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terça-feira, 23 de abril de 2024

Plenário faz primeira sessão de discussão sobre quinquênio para carreiras jurídicas

Imagem: reprodução

O Plenário realiza nesta terça-feira (23) a primeira sessão de discussão da proposta de emenda à Constituição (PEC) 10/2023, que cria uma parcela mensal de valorização por tempo de exercício para servidores públicos da carreira jurídica, como juízes e promotores. A sessão deliberativa está marcada para as 14h e tem outros dois itens na pauta.

Proposta pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a PEC 10/2023 foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). De acordo com o texto, o benefício — equivalente a 5% do subsídio para cada cinco anos de efetivo exercício — não fica sujeito ao teto constitucional. A parcela é concedida até o limite de 30%. A matéria recebeu relatório favorável do senador Eduardo Gomes (PL-TO) e foi colocada em pauta no Plenário após reunião de líderes, na semana passada.

Uma PEC tem que ser discutida e votada em dois turnos em cada Casa do Congresso e só é considerada aprovada se obtiver pelo menos três quintos dos votos dos deputados (308 votos) e dos senadores (49 votos) em cada um dos turnos. Antes da votação em primeiro turno, a PEC passa por três sessões de discussão no Plenário, e antes do segundo, por mais duas sessões de discussão. Caso aprovada, a PEC é promulgada pelo Congresso e seu texto é inserido como Emenda Constitucional na Carta Magna.

Dívidas dos estados

O Plenário pode analisar ainda o projeto de lei complementar (PLP) 35/2022, do senador Esperidião Amin (PP-SC), pelo qual estados, municípios e Distrito Federal podem abater das dívidas com a União valores pagos na manutenção de bens de propriedade do governo federal administrados pelos entes subnacionais. A matéria foi aprovada na semana passada com relatório da senadora Tereza Cristina (PP-MS) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Pesquisa clínica

O último item na pauta é o projeto de lei (PL) 6.007/2023, que regulamenta a pesquisa clínica em seres humanos e cria comitês de ética em pesquisa. A matéria estabelece os direitos e deveres na relação entre pesquisadores, patrocinadores, entidades e participantes das pesquisas. Os estudos devem atender exigências éticas e científicas, como a comprovação de que a relação risco-benefício é favorável ao participante e o respeito aos seus direitos à segurança, bem-estar, privacidade e sigilo.

O texto é um substitutivo da Câmara dos Deputados ao projeto de lei do Senado (PLS) 200/2015, apresentado originalmente pelos ex-senadores Ana Amélia (RS). Walter Pinheiro (BA) e Waldemir Moka (MS). Na CCJ, o PL 6.007/2023 foi aprovada com relatório favorável do senador Dr. Hiran (PP-RR).

Fonte: Agência Senado


sábado, 20 de abril de 2024

Combustíveis do futuro e mercado de carbono estão na pauta do Senado

Foto: reprodução

O Senado voltou a debater os temas prioritários da pauta ambiental, que inclui projetos de lei voltados para a regulamentação do mercado de carbono, a criação de programas nacionais de combustíveis sustentáveis e o estabelecimento de tetos para emissões de gases de efeito estufa. Os temas vêm sendo debatidos com representantes de diversos setores. A ideia é aprimorar as proposições e possibilitar a criação de normas que atraiam investimentos e uma transição energética adaptada ao ambiente global das mudanças climáticas.

Na última terça-feira (16), a Comissão de Infraestrutura (CI), presidida pelo senador Confúcio Moura (MDB-RO), promoveu audiência pública para debater o PL 528/2020, que cria programas nacionais de diesel verde, de combustível sustentável para aviação e de biometano. O projeto dos “combustíveis do futuro”, como é chamado, também aumenta a mistura de etanol à gasolina e a adição de biodiesel ao diesel. O texto já foi aprovado na Câmara dos Deputados e tramita atualmente na CI, onde é relatado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que propôs a realização do debate. A matéria voltará a ser discutida na comissão na próxima quinta-feira (25). 

Veneziano disse que o projeto é de “atualíssima importância” e que irá aproveitar todas as sugestões encaminhadas à comissão durante o debate para o aperfeiçoamento da matéria.

O gerente-executivo de Gestão Integrada de Transição Energética da Petrobras, Cristiano Levone de Oliveira, disse que a empresa apoia a iniciativa de aprimorar o sistema de combustíveis rodoviário e aéreo.

— Todos os países do mundo têm iniciativas de compromissos públicos de contribuição para a emissão zero e o Brasil não é diferente. O Brasil já possui há décadas uma política pública de etanol de muito sucesso. O Brasil certamente é um expoente mundial na política de biodiesel e será ainda mais com a aprovação desse projeto — sustentou.

A presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Jurema Monteiro, disse que o uso dos novos combustíveis vai gerar indução de desenvolvimento na economia e na sociedade. Ela também destacou que o Brasil é signatário, de maneira obrigatória a partir de 2027, de um tratado internacional que pretende zerar todas as emissões liquidas da aviação comercial internacional até 2050.

— O tema do projeto de lei é importante e aponta para o futuro desse segmento, desse setor tão estratégico para a nossa mobilidade. O setor aéreo tem discutido uma jornada de descarbonização há mais de vinte anos. É necessário ter soluções que mitiguem os impactos de nossa operação na atmosfera e no meio ambiente, embora seja responsável por apenas dois por cento das emissões de gás de efeito estufa na atmosfera — afirmou.

O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, manifestou apoio ao projeto de lei, que aponta para a descarbonização da matriz energética brasileira.

— Vivemos um momento muito complexo da realidade mundial e brasileira com a questão ligada ao aquecimento global e a emissão de gás de efeito estufa. O setor de óleo e gás internacionalmente é o primeiro a reconhecer que é um dos grandes responsáveis por essa questão do aquecimento global, que começou há duzentos anos com a revolução industrial – situou.

O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bionergia (Única), Evandro Gussi, salientou que o desafio da transição energética é um problema global.

— Nós estamos a decidir com essas ações qual o modelo de vida que queremos ter para nós, filhos, netos, bisnetos sobre a viabilidade do modo de viver sobre a Terra, não só hoje, mas nas próximas décadas, no próximo século. É essa decisão que no fundo está sobre as nossas mãos. Não é por acaso que a humanidade se movimenta sobre esse tema como nunca se movimentou, provavelmente, por tema nenhum — ressaltou.

A gerente-executiva ambiental da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Érica Vieira Marcos, defendeu uma transição energética técnico-efetiva e manifestou ressalva quanto a dispositivos do projeto de lei relacionados ao teor de biodiesel no diesel.

— A adição favorece a ocorrência de problemas mecânicos e gera custos adicionais, sobretudo nas frotas de transporte de carga e de passageiros — alertou.

Mercado de carbono

O Senado também vai analisar o PL 182/2024, que cria limites de emissões de gases do efeito estufa para empresas. O projeto, que teve origem na Câmara, ainda aguarda a designação de relator e o envio às comissões permanentes da Casa para discussão. O texto estabelece um mercado regulado de títulos de compensação e geração de créditos por emissões de gases de efeito estufa. O mercado deve estar vinculado ao Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), desenvolvido em cinco fases ao longo de seis anos.

O Brasil é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa, cerca de 2 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano. O objetivo da proposta é criar incentivos para frear as emissões e os impactos climáticos das empresas.  O projeto elenca uma série de ações que podem gerar créditos de carbono. Entre elas, estão: recomposição, manutenção e conservação de áreas de preservação permanente (APPs), de reserva legal ou de uso restrito e de unidades de conservação; unidades de conservação integral ou de uso sustentável com plano de manejo; e projetos de assentamentos da reforma agrária. Povos indígenas e comunidades tradicionais ficam autorizados a entrar nesse mercado por meio de associações. O mesmo vale para assentados da reforma agrária.

O sistema pode negociar cotas brasileiras de emissão (CBE) e certificados de redução ou remoção verificada de emissões (CRVE). Cada CBE ou CRVE representa uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e). Assim, cada certificado de redução ou remoção permite cancelar uma cota de emissão de gases.

A ideia é que, após um tempo de adaptação, as atividades econômicas com mais dificuldades de reduzir emissões por processos tecnológicos comprem cotas e certificados que atestem a captação do que foi liberado na atmosfera, zerando a emissão líquida.

Em dezembro de 2023, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas para o Clima, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o senador Veneziano destacou o papel do Congresso Nacional na regulamentação do mercado de carbono.

­— Nós temos que fazer a regulação nessa área. O Congresso Nacional assume o seu papel de legislador para aprimorar muitas dessas matérias de iniciativa do Executivo e outras até mesmo dos próprios congressistas. Nós temos o mercado de carbono, nós temos o marco das eólicas offshore. Aprovamos um projeto de lei que fala sobre o armazenamento e a captação do carbono. São várias as matérias que estão sob a nossa reponsabilidade ou da Câmara para que possamos ter esse embasamento legislativo e, com isso, permitir também que investimentos sejam feitos e relações internacionais sejam consumadas ­— afirmou.

Hidrogênio verde

O Senado também criou a Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV). Presidida pelo senador Cid Gomes (PSB-CE), a comissão tem por objetivo debater, até 2025, políticas públicas sobre o hidrogênio verde, de modo a fomentar o ganho em escala dessa tecnologia de geração de energia limpa e avaliar políticas públicas que fomentem a tecnologia no setor.

Elemento químico encontrado na atmosfera, o hidrogênio pode ser utilizado como uma forma de energia limpa, substituindo fontes poluentes em diversos setores. A indústria de hidrogênio trata dos processos de produção, armazenagem, distribuição e transporte do hidrogênio e seus derivados. 

Em dezembro do ano passado, a comissão aprovou o projeto que cria um marco legal para o setor. Para financiar a nova política e promover transição energética e desenvolvimento sustentável, o PL 5.816/2023 cria o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixo Carbono (PHBC). Apresentado pelos senadores Fernando Dueire (MDB-PE), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Cid Gomes, o texto recebeu voto favorável do relator, o senador Otto Alencar (PSD-BA), e seguiu para exame da Câmara dos Deputados. 

O projeto autoriza o governo a criar um sistema para certificar as empresas produtoras dos diferentes tipos de hidrogênio, considerando critérios internacionalmente aceitos. As empresas emissoras de carbono poderão também gerar ativos comercializáveis no mercado de carbono. A autorização para a produção do hidrogênio de baixo carbono caberá à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A autorização para a produção de hidrogênio proveniente da eletrólise da água caberá à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Outros cinco projetos tramitam na CEHV, entre eles o PL 1.878/2022, de iniciativa da Comissão de Meio Ambiente (CMA), que cria a política que regula a produção e usos para fins energéticos do hidrogênio verde.

O projeto contempla o hidrogênio verde produzido por hidrólise da água de energia renovável, embora essa não seja a única maneira de obter hidrogênio sustentável, isto é, carbono neutro ou negativo.

Como forma de ampliar o alcance e garantir a sustentabilidade da proposta, o texto recebeu emenda do senador Esperidião Amin (PP-SC), que inclui no projeto o hidrogênio musgo, produzido a partir de biocombustíveis.

O projeto ainda aguarda apresentação de relatório do senador Otto.

Fonte: Agência Senado


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terça-feira, 16 de abril de 2024

CAE confirma contribuição sobre serviços de streaming; projeto vai à Câmara

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Projeto que regulamenta os serviços de oferta de vídeo sob demanda e os obriga a recolher a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine) foi aprovado em turno suplementar pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta terça-feira (16). O PL 2.331/2022 segue para a Câmara dos Deputados, a não ser que haja recurso para a votação em Plenário. Do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), a proposta foi aprovada na forma do substitutivo do senador Eduardo Gomes (PL-TO). Ele rejeitou três emendas apresentadas após a primeira votação. 

O projeto inicialmente alterava apenas a MP 2.228-1, de 2001, para permitir a cobrança para a Condecine. Com o substitutivo, modifica também a Lei 12.485, de 2011, a "Lei da TV Paga". A proposta tramita em conjunto com o PL 1.994/2023, do senador Humberto Costa (PT-PE), para o qual Eduardo Gomes recomendou a rejeição.

A proposta aprovada regulamenta a prestação de serviço de vídeo sob demanda, de plataformas de compartilhamento de conteúdos audiovisuais e de televisão por protocolo de internet. A regulação é válida para todas as empresas baseadas no Brasil, independentemente da localização da sede ou da infraestrutura para prestação do serviço.

De acordo com a proposta, a Condecine será anual e terá alíquota máxima de 3% da receita bruta das empresas, incluindo os ganhos com publicidade e excluindo os tributos diretos e as comissões devidas a parceiros de comercialização, veiculação ou distribuição do serviço. A exclusão de comissões de parceiros foi estabelecida em complementação de voto do relator.

Empresas com faturamento anual acima de R$ 96 milhões pagarão 3%. Já as plataformas com faturamento entre R$ 4,8 milhões e R$ 96 milhões recolherão 1,5%. Para os serviços com faturamento inferior a R$ 4,8 milhões a alíquota será zero.

A Contribuição terá o valor reduzido pela metade para o streaming sempre que pelo menos metade do conteúdo do catálogo for nacional. Essa previsão foi incluída no substitutivo aprovado na CAE.

Para calcular a contribuição devida, as empresas poderão separar a receita obtida com o serviço de streaming do lucro que eventualmente tenham ganho com outros serviços, como a oferta de conteúdos esportivos e jornalísticos e a comercialização de espaços publicitários relativos a esses eventos, por exemplo.

A Condecine também incidirá sobre o pagamento de rendimentos pela exploração ou pela aquisição de obras audiovisuais a preço fixo a produtores, distribuidores ou intermediários no exterior.

Produtora independente

Para ser classificada como produtora brasileira independente, a empresa não poderá ser controladora, controlada ou coligada a TVs, a rádios ou a quaisquer prestadoras de serviços de telecomunicações. Também não poderá estar sujeita a veto ou interferência comercial de outras empresas de comunicação. Por fim, não poderá manter vínculo de exclusividade que a impeça de produzir ou comercializar com terceiros os conteúdos produzidos.

Princípios

O texto alternativo sujeita os serviços de streaming aos princípios da liberdade de expressão artística, intelectual, científica e de comunicação. Também leva em consideração a diversidade cultural e das fontes de informação e produção; a valorização do conteúdo audiovisual brasileiro; a abertura a outras culturas do mundo.

Conteúdo brasileiro

Eduardo Gomes propôs que as plataformas garantam visibilidade do conteúdo audiovisual brasileiro por meio de sugestões, busca ou seções claramente identificadas, de modo razoável e proporcional e de acordo com a capacidade de cada serviço.

Os provedores de streaming terão que disponibilizar permanentemente no catálogo quantidades mínimas de conteúdos audiovisuais brasileiros, sendo metade destas quantidades de conteúdo nacional independente. Para streamings com 2 mil produtos no catálogo, pelo menos 100 terão que ser brasileiros. E para streamings com 7 mil produtos, pelo menos 300 terão que ser nacionais.

Pelo menos 30% das receitas provenientes dos serviços de streaming deverão ir para produtoras brasileiras independentes localizadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; e no mínimo, 20% para produtoras estabelecidas na região Sul e nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Haverá cota de receitas também para capacitação técnica, obras independentes produzidas ou dirigidas por pessoas de minorias, proteção a direitos autorais, programas de fomento a provedores de streaming nacionais, e programas de investimento em produções nacionais.

Ancine

Quanto à fiscalização, a oferta de catálogo deverá ser regulamentada e fiscalizada pela Ancine. Os provedores de vídeo sob demanda deverão solicitar o credenciamento na agência até 180 dias após o início da oferta do serviço no Brasil. O cadastro terá que ser homologado em até 30 dias para as empresas que cumprirem os requisitos estabelecidos.

As plataformas também terão que apresentar à Ancine a documentação relativa ao faturamento e a listagem de conteúdos audiovisuais brasileiros, relacionando as obras realizadas por produtoras brasileiras independentes. Mas não será necessário apresentar a relação de conteúdos audiovisuais do catálogo inseridos e/ou produzidos pelos próprios usuários.

O texto também obriga as empresas a enviarem à agência o resumo do contrato firmado entre as partes para a produção de obras publicitárias. A Ancine deverá garantir a confidencialidade de segredos comercial e industrial, quando for o caso.

Fabricantes de televisores

O provedor de televisão por internet que também seja fabricante de equipamentos de televisão ou outros dispositivos receptores deve dar tratamento isonômico e evitar condutas lesivas à concorrência na oferta de conteúdos em seu sistema operacional. Será obrigatório ofertar, na interface inicial e no guia de programação, o acesso direto aos serviços de radiodifusão de sons e imagens. E será proibido privilegiar a oferta de produtos, serviços ou conteúdos audiovisuais próprios. Eventuais infrações serão fiscalizadas pelo Cade.

Punições

Os provedores de serviço de vídeo sob demanda que descumprirem as obrigações estarão sujeitos a advertência e multa, inclusive diária, a serem determinadas pela Ancine. Também poderá ser cancelado o credenciamento na Ancine, bem como anulada a dedução do Condecine. 

A multa poderá ser imposta isoladamente ou em conjunto com outra sanção, não devendo ser inferior a R$ 10 mil reais,nem superior a R$ 50 milhões para cada infração cometida. A agência deverá iniciar processo administrativo fiscal caso não haja o recolhimento da Condecine no prazo.

Excluídos

O texto não sujeita à Condecine nem regulamenta os serviços que oferecem conteúdos audiovisuais sob demanda de forma incidental ou acessória. Bem como não incluí aqueles já veiculados em TVs e rádios ou outros canais, inclusive TVs por assinatura.

Também ficam de fora os canais educacionais, jornalísticos, de esporte e de jogos eletrônicos, mesmo quando oferecidos por provedores de vídeo sob demanda.

No substitutivo, Eduardo Gomes passou a excluir também conteúdo já divulgado e posteriormente incluído em streaming pertencente ao mesmo grupo econômico, por período de até um ano. E excluiu também os conteúdos de eventos esportivos.

Críticas

Ao tramitar na Comissão de Educação (CE), onde também foi relatado por Eduardo Gomes, o PL 2.331/2022, de Nelsinho Trad, ganhou o texto substitutivo. No relatório da CE, o relator propôs a rejeição do PL 1.994/2023, de Humberto Costa, de 2023, e sua substituição pelo texto de Nelsinho, de 2022. Na CAE, o senador apresentou um outro texto alternativo, com alterações extras — mas mantendo em essência o PL 2.331/2022.

Autor do PL 1.994/2023, Humberto Costa manifestou discordância com o substitutivo e a rejeição do seu projeto. Para ele, o relatório de Gomes não trata a produção brasileira independente de forma destacada nesse processo de regulação, como acontece com outros países. 

Na avaliação de Humberto Costa, a regulação não pode oferecer brechas para que o “dinheiro público venha a subsidiar plataformas”, que segundo ele,  já são bilionárias em vários países e que têm no Brasil um dos seus mercados mais importantes. Para Humberto Costa, a regulação precisa estar à altura da “dimensão cultural e econômica que esse tema tem”. 

— Por quê que uma atividade tão importante como essa, como é a do audiovisual, a proposta de pagamento da Condecine é de 3%, tão somente? Nós tínhamos feito uma proposta mais ampla e o pior, é que nessa proposição, nesse relatório, existem vários mecanismos para isentar as empresas multinacionais de pagar a Condecine. Compensações pela contratação de empresas nacionais para a produção dos vídeos sobre demanda — criticou o senador. 

Mesmo após a manifestação de Humberto Costa, o líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), informou que a orientação do Executivo seria pela aprovação, tendo em vista que a matéria ainda passará por outros debates na Câmara dos Deputados e, possivelmente, lá será apensada a outras matérias em tramitação.

Na justificação do projeto, Nelsinho Trad informa que em janeiro de 2021 só a plataforma Netflix tinha 19 milhões de assinantes no Brasil, superando os 14,7 milhões de assinantes de todas as operadoras de TV paga. Ele lembra que as operadoras de TV estão submetidas a obrigações regulatórias e tributárias muito mais severas.

Fonte: Agência Senado


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Anteprojeto do novo Código Civil será apresentado na quarta (17)

Foto: reprodução / divulgação

O Plenário realiza na próxima quarta-feira (17), às 11h, sessão de debate temático para apresentação e discussão do anteprojeto de atualização do Código Civil, que inclui temas relacionados ao direito digital e direito de família, entre outras inovações. O trabalho de revisão esteve a cargo de uma comissão de juristas criada pelo Senado e presidida pelo ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A comissão de juristas foi criada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em agosto de 2023. Desde então, o grupo realizou encontros, audiências públicas e discussões sobre as mudanças no Código Civil. O colegiado também recebeu 280 sugestões da sociedade. Foi a primeira vez que juristas mulheres participaram da elaboração do código.

O Código Civil regula a vida do cidadão desde antes do nascimento e tem efeitos até depois da morte do indivíduo, passando pelo casamento, regulação de empresas e contratos, além de regras de sucessão e herança. É uma espécie de “constituição do cidadão comum”. 

Como já adiantou Luis Felipe Salomão, enfrentar as fake news é um dos pontos da parte sobre direito digital que pretende adequar o Código Civil ao entendimento dos tribunais. O texto trata de assuntos como o direito digital à intimidade, liberdade de expressão, patrimônio e herança digital, proteção à criança, inteligência artificial, contratos e assinaturas digitais. 

O anteprojeto também trata da regulamentação da inteligência artificial, além da ampliação do conceito de família para incluir vínculos não conjugais, que agora passam a se chamar parentais. A proposta visa a garantir a esses grupos familiares direitos e deveres, e busca reconhecer o parentesco da socioafetividade, quando a relação é baseada no afeto e não no vínculo sanguíneo.

Há ainda a legitimação da união homoafetiva, reconhecida em 2011 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A nova redação acaba com as menções a "homem e mulher" nas referências a casal ou família, abrindo caminho para proteger, no texto da lei, o direito de homossexuais ao casamento civil, à união estável e à formação de família. O texto também facilita a doação de órgãos pós-morte e estabelece normas para a reprodução assistida e prevê modificações na maneira com a qual animais são reconhecidos pelo Estado, além de uma nova modalidade de divórcio ou dissolução de união estável, que poderá ser solicitada de forma unilateral, entre outros temas. 

Fonte: Agência Senado


quinta-feira, 11 de abril de 2024

Paim diz ser contra foro privilegiado e pede mais debate sobre o tema

Foto: reprodução

O senador Paulo Paim (PT-RS) declarou, em pronunciamento nesta quinta-feira (11), ser a favor do fim do foro privilegiado. O parlamentar afirmou que o privilégio é percebido pela população como uma ferramenta que facilita a impunidade e argumentou que todos os cidadãos devem ser tratados igualmente perante a lei, sem distinção de cargo ou posição.

Paim citou estudo da Consultoria do Senado, de 2017, que mostrou a existência de 54,9 mil pessoas com foro privilegiado no Brasil. Segundo o senador, um dos autores do trabalho explicou que, em outros países, o número chega a apenas algumas centenas. 

— No caso do Brasil, a grande característica é a quantidade. Na prática, o foro privilegiado tornou-se uma vantagem pessoal, muitas vezes evitando condenações e dando uma sensação de impunidade. No entanto, admito que há um movimento crescente no Brasil pela sua extinção. O Senado já aprovou o fim do foro privilegiado, e, atualmente, há três propostas em tramitação na Câmara dos Deputados.

Para o senador, é preciso aprofundar o debate sobre o tema com calma e tranquilidade, nas devidas instâncias.

Fonte: Agência Senado


terça-feira, 9 de abril de 2024

Regulamentação da reforma tributária chegará ao Congresso na próxima semana

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O governo deve enviar na próxima semana ao Congresso dois projetos de lei que regulamentam pontos da reforma tributária (Emenda Constitucional 132), aprovada pelo Congresso em 2023. A informação foi transmitida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após reunião com o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, lideranças no Congresso e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

— Nos comprometemos, aqui, a encaminhar semana que vem complementação da reforma tributária. Ela já está fechada na Fazenda, mas há uma tramitação a ser feita na Casa Civil. Vai chegar ao presidente da República, que  passará a mensagem. Temos compromisso de que, na semana que vem, ela chega ao Congresso. Discutimos a possibilidade de serem dois projetos de lei complementar, para dar conta de todo o arcabouço que regulamenta a emenda constitucional — informou Haddad.

A emenda da reforma tributária aprovada prevê a regulamentação das normas por leis complementares, para definir a aplicação de alguns dos dispositivos. Entre eles estão as alíquotas do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA), além da tributação reduzida ou ampliada, de acordo com as diretrizes da reforma tributária.

De acordo com o ministro das Relações Institucionais, há uma discussão sobre quatro eixos da regulamentação: O IVA e os impostos seletivos para atividades econômicas nocivas à saúde e ao meio ambiente, que entrariam em um dos projetos, e o Fundo de Desenvolvimento Regional e a governança, com regras sobre o conselho interfederativo formado por representantes de estados e municípios, que fariam parte de um segundo texto

— Nesta semana o ministro da Fazenda está se dedicando pessoalmente a isso. Vamos consultar os líderes com a expectativa de que a gente possa encaminhar na próxima semana e aí trabalhar [no Congresso]. Os textos entram pela Câmara, e [o objetivo] é trabalhar para que a gente possa ter as nomeações o mais rapidamente possível dos relatores — afirmou o ministro Padilha.

Esforço

De acordo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a intenção é de que o Senado trabalhe intensamente no mês de abril para aprovar projetos da agenda econômica do governo e da pauta verde.

 — Há uma série de projetos aos quais nós vamos dar andamento nas comissões e há um compromisso do Senado com o governo para obtermos a aprovação desses projetos no decorrer do mês de abril. Então eu espero que seja um mês bastante produtivo, de realizações efetivas, que é o que a sociedade espera de nós: muito trabalho — disse Pacheco.

Além da reforma tributária, da desoneração da folha para os municípios e das dívidas dos estados, Pacheco citou como prioridades as seguintes proposições:

- PL 528/2020, dos “combustíveis do futuro”, que cria programas nacionais de diesel verde, de combustível sustentável para aviação e de biometano, além de aumentar a mistura de etanol e de biodiesel à gasolina e ao diesel.

- PL 412/2022, que regula o mercado de carbono, com a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). 

- PL 2/2024), da depreciação acelerada de máquinas e equipamentos, para que, na aquisição de um bem de capital, a indústria possa abater seu valor nas declarações futuras de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

- PL 3/2024, de reformulação da chamada Lei de Falências, que simplifica e traz maior segurança jurídica nos casos de falência e aumenta o poder decisório dos credores no processo.

- PL 81/2024, que viabiliza a isenção do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) para quem recebe até dois salários mínimos (R$ 2.842,00) por mês.

- PLC 29/2017, que consolida em um único texto várias normas referentes aos seguros privados.

Congresso

Pacheco também informou a convocação de uma sessão do Congresso Nacional para o dia 18 de abril. Entre as pendências estão os vetos que terão de ser analisados pelas duas Casas para abrir caminho à reorganização do Orçamento federal. Os vetos haviam sido citados como prioridade pelo líder do Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), na abertura dos trabalhos legislativos, em fevereiro.  

Um dos vetos citados, pendentes de apreciação, reduziu o orçamento das emendas parlamentares de comissão. O projeto que deu origem à Lei Orçamentária Anual (LOA) previa R$ 16,6 bilhões oriundos de emendas das comissões permanentes no Congresso. Ao sancionar o texto, o governo vetou um total de R$ 5,6 bilhões que seriam destinados às emendas de comissão.

Fonte: Agência Senado


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Servidor deverá pagar o dobro do valor desviado em corrupção, aprova CSP

Imagem: reprodução


Funcionário público condenado por crime de corrupção pode ter de pagar, de multa, o dobro do valor que tiver sido desviado. A Comissão de Segurança Pública (CSP) aprovou na terça-feira (2) o projeto de lei (PLS) 206/2015, com esse objetivo. O texto, proposto pelo senador senador Paulo Paim (PT-RS), teve relatório da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) e foi aprovado sem alterações. Agora o texto segue para a análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que decidirá definitivamente.

Pela legislação em vigor, além das penas pelos crimes cometidos, as multas são calculadas pelo juiz. De acordo com a relatora, elas hoje estão limitadas ao equivalente a R$ 7,1 milhões. Para ela, o valor não é suficiente para coibir o crime.

—  Muitas vezes esse valor chega a ser irrisório diante do dano causado ao erário como decorrência dos crimes de corrupção — disse Soraya.

O crime de corrupção passiva ocorre quando o agente público solicita ou recebe, direta ou indiretamente, vantagem indevida, que pode ser para ele ou para outra pessoa. Aceitar promessa de tal vantagem (mesmo sem recebê-la) e praticar o ato antes de assumir o cargo público (mas usando a função como pretexto) já configuram o crime.

Crimes contra a administração pública

Ainda de acordo com o projeto, a multa também será aplicada nos crimes peculato (se apropriar de valor ou bem em razão do seu cargo), concussão (exigir de alguém vantagem indevida em razão de sua função) e inserção de dados falsos em sistemas informatizados públicos. Para isso, o projeto altera o Código Penal (Decreto-Lei 2.848, de 1940).

Todos esses delitos são cometidos por funcionários públicos contra a administração pública e preveem também a pena de prisão (detenção ou reclusão).

Casos de corrupção

O senadores Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Sergio Moro (União-PR) mencionaram os casos de desvio de verba pública envolvendo a estatal Petrobrás, investigados no âmbito da operação Lava Jato. Para Moro, a corrupção é um problema geral na política brasileira.

— O Brasil precisa enfrentar o problema da corrupção, que não é de um governo ou de outro ... [A corrupção] gera ineficiência na política. O que a gente via desses diretores da Petrobrás é que estavam mais preocupados em fazer oportunidade para gerar propina, suborno, do que tomar melhores decisões para a empresa.

O senador Esperidião Amin (PP-SC) criticou o perdão e suspensão de multas pelo Poder Judiciário nos casos de corrupção. Em fevereiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli suspendeu o pagamento de multas de R$ 8,5 bilhões impostas à empresa Novonor (nova denominação do então Grupo Odebrecht), referente ao acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal (MPF) também no âmbito da Lava-Jato.

— Se o penalty [punição] financeiro não for maior que o prejuízo produzido, estamos estimulando [o crime].  É importante que haja uma legislação dura…

Participação em evento

A comissão também aprovou atividade externa a ser realizada nos dias 11 e 12 de abril em Manaus (AM) para participação do "Encontro Técnico das Comissões de Segurança Pública". A CSP recebeu convite da União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale), que foi apresentado pelo requerimento 11/2024, do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), presidente da CSP.

Audiência pública

A CSP também aprovou o requerimento 10/2024, de Moro, para realizar audiência pública para debater a Resolução 487 de 2023 do Conselho Nacional de Justiça, que instituiu a política antimanicomial. O documento aplica ao procedimento judicial e investigatório de pessoas com transtorno mental a Lei 10.216, de 2001, que trata de seus direitos. 

A comissão ainda acatou requerimento 9/2024, da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), para avaliar a implementação da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas em 2024, criada pela lei 13.812, de 2019. 

Adiamentos

A pauta previa a análise do projeto de lei (PL) 2.905/2022, que endurece regras para evitar a comunicação de presos. Mas o relator, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que é favorável à aprovação, pediu a retirada da pauta. Entre outras medidas, o texto modifica critérios para progressão de regime de cumprimento de pena, cria crimes para dificultar a comunicação nos presídios e obriga as prestadoras de serviços de telecomunicação a cooperarem com o bloqueio de sinal nos presídios. A proposta analisada é o substitutivo da Câmara dos Deputados que modificou o projeto de lei do Senado (PLS) 179/2005, que havia sido aprovado pelos senadores em 2006.

Os senadores também adiaram a discussão e votação do projeto de lei (PL) 476/2023, de Damares, que torna mais duras as penas dos crimes cometidos durante saída temporária, liberdade condicional, prisão domiciliar ou em meio a fugas da prisão. O relator, Esperidião Amin, apresentou voto favorável, mas pediu adiamento para esperar a sanção ou veto do presidente da República ao PL 2.253/2022, que restringe a saída temporária no modelo atual.

Fonte: Agência Senado


quinta-feira, 28 de março de 2024

Desafio de criar leis sobre IA envolve proteção de direitos e da democracia

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A criação de marcos regulatórios para as novas tecnologias, como a inteligência artificial, passa pelo desafio de equilibrar a garantia da proteção de direitos sem a restrição aos avanços tecnológicos. Especialistas na área concordam que, sem uma regulamentação, o mau uso das ferramentas digitais pode impactar na manutenção da democracia. O debate central é como, e, inclusive, quando promover essa regulação.

Quando se fala em novas tecnologias, logo se pensa nas plataformas de redes sociais e, mais recentemente, em inteligência artificial. Ambas estão em constante mudança e têm sido incorporadas à vida das pessoas. Elas produzem efeitos nas áreas de governo, trabalho, comunicação, serviços, logística e também em processos eleitorais. A internet se tornou um palco para o exercício de direitos subjetivos e é também por isso que se torna necessário criar leis sobre o tema.

De acordo com o sociólogo e professor espanhol Manuel Castells, apesar de não serem a causa raiz, as novas tecnologias contribuem para ampliar a polarização e a crise de legitimidade de processos políticos. Nesse contexto tecnológico, a regulamentação é uma forma de garantir a preservação de direitos e, assim, evitar retrocessos.

— Acredito que a tecnologia por si mesma não causa efeitos sociais e políticos. [A questão] é como se utiliza a tecnologia, quem e para quem — declarou Castells em entrevista à TV Senado. — Hoje em dia, essas tecnologias porque tal e como são, podem aumentar a crise da democracia e, de fato, o fazem em muitos países. Não são a origem, não são a causa, mas amplificam enormemente. Mas não são a origem. A origem é a falta de confiança nos políticos e nas instituições políticas democráticas — afirmou.

Neste cenário, é papel do Legislativo elaborar normas que garantam aos cidadãos o uso seguro das novas ferramentas tecnológicas. O momento, segundo Castells, é de uma “nova política, honesta, inteligente, informada e adaptada à sociedade digital” sob o risco de ser necessário reconstruir os avanços já alcançados atualmente.

Primeiro-secretário da Casa, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) apontou que o senso comum vem servindo como condutor das instituições e de parte da política na atualidade, diferentemente do que ocorria há pouco menos de duas décadas. A despeito da evolução da História com seus processos civilizatórios desde o Renascimento, no século 18, para Rogério, hoje falta um balizador mais consolidado sobre o que é consumido, especialmente nas redes.

— Quando você vive uma revolução tecnológica que conecta todas as pessoas num grande circuito neural, e abre o espaço para que as pessoas possam se manifestar, você está abrindo espaço para que esse senso comum inunde, ele seja a tônica do que vai circular. E obviamente que esse senso comum não é tensionado como dizia o [professor] Boaventura de Sousa Santos, nem tampouco esse senso comum passa por um crivo dos polos difusores. Então, nós não temos esse corte crítico, nós temos na verdade um behaviorismo embutido na relação da rede com os indivíduos criando o estímulo-resposta sem causa, sem o mediador mais consistente para você construir filtros civilizatórios — avalia o senador.

Desafios

Se a democracia e direitos fundamentais estão em jogo, como criar uma rede de proteção em um cenário tecnológico que evolui em ritmo acelerado e constante? Essa foi uma das questões que guiou os debates do Seminário Internacional Democracia e Novas Tecnologias: desafios da era digital promovido pelo Senado. A iniciativa faz parte das comemorações dos 200 anos da Casa, que tem a tradição de ser uma instituição de vanguarda em questões como direitos sociais, transparência e participação popular.

Ugo Pagallo, professor da Universidade de Turim, na Itália, define a inteligência artificial como um sistema tecnológico que pode atuar ou pode pensar como os humanos, em muitos casos até melhor do que as pessoas. Ele afirma que a definição fica mais complexa à medida que envolve questões éticas e morais, como em relação à IA generativa — ferramenta capaz de criar conteúdos textuais ou audiovisuais a partir de uma base de dados existente.

— Não temos que esperar a próxima catástrofe tecnológica para começarmos a criar as nossas leis [...] Temos diferentes abordagens e podemos intervir legalmente de várias formas — disse. Os riscos e oportunidades das novas tecnologias podem ser regulados, segundo o professor, de forma horizontal — durante todo o ciclo de vida da tecnologia — e vertical — de forma setorial e específica. 

Entre outras possibilidades, a criação de “agentes artificiais”, segundo o professor, pode desvalorizar as habilidades das pessoas e pode remover a responsabilidade humana se algo der errado em um processo. Ao mesmo tempo, pode capacitar e melhorar as realizações humanas, fortalecer os agentes humanos e aumentar essa capacidade da sociedade.

Urs Gasser, conselheiro do Berkman Klein Center da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirma que, quando a internet surgiu, havia a perspectiva otimista de aumento de participação nos processos democráticos. Ao longo do tempo, entretanto, o ambiente digital também contribuiu, por exemplo, para a disseminação de desinformação. Apesar de pesquisas sobre o tema serem realizadas há mais de 25 anos, ele afirma que, na prática, ainda não há evidências concretas ou uma resposta única sobre se a tecnologia é boa ou má para a democracia.

— A tecnologia pode ser útil, pode ser utilizada para coisas maravilhosas, como fortalecer a participação e criar novas formas de expressão política, mas também outros estudos mostram que essas mesmas tecnologias, como mídias sociais, podem criar bolhas de filtro ou então podem levar à exclusão de certas comunidades e, na verdade, prejudicar a sociedade — disse.

Comparado ao surgimento da internet, que contou com uma visão entusiasta, ele afirma que evolução da IA é vista como uma ameaça e com pessimismo. Neste novo ciclo de inovação tecnológica, Gasser defende a criação de “salvaguardas” para a boa governança e o uso de novas tecnologias no processo decisório na sociedade.

— Não podemos esquecer que isso também tem a ver com pessoas, tem a ver com os atores, organizações, nações e Estados. Talvez, mais do que antes, a questão se a inteligência artificial será uma ferramenta para alavancar e fortalecer a democracia ou não dependerá de como nós, as pessoas, estamos utilizando essas ferramentas. Eu acho que o desafio é, claro que é, muito mais difícil nós reprogramarmos as pessoas do que é reprogramar a tecnologia, software e IAs — declarou.

Professora da Universidade de Brasília, Christiana Freitas, afirma que a IA pode ter um uso benéfico para a elaboração de políticas públicas por meio da sistematização das demandas e sugestões, além de projeções de cenários para a ação governamental.

— Muito mais importante talvez que regular as tecnologias é regular os usos e as intenções de quem está elaborando o projeto político. A gente tem projetos políticos que vão construir esses instrumentos de IA e que vão gerar efeitos na sociedade — defendeu.

O professor da Universidade Técnica de Munique (Alemanha) Christian Djeffal defende que não necessariamente exista uma relação dicotômica entre inovação e regulação. Ele afirma ainda que as pessoas influenciam a tecnologia e também são influenciadas por ela.

Alternativas

Ricardo Campos, professor da Universidade Goethe (Alemanha), afirma que a democracia moderna é “profundamente dependente das novas tecnologias”. A dependência é, segundo ele, “ambivalente e paradoxal” já que a tecnologia funda e viabiliza a democracia moderna ao mesmo tempo que tem o potencial de prejudicá-la.

Ele avalia que há um “risco muito grande” em seguir o modelo de regulação europeu da IA e defende criar regras de forma setorizada para cada área, como saúde, indústria e telecomunicações.

— O modelo que eu tenho posto é o de observar o desenvolvimento europeu, a aplicação, principalmente quando entrar em vigor, e ver se vai impactar na inovação [...] Essa forma de setorizar e observar onde realmente surge dano e fazer uma cirurgia precisa para evitar a continuação desse dano seria a melhor forma para o Brasil enfrentar a questão da regulação da Inteligência Artificial — ponderou.

Na mesma linha, Juliano Maranhão, professor de direito da Universidade de São Paulo, defende que o debate sobre um marco regulatório no Brasil não deve se restringir às diretrizes que já foram aprovadas pela União Europeia, em especial em relação a criar uma autoridade de fiscalização. Ele afirma ser preciso considerar o patamar de desenvolvimento da tecnologia no país.

— A ideia é uma regulação que possa promover uma tecnologia confiável e será que a única forma de fazer isso é por meio de uma imposição de uma regulação externa e transversal, com uma autoridade fiscalizadora e sancionadora? [...] Talvez esse modelo sancionador externo não seja adequado de início. Talvez o contexto e o nosso desenvolvimento no país no mercado de IA está aquém do desenvolvimento europeu — disse.

Segundo ele, a necessidade de uma regulação no Brasil é principalmente para propiciar fomento e investimento no desenvolvimento da IA. Ele acredita que o Estado e os legisladores podem pensar em “arranjo institucional mais eficiente” para a cooperação dos agentes privados, para estimular a responsabilidade no desenvolvimento e uso de novas tecnologias.

Projetos

No seminário promovido pelo Senado, parte dos conferencistas defendeu a urgência para aprovar um marco regulatório, enquanto outros são favoráveis a esperar para ver os resultados das regras já aprovadas em outros países.

— O Brasil deveria se antecipar numa regulação pioneira novamente, como marco civil, em tecnologias complexas como a inteligência artificial, ou não? Será que deveríamos aprender com essas experiências internacionais e dar um passo mais cauteloso para que consigamos pavimentar um caminho mais fértil para a inovação? Essa é uma equação que não é óbvia — afirmou o professor de direito Eduardo Magrani, que é afiliado do Berkman Klein Center da Universidade de Harvard.

Segundo ele, os países são desafiados atualmente a fazer um “balanço hipercomplexo” sobre a preservação de direitos e a posição de cada nação no cenário geopolítico de desenvolvimento tecnológico. Além disso, regular de forma “robusta” representaria um risco muito grande, assim como não regular poderia ser um risco ainda maior.

Como a Agência Senado mostrou, tramitam na Casa várias propostas sobre o uso de novas tecnologias e a regulamentação da inteligência artificial. Em 2022, uma comissão de juristas foi criada para discutir e apresentar um anteprojeto sobre o tema. O texto da comissão foi apresentado como projeto de lei pelo presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco. 

O PL 2.338/2023 é tratado com prioridade no Senado este ano. O texto está em análise em uma comissão temporária dedicada exclusivamente ao tema. Um dos desafios do projeto é propor regras abrangentes para não se tornar ineficaz rapidamente com a evolução de tecnologias futuras. Integrantes do colegiado esperam votar a proposta ainda neste semestre. O relator, senador Eduardo Gomes (PL-TO), pode apresentar sua versão do texto em abril.

Fonte: Agência Senado


quarta-feira, 27 de março de 2024

Pacheco: negociação para endividamento de estados deve ser agilizada

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Após reunião na terça-feira (26) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e governadores de estados superendividados das regiões Sul e Sudeste, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, informou que as soluções para renegociação dessas dívidas com a União serão definidas nas próximas semanas. Ele pediu para que o governo envie ao Congresso Nacional projeto de lei nesse sentido em até dez dias. 

Pacheco elogiou a proposta inicial do governo de ampliação do ensino técnico e profissionalizante nos estados como contrapartida à renegociação das dívidas, mas sublinhou que o problema principal são as “dívidas impagáveis” com a União de alguns estados. 

— A ideia do Ministério da Fazenda em relação ao fortalecimento do ensino profissionalizante e os investimentos como condição para redução de juros. Acho uma ideia bastante interessante, mas é uma ideia paralela ao que é o cerne do problema. A nossa proposta se mantém, é isso que nós vamos tramitar no Congresso: que é a questão do pagamento da dívida, aceitação de ativos, inclusive capital acionário, recebíveis, créditos de ações judiciais e a redução do índice de correção da dívida — listou.

Pacheco disse que o Senado e os governadores querem um programa de pagamento dessas dívidas que seja sustentável e substitua o atual regime de recuperação fiscal. Para ele, o índice de correção das dívidas não quitadas precisa mudar, pois gerou aumento substancial no endividamento estadual. Os débitos são atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% e encargos.

— A alteração do índice, eu considero que é algo inevitável, que precisa ser concretizado para bem dos estados e para bem da União. Mas, para além da discussão do índice de correção, nós precisamos ter um programa sustentável de pagamento da dívida (...) para equacionamento do problema num menor espaço de tempo e poder haver o pagamento efetivo da dívida — sustentou.

Pacheco tem enfatizado que o endividamento das unidades da Federação é “o maior problema federativo” que o Brasil enfrenta. Participaram da reunião os governadores Romeu Zema (MG), Cláudio Castro (RJ), Ratinho Júnior (PR), Renato Casagrande (ES), Eduardo Leite (RS), Tarcísio de Freitas (SP) e a vice-governadora Marilisa Boehm (SC). Ratinho Júnior é o presidente do Consórcio de Integração dos Estados do Sul e Sudeste do Brasil (Cosud).

Os débitos de Minas Gerais com o governo federal ultrapassam os R$ 160 bilhões. Mas o problema também atinge estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Goiás. A dívida de Minas Gerais com a União começou em 1998, no valor de R$ 15 bilhões.

Pacheco apresentou a proposta de renegociação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro do ano passado. O acordo prevê quatro estratégias para a quitação dos débitos: rediscussão do valor da dívida; transferência para a União de ativos do estado avaliados com preço justo; cessão de créditos judiciais para a União; e desconto do saldo remanescente da dívida.

Segurança pública

A segurança pública foi outra questão debatida com os governadores, segundo Pacheco. Os governadores defenderam a aprovação de projetos relativos às chamadas audiências de custódia, à segurança jurídica dos policiais durante abordagens, ao compartilhamento e integração de dados e informações entre todas as polícias do país e à criação do qualificador de homicídio a mando de organização criminosa.

— Eu particularmente fiz um pedido aos governadores para que eles possam priorizar, nos seus respectivos estados, o sistema socioeducativo. Apostar na recuperação de menores infratores, o sistema socioeducativo recupera muito melhor do que o sistema penal comum — avaliou Pacheco.

Fonte: Agência Senado


terça-feira, 26 de março de 2024

Sessão especial celebra 200 anos de criação do Senado

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O marco de 200 anos de criação do Senado foi celebrado na segunda-feira (25) em sessão especial no Plenário com participação de representantes dos Três Poderes. O Senado foi criado pela primeira Constituição brasileira, outorgada em 25 de março de 1824 pelo imperador Dom Pedro I. 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que, desde a sua criação, o Senado brasileiro defende o Estado de Direito e a cidadania e, atualmente, é um dos guardiões das liberdades, direitos e garantias da Constituição Federal de 1988.

— O Senado é uma Casa plural, garantidora dessas liberdades. O Senado atua realizando a boa e a verdadeira política, aquela que busca diálogo, aquela que busca consenso, num ambiente de divergências absolutamente natural.

Democracia

Pacheco disse que o Senado tem como desafios para os próximos anos aprofundar a democracia constitucional no país.

— Nós queremos um país moderno, nós queremos um país inclusivo, nós queremos um país socialmente justo. Nós queremos, nas palavras da primeira senadora negra do Brasil, a senadora Laélia de Alcântara: "uma democracia verdadeira, em que o povo terá a sua vez de falar". Uma democracia substantiva, em que os direitos sociais não sejam meras aspirações. Uma democracia concreta, em que os princípios e os objetivos fundamentais não sejam vistos como promessas, mas como os mais importantes programas de Estado e de governo. 

O presidente do Senado, que também preside o Congresso Nacional, acrescentou que, recentemente, o país e suas instituições resistiram a ataques contra o processo eleitoral, contra a normalidade democrática e contra a transição pacífica de poder, o que evidenciou o vigor do sistema legal brasileiro e a força do compromisso democrático.  

— O Senado tem a glória de completar seus 200 anos como um farol da vida pública brasileira, um farol e um esteio. O farol se manteve aceso, mesmo quando as forças da política relegaram o país à escuridão de autoritarismos. O esteio se manteve firme, mesmo quando os abalos da História fizeram o mundo trepidar. 

Servidores

O 1º secretário do Senado, senador Rogério Carvalho (PT-SE), destacou a qualidade e a capacidade técnica de todo o corpo de servidores e empregados do Senado citando órgãos como a Biblioteca do Senado, a Gráfica do Senado, o Prodasen, o Instituto Legislativo Brasileira, as Consultorias Legislativa e de Orçamento e os meios de comunicação da Casa. Rogério, que chefia a comissão responsável pela comemoração do bicentenário do Senado, ressaltou que as inovações promovidas pelo Senado inspiraram aperfeiçoamentos nos Legislativos estaduais e municipais nas últimas décadas.

Importância histórica

Em seguida, o 1º vice-presidente do Senado, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), discursou sobre a importância do Senado, dos senadores e senadoras para a História do Brasil, na análise e votação de projetos e propostas cruciais para a sociedade brasileira e para o exercício da cidadania e na defesa dos direitos e garantias.

— Nós não podemos deixar de fazer o trabalho, o dever que nos cabe; mostrar o quão importante o Senado Federal foi, é e será. Não precisamos ir muito mais que há poucos meses, quando o Brasil se viu em meio a uma situação indizível, uma situação indesejável, uma situação inaceitável: o 8 de janeiro de 2023. Aqui estávamos nós — Senado da República, Câmara Federal, Executivo, Poder Judiciário — a dizer: a defesa da República nos cabe e, ao nos caber, não faltaria a presença de cada uma e de cada um dos senhores e das senhoras senadores da República.

Documentário e selos

Na primeira parte da solenidade, o Hino Nacional foi interpretado pelo tenor Jean William, e foi exibido um trailer da série documental de sete episódios Senado, a história que transformou o Brasil, produzida em parceria com a TV Cultura. A obra é escrita e dirigida por Luiz Bolognesi, com codireção de Laís Bodanzky, e é apresentada pela cantora e atriz Larissa Luz. A série aborda o papel do Senado na estabilização democrática, na manutenção do território brasileiro, na representação dos estados e na recepção das demandas da sociedade, como explicou Rodrigo Pacheco. 

— Da discussão e da votação das leis abolicionistas até o Estatuto da Igualdade Racial; da conquista do voto feminino à lei que garante igualdade no mercado de trabalho para homens e mulheres; do Código de Menores ao Estatuto da Criança e do Adolescente; a série vai mostrar como a atuação do Senado transformou e ainda transforma a vida de todos os brasileiros — citou o presidente do Senado.

Houve, também, o lançamento de selos comemorativos dos Correios, alusivos aos 200 anos do Senado, e o anúncio de parceria com a empresa Google que incluiu passeio virtual pelo Senado na ferramenta Google Arts & Culture.

Pacheco e o presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, fizeram a obliteração dos selos, ou seja, o carimbo para que esses emblemas não possam ser copiados. Os três selos referentes ao bicentenário do Senado, disse Pacheco, representam os palácios que já abrigaram o Senado: o Palácio Conde dos Arcos, o Palácio Monroe, e o Palácio do Congresso Nacional. Também foram lançados selos referentes às Constituições de 1824, 1934 e 1988.

Judiciário e Executivo

Representando o Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes enumerou pessoas e fatos históricos que mostram a importância do Senado para o país.

— Não tenho dúvidas de que esta Casa está à altura dos compromissos assumidos pelos Constituintes [que trabalharam para elaborar a Constituição] de 1988. Na esteira do espírito que funda a nova Constituição, o Senado tem renovado a ordem normativa brasileira, dando concretude normativa aos intentos constitucionais.

Representante do Poder Executivo, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, elogiou a capacidade e a produtividade dos senadores e dos servidores da Casa.

— Vida longa ao Senado! Vida longa ao Senado significa vida longa à democracia no nosso país.

Também participaram da solenidade a presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura; o procurador-Geral da República, Paulo Gonet; senadores, deputados federais e estaduais, juízes, representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Itamaraty, da Confederação Nacional do Transporte, das Forças Armadas e do Superior Tribunal Militar (STM) e delegações de Angola, Cabo Verde, Honduras e Moçambique, além de representantes diplomáticos de países: Armênia, Colômbia, Cuba, Irã, Coreia do Sul, Estados Unidos, Omã, França, Palestina, Líbano, Trinidad e Tobago, Guiné-Bissau, Paraguai, Peru, Reino Unido, Rússia, União Europeia e Síria.

Participaram da sessão especial, ainda, os ex-presidentes do Senado Eunício Oliveira, Edson Lobão e Davi Alcolumbre.

Fonte: Agência Senado


sexta-feira, 22 de março de 2024

Debate avança para finalizar acordo comercial entre Mercosul e EFTA

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Senadores e deputados da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul reuniram-se no Senado, na quinta-feira (21), com parlamentares da Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein, países europeus que integram a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). A reunião foi conduzida pelo atual chefe da representação brasileira no Parlasul, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), e tratou das negociações para um acordo de livre comércio entre os dois blocos de países. 

Nelsinho elogiou a disposição da EFTA em avançar nas negociações com o Mercosul.

— Este acordo precisa sair do papel e entrar na prática para beneficiar não só o grupo do EFTA como também o grupo do Mercosul — disse o senador. 

A EFTA (European Free Trade Association) foi criada em 1960 como uma área de livre comércio entre esses quatro países, cujos PIBs somam cerca de US$ 1 trilhão e, juntos, têm mais de 13,5 milhões de habitantes. A EFTA tem 29 acordos comerciais ao redor do mundo e, desde 2017, negocia com o Mercosul acordo que envolve comércio de bens e serviços de ambos os blocos econômicos.

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) nasceu em 1991 e, atualmente, é composto por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, totalizando mais de 14,8 milhões de km² e cerca de 300 milhões de habitantes. Entretanto, a Venezuela está suspensa desde 2017 por “ruptura da ordem democrática”. A Bolívia, por sua vez, encontra-se em processo de adesão ao bloco.

Negociações

Em 2019, Mercosul e EFTA chegaram a um pré-acordo, sem efeitos jurídicos, com compromissos de acesso a bens e serviços dos seus respectivos mercados. As negociações ainda estão em andamento e podem resultar em facilidades tributárias para mais de 98% das exportações do Mercosul para aqueles países, em especial nos setores industrial e pesqueiro. As contrapartidas do Mercosul são semelhantes, com destaque para importações vindas dos setores industrial e agrícola dos países da EFTA.

Na reunião de quinta (21), os parlamentares brasileiros dialogaram com os deputados da Suíça Thomas Aeschi (Partido Popular Suíço), Carlos Sommaruga (Partido Social Democrata), Benedikt Würth (Partido do Centro) e Hans-Peter Portmann (Partido Liberal Radical). Todos apoiaram a finalização do acordo.

Thomas Aeschi, que chefia a delegação parlamentar da EFTA, disse que este comitê de deputados dos quatro países é um conselho consultivo da EFTA e já esteve este ano também na Argentina, em busca de acelerar as negociações para o acordo Mercosul-EFTA. Ele disse que a Suíça fará um referendo popular para confirmar o acordo quando ele for finalizado, o que mostra a importância dos diálogos entre ambos os blocos econômicos. Em sua avaliação, a população e os parlamentares suíços são, em sua maioria, favoráveis ao acordo, que significará aumento expressivo do comércio entre os países do Mercosul e da EFTA.

Da Noruega, a deputada Heidi Norby Lunde (Partido Conservador) afirmou que seu país e o Brasil têm competências e desafios similares, como grandes produções de gás e petróleo, potencial em energias renováveis e o dilema entre crescimento econômico e proteção ambiental.

— Não vemos uma contradição entre a economia verde e o crescimento, cuja sintonia adequada criará oportunidades e empregos para todos, reduzindo a pobreza e a desigualdade, que eu sei que é um ponto importante para a atual administração federal do Brasil — disse a deputada norueguesa.

Outro ponto em comum entre Brasil e Noruega, apontou Heidi Norby Lunde, é a defesa internacional de um mundo baseado no Estado de Direito. Em sua avaliação, todos os países, as populações e as empresas se beneficiam com a democracia. Ela sugeriu que o texto final do acordo entre Mercosul e EFTA, quando finalizado, seja assinado no Brasil.

Da Islândia, a deputada Ingibjörg Ólöf Isaksen (Partido Progressista) declarou apoio ao acordo por entender que seu país está aberto aos produtos do Mercosul, cujos países podem ser um grande mercado para produtos islandeses como pescados e tecnologia.

Representando Liechtenstein vieram os deputados Manfred Kaufmann (Partido União Patriótica) e Daniel Seger (Partido Cívico Progressista). Também apoiando a finalização do acordo, Kaufmann disse que seu país tem interesse em fornecer vários serviços para os países do Mercosul, especialmente serviços financeiros.

Representação

Além do senador Nelsinho, participaram, pelo Brasil, os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Celso Russomanno ( Republicanos-SP), além do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS).

Vice-presidente da representação brasileira no Parlasul, Chinaglia disse que as negociações dos acordos entre Mercosul e EFTA e Mercosul e União Europeia têm temas em comum como a questão do crescimento econômico versus meio ambiente, comércio e acordos internacionais sobre mudanças climáticas.

Por sua vez, Heinze disse que o Brasil tem aproximadamente 500 milhões de hectares preservados que, em sua opinião, têm que ser remunerados pela comunidade internacional, já que essa preservação ambiental beneficia todo o planeta. Ele disse que a agricultura e a pecuária brasileiras são sustentáveis e exploram cerca de 30% do território nacional. Segundo Heinze, vários países europeus, além de Estados Unidos e China, dão para seus produtores rurais cinco vezes mais subsídios públicos que o Brasil.

— O Brasil, há 50 anos, importava alimentos. Com a revolução que nós fizemos, de agricultura sustentável, hoje é um dos maiores produtores de alimentos do mundo — afirmou Heinze.

Em seguida, Russomanno disse que o Ministério da Fazenda projeta incremento de US$ 5,2 bilhões no PIB brasileiro com o acordo Mercosul-EFTA, com aumento de US$ 5,9 bi nas exportações brasileiras e US$ 6,7 bi nas importações. Para ele, o acordo trará benefícios para as populações de ambos os blocos, aumentando o comércio, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida. O deputado convidou a delegação europeia para conhecer a região amazônica.

Também participaram da reunião os atuais embaixadores da Suíça e da Noruega no Brasil, Pietro Lazzeri e Odd Magne Ruud, respectivamente, e o  representante do Itamaraty Philip Fox-Drummond Gough, que elogiou a iniciativa da reunião no Senado por entender que o encontro ajudará no avanço das negociações para o acordo Mercosul-EFTA. 

Ele disse que a nova rodada de negociações será na semana de 15 de abril de 2024 na Argentina, após mais de cinco anos de lentidão nos entendimentos. 

— Não se trata apenas de um acordo de acessos a mercados, é muito mais do que isso: é um acordo de integração econômica e de atração de investimentos. (...) Do ponto de vista do governo brasileiro, estamos muito otimistas — disse Gough.

O diplomata acrescentou que ainda estão indefinidos, e em negociação, temas relacionados a compras governamentais, desenvolvimento sustentável e meio ambiente, acesso a mercado para produtos específicos, propriedade intelectual e regras de origem. 

Também integram a comitiva da EFTA a deputada islandesa Thorgerdur Katrin Gunnarsdóttir (Partido da Reforma), os deputados noruegueses Torgeir Knag Fylkesnes (Partido da Esquerda Socialista) e Runar Sjåstad (Partido Trabalhista) e representantes de associações empresariais e sindicais dos países integrantes.

Oportunidades 

Conforme a Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, com o acordo, o Brasil terá a eliminação imediata, pelos países da EFTA, das tarifas aplicadas à importação de 100% do universo industrial. O acordo também proporcionará acesso preferencial para os principais produtos agrícolas exportados pelo Brasil, com a concessão de acesso livre de tarifas, ou por meio de quotas e outros tipos de concessões parciais. Serão abertas novas oportunidades comerciais para carne bovina, carne de frango, milho, farelo de soja, melaço de cana, mel, café torrado, frutas e sucos de frutas.

Fonte: Agência Senado