – você recebe [o prêmio] quando ele não for afetar sua escrita".


Retrato de Jon Fosse divulgado pelo Prêmio Nobel — Foto: Niklas Elmehed
© Nobel Prize Outreach - Imagem: reprodução

Aos 64 anos de idade, o norueguês finalmente viu sua vez chegar. Confira a seguir 5 obras para conhecer Jon Fosse.

1. Raudt, svart, de 1983

Segundo a editora Companhia das Letras, Fosse teve sua estreia literária em 1981, com a publicação do conto Han em um jornal estudantil. Mas seu romance de estreia, Raudt, svart ("Vermelho, preto", sem publicação no Brasil) só foi publicado dois anos mais tarde, em 1983.

A Academia Real Sueca de Ciências descreve o romance como "tão rebelde quanto emocionalmente cru". A obra aborda o tema do suicídio e, "de muitas maneiras, estabelece o tom para seu trabalho posterior", segundo o comitê.



2. Melancholia I; Melancholia II, de 1995 e 1996 (Melancolia, lançada no Brasil em 2015 pela editora Tordesilhas)

Melancolia narra a história de um personagem real: o pintor de paisagens Lars Hertervig, que nasceu em Hattarvågen, na costa oeste da Noruega, em 1830, em uma família de agricultores quaker muito pobre. Segundo descrição da Amazon, o protagonista recebe a ajuda de um mecenas para estudar arte em Düsseldorf, na Alemanha, "mas padece com terríveis inseguranças, obsessões sexuais e delírios incapacitantes".

A edição brasileira da obra reúne Melancholia I, de 1995, e a sequência Melancholia II, de 1996. Esta segunda parte, inclusive, é narrada pela irmã fictícia de Hertevig, Oline.


3. Det er Ales, 2004 (É a Ales, lançada no Brasil em 2023 pela Companhia das Letras)

Neste romance, o narrador onisciente costura as reminiscências de Signe, uma mulher cujo marido, Asle, desapareceu após sair de barco em um fiorde. Mas as memórias da protagonista vão além da sua vida conjugal: elas também abordam laços de família e dramas que remontam a cinco gerações, até sua trisavó.

"[O livro] oferece uma reflexão assombrosa sobre o amor, a perda e o legado de nossos antepassados", segundo texto de divulgação da Companhia das Letras, editora que lançou o livro em setembro no Brasil.

Vencedor do Norwegian Critic's Prize e finalista do International Booker Prize, É a Ales é construído com uma longa frase quase inteiramente moldada por vírgulas – outras pausas ocasionais são feitas por pontos de interrogação, quebras de linha e expressões como "eu acho" e "entendo".


4. Septologien, finalizada em 2021 (Septologia, a ser lançada no Brasil em 2025)


Dividida em três livros, Fosse completou esta obra em 2021. Ela é composta por Det andre namnet (2019); Eg er ein annan (2020) e Eit nytt namn (2021). A editora Fósforo anunciou que lançará o romance no Brasil em 2025.

Septologia tem como protagonista Asle, um velho pintor viúvo e solitário. Ele faz uma espécie de monólogo no qual fala consigo mesmo como se fosse outra pessoa. "A obra parece progredir infinitamente e sem quebras de frases, mas é formalmente mantida unida por repetições, temas recorrentes e um período de sete dias fixo. Cada uma de suas partes começa com a mesma frase e termina com a mesma oração a Deus", descreve o comitê do Nobel.

Em uma entrevista em 2022 ao site do jornal The New Yorker, o autor norueguês disse acreditar que os três volumes são universos únicos. "Mas, ao mesmo tempo, eles estão conectados. É isso que faz dele um romance, essas três novelas juntas", ele afirmou.


5. Kvitleik, 2023 (Brancura, que será lançado em outubro pela editora Fósforo)

Com lançamento no Brasil previsto para o próximo dia 26 de outubro pela editora Fósforo, Brancura é um breve romance de tom onírico. Nele, um homem começa a dirigir sem rumo e, desconhecendo as próprias motivações por trás desse comportamento, acaba conduzindo seu carro até uma floresta. Então escurece, e a neve começa a cair.

"Obedecendo à lógica trágica e misteriosa que opera nos pesadelos — ou no encontro inescapável com o destino —, em vez de procurar ajuda, ele decide se aventurar pela mata escura, onde se depara com um ser de brancura reluzente", descreve a Fósforo em comunicado.


Fonte: revistagalileu


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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

“Damos tanta atenção à felicidade que não lidamos com a tristeza”

Imagem: Reprodução

Em entrevista, o historiador norte-americano Peter. N. Stearns fala sobre seu novo livro lançado no Brasil, que aponta como a noção de felicidade mudou ao longo dos séculos.

A busca pela felicidade é tratada por filósofos, religiosos e políticos desde as primeiras civilizações. Na China do século 5 a.C., Confúcio pregava que o contentamento resulta da harmonia, embora esse estado fosse incompatível com o contexto de guerra que o pensador vivia. Para Aristóteles, um século depois, toda ação humana tinha como objetivo a felicidade. Na Idade Média, no entanto, essa associação ficou de lado. A Igreja Católica passou a sugerir que a verdadeira felicidade só poderia ser atingida após a morte e que, em vida, as mazelas nos fortaleceriam.

Outra virada ocorreu no final do século 17: com os iluministas, o desejo de ser feliz voltou ao centro do debate social, político e até econômico. Essa visão, aliás, ainda perdura no Ocidente. Nessa parte do mundo também imperam os valores das Revoluções Industriais, nos séculos 18 e 19, que aproximaram a noção de felicidade da necessidade de bens materiais.

As nuances e os vários fatores que contribuíram para a ideia de felicidade que temos hoje estão descritos no livro História da Felicidade, do estadunidense Peter N. Stearns, lançado no Brasil em outubro pela Editora Contexto. Formado em história pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Stearns é professor da Universidade George Mason, também nos EUA, onde foi reitor entre 2000 e 2014. Sempre muito interessado em desvendar outras culturas, ele se dedica a conhecê-las por meio do estudo da história das emoções. “Devemos olhar ao redor do mundo e tentar entender como operam essas diferentes visões”, sugere o estudioso de 86 anos, em entrevista.

Autor também dos livros A infância (2006), História das relações de gênero (2007) e História da sexualidade (2010), todos publicados no Brasil pela Contexto, Stearns reflete sobre como podemos nos beneficiar de pesquisas sobre a felicidade. Na entrevista a seguir, ele também comenta as dificuldades de construir uma perspectiva histórica e global do contentamento e como esse sentimento tem sido abalado pela pandemia de Covid-19.

Quando falamos em história, primeiro vêm à mente guerras, revoluções, dinastias. Mas você escolheu se especializar em aspectos mais subjetivos que atravessam a história da humanidade, como a infância, as relações de gênero e, agora, a felicidade. De onde vem esse interesse?

Eu tenho trabalhado com a história das emoções desde a década de 1980, inicialmente com foco em raiva e ciúmes, porque percebi que a compreensão sobre determinadas emoções pode mudar ao longo do tempo. Então, como historiador, tento descobrir por que e como essas concepções foram se transformando e, assim, vou ajudando a construir um conhecimento adicional que nos dá uma perspectiva maior sobre como nossas emoções contemporâneas se desenvolveram.

Quais são os maiores desafios ao fazer essa retrospectiva da evolução das nossas emoções?

Há muitas dificuldades. A primeira delas é que, obviamente, as ideias sobre determinada emoção diferem muito de uma região para outra. Por exemplo, o Japão é um país muito próspero e bem- -sucedido, mas não se sai muito bem em pesquisas sobre felicidade. Então, é preciso tentar descobrir o que acontece na cultura nipônica e determinar se os japoneses são realmente menos felizes do que outros povos ou se simplesmente definem a felicidade de forma diferente do tipo de felicidade que a pesquisa tentou mensurar.

É fascinante apreciar essas diferentes visões, mas é também desafiador. Particularmente se não há muita pesquisa sobre certo assunto. Por exemplo, é necessário produzir mais trabalhos sobre o padrão de felicidade na África Subsaariana, inclusive do ponto de vista histórico. Ter informações o bastante é outro desafio. É bem fácil falar sobre o que pensadores como Aristóteles e Confúcio disseram sobre felicidade, mas muito, muito mais difícil dizer o que pessoas comuns pensavam sobre isso.

É necessário produzir mais trabalhos sobre o padrão de felicidade na África Subsaariana, inclusive do ponto de vista histórico”

— Peter N. Stearns reflete sobre a falta de pesquisas fora da Europa Ocidental

No livro história da felicidade, você também cita como desafio o fato de a maior parte das pesquisas sobre o assunto serem feitas sobre e sob a perspectiva da europa ocidental. o que tem sido feito para mudar essa tendência?

Há um crescente interesse sobre a história da felicidade em outras culturas. Então, talvez daqui alguns anos isso deixe de ser um problema. Na América Latina, acabam de criar uma nova sociedade focada na história das emoções [Sociedad Iberoamericana de Historia de las Emociones y la Experiencia]. Esta é uma região onde a pesquisa está realmente crescendo, mas ainda não é tão abundante quanto na Europa Ocidental. Ainda assim, os estudos têm começado a se diversificar em termos de origem.

Outra região sobre a qual precisamos saber mais é a Ásia. De forma geral, temos mais registros sobre a felicidade no leste do continente. As comunidades dessa região costumam ser menos individualistas do que as ocidentais. Enquanto nós nos sentimos mais confortáveis ao falar sobre a importância da felicidade individual e, em alguns casos, até mesmo dizer como os outros podem ficar mais felizes, as culturas do Leste Asiático estão mais focadas em conexões e questões coletivas, na importância do pertencimento. Essa é uma diferença fundamental.

Ao menos no ocidente, a ideia de felicidade está muito ligada ao acesso a bens materiais e serviços que até pouco tempo nem existiam. Quando olhamos para aquelas culturas que viviam de hábitos agrários e formaram as primeiras sociedades, o que importava para ser feliz?

As sociedades agrárias colocavam muita ênfase no número de filhos que a família deveria ter. Isso foi, por um tempo, um fator de definição de felicidade para os gregos, por exemplo. Muitas sociedades agrárias eram bastante religiosas. Então, na história da felicidade, é importante procurar entender o que diferentes religiões diziam sobre essa emoção. Por exemplo, o Cristianismo falava sobre ser feliz nesta vida, mas despendia mais atenção à felicidade na vida após a morte. O papel da família e da religião são dois fatores que foram fundamentais para as sociedades agrárias até se tornarem mais industriais.

Seu livro aponta o iluminismo e a revolução industrial como acontecimentos essenciais para moldar a concepção contemporânea de felicidade. Como você explica a influência de cada um desses episódios hoje em dia?

O Iluminismo é absolutamente fundamental na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e na América Latina. O movimento argumentava que a felicidade neste mundo é perfeitamente normal e defendia que as pessoas deveriam tentar ser felizes. Os iluministas discorreram sobre o direito à felicidade, uma ideia bem inovadora, e pensavam que, em uma sociedade adequadamente organizada, a felicidade social e individual deveria aumentar. Essa é uma mudança muito dramática em comparação a visões mais tradicionais que prevaleciam até então. Com o Iluminismo, os teóricos políticos começaram a falar sobre como suas teorias promoveriam mais felicidade. Essa é uma mudança fundamental na visão global sobre a emoção.

A industrialização é um processo cujo papel é ambíguo, já que ela dificultou a vida para muitas pessoas — pelo menos por um tempo. Esse processo criou novas divisões, mas, a longo prazo, ajudou a promover a ideia de que uma vida material melhor era um aspecto crucial da felicidade e que, se a economia estivesse bem, a felicidade estaria garantida. Enfatizar o papel do crescimento econômico é exagerado, mas acho que é uma visão comum ainda hoje e a industrialização encorajou essa conexão.

Temos uma necessidade de não apenas ser felizes, mas de parecermos. você apontaria algum fator histórico que tenha contribuído para essa imposição?

Acho que há algumas diferenças dependendo de em qual sociedade você vive. Mas, pelo menos em lugares como a Europa Ocidental, o Iluminismo também reforçou a necessidade de parecermos alegres. As pessoas eram encorajadas a sorrir mais, as crianças também deveriam ser mais felizes e desfrutar de sua infância. Preocupar-se com pessoas que não pareciam ser felizes o bastante também foi um aspecto importante nessa nova ênfase na felicidade.

Em 2005, um artigo publicado na revista review of general psychology ficou famoso ao concluir que cerca de 50% do nosso contentamento depende de fatores genéticos. O que isso muda no debate sobre a felicidade?

A partir dessa descoberta, é possível inferir que algumas pessoas têm maior predisposição para personalidades mais alegres. Mas a genética não é o único fator. Diferentes padrões culturais e situações da vida real interagem com a genética. Se você está em uma situação de guerra ou doença, isso vai desafiar a sua felicidade genética. Afinal, a felicidade é composta por uma combinação de fatores.

“Se você está em uma situação de guerra ou doença, isso vai desafiar sua felicidade genética. A felicidade é composta por uma combinação de fatores”

— Stearns pondera a influência da genética na felicidade

Afinal, como os estudos sobre felicidade podem ajudar a melhorar nossa vida?

Estudar a felicidade, primeiramente, nos dá a compreensão de que as definições acerca dela são parcialmente construídas pela nossa sociedade. Isso não significa que os padrões contemporâneos estejam errados, mas podemos entender que eles se desenvolveram ao longo do tempo e reagir diferentemente a eles. Para mim, a maior vantagem de estudar a felicidade é dar aos indivíduos a oportunidade de pensar quais são suas próprias definições.

Fotografia do livro "História da Felicidade" escrita por Peter N. Stearns
( (Editora Contexto, 368 páginas) — Foto: Arquivo pessoal

Muitos condicionam a felicidade a padrões de vida, consumo e luxos; enquanto outros a definem por um senso de realização, um desejo de contribuir para a sociedade. Esse tipo de discussão ajuda indivíduos a decidirem quais são seus modelos. Estudar a felicidade não dita às pessoas como ser feliz, mas sugere formas de refletir sobre isso, para que tenham uma perspectiva mais ampla e clara sobre o assunto.

Analisando o passado e nosso contexto atual, em recuperação de uma pandemia, é possível estabelecer alguma tendência sobre a felicidade nos próximos anos?

Agora, a felicidade está um pouco abalada em todo o mundo. A pandemia claramente perturbou a todos. Em lugares como os Estados Unidos e o Brasil, há também divisões políticas e ameaças de violência. A felicidade está comprometida, mas eu espero que isso seja temporário e que possamos prosseguir com a possibilidade de ter uma maior felicidade ou uma maior atenção à nossa felicidade quando nos recuperarmos da pandemia e de alguns desafios econômicos.

Para a maior parte das pessoas, no mundo todo, encontrar a felicidade agora é mais difícil do que há alguns anos. Teremos que observar o quão durável será esse período.

Você tem alguma lição que tenha aprendido sobre a felicidade ao longo da produção do livro e que possa compartilhar com os leitores brasileiros?

A lição número um é que é importante reconhecer que a sociedade está diferente e que há definições culturais distintas sobre ela. Devemos olhar o mundo e tentar entender como operam essas diferentes visões.

Mas eu acho que a maior lição, pelo menos para a cultura ocidental, é não prestar muita atenção, o tempo todo, ao quanto somos felizes. Damos tanta atenção à felicidade que não lidamos com a tristeza ou com contratempos tão bem quanto deveríamos. É importante manter o equilíbrio entre felicidade e outros aspectos da vida, outras pressões.

Por fim, escrever este livro sobre a felicidade fez você mais feliz?

Boa pergunta [risos]! Sim, me fez mais feliz porque eu amo pesquisar. Ter essa publicação traduzida para o português também me fez mais feliz, então, o saldo é positivo

Fonte: revistagalileu


quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Para onde você iria se pudesse viajar no tempo?

Imagem: Divulgação
A possibilidade de viajar no tempo e reviver o passado ou conhecer o futuro já foi tema de muitos filmes e histórias em quadrinhos. São exemplos os longas, De volta para o futuro (1985) e Interestelar (2014).

Instigada por estas e outras obras, a escritora Mandi Castro, usou este paradoxo para compor o enredo de "Nina Lafayette e o Salto Temporal". No lançamento, ela une também a paixão pela história brasileira e leva os leitores até a Semana da Arte Moderna de 1922.


O que você diria à Anita Malfatti se tivesse chance?

Em continuação de saga elogiada por Laurentino Gomes, escritora Mandi Castro insere o público jovem no contexto social e artístico da década de 1920 no Brasil

Anita Malfatti está na sala de casa enquanto lê para os amigos, Mário de Andrade e Di Cavalcanti, a crítica que Monteiro Lobato fez sobre uma de suas exposições. Ele desaprova as tendências artísticas da época e afirma que os talentos da pintora estão sendo gastos com uma “arte caricatural”. Ao escutar os argumentos do autor de “Sítio do Picapau Amarelo”, a adolescente Nina, que havia sido convidada a participar daquele encontro com pessoas famosas, defende Anita Malfatti.

Porém, o que uma menina do ensino médio está fazendo na casa de uma grande artista? Em Nina Lafayette e o Salto Temporal, continuação da saga de Mandi Castro, a protagonista viaja no tempo para salvar a humanidade. Com um enredo que mistura fantasia e ficção científica, a autora traz para a obra o contexto sociocultural da década de 1920 e mostra a influência da arte na formação histórica do país.

A arte brasileira depende da realidade brasileira e é, ao mesmo tempo, reveladora dessa realidade. Por isso, nossa expressão é ainda em grande parte lírica.

Como pode o Brasil ter uma arte trágica e grandiosa sem que se faça a revolução social?

Como podemos pegar tamanha necessidade e representação e condensá-la em três dias?

Nina Lafayette e o Salto Temporal, pg. 79

Na trajetória, a garota contará com a ajuda do irmão, Martim, para fugir de um antigo guardião do tempo que quer destruí-los e roubar seus poderes. Por causa da força que detêm, os Lafayette serão perseguidos por Mestres do Tempo-Espaço. Em meio a esses acontecimentos, a personagem vivencia de perto situações que culminariam na Semana de Arte Moderna de 1922, como um diálogo entre Heitor Villa-Lobos e Di Cavalcanti para acertar detalhes do evento.

Já no primeiro volume da saga, Martim Lafayette e o Contra-Tempo, Mandi Castro leva o leitor a 1822. Naquele período, o Brasil enfrentava a luta pela independência da coroa portuguesa, dentro de um regime escravocrata e de exploração dos povos indígenas. O título foi descrito por Laurentino Gomes como uma leitura “divertida e bem fundamentada”.

Pós-graduada em Roteiro para o Audiovisual, a escritora tem ampla experiência com produção de textos no setor cultural. Com o primeiro volume da série ganhou o Prêmio Brasil entre Palavras, realizado pelos blogs CuraLeitura e As 1001, nas categorias “Melhor Romance de Época”, “Melhor Autora” e “Capa Mais Bonita” em 2020. Também foi finalista dos prêmios Odisseia Fantástica 2021, um dos maiores eventos do gênero de fantasia no Brasil, e Minuano de Literatura 2021, promovido pela Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul.

FICHA TÉCNICA

  • Título: Nina Lafayette e o Salto Temporal
  • Autor: Mandi Castro
  • Editora: Luva Editora
  • ISBN/ASIN: 978-65-00-56048-0
  • Formato: 15,7 X 23 cm
  • Páginas: 200
  • Preço: R$ 40 (físico) e R$ 14,90 (e-book)
  • Onde comprar: Amazon | com a autora, por Instagram

Sobre a autora: Formada em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Casper Líbero e em Ciências Contábeis pela Universidade de São Paulo (USP), Mandi Castro também circula no meio artístico por ser atriz profissional pela Escola de Atores Wolf Maya e pós-graduada em Roteiro para o Audiovisual na Fundação Armando Alvares Penteado. Atualmente, trabalha como assistente de produção executiva. Em sua carreira como escritora, lançou os livros “Adaptação do Amor – Minha Vida Antes dos 30”, “Martim Lafayette e o Contra-Tempo" e “Nina Lafayette e o Salto Temporal”. Com a primeira obra da saga de fantasia, recebeu elogios de Laurentino Gomes, além de ter sido finalista do Prêmio Minuano de Literatura 2021 e do Prêmio Odisseia Fantástica 2021.

Redes sociais: Instagram | Twitter | LinkedIn


Fonte: pressmanager / LC - Agência de Comunicação

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Estagiária da CGU no Maranhão lançou livro ‘Quanto mais você entende, menos o político corrupto te engana’

Imagem: Divulgação
Os exemplares da obra de Jheny Lopes podem ser comprados na livraria AMEI, no São Luís Shopping, onde o evento foi realizado às 19h da segunda-feira (1º), no valor de 50 reais

A estudante de Administração Pública da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) Jheny Lopes, estagiária da Controladoria-Geral da União no Maranhão, lançou na segunda-feira (1º) o livro “Quanto mais você entende, menos o político corrupto te engana”.

Incentivo à democracia participativa dos cidadãos, a obra trata de assuntos voltados ao combate à corrupção, e busca também informar sobre administração pública e, como efeito, a política.

O evento de lançamento foi realizado no espaço da AMEI (Associação Maranhense de Escritores Independentes), no São Luís Shopping, no bairro do Jaracaty, na capital, ontem.

Lotada no Núcleo de Ação de Ouvidoria e Prevenção à Corrupção, o NAOP, a autora se fundamentou na experiência adquirida no estágio no órgão de controle para construir a obra.

“Comecei a entender que a informação conscientiza e educa o cidadão. Um cidadão informado, jamais será enganado”, afirma Jheny Lopes.

“Desejo muito que a leitura desse livro possa conduzir o cidadão para uma visão política mais transparente.”


Imagem: Divulgação

Os exemplares podem ser comprados na livraria AMEI, no valor de 50 reais.

Fonte: atual7


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Livro discute impacto da era digital nas eleições e na democracia

Imagem: Reprodução

Eleições e Democracia na Era Digital será lançado no dia 29 de julho (sexta-feira), no Auditório Fernando Falcão (ALEMA). Obra reúne artigos de 46 juristas.

As novidades do mundo digital e suas interferências nas eleições e na democracia, de um modo geral, são alguns dos temas abordados no livro Eleições e Democracia na Era Digital, que será lançado no dia 29 de julho, em São Luís. O objetivo da obra é compartilhar visões e estudos sobre temas como fake news, proteção de dados e publicidade eleitoral na internet. O evento de lançamento, promovido pela OAB-MA, acontecerá às 9 horas, presencialmente, no Auditório Fernando Falcão, da Assembleia Legislativa do Maranhão.

A participação é aberta ao público, com inscrições gratuitas feitas pelo site.

Composta por 31 textos, desenvolvidos por 46 juristas brasileiros e estrangeiros, o livro aborda sobre os desafios da era digital frente aos contextos de valores democráticos, eleitorais e da liberdade de expressão. A obra foi coordenada por: Reynaldo Soares da Fonseca, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ); Paulo Gustavo Gonet Branco, vice-procurador-geral eleitoral; Pedro Henrique de Moura Gonet Branco, editor-chefe da Revista dos Estudantes de Direito da Universidade de Brasília (UnB); João Carlos Banhos Velloso, advogado e mestre em direito pela Universidade da Califórnia; e Gabriel Campos Soares da Fonseca, assessor da presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Os temas serão apresentados durante o evento de lançamento em palestras ministradas por Reynaldo Soares da Fonseca, Pedro Gonet Branco, João Carlos Velloso, Gabriel Soares da Fonseca e Paulo Gonet Branco.

O encontro tem o apoio da Escola Superior da Advocacia (ESA), Comissão da Advocacia Eleitoral, Escola Superior da Magistratura do Maranhão (ESMAM), Corregedoria Geral da Justiça do Maranhão, Escola Superior do Ministério Público do Maranhão (MPMA) e Escola do Legislativo.



SERVIÇO

O que: Lançamento do Livro Eleições e Democracia na Era Digital

Data: 29 de julho

Horário: 9 horas

Local: no Auditório Fernando Falcão - Assembleia Legislativa do Maranhão

Carga Horária: 3h

Inscrição: Site da ESA/MA 

Valor: Gratuito


Fonte: TJMA

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Com resgate histórico, Livro “Othelino: um herói da imprensa livre” foi lançado em São Luís

Foto: Reprodução

Com um valioso resgate histórico sobre a vida de um dos mais expressivos e polêmicos jornalistas do Maranhão, foi lançado, na noite de terça-feira (15), o livro “Othelino: um herói da imprensa livre” do escritor Manoel Santos Neto. A biografia conta com riqueza de detalhes toda a trajetória profissional de Othelino Nova Alves (1911-1967), que foi brutalmente assassinado, no final da década de 60, quando exercia o seu direito de liberdade de expressão e de imprensa.

O biografado é avô do presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado Othelino Neto (PCdoB). O lançamento do livro aconteceu no hall do Plenário Nagib Haickel, em um ato discreto para familiares e amigos, obedecendo às normas sanitárias por conta da pandemia da Covid-19.

Grande parte da família do biografado e do deputado Othelino Neto acompanhou a solenidade remotamente de diversos estados pelo aplicativo Zoom.

O livro é um relato épico, como bem definiu o presidente do Parlamento Estadual, deputado Othelino, que conta tanto a história do seu avô, como contextualiza o momento político, social e, principalmente, o que era ser jornalista naquela época. Resgata também momentos angustiantes que a imprensa viveu no Brasil a partir de diversos regimes de exceção, como a ditadura do Estado Novo, quando Othelino Nova Alves foi vitimado.

Em discurso emocionado, o presidente da Assembleia, que estava acompanhado de sua esposa, Ana Paula Lobato, destacou a importância do livro, que foi idealizado pelo seu pai, Othelino Filho, para a sua família e a imprensa maranhense. “Sinto-me muito emocionado e honrado pela oportunidade de prestigiar o lançamento do livro que conta a vida do meu avô, um homem que se dedicou à imprensa livre e à sua luta pela liberdade de expressão e de informar”, disse.


Foto: Reprodução

Para Othelino, a obra é uma forma de resgatar não só a história de luta da vida do seu avô, mas, sobretudo, o que ele representa para a história da imprensa maranhense. “Portanto, considero este momento muito especial não só para nossa família, mas também para todos aqueles que militam no dia a dia da imprensa do Maranhão e do nosso país, fundamental para o equilíbrio da sociedade”, acrescentou.

Othelino Neto também agradeceu ao autor da obra por sua sensibilidade ao retratar a vida do saudoso Othelino Nova Alves. “Muito bom que o Manoelzinho tenha sido o jornalista responsável pela obra porque também é um homem do povo e que conhece a nossa realidade. É um homem, tal qual o meu avô, que, essencialmente, defendia as causas daqueles que mais precisavam e a combater as desigualdade e injustiças”, completou.

Fonte: maramais


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Livro da primeira romancista brasileira será discutido na ESMP Literária

Foto: Reprodução

O romance “Úrsula” da escritora maranhense Mara Firmina dos Reis (1822 – 1917), a primeira romancista brasileira, é o tema da 12ª edição do ESMP Literária, a ser realizada, de forma virtual, na próxima quinta-feira, 19, às 17h, com transmissão pelo canal do YouTube da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão.

Participam do debate Claunísio Amorim Carvalho, editor, historiador e servidor de carreira do MPMA, e a poetisa e escritora Dilercy Aragão Adler, membro da Academia Ludovicense de Letras. A moderação será feira pela promotora de justiça Samira Mercês dos Santos, titular da 4ª Promotoria de Imperatriz.

A carga horária é de 2 horas/aula e a as inscrições podem ser feitas pelo endereço: eventos.mpma.mp.br

Membros, servidores, estagiários do MPMA e interessados em geral são o público-alvo da atividade. O debate é promovido pela ESMP em parceria com o Centro Cultural do MPMA.

A OBRA

Nascida em São Luís, filha de uma mulher branca com um homem negro, Maria Firmina dos Reis publicou “Úrsula” em 1859, quando o país ainda sustentava o regime de escravidão. O livro é considerado o primeiro romance antiescravagista e escrito por uma mulher no Brasil.

O romance conta a história de amor entre Úrsula e Tancredo e se diferencia pelo modo como os personagens negros e as mulheres são construídos, e a escravidão é problematizada.

“A maior importância do romance Úrsula, de Maria Firmina, foi ter apresentado personagens escravizados por uma perspectiva humanizada e não somente sob a ótica da tragédia. Além da questão escravagista, a autora criticou a sociedade patriarcal da época”, ressalta a promotora Samira Mercês dos Santos, moderadora do debate.

Fonte: CCOM-MPMA


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Historiador organiza obra com soluções para o país

Foto: Reprodução

Lançado no último sábado, livro “Repensar o Brasil” oferece propostas para superar problemas brasileiros com base na democracia, inclusão e sustentabilidade.

Tendo como alvo o Bicentenário da Independência (2022), o livro “Repensar o Brasil”, lançado na semana passada, tem por objetivo abrir o debate sobre desenvolvimento do Brasil, traçando uma profunda análise da realidade brasileira. Reunindo qualidades teóricas e conceituais, os textos buscam analisar e apresentar soluções para os problemas socioeconômicos que assolam o país em uma crise multidimensional.

“O livro objetiva contribuir para o debate sobre desenvolvimento nacional a partir de abordagem interdisciplinar. Os diferentes capítulos analisam os problemas nacionais e propõe caminhos de superação com base na democracia, inclusão e sustentabilidade”, afirma o historiador Jhonatan Almada, presidente Centro de Inovação e Conhecimento para a Excelência em Políticas Públicas (CIEP). “A economia, a história e a política estão em diálogo no livro para intervir propositivamente na realidade social”.

Almada e o economista Luiz Fernando de Paula (UFRJ) e Elias Jabbour (UERJ) organizaram a obra. Reuniam artigos de intelectuais reconhecidos no cenário nacional, entre eles, Pedro Paulo Zaluth Bastos, Luiz Gonzaga Belluzzo, Jessé Souza e Barbara Fritz. O prefácio é de Carlos Siqueira, presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), e a apresentação, do economista Paulo Gala (FGV-SP).



Entre os principais problemas nacionais, Jhonatan Almada afirma que “o Brasil precisa enfrentar sua desindustrialização, a prevalência do rentismo, a aguda desigualdade social e a inserção internacional subordinada e dependente”.  A grosso modo, o rentismo é um modo de vida de quem vive exclusivamente de rendas e rendimentos, sem produção de riqueza.

Segundo o historiador, tais problemas são empecilhos enormes para o desenvolvimento do país. “A possibilidade de um projeto nacional demanda democratizar o acesso aos serviços públicos, consolidar os investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação, bem como, priorizar a geração de emprego, trabalho e renda para nosso povo”, diz ele.

Em seu artigo no livro, Jhonatan Almada aborda a questão da educação pública. Para ele, a educação básica pública tem como principal desafio a qualidade da aprendizagem, sobretudo no ensino fundamental e no ensino médio. “Temos ainda o problema de acesso à educação infantil, em especial a creche. Nossa escola pública hoje, com raras exceções, se constitui como verdadeira máquina de enganação, incapaz de produzir a democracia como desejava Anísio Teixeira”, afirma o historiador.

“Só avançaremos quando nossas escolas forem de tempo integral com projeto pedagógico de educação integral. É assim no mundo desenvolvido há décadas, aqui precisamos permanentemente cobrar as autoridades públicas para que façam o óbvio”, diz ele.

O livro está disponível para download. Clique aqui para fazer o download inteiramente grátis.

Fonte: saoluisdofuturo




domingo, 3 de novembro de 2019

Livro ”Uma história da tatuagem no Brasil”, de Silvana Jeha, revela o país dos marinheiros, presidiários e prostitutas

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Mais do que simples desenhos gravados sobre a pele, as tatuagens contam histórias. Quando marinheiros temiam morrer em alto mar, por exemplo, tatuavam as iniciais do nome na esperança de que seus corpos pudessem ser identificados. Soldados tatuavam bandeiras como forma de expressar patriotismo. Entre presidiários e prostitutas, era comum tatuar a frase “amor de mãe”, o nome da pessoa amada ou símbolos religiosos. Essas e outras narrativas sobre tatuados estão reunidas no livro Uma história da tatuagem no Brasil, de Silvana Jeha, lançado em setembro, pela editora Veneta.

Apaixonada por histórias de marinheiros – o tema de sua tese de doutorado, inclusive, foi sobre os da Armada Nacional Imperial do Brasil, do século 19 –, a historiadora paulistana se deparou com registros de tatuagens de 1835, que acabaram servindo de inspiração para a criação do livro. Confinados em alto mar por meses ou até anos, os marujos se tatuavam nos navios e, em terra firme, espalhavam a prática. “Eram aventureiros que conheciam muita coisa antes de todo mundo, como se fossem 'a internet' antes da internet. Foram muito importantes para difundir a tatuagem no ocidente”, conta Silvana.

“Li muitos depoimentos de que pessoas que foram presas por ter tatuagem, incluindo imigrantes que foram discriminados”. Silvana Jeha, historiadora

Intrigada com a falta de pesquisas sobre tatuagem, ela passou cinco anos investigando o tema em arquivos da Biblioteca Nacional, no Museu Penitenciário Paulista, em registros da Marinha e na literatura, que ofereceram um panorama não só dos tatuados brasileiros, mas também de imigrantes que chegaram na região sudeste nas décadas de 20 e 30. A tatuagem indígena, presente no Brasil muito antes de 1500, não está na obra por merecer “um livro à parte”, segundo ela. “Usei a tatuagem como um condutor para as pessoas se interessarem pela história do Brasil”, explica.



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Do crime ao afeto

O livro abrange o período do início do século 19 até 1970, quando houve uma espécie de virada na história da tatuagem no Brasil, que passou a ser popular para além das classes trabalhadoras: “Não achei ninguém que fosse ao menos da classe média e que se tatuava antes dos anos 70. Com certeza houve, mas esconderam bem. Quando a classe média começa a se tatuar, a prática ainda é considerada uma transgressão [junto com a maior exposição de partes do corpo que antes ficavam cobertas], mas deixa se ser associada ao crime”, explica.

“O que eu mais vi foi tatuagem ligada à religiosidade e, principalmente, ao cristianismo”. Silvana Jeha, historiadora

Grande parte das fotos de tatuados no período foi publicada nas páginas policiais de jornais, como forma de identificar pessoas procuradas pela polícia ou ligadas à criminalidade: “Li muitos depoimentos de que pessoas que foram presas por ter tatuagem, incluindo imigrantes que foram discriminados, como japoneses, sírio-libaneses e italianos. Antigamente, tatuagem era ‘coisa de bandido’, como alguns dizem. Mas antes de ser coisa de bandido era uma cultura popular”, explica Silvana, que, em sua pesquisa, descobriu que cerca de 40% dos presidiários haviam sido tatuados fora da cadeia.



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No fim do século 19, era comum ver anúncios de fugas de pessoas escravizadas, que poderiam ser reconhecidas pelas tatuagens e escarificações (técnica de produzir cicatrizes no corpo com objetos cortantes, utilizada em rituais de grupos étnicos africanos). Nos arquivos policiais, estavam as mulheres tatuadas, em geral, prostitutas e presidiárias. Em busca de relatos mais humanizados, Silvana foi em busca de escritores como Machado de Assis, Pedro Nava, João do Rio, Carlos Drummond de Andrade, Plínio Marcos e Paulo Lins, que tiveram trechos de algumas obras publicados em seu livro. “Recorri aos ficcionistas porque eles têm uma visão apurada sobre o mundo e não ficam criminalizando a tatuagem.”

“Antigamente, tatuagem era ‘coisa de bandido’, como alguns dizem. Mas antes de ser coisa de bandido era uma cultura popular”. Silvana Jeha, historiadora


Depois de consultar uma quantidade imensa de arquivos e fotografias, Silvana constatou que a tatuagem esteve muito mais associada à fé do que ao crime ao longo da história. “O que eu mais vi foi tatuagem ligada à religiosidade e, principalmente, ao cristianismo. O 'signo de Salomão' ou 'estrela de cinco pontas', que tem relação com uma passagem bíblica, foi o símbolo que mais apareceu na pesquisa, seguido de outros elementos da fé cristã, como o coração flechado (que representa coração da Virgem Maria), a cruz (fé) e a âncora (esperança)."


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As marcas que as pessoas eternizam no próprio corpo também dizem muito sobre sentimentos universais, como escreve a autora no capítulo dedicado à relação entre tatuagem e afeto: “Certamente, em algumas ocasiões, tatuagem é coerção, violência. Em outras, um ritual de pertencimento. E também de amor”.

Fonte: TRIP