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sexta-feira, 8 de março de 2024

LinkedIn anuncia mudanças na plataforma a partir deste mês. Entenda como usá-las ao seu favor

Imagem: reprodução

A plataforma irá remover a ativação do “modo de criação”, disponibilizando as ferramentas a todos os usuários. Veja o que mudou – e como ampliar sua presença na rede.

A partir de março de 2024, o LinkedIn dá adeus à função “de criação”. Agora, as ferramentas oferecidas neste modo serão modificadas e estarão disponíveis a todos os usuários da plataforma, sem necessidade de ativação prévia.

O modo de criação nasceu para beneficiar usuários mais engajados na plataforma (ou seja, aqueles que postavam mais). Está no nome: justamente aos criadores de conteúdo. O linkediner que ativasse a função tinha acesso a algumas ferramentas que ajudavam a ampliar o alcance de suas publicações.

Agora, é como se a rede tirasse o botão que liga e desliga esses benefícios. Todos os usuários terão automaticamente acesso às mesmas ferramentas de compartilhamento e análise, que também sofreram algumas adaptações.

Vamos entendê-las melhor a seguir — e explicar como usá-las na hora de aumentar sua presença na plataforma.

O que mudou HASHTAGS

Antes: ao ativar o modo de criação, o usuário poderia escolher até 5 hashtags que ficariam embaixo de seu nome no perfil. Elas descreviam os assuntos sobre os quais suas publicações eram direcionadas — assim, quando alguém seguisse alguma daquelas hashtags, seus conteúdos poderiam ganhar mais amplitude.

Agora: Rafael Kato, Head de Editorial do LinkedIn na América Latina e Espanha, explica que a plataforma hoje vê essas hashtags como “limitantes” ao conteúdo do usuário. Portanto, elas serão removidas desse lugar de destaque no perfil (mas ainda poderão ser usadas à vontade nas publicações).

BOTÃO SEGUIR VS. CONECTAR

Antes: o botão “Conectar”, no modo de criação, era automaticamente substituído pelo botão “Seguir”. Mesmo que um usuário quisesse se conectar com você, precisaria segui-lo antes (e, caso você recusasse o convite, ele ainda seguiria suas publicações, podendo dar “unfollow” manualmente).

Agora: você terá a opção de escolher o botão Seguir ou Conectar como ação principal em seu perfil. Rafael explica que depende de suas prioridades: se você gostaria de ter pessoas acompanhando suas publicações, o melhor é a manutenção do Seguir. Por outro lado, caso sua prioridade seja se relacionar com pessoas da sua área, fazer networking e enviar mensagens a recrutadores de empresas, priorizar o botão Conectar pode ser mais produtivo.

Lembrando que há um limite de 30 mil conexões possíveis por perfil — ao contrário do número de seguidores, que é ilimitado.

SESSÃO “SOBRE”

Antes: no modo criação, sua sessão “Sobre” — o espaço livre que permite com que você se apresente e conte um pouco de sua trajetória pessoal e profissional — ganhava menos destaque. A estrutura do perfil era alterada, dando protagonismo às suas publicações (já que o objetivo do modo de criação era justamente impulsioná-las), além de sua atividade recente.

Agora: a seção “Sobre” estará sempre no topo do perfil.

LINKEDIN LIVES & NEWSLETTER

Antes: criadores de conteúdo eram os únicos autorizados afazer lives e escrever newsletters na plataforma. O pedido poderia ser feito após a ativação do modo de criação, mediante preenchimento de um formulário (que poderia ou não ser aceito pelo LinkedIn).

Agora: todos poderão preencher o formulário para acessar ambas as funções. Mas Kato alerta que, para pleitear pelas ferramentas, o usuário precisa ter um histórico de produção de conteúdo. “Isso não significa uma expansão no uso das lives e newsletters. O processo de inscrição e avaliação permanece o mesmo”, diz.

Como usar essas mudanças ao seu favor

Com o protagonismo da seção “Sobre”, é fundamental que o usuário complete o perfil de forma assertiva. Inclua detalhes sobre suas experiências profissionais, habilidades que possui e informações que acredita serem relevantes.

E realmente: relevância é chave nesta nova configuração. Para o usuário que gostaria de chamar atenção tanto de recrutadores quanto de seguidores, o ideal é destacar suas experiências e habilidades mais recentes e significativas. A cadência de informações no seu perfil deve ser pensada na forma de uma pirâmide invertida: aquilo que é imprescindível deve ficar no topo, e as curiosidades e informações complementares no final.

Em relação à produção de conteúdo, seja presente e engaje-se na plataforma. Segundo Kato, os recrutadores mais experientes olham, sim, as publicações dos candidatos. “Não no sentido punitivo, mas sim para entender se aquela pessoa é, de fato, um especialista. Se ela frequenta eventos relevantes, se está a par das principais notícias do ramo”, diz. Ele recomenda, ao menos, publicar 2 a 3 vezes por semana, mas cabe ao profissional saber a frequência que consegue utilizar e o que quer postar.

Para quem não quiser redigir 3 textos autorais, o especialista dá alternativas: você pode interagir com as publicações de colegas de profissão, especialistas e colegas de trabalho; ou também pode fornecer reflexões acerca das principais notícias do dia. “O importante é ser um usuário ativo”, avalia. 

Fonte: VOCÊ S.A.


sexta-feira, 17 de junho de 2022

Bancos Centrais temem bomba-relógio em criptos

Imagem: Reprodução
Volume de negócios com criptomoedas chega a superar o da bolsa de NY. E eleva risco de colapso em caso de quebradeira. Regulação deve demorar. 

Foram anos virando as costas para o mercado de criptos. A coisa cresceu de tal maneira que agora os bancos centrais estão preocupados com os estragos que o eventual colapso desses ativos pode causar no sistema financeiro.

O Banco Central Europeu emitiu o primeiro alerta de risco em maio. Em um relatório, a autoridade monetária do bloco estimou que o volume de negócios com criptos em alguns períodos é tão grande quanto a bolada que gira na Bolsa de Nova York, a maior do mundo.  

Os criptoativos estão cada vez mais relacionados ao sistema financeiro, seja porque empresas listadas decidiram colocar uma parte do seu caixa nessas moedas ou porque bancos passaram a ter fundos de Bitcoins e outras moedas digitais em seu portfólio. 

Fosse só a desvalorização das moedas, o risco seria menor. O problema é que agora criptos são usadas como lastro em operações de crédito, daí o risco de efeito cascata. O BCE estima que algumas empresas permitem a investidores negociar 125 vezes o valor de criptomoedas dadas em garantia em operações. Note que boa parte desses empréstimos costuma ir para a compra de mais cripto. Ou seja: caso a desvalorização permaneça, há o risco real de um colapso financeiro. 

A União Europeia prepara uma regulação para o setor. O problema é que o texto só deve entrar em vigor em 2024.   

No Brasil, o Banco Central estima que o volume de negócios em cripto já equivale a metade do montante que circula na B3. O BC também teme estragos, mas conta apenas com uma proposta regulação em discussão no Congresso.

O Senado aprovou no fim de abril um projeto de lei que regula as corretoras de criptomoedas – o texto deve passar pelo aval da Câmara até o fim de junho. O foco da proposta está em regras para evitar lavagem de dinheiro e fraudes contra investidores – como os esquemas de pirâmides que explodiram nos últimos anos. 

A ideia é que as exchanges, como são conhecidas as corretoras de criptos,  façam o cadastro de seus usuários da mesma maneira que os bancos, num processo mais formal, chamado de “conheça seu cliente”. Só que isso não resolve o risco de contágio na economia caso as criptomoedas virem pó de uma hora para outra. 

Fonte: vocesa


quarta-feira, 1 de junho de 2022

Quantas horas você trabalha por dia? E quantas horas você realmente passa trabalhando por dia, cumprindo as funções do seu cargo?

Imagem: Reprodução

É provável que as respostas para as duas perguntas sejam diferentes. Estar no trabalho não é sinônimo de produzir o tempo todo, claro. E nem estamos falando de procrastinação, mas sim de tarefas “secundárias” que precisam ser feitas no dia a dia mesmo que não tenham relação direta com os resultados que precisam ser entregues: deixar o e-mail limpo, organizar papelada, participar de reuniões intermináveis e pouco úteis… 

Segundo um novo estudo da empresa Asana, uma plataforma de gestão do trabalho remoto, todo esse “trabalho extra” ocupa 58% do tempo dos funcionários pelo mundo. 33% dessa jornada vai para funções específicas, pelas quais o trabalhador foi contratado. E os 9% que sobram vão para o que a pesquisa chama de “estratégia”: o ato de planejar de forma objetiva as tarefas a serem feitas mais adiante. 

O padrão é visto no mundo todo, com algumas poucas diferenças regionais. Os alemães são os que menos perdem tempo com tarefas secundárias – passam 40% da rotina atuando diretamente na sua função. 

A pesquisa consultou mais de 10.600 trabalhadores mundo afora. Outra conclusão do estudo foi de que a quantidade de tempo gasto na parte de estratégia/planejamento caiu, de 13% em 2019 para os 9% de agora. Pode ser um reflexo dos impactos do home office, que faz focar mais no aqui e agora do que no futuro.  

Fonte: VC S/A

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Islândia testou uma jornada de trabalho mais curta. Deu certo

Foto: Reprodução

Alguns trabalharam menos horas por dia; outros, só quatro dias por semana. O resultado mostrou que menos tempo dedicado ao trabalho melhora o bem-estar e torna os profissionais mais produtivos. 

Já imaginou um fim de semana com três dias? Parece um sonho, mas talvez não seja algo tão distante assim. Bom, pelo menos para os cerca de 350 mil cidadãos islandeses. Dois novos experimentos feitos no país mostraram que a redução da jornada de trabalho, mantendo o mesmo salário, não diminuiu a produtividade dos trabalhadores nem impactou na sua performance, mas aumentou o bem-estar e a qualidade de vida dos empregados. 

Com base nos resultados, as autoridades do país já começaram a colocar a medida em prática: cerca de 86% dos islandeses já estão trabalhando em jornadas reduzidas ou poderão optar por essa modalidade no futuro próximo. 

Os experimento foram feitos entre 2015-2019 e 2017-2021, e os resultados foram divulgados em um relatório neste mês. Um dos estudos foi feito pelo próprio governo islandês em parceria com a BSRB, a principal associação de sindicatos do país, e o outro pelo governo municipal de Reykjavik, capital e maior cidade da ilha. Juntas, as iniciativas contaram com mais de 1% de toda a força de trabalho da pequena nação nórdica. 

A ideia era testar se uma jornada menor, mas com o mesmo salário, impactaria na produtividade dos trabalhadores. Das 40 horas usualmente trabalhadas na semana, os islandeses escolhidos para o projeto piloto passaram a trabalhar apenas 35 ou 36 horas, dependendo de qual estudo faziam parte. Gradualmente, mais e mais profissionais foram incluídos nesse esquema, e de vários setores diferentes, como escolas, repartições públicas, hospitais e prestadoras de serviços sociais. 

Aqui, vale um adendo: apesar de várias manchetes pelo mundo destacar as tais “semanas de quatro dias úteis” da Islândia, os experimentos não foram projetados para esse cenário especificamente. A intenção dos pesquisadores era descobrir o impacto da redução de horas semanais no trabalho como um todo. Acontece que alguns islandeses, combinando com seus gestores, decidiram concentrar essas 35/36 horas em apenas quatro dias da semana e transformaram o #sextou em um #quintou. Outros só trabalharam menos horas todos os dias, mas mantiveram a jornada de segunda a sexta. 

Após seis anos do início do primeiro estudo, os tão esperados resultados vieram. E foram positivos: como era de se esperar, o bem-estar de todos os trabalhadores aumentou, os níveis de estresse e burnout caíram.  A produtividade dos participantes ficou mais ou menos estável, em alguns casos, até aumentou, reforçando aquela coisa que a gente intuitivamente sabe: produzimos mais quando estamos mais satisfeitos. 

A melhora no bem-estar, segundo os participantes, se deu pelo aumento de tempo com a família e amigos e para ações de lazer e atividade física, por exemplo. Ao mesmo tempo, eles relataram que mudanças no ambiente de trabalho também foram necessárias para cumprir as atividades em tempo reduzido – como eliminar ou encurtar reuniões ou fazer menos pausas para o cafezinho com os colegas. 

Nem tudo é tão simples assim, é claro. O estudo também notou que alguns setores não funcionariam tão bem com reduções de jornada. Na área de saúde, por exemplo, o governo teria que contratar mais profissionais para cobrir a demanda, que é essencial por motivos óbvios. Colocando na calculadora, isso custaria ao poder público islandês cerca de US$ 33,6 milhões extras por ano. Não é o fim do mundo para um país rico, pequeno e desenvolvido como é a Islândia – mas seria um problemão em outros países menos privilegiados. 

Outros estudos do tipo foram feitos ou estão em andamento pelo mundo, como na Espanha e na Nova Zelândia. A maioria, porém, é em nível local; a Islândia teve o trunfo de analisar o cenário mais amplo, por ser um país minúsculo.

Fonte: VOCESA


sábado, 7 de maio de 2022

Por que parece que as pessoas estão ficando cada vez mais irracionais?

Em seu novo livro, o psicólogo Steven Pinker mostra como os humanos, mesmo racionais por natureza, são suscetíveis a narrativas estúpidas.

A racionalidade humana foi posta em prática na pandemia. Em menos de um ano, conseguimos desenvolver vacinas eficazes contra a doença emergente, um tempo recorde. Um feito.

Ao mesmo tempo, teorias da conspiração malucas que pregavam que as vacinas carregavam microchips com a marca da besta, ou que a Covid-19 sequer existia e tudo não passava de um plano mundial para reduzir a população, se espalhavam rapidamente e conquistavam milhões e milhões de adeptos.

Como é possível que a mesma espécie que tem feitos geniais, como a invenção de vacinas, seja a mesma que cai em mentiras tão claramente irracionais? 

Em seu novo livro, o psicólogo e cientista cognitivo canadense Steven Pinker tenta responder essa e outras questões. De forma simples e recorrendo sempre a exemplos práticos, o autor destrincha o tema da racionalidade – explicando o que ela é, quais seus limites e como crenças e vieses cognitivos funcionam como obstáculos ao pensamento lógico.

Em uma das partes do livro – a mais aguardada pelos leitores, segundo o próprio autor – Pinker tenta responder a dúvida: “Por que parece que as pessoas estão ficando cada vez mais irracionais?”. No trecho a seguir, ele explica como humanos, mesmo racionais por natureza, são suscetíveis a narrativas estúpidas.


Imagem/foto: reprodução

Capítulo 10.4 – A psicologia dos textos digitais apócrifos

Uma vez que tomemos consciência de que os humanos podem ter crenças que não tratam como verdadeiras em termos concretos, podemos começar a entender o paradoxo da racionalidade — como um animal racional consegue admitir tantos disparates. Não que os adeptos de teorias da conspiração, os compartilhadores de fake news e os consumidores de pseudociência sempre interpretem seus mitos como mitológicos. Às vezes, eles atravessam a fronteira com a realidade, gerando resultados trágicos, como o Pizzagate, os antivacinas e a seita do Portal do Paraíso, cujos 39 devotos cometeram suicídio em 1997 como preparação para que suas almas fossem levadas por uma espaçonave que acompanhava o cometa Hale-Bopp. Mas predisposições na natureza humana podem se associar a verdades mitológicas para fazer com que seja mais fácil engolir crenças estranhas. Vamos dar uma olhada em três gêneros.

A pseudociência, os assombros paranormais e a charlatanice médica acionam parte de nossas intuições cognitivas mais profundas. Somos dualistas intuitivos, com nossa percepção de que a mente pode existir separada do corpo. Isso nos ocorre naturalmente e não só porque não podemos ver as redes neurais subjacentes às crenças e aos desejos de nós mesmos e de outrem. Muitas das nossas experiências realmente sugerem que a mente não está atrelada ao corpo, entre elas: sonhos, transes, experiências fora do corpo e a morte. Não é um grande salto para as pessoas concluírem que mentes podem se comunicar com a realidade e umas com as outras sem precisar de um meio físico. E assim temos a telepatia, a clarividência, almas, espíritos, reencarnação e mensagens do além. 

Somos também essencialistas intuitivos, com nossa percepção de que seres vivos contêm substâncias invisíveis que lhes dão forma e poderes. Essas intuições inspiram as pessoas a sondar seres vivos em busca de suas sementes, drogas e venenos. Mas a mentalidade também faz com que elas acreditem na homeopatia, na fitoterapia, em purgantes e sangrias e rejeitem adulterantes estranhos, como as vacinas e os alimentos geneticamente modificados.

E ainda somos teólogos intuitivos. Exatamente como nossos planos e artefatos são projetados com uma finalidade, somos dados a pensar que o mesmo se aplica ao mundo vivo e não vivo. Desse modo, somos receptivos ao criacionismo, à astrologia, à sincronicidade e à crença mística de que tudo acontece por um motivo.

Supostamente, uma formação científica deveria sufocar essas intuições primitivas, mas por várias razões seu alcance é limitado. Uma é que não se renuncia facilmente a crenças que são sagradas para uma facção religiosa ou cultural, como o criacionismo, a alma e um propósito divino; e elas podem estar bem protegidas no interior da zona mitológica das pessoas. Outra é que, mesmo entre os muito instruídos, o entendimento científico é raso. Poucas pessoas sabem explicar por que o céu é azul, ou por que as estações do ano mudam, muito menos o que é a genética populacional ou a imunologia viral. Em vez disso, quem é instruído confia no estabelecimento científico sediado em universidades: seu consenso é suficientemente bom para elas.

Infelizmente para muitos, a fronteira entre o mundo científico e a periferia pseudocientífica é obscura. O mais próximo que as pessoas chegam da ciência na própria vida é de seu médico, e muitos médicos são mais curandeiros do que especialistas em ensaios clínicos randomizados. Na verdade, alguns dos médicos famosos que aparecem em programas de entrevistas no horário diurno são charlatães que promovem com exuberância bobagens da nova era. Documentários da televisão convencional e noticiários podem também esmaecer as linhas de contorno e dramatizar com credulidade alegações como a de astronautas de tempos antigos e videntes que combatem o crime.

Por sinal, comunicadores de boa-fé que divulgam a ciência deveriam arcar com parte da culpa por não equiparem as pessoas com um entendimento profundo, que tornaria a pseudociência inacreditável em comparação. A ciência costuma ser apresentada em escolas e museus como só mais uma forma de magia oculta, com criaturas exóticas, produtos químicos coloridos e ilusões espantosas. Princípios fundamentais – como o de que o universo não tem objetivo algum relacionado a interesses humanos, que todas as interações físicas são regidas por algumas forças básicas, que corpos vivos são máquinas moleculares complexas e que a mente é a atividade de processamento de informações do cérebro – nunca são pronunciados, talvez porque pareçam insultar sensibilidades religiosas e morais. Não deveríamos nos surpreender com o fato de que a lição que as pessoas aprendem no ensino de ciências seja uma mixórdia sincrética, na qual a gravidade e o eletromagnetismo coexistem com fenômenos paranormais, carma e cura por cristais.

Para entender as imposturas virais, como as lendas urbanas, manchetes de tabloides e fake news, precisamos nos lembrar de que tudo isso proporciona um entretenimento fantástico. São exibidos temas de sexo, violência, vingança, perigo, fama, magia e tabu que sempre agradaram aos interessados nas artes, de alto ou baixo nível. Uma manchete falsa como “Agente do FBI suspeito no vazamento de e-mails de Hillary encontrado morto em aparente assassinato-suicídio” seria um tema excelente para o roteiro de filme de suspense. Uma recente análise quantitativa do conteúdo de fake news concluiu que “as mesmas características que tornam culturalmente atraentes as lendas urbanas, a ficção e, na realidade, qualquer narrativa também atuam na informação falsa online”.

Com frequência, a diversão transborda para gêneros da comédia, entre eles: o pastelão, a sátira e a farsa — “Funcionário de necrotério cremado por engano enquanto cochilava”; “Donald Trump acaba com tiroteios em escolas proibindo escolas”. A QAnon se encaixa em outro gênero de divertimento, o jogo multiplataforma de realidade alternativa. Os adeptos analisam dicas enigmáticas periodicamente deixadas por Q (o hipotético informante do governo), buscam contribuições coletivas de hipóteses e conquistam fama na internet ao compartilhar suas descobertas. Não é surpresa que as pessoas procurem entretenimento. O que nos espanta é que cada uma dessas obras alegue ser concreta.

Contudo, nossa náusea diante da falta de distinção entre fato e ficção não é uma reação humana universal, especialmente quando se trata de zonas que são remotas em relação à experiência imediata, como lugares longínquos e a vida dos ricos e poderosos. Exatamente como os mitos religiosos e nacionais ficam entrincheirados na corrente dominante quando causam a impressão de fornecer um enaltecimento moral, as fake news podem viralizar quando seus disseminadores acreditam que um valor maior está em jogo, como o reforço da solidariedade do seu lado e o lembrete aos companheiros sobre a tendência à traição do outro lado. Às vezes, a moral nem mesmo chega a ser uma estratégia política coerente, e sim uma sensação de superioridade moral: a impressão de que classes sociais rivais e instituições poderosas, das quais os compartilhadores se sentem alienados, são decadentes e corruptas. 

Já as teorias da conspiração prosperam porque as pessoas sempre foram vulneráveis a conspiração de verdade. Todo cuidado é pouco para os povos que caçam e coletam alimentos. A forma mais letal de combate entre povos tribais não se dá em batalhas campais, mas na emboscada furtiva e no ataque antes de clarear o dia. O antropólogo Napoleon Chagnon relata que os ianomâmis da Amazônia têm a palavra nomohori, “ardil covarde”, para designar atos de traição, como convidar vizinhos para um banquete e depois massacrá-los em determinado momento. Tramas por coalizões inimigas são diferentes de outros perigos, como predadores e relâmpagos, porque elas recorrem à engenhosidade para penetrar nas defesas da tribo-alvo e encobrir os próprios rastros.

A única salvaguarda contra esse subterfúgio de capa e espada consiste em tentar adivinhar antecipadamente o pensamento do inimigo, o que pode levar a linhas de conjecturas complexas e a uma recusa em aceitar fatos óbvios como se apresentam. Em termos de detecção de sinais, o custo de deixar de perceber uma conspiração verdadeira é maior do que o de soar um alarme falso para uma suspeita de conspiração. Isso exige que ajustemos nosso viés mais para o “rápido no gatilho” do que para a extremidade “cautelosa” da escala, adaptando-nos a tentar saber sobre rumores de possíveis conspirações, mesmo com evidências frágeis. 

Fonte: vocesa