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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Caminhos da Reportagem destaca participação de periferias no G20

Imagem: reprodução

Programa inédito mostra que iniciativas de comunidades amplificam demandas populares nos debates globais

O programa Caminhos da Reportagem, que a TV Brasil levou ao ar na segunda-feira (11), às 23h, revela que periferias e favelas se mobilizaram na criação de plataformas para contribuir com os debates globais do G20. O fórum de cooperação econômica e política formado por 19 países, mais a União Europeia e a União Africana, acontece este mês no Rio de Janeiro.

Enfrentar a desigualdade é um problema global. Na última década, a pequena parcela do 1% mais rico do mundo engordou suas riquezas em 400 mil dólares. Ao mesmo tempo, a metade mais pobre ficou com apenas 335 dólares nesse período. Melhorar a distribuição de renda é o desafio lançado pelo governo brasileiro ao G20.

O encontro dos líderes mundiais irá selar acordos sobre diversos assuntos que vêm sendo negociados ao longo do ano. Sob a condução do Brasil, a participação social nos processos decisórios do fórum foi ampliada com a criação do G20 social. O ponto alto deste encontro será a Cúpula Social, que ocorrerá entre os dias 14 e 16 de novembro, às vésperas da Cúpula de Líderes do G20.

A mobilização de comunidades periféricas para participar do evento com suas demandas se deu com a implementação de duas plataformas. Uma delas é o” Favela 20”, ou F20, coordenada pela ONG Voz das Comunidades. “O favelado sabe muito bem o que é melhor para si e quando a gente chega nesses espaços globais, a gente não vê nenhum favelado falando sobre o que acontece dentro de seus territórios. É hora de começar a falar sobre o que é bom para a gente", defende Gabriela Santos, cofundadora do F20.

O outro movimento que irá levar propostas aos líderes mundiais é o G20 Favelas, criado pela Central Única das Favelas (Cufa). “O mundo hoje tem 1 bilhão de pessoas que moram em territórios considerados como favelas e periferias. A gente não pode simplesmente ignorar a existência dessas pessoas”, diz Gabriel Oliveira coordenador nacional do G20 Favelas.

Ficha técnica:

  • Reportagem: Ana Graziela Aguiar, Ana Passos e Paulo Leite
  • Roteiro e edição de texto: Aline Beckstein e Ana Passos
  • Produção: Ana Passos, Cleiton Freitas e Patrícia Araújo
  • Apoio à produção: Flávia Grossi, Flávia Peixoto e Thaís Chaves
  • Reportagem cinematográfica: André Rodrigo Pacheco, Luis Araújo, JM Barboza, Márcio de Andrade, Sandro Tebaldi, Sigmar Gonçalves e Rogerio Verçoza
  • Auxílio técnico: Caio Araújo, Rafael Calado, Rafael Carvalho, Raimundo Nunes, Thiago Pinto e Yuri Freire
  • Edição de imagem e finalização: Eric Gusmão e Ubirajara Abreu
  • Arte: Alex Sakata e Caroline Ramos

Sobre o programa

Produção jornalística semanal da TV Brasil, o Caminhos da Reportagem leva o telespectador para uma viagem pelo país e pelo mundo atrás de pautas especiais, com uma visão diferente, instigante e complexa de cada um dos assuntos escolhidos.

No ar há mais de uma década, o Caminhos da Reportagem é uma das atrações jornalísticas mais premiadas não só do canal, como também da televisão brasileira. Para contar grandes histórias, os profissionais investigam assuntos variados e revelam os aspectos mais relevantes de cada assunto.

Saúde, economia, comportamento, educação, meio ambiente, segurança, prestação de serviços, cultura e outros tantos temas são abordados de maneira única. As matérias temáticas levam conteúdo de interesse para a sociedade pela telinha da emissora pública.

Questões atuais e polêmicas são tratadas com profundidade e seriedade pela equipe de profissionais do canal. O trabalho minucioso e bem executado é reconhecido com diversas premiações importantes no meio jornalístico.

Exibido às segundas, às 23h, o Caminhos da Reportagem tem horário alternativo na madrugada para terça, às 4h30. A produção disponibiliza as edições especiais no site http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem e no YouTube da emissora pública em https://www.youtube.com/tvbrasil. As matérias anteriores também estão no aplicativo TV Brasil Play, disponível nas versões Android e iOS, e no site http://tvbrasilplay.com.br.

Serviço

Caminhos da Reportagem – segunda-feira, dia 11/11, às 23h, na TV Brasil

Fonte: EBC TV BRASIL / Divulgação EBC


sábado, 19 de outubro de 2024

Al Jazeera expõe crimes de guerra filmados pelos soldados israelenses em Gaza

Imagem: reprodução

A Al Jazeera lançou no início de outubro o documentário Investigating war crimes in Gaza.

Foi feito por sua Unidade Investigativa (I-Unit, por suas iniciais em inglês), tendo por base milhares de vídeos e fotos que os soldados israelenses filmaram e postaram em suas redes sociais.

A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) legendou-o em português.

Está na íntegra AQUI

Aqui, está o vídeo original publicado pela Al Jazeera em seu canal.

Ao comentar o documentário, a  Fepal destaca:

Expõe os crimes de guerra israelenses na Faixa de Gaza através de publicações dos próprios soldados israelitas durante o genocídio que já dura um ano.

O material revela uma série de atividades ilegais, desde destruição e saques até a demolição de bairros inteiros e assassinatos.

O filme também conta a história da guerra pelos olhares de jornalistas palestinos, defensores dos direitos humanos e residentes comuns em Gaza. E expõe a cumplicidade dos governos ocidentais.

“O Ocidente não pode se esconder, não pode alegar ignorância. Ninguém pode dizer que não sabia”, diz a escritora palestina Susan Abulhawa.

O documentário dura 1 hora, 20 minutos e 59 segundos.

São chocantes as imagens dos soldados israelenses celebrando as suas atrocidades.

A Unidade Investigativa da Al Jazeera identificou muitos deles.

Procurou-os para que se manifestassem. Nenhum deu retorno. 

Fizemos os prints de algumas cenas, que ajudam a dar uma ideia do horror.

Maus-tratos e humilhação a palestinos detidos: muitos despidos e com olhos vendados;
um, com as mãos e pés amarrados, foi arrastado pelo chão; outro teve a estrela de Davi
esculpida nas costas. - Imagens: reprodução

Terra arrasada: edifícios, hospitais, casas e tudo o que tinham dentro destruídos
arbitrária, intencional e ilegalmente. Pertences dos palestinos também foram saqueados.
- Imagem: reprodução

Israel está usando a fome como arma de guerra, o que é crime de guerra. As vítimas são
principalmente  crianças. - Imagens: reprodução

Entre muitos soldados israelenses, parece haver uma estranha obsessão com as
roupas íntimas femininas. - Imagens reprodução

****

Al Jazeera News tratou do documentário na matéria abaixo,  que mostra como a investigação foi conduzida e o que descobriu. 

O que a investigação da Al Jazeera sobre os crimes de guerra israelenses em Gaza revelou?

A I-Unit investigou milhares de vídeos e fotos postados nas redes sociais por soldados israelenses

Por Richard Sanders e Unidade Investigativa da Al Jazeera

Quando entraram em Gaza em 27 de outubro de 2023, três semanas depois dos bombardeios aéreos que se seguiram ao ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, os integrantes das tropas israelenses levaram seus iPhones.

“Vivemos em uma era de tecnologia, e isso foi descrito como o primeiro genocídio transmitido ao vivo na história”, disse a romancista palestina Susan Abulhawa à Unidade Investigativa (I-Unit, por suas iniciais em inglês) da Al Jazeera. 

No ano seguinte, soldados israelenses postaram milhares de vídeos e fotos no Instagram, Facebook, TikTok e YouTube.

Esses vídeos e fotos integram a base do novo filme da I-Unit, que investiga crimes de guerra israelenses principalmente por meio das evidências fornecidas pelos próprios soldados israelenses.

É, de acordo com Rodney Dixon, um especialista em direito internacional que aparece no filme, “um tesouro que raramente se encontra… algo que acho deixará os promotores com água na boca”.

Como essa investigação foi conduzida?

Enquanto jornalistas no Ocidente tentavam retratar a guerra em Gaza como complexa e cheia de nuances, uma enxurrada de postagens de soldados israelenses nas redes sociais sugeria que eles a consideravam tudo menos isso.

 A I-Unit decidiu investigar essas postagens.

A expectativa é que tivesse que investir recursos consideráveis em geolocalização – uso de mapas de satélite e outras fontes para identificar locais específicos – e software de reconhecimento facial para uma varredura na Internet a fim de reconhecer os soldados que apareciam nas fotos e nos vídeos.

O que se descobriu, no entanto, foi que, em sua maioria, os soldados publicaram material em seus próprios nomes em plataformas acessíveis ao público e, muitas vezes, forneceram detalhes de quando e onde os incidentes retratados ocorreram.

A I-Unit começou a coletar esses vídeos e fotos, compilando um banco de dados de mais de 2.500 contas em mídias sociais.

A I-Unit mostrou então as imagens de vídeo a uma série de especialistas militares e em direitos humanos, incluindo Rodney Dixon, Charlie Herbert, major-general aposentado do Exército Britânico, e Bill Van Esveld, diretor associado para o Oriente Médio e Norte da África da Human Rights Watch.

Também empregou equipes no local para filmar o depoimento de testemunhas e utilizou imagens de drones israelenses coletadas pela Al Jazeera Arabic.

O que a investigação descobriu?

O comportamento exibido nas fotos e nos vídeos varia de piadas grosseiras e soldados vasculhando gavetas de roupas íntimas femininas até o que parece ser o assassinato de civis desarmados.

Caberá aos promotores decidir sobre a culpa ou não dos soldados, mas tanto Dixon quanto Van Esveld disseram à Al Jazeera que vários dos incidentes documentados mereciam investigação por investigadores internacionais.

A maioria das fotos e vídeos se enquadrava em uma das três categorias: destruição arbitrária, maus-tratos a detidos e uso de escudos humanos.

Todas as três podem ser violações do Direito Internacional Humanitário (IHL, nas iniciais em inglês) e crimes de guerra, de acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.

Destruição arbitrária

Os vídeos frequentemente mostram soldados destruindo propriedades e posses. Outros mostram casas sendo incendiadas. A característica mais recorrente era a detonação de prédios.

“O fato de eles terem conseguido colocar explosivos nesses edifícios mostra muito claramente que não há nenhuma ameaça atual vinda desses prédios”, disse Herbert à Al Jazeera.

“Não há justificativa para destruir uma estrutura se o inimigo não estiver nela”, disse Van Esveld. “Você não pode sair por aí destruindo desnecessária e arbitrariamente … propriedade civil… É proibido”, ele acrescentou. “E se você fizer bastante isso, é um crime de guerra.”

 O que o IHL diz sobre a destruição de propriedade?

O Artigo 8(2)(a)(iv) do Estatuto de Roma proíbe a “destruição e apropriação extensiva de propriedade, não justificada por necessidade militar e realizada de forma ilegal e arbitrária”.

Soldados israelenses postaram muitos vídeos em redes sociais mostrando eles destruindo
edifícios em Gaza. Foto: Al Jazeera - reprodução


Maus-tratos a detidos

Alguns dos vídeos mostram um grande número de prisioneiros despidos, apenas de cueca, em posições de estresse e ridicularizados por terem se sujado.

Um deles mostra detentos nus e quase nus, amarrados e vendados, sendo chutados e arrastados pelo chão.

Em um vídeo, um soldado franco-israelense, que filma um detento sendo puxado na traseira de um caminhão, diz: “Olha, vou mostrar as costas dele. Você vai rir disso. Ele foi torturado”. 

“A tortura é um dos crimes internacionais mais sérios…Muitas vezes, porém, é difícil obter evidências… Este tipo de material, onde você tem pessoas filmadas admitindo que participaram de tortura, seria muito útil para qualquer investigador ou promotor”, disse Dixon à Al Jazeera

Os vídeos dos soldados são complementados por depoimentos de testemunhas coletados pela equipe da I-Unit em Gaza. O filme inclui três relatos de espancamento e abuso.

“Eles levaram meu filho, o mais velho, que tinha acabado de se casar”, disse Abu Amer. “Ele foi torturado. Eu podia ouvir seus gritos enquanto o sufocavam e o espancavam na sala ao lado. Não havia nada que pudéssemos fazer com armas apontadas para nossas cabeças. Não podíamos nos mexer.”

Abu Amer diz que um soldado disse ao seu filho: “Nada nos impede de matá-los. Poderíamos simplesmente matar todos vocês. Isso é normal. Ninguém nos deterá, ninguém nos chamará para prestar contas”.

As mulheres também sofreram abusos. Hadeel Dahdouh disse que um soldado chutou-a no estômago. “Ele me bateu nas costas com a arma e na cabeça com um pedaço de metal. Eu disse a ele: ‘afrouxe a algema’, mas ele só a apertava ainda mais”.

Outro palestino de Gaza, Fadi Bakr, disse que foi forçado a deitar sobre um cadáver em decomposição por um soldado que ameaçou executá-lo.

Mais tarde, no centro de detenção de Sde Teiman, no sul de Israel, ele disse ter visto guardas usando um cachorro para estuprar um jovem preso.

O que o IHL diz sobre os maus-tratos aos detidos?

O artigo 8.º (2)(a)(ii) do Estatuto de Roma proíbe “a tortura ou o tratamento desumano, incluindo experiências biológicas”; enquanto o artigo 8.º (2)(b)(xxi) proíbe “ultrajes à dignidade pessoal, em particular tratamento humilhante e degradante”.

Escudos humanos

A I-Unit entrevistou seis pessoas que testemunharam terem sido usadas como escudos humanos pelas tropas israelenses.

Abu Amer descreveu como, durante os confrontos entre soldados israelenses e combatentes palestinos, os soldados israelenses “nos pegaram, os homens, e nos colocaram perto da sacada. Eles colocaram suas armas acima de nossas cabeças e dispararam contra os jovens do outro lado.”

Ele diz que foi forçado a inspecionar prédios em busca de armadilhas e emboscadas, enquanto um soldado o monitorava de uma sacada com uma metralhadora. “Ele disse: ‘tente qualquer coisa e eu atiro em você'”. 

As imagens coletadas pela Al Jazeera Arabic corroboram esse fato. Elas mostram um detento sendo forçado a inspecionar prédios vazios enquanto é monitorado por um drone.

Uma outra filmagem mostra detentos ensanguentados equipados com câmeras para que possam entrar em prédios que as tropas ainda não protegeram.

Uma foto tirada por um soldado israelense na cidade de Gaza em novembro – e publicada online – mostra dois detidos caminhando na frente de um tanque com um soldado atrás deles. Em uma entrevista, um dos homens descreveu mais tarde como eles foram coagidos e usados como escudos humanos.

No Hospital Nasser, em Khan Younis, em fevereiro, um jovem foi forçado a agir pelos israelenses como mensageiro, ordenando que os deslocados evacuassem o prédio. Em seguida, o homem foi morto a tiros por um atirador na frente de sua mãe.

Usar pessoas para executar tarefas militares é “em muitos aspectos a definição de usar pessoas como escudo humano”, explicou Dixon.


A I-Unit obteve video de palestino sendo usado como escudo humano.
Foto: Al Jazeera - reprodução


A I-Unit entrevistou a mãe da vítima e outra testemunha.

O que o IHL diz sobre o uso de escudos humanos?

O artigo 8.º (2)(b)(xxiii) do Estatuto de Roma proíbe “a utilização da presença de um civil ou de outra pessoa protegida para tornar certos pontos, áreas ou forças militares imunes a operações militares”.

Há alguma unidade específica que aparece com destaque nas fotos e nos vídeos?

O Batalhão de Engenharia de Combate 8219  – também conhecido como Comando Gadhan – aparece com destaque em vídeos postados online.

Ele destruiu centenas de edifícios na cidade de Gaza e depois avançou para o sul da Faixa de Gaza, onde, entre 28 de dezembro e 9 de junho, destruiu completamente Khirbet Khuza’a, uma cidade de 13 mil habitantes próxima à cerca que separa Gaza de Israel.

“Nós… destruímos uma vila inteira como vingança pelo que fizeram ao Kibutz Nir Oz em 7/10”, escreveu o capitão Chai Roe Cohen, da Companhia C do batalhão 8219, em uma postagem no Instagram em 7 de janeiro. Nir Oz fica do outro lado da cerca de Khirbet Khuza’a e foi atacada em 7 de outubro; aproximadamente um quarto de seus moradores foram mortos ou feitos prisioneiros.

“A retórica de vingança que ouvimos de alguns soldados israelenses (…) é perturbadora. Atrocidades não justificam atrocidades”, Van Esveld disse à Al Jazeera.

O 8219 foi comandado durante suas operações em Gaza pelo tenente-coronel Meir Duvdevani.

“O Tribunal Penal Internacional irá (…) procurar aqueles que estão no topo da cadeia de comando … e as evidências vindas diretamente dos comandantes sobre as ordens que eles deram e a maneira como eles comandam e controlam as tropas seriam provas vitais”, disse Dixon.

A I-Unit também examinou um vídeo colocado online por um soldado chamado Shalom Gilbert, membro do 202º Batalhão de Paraquedistas. O vídeo mostra três homens desarmados sendo mortos por atiradores de elite.

”Só porque um civil está andando em uma área onde o combate está acontecendo não o torna um alvo justo… Se ele se envolver em hostilidades em um momento específico, sim, ele perde o status de civil. Eles podem ser alvos. Mas então você tem que mostrar as evidências de que eles estão representando uma ameaça a você… É potencialmente uma questão que o Tribunal Penal Internacional gostaria de analisar”, disse Dixon.

 O 202 tinha uma equipe de atiradores de elite, conhecida como Unidade Fantasma, composta por 21 indivíduos.

Cumplicidade ocidental

Atualmente, o governo israelense está sendo investigado por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça. Isso levanta a possibilidade de que qualquer país que tenha prestado assistência ao esforço de guerra de Israel também esteja sujeito a acusações.

Entre 2019 e 2023, 69% das importações de armas israelenses vieram dos Estados Unidos e 30% da Alemanha. Ambos continuaram a fornecer armamento durante todo o conflito, embora os suprimentos alemães tenham diminuído desde o início deste ano.

O filme apresenta reportagem do Declassified UK, que mostra o papel central desempenhado pela base britânica da RAF Akrotiri, na ilha de Chipre. Os britânicos têm feito voos de vigilância sobre Gaza desde o início de dezembro, supostamente para facilitar o resgate de prisioneiros israelenses.

No filme, Matt Kennard, do Declassified, argumentou que isso “não explica” os voos. Havia “apenas dois reféns britânicos em Gaza… Em março, havia até 1.000 horas de filmagem [de vigilância].”

Os aviões R1 Shadow usados pelos britânicos têm capacidade de aquisição de alvos.

“Quando você começa a atuar em um conflito a ponto de as pessoas que estão lutando no terreno usarem suas informações enquanto lutam”, você pode se tornar ‘uma parte do conflito’”, explicou Van Esveld.

“Se você continuar a saber e continuar a fornecer armas e informações de alvos, apesar de saber qual é o resultado, e o resultado for uma violação grosseira dos direitos humanos, então você também se torna cúmplice. Portanto, a negação de que você está profundamente envolvido no que está acontecendo em Gaza começa a evaporar”, ele acrescentou.

A I-Unit perguntou ao governo do Reino Unido sobre seus voos de vigilância.

Ele nos disse: “O Reino Unido não participa do conflito entre Israel e o Hamas … Por uma questão de princípio, só fornecemos inteligência aos nossos aliados quando estamos convencidos de que ela será usada de acordo com o Direito Internacional Humanitário … Somente informações relacionadas ao resgate de reféns são passadas às autoridades israelenses”.

Acrescentou: “Nossa prioridade continua sendo um cessar-fogo em Gaza para que os reféns possam ser libertados, os civis protegidos e a ajuda liberada”.

Fonte: viomundo


sexta-feira, 4 de março de 2022

Contaminação recorde por agrotóxicos no Paraná atinge mais de 50 crianças

Samuel da Silva Jobim, promotor
do Ministério Público em Quedas
do Iguaçú - Foto: Reprodução

Nuvem de Paraquate, potencialmente fatal, intoxicou 96 pessoas, a maioria crianças que estavam em escola vizinha à área de plantação.

Quase cem pessoas foram intoxicadas no início de novembro no município de Espigão Alto do Iguaçu com PARAQUATE, um agrotóxico que está proibido na Europa desde 2007. O pequeno município, de 5 mil habitantes, fica no centro-oeste paranaense, 356 quilômetros da capital, Curitiba.

Trata-se do caso com mais vítimas na história recente do estado, responsável por 17% da produção nacional de grãos como soja e milho, numa área correspondente a pouco mais de 2% do território brasileiro. Dos 96 afetados, 52 são crianças, a maioria alunos de uma escola rural que funciona colada à área agrícola onde o veneno estava sendo aplicado.

A médica Lilimar Regina Naldony Mori, chefe da Divisão de Vigilância em Saúde da Secretaria da Saúde do Paraná, responsável pelo atendimento, classificou os casos como intoxicação leve e aguda – qualquer efeito à saúde resultante da exposição a um agrotóxico dentro de 48 horas, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Plantação de milho que foi atingida pela pulverização de PARAQUATE, um defensivo
agrícola usado para matar as ervas e preparar a terra para o plantio - Foto: Reprodução

Crianças e adultos que entraram em contato com a nuvem de PARAQUATE relataram sintomas como fortes dores de cabeça, estômago e barriga, tonturas e vômitos. Todos condizentes com os de intoxicação aguda pelo agrotóxico, segundo o pesquisador Luiz Cláudio Meirelles, especialista em agrotóxicos da Fiocruz e gerente-geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 1999 e 2012. “Essas são reações bem típicas de intoxicação aguda por PARAQUATE, que também pode causar irritações de pele e lesões, principalmente na mucosa e na língua”, diz.

De acordo com Lilimar, não houve necessidade de internação e os sintomas desapareceram em até dez dias.

Foi sorte. A exposição aguda a quantidades maiores de PARAQUATE é quase sempre fatal, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), que alerta sobre os riscos em uma publicação intitulada “Um gole pode matar”. A própria gerência de Toxicologia da Anvisa já alertou sobre os riscos do agrotóxico, num documento de setembro de 2017: “A exposição ocupacional ao PARAQUATE é relevante principalmente devido às evidências de maior sensibilidade humana à exposição dérmica a esse agrotóxico, com possibilidade de absorção sistêmica”.

O PARAQUATE foi comprado e utilizado na propriedade de Lino Passaia, o agricultor mais próspero da região, dono de quase 100 hectares (o equivalente a 1 quilômetro quadrado, ou mais de cem campos de futebol) apenas em Espigão Alto do Iguaçu, em que produz soja e milho. A contaminação foi causada pelo desrespeito a uma norma estadual que estabelece distância mínima de 500 metros entre a área pulverizada e “núcleos populacionais, escolas, habitações e locais de recreação”.

A história da intoxicação massiva de Espigão Alto do Iguaçu é um triste exemplo do uso indiscriminado e sem cuidados de agrotóxicos no Brasil. E de como mesmo as vítimas tendem a minimizar o risco a que estão submetidas.

Como nasceu a nuvem tóxica

O dia 7 de novembro, uma quarta-feira, amanheceu claro e com muito vento na pequena comunidade rural de Boa Vista do São Roque, onde vivem algumas centenas de pessoas – parte delas acampados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), há mais de dez anos instalados ali. Ainda assim, trata-se de uma das principais localidades de Espigão Alto do Iguaçu.

As aulas corriam normalmente na escola rural do lugar – um só prédio em que na verdade funcionam duas diferentes, uma municipal, até o quinto ano do ensino fundamental, e outra estadual, para alunos do sexto ao nono anos e do ensino médio. Eram por volta de 10 horas quando uma funcionária entrou na sala de Carla Martelli, diretora da escola municipal Licarlos Passaia.

“‘Tem um louco aí passando veneno’, ela me falou”, recorda Carla. Ela correu à quadra de esportes. Ao lado, há um pequeno parque com brinquedos infantis. Ali, viu os estudantes grudados ao alambrado que separa a quadra – e os limites da escola – das terras de Lino Passaia. Estavam encantadas com a nova aquisição do agricultor, uma espécie de trator especial para pulverizações chamado Uniport, mas conhecido na região como “gafanhoto”. Alta e com rodas quase da altura de um adulto, a máquina atraiu a atenção das crianças.

Trator pulveriza agrotóxico próximo à escola - Foto: Reprodução

“Era nossa aula vaga, estávamos na quadra. Ficamos vendo aquela máquina passando alguma coisa na terra. Veio o vento e senti uma coisa molhada no meu rosto”, lembra Aline, de 14 anos, aluna do oitavo ano – o sobrenome das crianças será omitido na reportagem.

Tratava-se de um spray de PARAQUATE que o vento empurrou na direção da escola, do posto de saúde e das casas da comunidade. “De noite minha cabeça doía muito. De manhã, quando acordei, doía o estômago, fiquei enjoada, vomitei”, lembra a menina

“Quando passou a máquina, todo mundo correu pra olhar. Eu não, fiquei sentada na arquibancada. Mas veio o vento e comecei a espirrar”, diz Bruna, de 12 anos, do sétimo ano. Era só o começo. “Depois deu dor cabeça, de barriga, diarreia. Eu não conseguia dormir, me contorcia de dor. E ainda não melhorei. Ontem mesmo minha barriga doía muito”, relatou a garota mais de dez dias depois do episódio.

“É a primeira vez que vejo uma situação dessas, envolvendo tantas crianças”, admitiu Samuel da Silva Jobim, do Ministério Público (MP) do Paraná. “O secretário [de Saúde] nem teria como impedir uma investigação criminal. O caso já é maior que ele, a polícia já sabe, o MP já sabe. O boletim está registrado e a investigação vai ser feita”, afirma Samuel. Segundo ele, o crime não vai prescrever e o MP já está investigando. “Mas os procedimentos de apuração tomam tempo. O mais urgente é resolver a questão de saúde pública. Todas as informações que tenho são de que a prefeitura está agindo para resolver a situação”.

“Vários municípios da região em que trabalhei têm situações assim, com lavouras coladas a áreas urbanas. Um envenenamento dessa dimensão é o primeiro que chegou a mim. Mas casos menores devem acontecer diariamente, e as pessoas nem sabem porque estão doentes”, afirma João Luiz Marques Filho, promotor de justiça, que investiga o impacto ambiental do acidente. “Sem sombra de dúvida deve haver subnotificação.”

Continuar lendo

Fonte: apublica.org


Obs: Este texto foi publicado há mais de 3 anos (11/12/2018).


Leia também:



O projeto Por Trás do Alimento é uma parceria da 

Agência Pública e Repórter Brasil para investigar 

o uso de agrotóxicos no Brasil.




quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Chia, quinua e água de coco: testando "superalimentos" (CBC Marketplace)

Superalimentos: testamos quinôa, chia e água de côco para ver se a nutrição corresponde ao hype da saúde e ao preço.






Ativar legendas automáticas em português

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

De Casa Nova

Foto: Reprodução
Como estão os imigrantes que vieram ao Brasil em busca de vida melhor?

O coração de um refugiado africano bate mais forte quando é parado pela polícia. “Eles me disseram que aqui no Brasil a maioria dos bandidos são pretos. Por isso também fui seguido pelo segurança de um supermercado, e alguns moleques me chamaram de macaco”, desabafa Shambuyi Wetu, artista da República Democrática do Congo. Agora ele diz que sabe quando e onde pode andar sem medo. Sua sobrevivência vem da venda de quadros ao exterior e das palestras para levar o conhecimento da história de seu país de origem.

O Caminhos da Reportagem mostra como imigrantes, os que escolheram e os que se surpreenderam ao descer no porto de Santos (SP), estão adaptados no Brasil. A família de Salim Alnazer ganhou mais qualidade de vida depois que o refugiado sírio obteve o diploma de farmacêutico revalidado. A oferta de trabalho aumentou para Rawa Alsagheer, refugiada palestina de 23 anos, depois que aprendeu português. Ela faz contação de histórias árabes para crianças, oficinas de danças e outros trabalhos relacionados à cultura dos palestinos.



O togolês Kawamivi Etiam começou como atendente e já foi promovido para caixa na bombonière de um cinema em São Paulo. E também dá aulas particulares de francês. “Eu gosto do Brasil desde criança. Tem gente que prefere viajar para Nova York, França, mas eu gosto do Brasil”, diz o africano, distribuindo sorrisos enquanto serve pipoca. Fugindo de uma guerra que começou em 2011, Kaysar Dadour trabalhou como carregador de container de tecidos em Curitiba (PR), participou do BBB, de novelas da Globo e sua estreia no cinema está prevista para o final de novembro em “Carcereiros, o Filme”. Ele dispara: “Neste braço (mostrando o direito) corre sangue sírio, neste outro, sangue brasileiro”.

Fonte: Ag. Brasil







quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Segurança e Privacidade na Internet

Imagem: Reprodução
Especialistas recomendam precaução na hora de compartilhar informações

Recentemente o lançamento do FaceApp, um aplicativo que promove envelhecimento facial nas fotos, veio cercado de polêmica. Especialistas em segurança na rede alertaram para o fato de os usuários estarem voluntariamente compartilhando seus dados com uma empresa desconhecida. A brincadeira “10 years challenge” – desafio dos 10 anos – também incendiou a internet. Assim como o FaceApp, a suspeita era de que o sistema poderia fornecer uma gama de informações, nesse caso ao Facebook, para treinar algoritmos de reconhecimento facial com base na progressão da idade.

A descoberta recente de que assistentes do Facebook, da Amazon e do Google ouviam e gravavam áudios dos usuários também chamou a atenção. Para a advogada Juliana Akaishi, “se o que você se compromete como empresa é que o assistente só vai começar a gravar quando eu der um comando, e ele está gravando em momentos outros que não era pra ele gravar eu tenho ai um problema”. Para o jornalista Carlos Alberto Teixeira, especialista em tecnologia, “as pessoas começam a tomar mais cuidado com o que está sendo falado.”

Qual o perigo das informações que estamos compartilhando diariamente na internet? É preciso tratar o que se coloca na rede com mais responsabilidade? O pesquisador de segurança em tecnologia Thiago Marques ressalta que as redes sociais são uma boa ferramenta, mas precisam ser usadas da forma correta: “Evitar postar informação demais. Se você foi viajar para uma determinada cidade e tirou um monte de foto, talvez não poste no dia que você está lá. Volta e posta as fotos.”



Diante dos fatos, é preciso debater a importância de uma legislação para proteger os dados de cada usuário. Desde 2018, a União Europeia conta com um regulamento que dá poder de escolha ao usuário sobre o que ele decide compartilhar com as empresas.  Aqui no Brasil a questão jurídica também avançou. Em 2014 foi criado o Marco Civil da Internet e em 2020 entrará em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados. “Ela cria uma autoridade nacional para avalizar às empresas para fazerem tratamentos de dados, então essa lei traz, sim, muitas inovações”, destaca Guilherme Farid, da Fundação Procon de São Paulo.

Fonte: TV Brasil EBC





quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A vida offline

"Não sei se vivo pra postar ou posto pra viver", indaga
a empresária Adriana Naccarato - Foto: Divulgação
Quantas vezes você pensou em se desconectar do mundo digital?

Um abismo separa o mundo antes e depois da internet. Os usuários das redes sociais vivem entre a realidade que supera a ficção e a ficção que se apresenta como realidade. “Me pergunto sempre se eu vivo pra postar ou posto pra viver”, questiona-se a empresária e influenciadora digital Adriana Naccarato ao Caminhos da Reportagem. 

Em busca de likes e seguidores, os usuários das redes sociais estão na mira dos psicólogos com um novo tipo de dependência: a tecnológica. “O brasileiro é o segundo que mais gasta tempo na internet. São nove horas por dia. Somos os campeões do uso do Whatsapp e estamos entre os três que mais utilizam as redes sociais”, diz Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP).

"Pensei que eu iria desaparecer quando troquei meu smartphone
por um celular comum de botãozinhos", relata
a fotógrafa Ana Rovati - Foto: Divulgação

O estudante Matheus Castillo admite que passou três anos vivendo dentro de uma sala de games. Passava até 16 horas diante do computador, deixando de tomar banho durante vários dias. “Naquela época eu preferia ser quem eu era nos jogos: um campeão que quando entrava na sala, todo mundo falava ‘caramba, ele chegou’!”. O vício de estar conectado com os games será sempre uma preocupação para os pais de Matheus, que dizem estar alertas com o filho para sempre. 


"Eu me sentia mais feliz sendo um herói da sala dos games do que
a minha vida naqueles três anos", diz o estudante Matheus
Campos - Foto: Divulgação



O Caminhos da Reportagem aponta soluções pragmáticas de quem já ficou desconectado por um ano como a fotógrafa Ana Rovati. Uma das medidas é adotar o mapa físico e voltar a se perder. “Eu estava com medo de errar, de não saber chegar nos endereços”, ela conta. No mundo solitário das conexões digitais, Ana descobriu algo que muitos se esquecem: as pessoas ajudam quando você precisa. 

Fonte: Ag. Brasil





sexta-feira, 19 de julho de 2019

Dez anos de transgênicos no Brasil - Caminhos da Reportagem


Poucos ainda sabem o que são os organismos geneticamente modificados. Hoje, são usados principalmente na agricultura brasileira. A área plantada com grãos no país é de 55 milhões de hectares. Desse total, 40 milhões receberam sementes transgênicas. A soja lidera com folga, ocupando 67,2% da área com culturas geneticamente modificadas. Depois vem o milho, com 31,2%.

Ainda há desconfiança entre os próprios especialistas e pairam perguntas: será que produtos feitos à base de plantas transgênicas podem trazer riscos à saúde? Quais os impactos dessas culturas no meio ambiente? Uma das promessas da manipulação genética -- quando começou a ser empregada na agricultura -- era a diminuição de defensivos químicos nas lavouras. Mas hoje, o Brasil é o primeiro do mundo em uso de agrotóxicos. Por que isso está acontecendo?

O programa mostra que, além do intenso uso na agricultura, já existem pesquisas envolvendo um mosquito da dengue geneticamente modificado, que deverá se reproduzir menos no meio ambiente.


Reportagem: Pedro Henrique de Souza Moreira
Edição de Texto: Conchita Rocha
Edição de Imagens e finalização: Márcio Stuckert
Produção: Débora Teles Brito
Apoio produção: Fernanda Balsalobre
Imagens: André Rodrigo Pacheco, Rafael Oliver Rosa, José Carlos da Mota, Milene Nunes
Auxiliar técnico: Edivan dos Santos Viana, Alexandre Santos Souza, Thiago Souza Pinto, Rodrigo Costa, Severino Alves da Hora