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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Gaza: Médicos Sem Fronteiras condena ataque israelense que matou duas familiares de um profissional da organização

Imagem: reprodução

Ataque a abrigo de MSF em Al-Mawasi, Khan Younis, também deixou seis pessoas feridas

Médicos Sem Fronteiras (MSF) condena veementemente o ataque israelense em Al-Mawasi, Khan Younis, em Gaza, que matou duas familiares de um profissional de MSF. Outras seis pessoas ficaram feridas no ataque.

No fim da noite de terça-feira (20/02), as forças israelenses realizaram uma operação militar em Al-Mawasi, localizada na costa de Gaza, durante a qual um tanque israelense disparou contra uma casa que abrigava profissionais de MSF e seus familiares. O ataque matou a nora e a esposa de um de nossos colegas e feriu seis pessoas, cinco das quais são mulheres ou crianças. Os disparos foram feitos contra um edifício claramente identificado como de MSF, atingindo o portão da frente, o exterior do prédio e a parte interior do andar térreo.

As equipes de ambulância ficaram impedidas de sair por mais de duas horas devido ao bombardeio na área. Mais tarde, os profissionais conseguiram chegar ao local e levar os feridos, alguns com queimaduras, para o hospital International Medical Corps Field, em Rafah.

“Estamos indignados e profundamente tristes com essas mortes”, lamenta Meinie Nicolai, diretora-geral de MSF, que atualmente coordena nossas atividades médicas em Gaza. “No mesmo dia em que os Estados Unidos optaram por vetar um cessar-fogo imediato, duas filhas viram sua mãe e sua cunhada mortas por um projétil de um tanque israelense.”

“Essas mortes ressaltam a triste realidade de que nenhum lugar em Gaza é seguro, que as promessas de áreas seguras são vazias e os mecanismos de desconflito não são confiáveis”, ressalta Nicolai.  “A quantidade de força usada em ambientes urbanos densamente povoados é impressionante, e atacar um prédio sabendo que está cheio de profissionais humanitários e suas famílias é inconcebível.”

No momento do ataque, 64 pessoas estavam abrigadas na casa. Todas as partes envolvidas na guerra, incluindo as forças israelenses, são regularmente informadas sobre a localização e têm conhecimento da presença de equipes de MSF em locais específicos. As forças israelenses foram claramente informadas da localização precisa deste abrigo de MSF em Al-Mawasi. Além disso, uma bandeira de MSF de dois por três metros estava pendurada do lado de fora do prédio. Nenhuma ordem de evacuação foi emitida pelas forças israelenses antes do ataque. Entramos em contato com as autoridades israelenses e estamos buscando mais informações.


Abrigo de MSF em Al Mawasi, Khan Younis. © Mohammed Abed/MSF - Foto: reprodução

Alguns de nossos colegas e seus familiares que viviam no abrigo de MSF, antes do ataque em Al-Mawasi já haviam sobrevivido ao ataque de 8 de janeiro em outro abrigo de MSF, em Rafah, que matou a filha de 5 anos idade de um integrante da equipe de MSF.

Isso demonstra, mais uma vez, que as forças israelenses não estão garantindo a segurança dos civis em suas operações militares e mostra um completo desrespeito pela vida humana e falta de respeito pela missão médica. Esse cenário torna quase impossível manter as atividades médico-humanitárias em Gaza. 

As equipes de MSF estão apoiando nossos colegas e seus familiares que sobreviveram ao ataque de ontem, assim como os entes queridos daqueles que foram mortos.

Quatro profissionais de MSF foram mortos desde o início da escalada da guerra, além de diversos familiares.

Reiteramos o nosso apelo por um cessar-fogo imediato e sustentado em Gaza. A violência contra civis deve acabar agora.

Fonte: ASSESSORIA DE IMPRENSA MSF


quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Ciclone no Sul: o que está por trás das tempestades devastadoras que já mataram 40 pessoas

Cidade de Venâncio Aires, no Rio Grande
do Sul - Imagem: reprodução

Inundações causadas por fortes chuvas e por um ciclone extratropical nos últimos dias deixaram ao menos 39 pessoas mortas no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina, segundo informações das defesas civis dos Estados.

Cerca de 6.000 pessoas estão desalojadas ou desabrigadas no Rio Grande do Sul.

Há registro de 9 pessoas desaparecidas, todas na cidade de Muçum, na região central do RS. Segundo a Defesa Civil, com a forte chuva, cerca de 85% do município gaúcho ficou inundado, com a água atingindo parte das casas e do comércio. A energia elétrica e o sinal de telefone do município foram cortados.


"Estamos consternados com a letalidade desse evento climático e mobilizados para salvar todos que ainda correm perigo", escreveu Leite nas redes sociais na terça (5/9).

 

O governador declarou estado de calamidade pública no Estado. Cerca de 2.700 pessoas foram resgatadas pelas equipes do governo nos 79 municípios atingidos.

Além de Muçum, cidades da região norte do Rio Grande do Sul também tiveram registros de mortes: Estrela, Lajeado, Mato Castelhano, Passo Fundo e Ibiraiaras. A tormenta também causou uma morte no Estado vizinho de Santa Catarina.

Por conta de alagamentos, dezenas de estradas e rodovias do RS estão bloqueadas. Cinco aeronaves — da Força Aérea, PM e Bombeiros — estão sendo utilizadas para auxiliar nos resgates nas cidades afetadas.

A Defesa Civil do RS está alertando para mais chuvas nesta quinta (7/7), com temporais isolados nas regiões noroeste, centro e sul do Estado.

Também podem ocorrer rajadas de vento intensas, descargas elétricas e eventuais quedas de granizo.


Cidade de Bom Retiro do Sul também ficou debaixo d'água com fortes chuvas
- Foto: reprodução

Fenômenos 'casados'

Mas o que está por trás, afinal, das chuvas devastadoras no Rio Grande do Sul?

Segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o ciclone extratropical não foi a causa das fortes chuvas que atingiram a região, e sim sua consequência.


"A causa da chuva foi uma frente fria estacionária, por isso choveu no fim de semana inteiro. Na segunda-feira, coincidiu uma área de baixa pressão na alta atmosfera. Essa combinação derivou na formação de um ciclone extratropical, que rapidamente se encaminhou para o oceano. Ou seja, ele foi a consequência e não a causa da chuva", explica Seluchi.

 

Ciclones extratropicais como esse se formam praticamente todas as semanas no Oceano Atlântico, segundo meteorologistas.

Eles são centros de baixa pressão atmosférica que se formam fora dos trópicos, em médias e altas latitudes, segundo explica Estael Sias, meteorologista da empresa MetSul Meteorologia.

Comuns na história climática brasileira, esses fenômenos costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos.


"Ele é formado pelo contraste de massas de ar quente e frio. Parte da sua ação é sugar toda a umidade pra essa região do centro de baixa pressão e jogar para a atmosfera, resfriando e transformando a umidade em nuvens. É nesse processo que o fenômeno espalha chuva e vento", diz Sias.

 

O problema é que, para alguns especialistas, as mudanças climáticas podem estar contribuindo para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos, mais intensos, que podem se formar com mais rapidez e causar impacto maior.


"Pela minha experiência de 20 anos de previsão de tempo, acredito que esse cenário das mudanças climáticas de alguma forma tem ajudado ou tem auxiliado na formação desses ciclones com características especiais", diz Sias.

 

Para Marcelo Seluchi, do Cemaden, embora haja elementos para afirmar que sim, não existem dados conclusivos para confirmar com 100% de certeza que as mudanças climáticas estão deixando os ciclones extratropicais mais intensos.


"Para afirmar isso precisaria ter uma análise de dados de ciclones por décadas. E por que não temos esses dados? Porque os ciclones se formam no oceano e precisamos de dados de satélites, e esses dados nós só temos faz uns 20 ou 30 anos. Então, não dá para fazer essa análise. A resposta honesta é 'não sei'", explica.

 

Nesta quarta-feira, o governador Eduardo Leite deve visitar a região acompanhado de ministros do governo Lula.

O próprio presidente se solidarizou com as vítimas da chuva no RS.

"Queria prestar minha solidariedade a população do Rio Grande do Sul, que está vivendo as fortes chuvas. O chefe da Defesa Civil vai ao Estado para ajudar a remediar os problemas causados pelas fortes chuvas. Faremos de tudo para ajudar a população gaúcha a atravessar esse momento", escreveu o petista na rede social X, antigo Twitter.

Fonte: BBC Brasil


sábado, 25 de fevereiro de 2023

Emergência Yanomami está longe de acabar: “Eles continuam morrendo”

Foto: Reprodução

AGORA, NÃO POR FALTA DE VONTADE POLÍTICA, MAS PORQUE OS DANOS FORAM VASTOS!

Servidores e lideranças Yanomami dizem que mortes e doenças continuam após primeiro mês de resgates e que áreas inteiras seguem tomadas pelo garimpo.

“Eles continuam morrendo”, disse à Agência Pública um servidor público do governo federal em Roraima (RR) empenhado na emergência sanitária na Terra Indígena Yanomami, que pediu para não ter o nome publicado. Declarada pelo Ministério da Saúde há pouco mais de um mês, em 20 de janeiro, como consequência dos crimes cometidos contra os Yanomami durante o governo de Jair Bolsonaro e com o agravamento da invasão de 20 mil garimpeiros, a ESPIN (Emergência Sanitária de Saúde Pública de Importância Nacional) está longe de ser resolvida.

“Continua, sim, tendo mortos. Hoje nós trouxemos quatro corpos de indígenas que morreram na [segunda-feira, dia 20] no Hospital Geral [em Boa Vista]. Fui auxiliar para dar a informação às comunidades. A crise não acabou, não. A saúde nem chegou ainda, não chegou assistência às comunidades. Estão impedidos [profissionais de saúde] de fazer missões porque tem muitos garimpeiros em muitas áreas ainda”, disse por telefone Junior Hekurari, presidente do Condisi (Conselho de Saúde Indígena), que estava ontem na comunidade de Surucucu participando do atendimento aos indígenas. Nos últimos três anos durante o governo Bolsonaro, ele fez inúmeras denúncias sobre o genocídio em curso na terra Yanomami.


Vídeo divulgado por Junior Hekurari mostra a Força Aérea Brasileira (FAB) resgatando
 jovem Yanomami com quadro de desnutrição e malária na terça-feira (21)
— Foto: Divulgação/Júnior Hekurari Yanomami

A malária continua grassando no território, disse por mensagem de WhatsApp a liderança indígena Júlio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana. “Estamos aqui em Auaris, a situação está cada vez pior. Muito pouco profissionais de saúde. Essas pessoas não dão conta de uma população de quase 4 mil pessoas na região. É muito revoltante. Muito sofrimento, esses profissionais trabalham muito. Já falamos isso várias vezes nas outras gestões Yanomami, mas temos que falar de novo.”

Segundo Júlio, do final de dezembro de 2022 até o último dia 09 de fevereiro um total de 650 indígenas foi atingido pela doença, o que significa mais de 100 casos por semana. A falta de medicamentos é um grave problema. “Não temos remédios básicos, como dipirona. Na última vez, eu mesmo trouxe um medicamento para conjuntivite. Comprei na farmácia [em Boa Vista] um colírio. O pessoal aqui veio atrás de mim para eu aplicar gotas nos olhos das crianças. Aqui no posto Ye’kwana não tem esse remédio. São remédios simples que não tem aqui”, explicou.

Dário Yanomami, filho do líder indígena Davi Kopenawa, confirmou que muitos Yanomami muito provavelmente continuam sem assistência médica dentro da terra indígena, onde vivem 31 mil indígenas em 376 comunidades mapeadas. “Com certeza tem [indígenas à espera de atendimento]. Porque hoje na Terra Yanomami, outras comunidades, como Homoxi, Haximu, Xitei e outras comunidades estão fechadas por falta de assistência. Não tem remédio, não tem profissionais, não tem estrutura boa para os profissionais ficarem. Isso é falha muito grande.”

Dário explicou que uma comunidade fechada “são as áreas de garimpo”, onde a saúde não consegue entrar pela presença de garimpeiros armados. “Ameaças, aliciamento, troca de ouro, por causa disso fechou [as comunidades]. A saúde não chegou a essas regiões, tem quase três anos que fechou a Homoxi”, disse Dário. Ele citou que uma comunidade, a Aracaçá, está “há 30 anos” sem atendimento na saúde. Segundo Dário, então eram 50 indígenas e hoje são apenas 15.

Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora da FPEYY (Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Yekwana) da Funai (Fundação Nacional do Índio), confirmou à Pública em Boa Vista que há muitos setores da terra indígena em que o socorro aéreo ainda não chegou, que há comunidades “tomadas pelo garimpo”, como a de Homoxi, com mais de 200 garimpeiros, e que há comunidades de difícil acesso na mata.

“O Yanomami tem essa característica de se dividir muito, é da cultura, ele vai criando comunidades uma mais distante do que a outra, às vezes sem comunicação com as equipes de saúde. Fazem isso para fugir do garimpo, para conseguir uma água mais limpa. Nós não conseguimos mapear todos esses pontos. A gente vai descendo e perguntando ‘onde tem comunidade?’ É preciso andar dois, três dias a pé. São locais que não têm clareira para pousar a aeronave a fim de entregar uma cesta básica, receber uma equipe de saúde. […] Realmente há localidades de muito difícil acesso.”


Assistência médica e alimentos ainda não alcançam todas as comunidades yanomami
— Foto: Força Aérea Brasileira

Nesse cenário, mortes podem estar acontecendo sem qualquer conhecimento ou controle dos órgãos sanitários. Maciel contou que uma das medidas é abrir uma clareira perto de cada comunidade para que os helicópteros possam descer e, a partir daí, as equipes de saúde terem uma noção mais clara do problema. Na ausência das clareiras, as equipes farão as caminhadas. “Tem muito ponto pequeno [de comunidade na mata]. A equipe, à medida que vai fazendo a entrega das cestas básicas, vai fazendo o registro fotográfico dessas casinhas. Então, às vezes tem uma casinha só no meio da floresta, quatro casinhas no meio da floresta. É difícil de dimensionar a população.”

Quem tem auxiliado no trabalho de mapeamento são as equipes do IBGE que trabalham no censo nacional no território desde o ano passado. A pesquisa teve que ser interrompida em janeiro, em virtude da declaração da emergência sanitária, mas aos poucos está sendo retomada.

“[A ONG] os Expedicionários da Saúde vão entrar na área, a Força Nacional do SUS está na área, reforçando com médicos, enfermeiros. Estamos tentando cobrir a maior área possível. O que vai auxiliar muito é o trabalho do IBGE. Porque eles fizeram esse trabalho de perguntar, ‘tem mais gente morando perto?’. Eles têm as coordenadas”, disse Maciel.

Número de mortos é incerto; Ministério aponta o “abandono da gestão anterior”

A comunidade de Surucucu é um ponto de referência para o atendimento de saúde na Terra Yanomami. Os doentes que conseguem chegar por conta própria, ou que são trazidos até lá para buscar socorro médico, passam por uma triagem. Os casos mais graves são levados de aeronaves para Boa Vista – a FAB diz que transportou, até o momento, 126 pacientes. Os menos graves são atendidos no pólo-base da comunidade ou, assim que possível, levados ao hospital de campanha montado em Boa Vista. Júnior também não sabe o número de mortos desde a declaração da ESPIN, em 20 de janeiro, pois o dado é centralizado no Ministério da Saúde, que não divulga esse número desde 20 de janeiro.


Hospital de Campanha Yanomami montado na Casa de Saúde Indígena em Boa Vista (RR)
— Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O servidor federal ouvido pela Pública que solicitou o anonimato estimou, em média, um óbito por dia nos últimos dez dias. Em um certo dia de fevereiro, disse ele, três Yanomami morreram. As mortes, disse a fonte, têm ocorrido tanto dentro quanto fora da terra indígena, às vezes durante o transporte do paciente, por avião ou helicóptero, até Boa Vista. A documentação dessas mortes, contudo, é impossível de ser feita de forma independente por jornalistas porque o governo federal tem impedido a entrada de jornalistas na Terra Indígena Yanomami. A ausência no noticiário das últimas três semanas de novas imagens de crianças desnutridas pode dar a falsa impressão de que a crise está resolvida. Mas a crise não foi superada, dizem diferentes fontes, a informação é que não está disponível.

O número de mortes registrado desde o dia 20 de janeiro também não é informado pelo governo federal em seus “Boletins Diários” e “Informe Semanal” sobre a crise, publicações iniciadas pelo Ministério da Saúde em fevereiro sobre a emergência Yanomami. Até esta quarta-feira (22), o ministério havia divulgado na internet seis balanços diários e um semanal – o último “diário”, porém, veio a público há quatro dias, no dia 18. Nenhum trouxe o número de óbitos. A Pública indagou ao Ministério da Saúde qual o motivo desse apagão.

Em nota, o ministério respondeu que “os registros de óbitos e levantamentos de dados” na terra Yanomami “são feitos, em sua maioria, em meios analógicos (fichas de papel)”. Isso demanda, em média, “cerca de 30 dias para validação e qualificação dos dados disponíveis”. Essa situação foi herdada de gestão de Bolsonaro, segundo o ministério, e perdura nesses primeiros quase dois meses de governo Lula “apesar dos esforços do COE [Centro de Operações de Emergência] Yanomami para melhorar o acesso às tecnologias de informação e comunicação das equipes em campo, diante do estado precário em que foram encontradas as estruturas da Sesai causado pelo abandono da gestão passada”.

Segundo o Ministério da Saúde, “a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) em conjunto com o COE Yanomami trabalha para melhorar o acesso aos dados de óbito em todo o território Yanomami”.

Sobre as quatro mortes citadas por Júnior Hekurari, o ministério confirmou que uma “foi causada por doença renal crônica, outra por malária, e uma terceira por pneumonia bacteriana. A quarta morte está em fase de investigação e qualificação pela equipe do hospital”.

“Como forma de apoio às famílias, o DSEI-Y [distrito sanitário] faz o traslado dos corpos para as comunidades de origem para que os parentes consigam realizar os ritos tradicionais. Dos pacientes adultos com quadros mais graves, 11 seguem internados no Hospital Geral de Roraima, sendo que um deles está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).”

A precariedade do sistema dos dados da saúde na terra Yanomami citada pelo Ministério da Saúde foi confirmada à Pública por uma autoridade federal que acompanha a emergência e que também não quis ver o nome publicado. “Muito provavelmente as mortes de Yanomami continuam na terra indígena, mas não há dados atualizados porque o sistema de coleta desses números é deficiente. A Saúde trabalha com um atraso de meses sobre esses números.” O problema é agravado pelas longas distâncias e a ausência de internet em quase a totalidade do território indígena. Assim, por vários dias o agente de saúde de campo acumula os dados em papel e só os passa para o sistema digital quando consegue chegar a um ponto com computador e internet. A alimentação do dado pode demorar semanas. Assim, é possível que nos próximos dias o ministério tenha dados consolidados sobre os óbitos ocorridos desde janeiro.


A precariedade do sistema de dados da saúde na terra Yanomami dificulta divulgação
da situação sanitária na região — Foto: Igor Evangelista/MS


Liderança alerta sobre um possível ressurgimento da tuberculose

Indagado se a emergência sanitária Yanomami está acabando, Junior Hekurari alertou: “Ainda nem começou. O que está faltando é a retirada dos garimpeiros. É colocar médicos, pessoal da saúde, para combater mesmo. Entrar com ação nas comunidades. Hoje só está fazendo urgência e emergência. Recebendo pacientes e mandando para Boa Vista. Agora tem helicóptero, só falta profissionais mesmo. Tem muito paciente chegando [em Surucucu]. Chega por dia de sete a dez”.

O líder indígena se disse bastante preocupado com o ressurgimento de doenças que haviam perdido terreno entre os Yanomami antes do governo Bolsonaro, como a tuberculose. Ele disse que recebeu a informação de 15 casos de tuberculose entre os indígenas internados em Boa Vista. “Na década de 80 tinha muita tuberculose. Quando acabou o garimpo, vinte anos atrás, reduziu na terra Yanomami. E quando aumenta garimpo, aumenta doença, tuberculose cresce também. Não sei quantos Yanomami está com tuberculose. A minha preocupação. E desnutrição.”

Há ainda a violência causada pela presença garimpeira no território. Elayne Maciel, da Funai, disse que está confirmada a informação de que garimpeiros abriram fogo contra um grupo de Yanomami no início de fevereiro, matando dois e ferindo um outro. Segundo ela, ao que tudo indica os garimpeiros atiraram contra os indígenas sem qualquer discussão ou conversa prévias.

“Era um grupo que estava de passagem para a comunidade de origem. Ao passar por uma pista de pouso usada pelos garimpeiros, foram surpreendidos pelos garimpeiros. Eles acertaram três indígenas; um nós conseguimos socorrer e os outros dois vieram a óbito. Eles [indígenas] atiraram também contra os garimpeiros e acertaram um. A gente confirma que realmente teve o conflito. Tem muitos casos de conflitos entre garimpeiros e indígenas. Há hoje dentro do território todo tipo de arma, pistolas, revólver.”

Maciel disse ter esperanças de que as ações contra o garimpo realizadas pelo governo (desde o dia 6 de fevereiro estão realizando operações no território Ibama, Funai e Polícia Federal com apoio da Força Nacional e das Forças Armadas) vão surtir efeito em algum momento próximo, o que vai proporcionar um melhor atendimento à saúde dos Yanomami e, por isso, a redução das mortes e das doenças.

“Temos notícias de que a muitos garimpos agora não está chegando alimento, não está chegando combustível. Uma hora eles vão precisar sair. Em algumas localidades, como Homoxi, a equipe teve que ir lá fazer uma remoção, o maquinário estava operando. Eles não pararam de fazer a extração de ouro. Com o estrangulamento do suprimento do garimpo, a tendência é que eles realmente saiam. Isso fico lá na serra, na ponta da TI. Eles [Funai e PF] vão subindo aos poucos, com certeza, eles vão chegar lá.”

Fonte: revistagalileu / via apublica.org


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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Crianças Yanomami morrem quase 13 vezes mais por causas evitáveis

Imagem: Reprodução

Considerando apenas 2019 e 2020, foram oito mortes por malária de crianças menores de 5 anos, o equivalente a dois terços do total de óbitos nessa faixa etária em todo o Brasil, segundo a Agência Pública.

Em 16 de setembro, a comunidade de Makabei, na Terra Indígena (TI) Yanomami, chorou a morte de uma criança de apenas 2 anos, que vamos chamar de M. Ela estava com malária, infectada pelo Plasmodium falciparum, o mais agressivo dos protozoários que causam a doença, e desenvolveu malária cerebral, uma complicação grave que, não raramente, leva à morte.

A morte de M. não é um caso isolado. Nos três primeiros anos do governo Bolsonaro (2019-2021), ao menos 14 crianças menores de 5 anos morreram em decorrência de malária na maior TI do país, localizada entre Amazonas e Roraima.

Os dados inéditos foram obtidos pela Agência Pública junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Considerando apenas 2019 e 2020, os últimos anos em que há dados nacionais disponíveis, foram oito mortes por malária na TI Yanomami, o equivalente a dois terços do total de óbitos nessa faixa etária em todo o Brasil, onde 12 crianças faleceram por complicações da doença.

Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY) e responsável por relatar o caso de M. à Pública, resume o processo de luto que uma morte como essa causa em seu povo. “Choram todos os dias, todas as noites. Toda a comunidade, não só a mãe, a família inteira. Ficam de luto, chorando, de manhã, de tarde, de noite. Ficam chorando durante meses”, explica o líder indígena, que preside também a Urihi Associação Yanomami.

A malária, que matou mais de uma dezena de crianças Yanomami e infectou milhares em três anos, está incluída em uma lista de “óbitos por causas evitáveis”, classificação que abrange doenças tratáveis, como pneumonia, desnutrição, diarreia e verminoses.

Se considerarmos todas as mortes por causas evitáveis, o cenário na TI Yanomami se mostra ainda mais aterrador: entre 2019 e 2021, “ao menos 404 crianças menores de 5 anos”, morreram no território indígena por causas que poderiam ter sido evitadas ou tratadas. É uma média de 134 a cada ano, sendo os dados de 2020 e 2021 ainda preliminares.


Terra Indígena Yanomami — Foto: Bruno Fonseca/Agência Pública - Reprodução

Para se ter uma dimensão do tamanho da tragédia entre os Yanomami, basta comparar as taxas nacionais com os números encontrados na TI. Entre 2019 e 2020, últimos anos com dados disponíveis em nível nacional, a taxa de óbitos evitáveis de crianças com menos de 5 anos no Brasil foi cerca de 165 a cada 100 mil habitantes, de acordo com informações obtidas no DataSUS. Na TI Yanomami, no mesmo período, a taxa foi de 2.275 mortes a cada 100 mil habitantes. São  13,7 vezes mais crianças que perderam a vida, de acordo com os dados obtidos via LAI pela reportagem.

Garimpo e ausência do Estado são corresponsáveis pelas mortes

“Quando uma criança indígena morre, assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela”, disse o presidente eleito Lula (PT) em seu discurso de vitória após o segundo turno das eleições, em 30 de outubro. Na TI Yanomami, os mais de 20 mil garimpeiros “predadores do meio ambiente”, a ausência e a corrupção do poder público são apontados como os principais responsáveis pela morte de centenas de crianças indígenas anualmente.

A cada contato feito pela reportagem com fontes Yanomami ou ligadas ao território ao longo dos últimos meses, uma mesma situação se repetiu. Além de atualizações verbais sobre o cenário na TI, cada diálogo vinha acompanhado de novas fotos que reforçam o que está ocorrendo na TI Yanomami.

São imagens quase sempre de crianças, extremamente magras, com os ossos à mostra e a barriga inchada. Algumas delas, como M., mencionada no início deste texto, estão no colo de suas mães, à beira da morte. Outras fotos revelam postos de saúde extremamente precários, onde dezenas de famílias se amontoam em redes, à espera de atendimento médico.

Uma das imagens recebidas pela Pública não mostra nenhuma criança, mas sim uma página de um caderno com anotações. Enviada pela liderança indígena Fernando Yanomami, o registro traz o nome de dez comunidades da região do Palimiú, acompanhado do número de mortes por doenças, especialmente malária, ocorridas em cada uma delas. São 74, entre crianças e adultos. Não é possível saber se todos os óbitos computados foram contabilizados oficialmente.


Caderno de Fernando Yanomami, da região do Palimiú, traz informações sobre óbitos
em várias comunidades da região — Foto: Arquivo pessoal - Reprodução


Em conversa com a reportagem, Fernando destaca a comunidade de Haxiu, que lidera a lista de óbitos, com 17 mortes, e explica os motivos que levaram a aldeia a esse cenário. “Sem saúde, sem rádio, muito sofrimento lá. Tem garimpo, muito garimpo, invasão mesmo. Rio contaminado, sujo, lama, barro mesmo. Muito sujo. Morreram”, diz.

Para Júnior Hekurari, da Urihi Associação Yanomami, o que está ocorrendo é uma “crise humanitária”. “Fome, malária, todos os Yanomami com malária. E malária pega com fome, é morte certa. É muito triste. Eu já várias vezes clamei ao governo para ajudar, mas a ajuda não está conseguindo chegar nas comunidades. As comunidades estão sem medicamentos, não tem ação permanente [de saúde]”, afirma a liderança indígena.

Na visão do médico e pesquisador Paulo Basta, trata-se de “um estado permanente de crise ambiental, social, sanitária, sob o ponto de vista de violação de direitos”. “É uma crise que vem progredindo de maneira a colocar os Yanomami numa situação ainda de maior vulnerabilidade com o crescimento do garimpo nas terras indígenas”, explica Basta, um dos responsáveis por uma série de estudos sobre os Yanomami conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Unicef.

Para ele, a violência dos garimpeiros criou um clima de medo no território, fazendo com que a Sesai não mais coloque profissionais de saúde em áreas de conflito conflagrado, deixando os indígenas “abandonados à própria sorte” e tendo que recorrer aos garimpeiros quando têm alguma questão emergencial. 

“É claramente insuficiente o serviço de saúde prestado a essa população. A cobertura das unidades de saúde é baixa, a qualidade do atendimento é péssima. Não há infraestrutura local, não há medicamentos em quantidade e qualidade suficientes, não há insumos, não há equipamentos pra fazer procedimentos. Não há estrutura pra acolher pacientes com quadros graves, tampouco há estrutura pra fazer remoção desses pacientes pra unidades de saúde na cidade em tempo oportuno”, afirma o pesquisador.

Mortes por desnutrição na infância ocorrem 191 vezes mais que a média nacional

Em setembro de 2021, a Pública revelou que o índice de mortes por desnutrição na infância da TI Yanomami era o maior do país, com 24 mortes por desnutrição entre 2019 e 2020, na faixa etária de até 5 anos. Números atualizados mostram um cenário ainda pior: foram 29 óbitos, o que representa 7,7% do total de 374 mortes no país, mesmo com os Yanomami sendo cerca de 30 mil – apenas 0,013% da população brasileira.

Quando se considera o índice por 100 mil habitantes, as mortes por desnutrição na infância entre os Yanomami ocorreram 191 vezes mais do que a média nacional. A TI Yanomami contabiliza também pelo menos 14 crianças em 2021, ano que ainda não tem dados disponíveis em nível nacional.


Taxa de mortes evitáveis por 100 mil habitantes, entre crianças de 0 a 5 anos
- Foto: Bruno Fonseca/Agência Pública; dados: Ministério da Saúde - Reprodução

Além disso, em 2021, 56,51% das 4.245 crianças Yanomami acompanhadas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) tinham um quadro de desnutrição aguda (baixo ou baixíssimo peso para a idade). Em 20 dos 37 Polos Base do Dsei-Y, o índice era superior a 50%, chegando a 82,93% na região do Homoxi, uma das áreas onde o garimpo mais se expandiu nos últimos anos.

Os dados são ainda piores do que os apresentados pela Pública no ano passado, referentes a 2019, quando 54,32% das crianças Yanomami apresentavam desnutrição aguda, com o índice passando de 50% em 18 dos 37 Polos Base. A título de comparação, dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde mostram que, em 2021, 4,27% das 4,5 milhões de crianças menores de 5 anos no Brasil tinham um quadro de desnutrição aguda.

A tragédia se repete quando se analisam outras moléstias. As mortes de crianças por pneumonia no Brasil foram cerca de 2.400 entre 2019 e 2020, sendo que 78 delas eram Yanomami, o equivalente a 3,2% do total – tendência que se manteve em 2021, quando ao menos 46 crianças do território indígena morreram em decorrência da doença.

O índice é semelhante para mortes por diarreia: foram 26 em dois anos na TI Yanomami, 3,5% do total no Brasil. Os dados obtidos pela Pública mostram também que pelo menos oito crianças de 0 a 5 anos morreram por Covid-19 na TI Yanomami entre 2020 e 2021.

Saúde Yanomami teve fraude na compra de medicamentos

Uma série de fatos ocorridos nas últimas semanas traduzem as razões pelas quais a TI Yanomami continua apresentando alguns dos piores índices de saúde do país.

Em 30 de novembro, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) deflagraram a Operação Yoasi, visando combater um esquema de desvio de recursos públicos que deveriam ser destinados à compra de medicamentos para abastecer o Dsei-Y. 

A fraude, de acordo com as investigações, teria se iniciado em outubro do ano passado, quando a empresa Balme Empreendimentos Ltda. firmou contrato com o Dsei-Y para o fornecimento de 90 tipos de remédios. Ao longo do último ano, porém, foram entregues menos de 30% dos medicamentos contratados.

O esquema, que teria movimentado cerca de R$ 600 mil, envolve dois ex-coordenadores do Dsei Yanomami, Rômulo Pinheiro e o ex-vereador Ramsés Almeida da Silva, além de uma farmacêutica, um assessor de Ramsés e o empresário Roger Henrique Pimentel, dono da Balme Empreendimentos.

Entre os medicamentos afetados está o vermífugo albendazol, que é utilizado de maneira coletiva no tratamento de verminoses e que, por conta da fraude investigada, deixou de ser aplicado em mais de 10 mil crianças, de acordo com o MPF.

A falta desse e de outros fármacos já vinha sendo denunciada pelos Yanomami pelo menos desde julho, quando a Hutukara Associação Yanomami divulgou carta relatando casos extremos de verminose, inclusive com crianças expelindo vermes pela boca. Há inclusive registros visuais da situação. 

Além de vermífugos, as fontes relataram falta de antibióticos usados no tratamento de pneumonia e a necessidade do uso de remédios mais caros, com mais efeitos colaterais, para combater a malária. “No ano passado, foi feito um esforço tão grande pra formar o ‘kit covid’ e enfiar goela abaixo da população que hoje não tem cloroquina pra fazer tratamento de malária”, conta o médico e pesquisador Paulo Basta, que alerta para a possibilidade de desenvolvimento de resistência dos parasitas causadores da doença por conta do uso indiscriminado de medicamentos mais fortes.

De acordo com ele, os postos de saúde do território só não ficaram em situação pior graças à atuação de ONGs e da sociedade civil organizada, que fez vaquinhas para compra de medicamentos e outras ações de saúde na TI. 

No mesmo 30 de novembro em que foi realizada a Operação Yoasi, a PF e o Ibama deflagraram a terceira fase da “Operação Guardiões do Bioma”, que destruiu aviões e equipamentos utilizados por garimpeiros ilegais que atuam na TI Yanomami.

Em reação à operação, garimpeiros atearam fogo na Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) do Homoxi, que já está há mais de um ano fechada por causa de ameaças contra os profissionais de saúde que lá atendiam. Reportagem do Fantástico (TV Globo) que revelou a construção de 150 km de estradas clandestinas no território mostrou também imagens de uma nova operação contra garimpeiros, realizada em 7 de dezembro.

Também em 30 de outubro, o MPF em Roraima emitiu uma recomendação pedindo que o Ministério da Saúde nomeasse um interventor no Dsei-Y e que a Sesai criasse um grupo específico para acompanhar em tempo real a situação da saúde na TI Yanomami. No documento, o procurador da República Alisson Marugal destaca que, entre o começo de 2020 e a metade de 2022, foram empenhados mais de R$ 225 milhões na saúde Yanomami – o mais caro Dsei do Brasil –, sem que isso tenha se convertido em qualquer melhoria no atendimento de saúde dentro da TI.

Marugal já havia tomado outras medidas em relação à saúde dos Yanomami em anos anteriores. Em 2020, apresentou recomendação demandando que a Sesai voltasse a fornecer alimentação nos postos de saúde do Dsei-Y; diante da negativa do órgão, o procurador entrou com Ação Civil Pública (ACP), que não precisou prosperar porque a Sesai voltou atrás, abrindo licitação.

No ano seguinte, os MPF em Roraima e no Amazonas apresentaram recomendação conjunta demandando ações para melhoria dos serviços de saúde da TI. A despeito de a Sesai ter acatado parcialmente a recomendação, os indicadores de saúde do território indígena continuaram piorando.

A taxa de mortes evitáveis na faixa etária de 0 a 5 anos por 100 mil/habitantes na TI Yanomami foi calculada com base em uma estimativa de 6 mil crianças nessa faixa, o que vai ao encontro de dados de 2010 da Associação Hutukara, que fala em 20% da população tendo menos de 5 anos.

Fonte: revistagalileu


Em tempo!

Texto atualizado às 12:30 de 05/01/2023: Após revisão dos dados extraídos do DataSUS e obtidos via LAI, a reportagem precisou ser corrigida nos seguintes trechos:

– Onde estava “quase 10 vezes mais”, no título, houve alteração para “13 vezes mais”;
– No quarto parágrafo, o trecho “ao menos 429 crianças menores de 5 anos”, foi alterado para “ao menos 404 crianças menores de 5 anos”.
– Também no quarto parágrafo, o trecho “143 a cada ano”, foi alterado para “134 a cada ano”;
– No quinto parágrafo, onde estava “cerca de 260”, houve alteração para “cerca de 165”.
– Também houve alteração no quinto parágrafo de “a taxa foi de 2.400 mortes” para “a taxa foi de 2.275 mortes” e “9,2 vezes” para “13,7 vezes”;
– Por fim, houve correção dos dados no infográfico.

A versão acima já está com as informações corrigidas.

Atenciosamente,

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

VERGONHA! APROVADA PL DO + VENENO - Câmara aprova projeto que altera regras de registro de agrotóxicos

Foto: Reprodução
Entre outros pontos, a proposta centraliza no Ministério da Agricultura as tarefas de fiscalização e análise de pesticidas.

A Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (9) projeto de lei que fixa prazo para a obtenção de registro de agrotóxicos no Brasil; centraliza no Ministério da Agricultura as tarefas de fiscalização e análise desses produtos para uso agropecuário; e prevê a concessão de registro temporário se o prazo não for cumprido.

Devido às mudanças aprovadas pelos deputados, o Projeto de Lei 6299/02, do Senado, volta àquela Casa para nova votação.

O projeto foi aprovado na forma do substitutivo do relator, deputado Luiz Nishimori (PL-PR). Pelo texto, o prazo máximo para o registro varia de 30 dias (para pesquisa, por exemplo) a dois anos (produto novo ou matéria-prima nova).

Apesar de a Constituição Federal chamar esses produtos de "agrotóxicos", Nishimori muda o termo na lei para "pesticidas".

Quando usados em florestas e em ambientes hídricos, os agrotóxicos passam a ser chamados pelo projeto de "produtos de controle ambiental" e seu registro caberá ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Ministério do Meio Ambiente.

Os dois ministérios (Agricultura e Meio Ambiente) e o Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), continuam a emitir parecer para os procedimentos de registro ou mudança do agrotóxico, mas somente o órgão registrante (Ministério da Agricultura) poderá aplicar as penalidades e auditar empresas e institutos de pesquisa.

“Quem vai ganhar com este projeto é o consumidor final e a sociedade brasileira”, afirmou o relator. O projeto, no entanto, recebeu críticas de parlamentares da oposição, que o apelidaram de "PL do Veneno".

Membros da OCDE

Atualmente, devido à complexidade da análise dos riscos e à falta de testes em humanos, os pedidos podem demorar cerca de sete anos para terem um parecer definitivo.

Com o projeto de lei, caso o pedido de registro não tenha parecer conclusivo expedido no prazo de dois anos, o órgão registrante será obrigado a conceder um registro temporário (RT) para agrotóxico novo ou uma autorização temporária (AT) para aplicação de um produto existente em outra cultura para a qual não foi inicialmente indicado.

Para isso, basta que o produto em questão seja usado em pelo menos três países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que congrega 37 nações com diferentes níveis de exigências sobre o assunto.

Os países indicados devem adotar o código internacional de conduta para a gestão de pesticidas, formulado pela FAO, entidade relacionada à agricultura e alimentação ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). O código reúne normas de uso voluntário.

Os órgãos no Brasil terão três anos para se adaptar às novas regras.

Impugnação

O PL 6299/02 revoga totalmente a lei atual sobre agrotóxicos (Lei 7.802/89), mantendo alguns de seus dispositivos e revogando outros.

Um dos trechos revogados lista quais entidades podem pedir a impugnação ou cancelamento do registro de um produto sob argumento de prejuízos ao meio ambiente, à saúde humana e aos animais: entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor; partidos políticos com representação no Congresso Nacional; e entidades de defesa do consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais.

Embora a lei estabeleça que o processo de reavaliação deva ser concluído em 90 dias, o prazo, na prática, é bem maior. O glifosato, um dos mais usados no País, está sendo reavaliado desde 2008.

Na União Europeia, sua licença foi renovada, mas continua sendo questionada por instituições de saúde. A França determinou que o produto seja proibido a partir de 2022.

Tanto na Europa quanto no Japão e nos Estados Unidos existem reavaliações periódicas dos defensivos agrícolas de acordo com as novas pesquisas científicas disponíveis.

Registro proibido

A partir do conceito de risco inaceitável, classificado como aquele que está presente no produto mesmo com a implementação de medidas de gerenciamento de riscos, Nishimori exclui da legislação atual casos proibidos de registro de agrotóxicos, entre os quais de produtos que revelem características de induzir a deformação fetal, câncer ou mutações, distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor, sempre de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica.

Outras situações que deixam de ser proibidas na legislação brasileira se referem aos produtos para os quais o Brasil não disponha de antídotos ou de modos que impeçam os resíduos de provocar riscos ao meio ambiente e à saúde pública.


Luiz Nishimori, relator do projeto de lei - Foto Reprodução


O regulamento da lei atual determina que os testes, as provas e os estudos sobre mutação, câncer e deformação fetal devem ser realizados, no mínimo, em duas espécies animais com critérios aceitos por instituições técnico-científicas nacionais ou internacionais reconhecidas.

Essa restrição consta ainda da lei de criação da Anvisa (Lei 12.873/13) quanto à liberação emergencial de produtos em razão de estado de emergência fitossanitária ou zoossanitária.

Dessa forma, caberá ao órgão registrante avaliar o nível aceitável de risco do produto que se pretende registrar no País, sem limitações de ordem específica como as atuais.

Toxicidade

Acaba ainda, em relação à lei vigente, a limitação de se registrar apenas produto novo, com ação tóxica sobre o ser humano e o meio ambiente, que seja comprovadamente igual ou menor do que a daqueles já registrados para o mesmo fim.

Os parâmetros para essa avaliação são toxicidade; perigos relacionados à neurotoxicidade, malformação fetal, ação hormonal e comportamental e ação reprodutiva; persistência no ambiente; e bioacumulação (acumulação na cadeia alimentar).

Multas

Por outro lado, o texto aumenta os valores das multas passíveis de serem aplicadas pelo desrespeito da lei. Do máximo de R$ 20 mil elas passam para R$ 2 mil a R$ 2 milhões.

Os órgãos de registro e fiscalização definirão os valores proporcionalmente à gravidade da infração. As multas poderão ser cumulativas e em dobro na reincidência. No caso de infração continuada, a multa será diária até cessar sua causa, sem prejuízo da paralisação imediata da atividade ou de interdição.

Convênios poderão ser firmados com órgãos estaduais para a fiscalização, com repasse de parte do dinheiro das multas.

Quando a infração constituir crime ou lesão à Fazenda pública ou ao consumidor, cópia do auto de infração deverá ser enviada ao órgão competente para apuração das responsabilidades administrativa e penal.

Crimes

Dois crimes são definidos pela lei, com pena de reclusão. Continua com pena de 2 a 4 anos o crime de produzir, importar, comercializar ou dar destinação a resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos em descumprimento às exigências legais.

Entretanto, a pena não incidirá mais para os casos de transporte, aplicação ou prestação de serviço relacionados às embalagens.

Com pena de 3 a 9 anos de reclusão, um novo crime é estipulado: o de produzir, armazenar, transportar, importar, utilizar ou comercializar pesticidas, produtos de controle ambiental ou afins não registrados ou não autorizados.

Os agravantes variam de até 1/6 ao dobro em casos de gravidade como dano à propriedade alheia; dano ao meio ambiente; lesão corporal de natureza grave; ou morte.

Entretanto, acaba o crime de deixar de promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente por parte do empregador, do profissional responsável ou do prestador de serviço, que tinha pena de reclusão de 2 a 4 anos e de 1 a 3 anos se houvesse culpa.

Produto fitossanitário

Ao aceitar emenda de Plenário do deputado Neri Geller (PP-MT), o relator incluiu a dispensa de registro na produção de pesticida biológico para uso próprio apenas em lavouras próprias, em sistemas de produção orgânica ou convencional.

Para isso, a unidade própria de produção deverá ser cadastrada no órgão de agricultura, com indicação de responsável técnico; e o produto não poderá ser comercializado. Já o produto comercial usado para a multiplicação deve ter registro, proibidos agentes de controle biológico exótico ou sem ocorrência no País.

Agricultores familiares não precisarão cumprir essas regras.

Pontos rejeitados

Na votação em Plenário, foram rejeitados os destaques que tentavam alterar o texto do relator:

- destaque do PT pretendia retirar do texto os prazos fixos para a conclusão dos processos de registro de agrotóxicos;

- destaque do PT pretendia retirar do texto o registro temporário de produtos já em uso em pelo menos três países da OCDE;

- destaque do PT pretendia retirar do texto a aplicação do registro temporário se os prazos estipulados não forem cumpridos;

- emenda do deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) pretendia impedir o registro de agrotóxicos com substâncias que provoquem distúrbios hormonais e/ou danos ao sistema reprodutivo ou com características teratogênicas (mutação no feto), carcinogênicas (indução ao câncer) ou mutagênicas (indução de mutações genéticas);

- destaque do Psol pretendia retirar do texto a exclusividade do registro de agrotóxicos e sua fiscalização no Ministério da Agricultura;

- emenda do deputado Rodrigo Agostinho pretendia retirar do texto a necessidade de “fundamento científico” para que os estados, o Distrito Federal e os municípios possam legislar supletivamente sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos.

Fonte: Agência Câmara de Notícias




Votação do PL do Veneno (PL 6299/02): 301 SIM + 150 NÃO + 2 ABSTENÇÕES + 1 VOTO DO PRESIDENTE.



Partidos contrários

  • @PTnaCamara
  • @psbnacamara
  • @PDTnaCamara
  • @psolnacamara
  • @PCdoBnaCamara
  • @REDE_18

Em cima do muro

  • @podemos19
  • @23cidadania
  • @partidoverde

O resto quer + veneno!

Houve 47 SIM pela urgência que depois ou não votaram (31) ou mudaram de posição (16) e votaram NÃO.


Deputados maranhenses que votaram  a favor do projeto de lei 6.299/2002, “Lei do Veneno”, na Câmara Federal, que flexibiliza o uso de agrotóxicos

PASSARAM A BOIADA!

  1. Aluísio Mendes (PSC)
  2. André Fufuca (PP)
  3. Cleber Verde (Rep)
  4. Edilázio Jr. (PSD)
  5. Gastão Vieira (PROS)
  6. Hildo Rocha (MDB)
  7. Josimar Maranhãozinho (PL)
  8. Josivaldo JP (Pode)
  9. Júnior Lourenço (PL)
  10. Juscelino Filho (DEM)
  11. Marreca Filho (Patriotas)
  12. Pr. Gil (PL)
  13. Pedro Lucas Fernandes (PTB)




terça-feira, 17 de agosto de 2021

Biden defende retirada de tropas dos EUA do Afeganistão

Foto: Reprodução

Presidente acusou exército afegão de falta de vontade de lutar.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu com firmeza, na segunda-feira (16), a decisão de retirar as tropas norte-americanas do Afeganistão e rejeitou as amplas críticas à decisão, que gerou uma enorme crise para seu governo depois que o Talibã retomou o poder.

Biden disse que a missão dos Estados Unidos no Afeganistão nunca deveria ser de construção de uma nação, e culpou a relutância do Exército afegão em lutar contra o grupo militante pela volta do Talibã ao poder.

Milhares de civis desesperados para fugir do Afeganistão lotaram a única pista do aeroporto de Cabul nesta segunda-feira, depois que o Talibã tomou a capital, o que levou os Estados Unidos a suspenderem os voos de retiradas.

Cinco pessoas foram mortas no caos no aeroporto. Uma autoridade dos EUA disse à Reuters que dois homens armados foram mortos pelas forças dos EUA nas últimas 24 horas.

"Eu mantenho totalmente minha decisão", disse Biden. "Depois de 20 anos, aprendi da maneira mais difícil que nunca era um bom momento para retirar as forças dos EUA. É por isso que ainda estamos lá", afirmou.

"A verdade é: isso aconteceu mais rápido do que esperávamos. Então, o que aconteceu? Os líderes políticos do Afeganistão desistiram e fugiram do país. Os militares afegãos desistiram, às vezes sem tentar lutar", acrescentou.

Biden combinou sua defesa com um aviso aos líderes do Talibã : que a retirada dos EUA possa prosseguir desimpedida ou enfrentarão uma força devastadora.

Fonte: Ag. Brasil


quinta-feira, 23 de abril de 2020

Enterros em Manaus quadruplicam em relação ao normal e expõem abismo da subnotificação do coronavírus

Foto: Reprodução
A capital do Amazonas registrou 120 sepultamentos na última quarta-feira (22/04) - o quádruplo da média diária de 30 enterros registrados antes da pandemia do novo coronavírus, segundo a Prefeitura de Manaus.

Ausente do noticiário internacional desde a onda de incêndios florestais registrada no ano passado, a capital amazonense voltou a ser destaque em jornais e televisões do mundo todo nesta semana graças a imagens de dezenas de caixões enterrados lado a lado em enormes valas comuns, enquanto retroescavadeiras abriam espaço para mais corpos.

Segundo a prefeitura, as valas comuns, classificadas pelo município como "trincheiras", preservam "a identidade dos corpos e os laços familiares".

Além de chocarem, as imagens expõem uma conta que não fecha e preocupa autoridades de saúde.

Oficialmente, segundo dados divulgados pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, órgão da Secretaria de Saúde do Estado, Manaus teve apenas 7 mortes confirmadas ligadas ao novo coronavírus na quarta-feira.

Considerando estas 7 mortes, mais as 30 que aconteceriam diariamente por razões diversas na cidade em tempos normais, restariam mais de 80 cadáveres que fogem ao padrão registrado na cidade.

"A causa da morte não está sendo bem definida", reconheceu a prefeitura.

O nó da subnotificação vem se agravando em Manaus e nas principais capitais do país desde o fim de março, quando as mortes pela doença se aceleraram em todo o Brasil.

Estado tem 2ª pior taxa de incidência de casos na população
Foto: Reprodução

'Síndromes respiratórias'

Manaus é a cidade mais populosa da região amazônica, com uma população estimada em 2.182.763 pessoas, segundo o IBGE.

A cidade é a única em todo o estado do Amazonas - o maior do Brasil - com leitos de UTI.

Segundo a prefeitura, dos 120 sepultamentos desta quarta-feira, "apenas 7 foram notificados como covid-19 e outros 3 como suspeita".

"Desses, outros 30 enterros tiveram a causa morte desconhecida ou indeterminada, enquanto 43 foram por síndromes ou complicações respiratórias."

A tendência já aparecia na véspera (21/04).

De 136 sepultamentos, "39 tiveram como causa desconhecida, não especificada ou indeterminada", informou o município.

"Outras 47 foram por síndrome ou insuficiência respiratória."

É consenso entre médicos de todo o mundo que problemas respiratórios estão entre as complicações comuns associadas ao novo coronavírus.

Mortes em casa

À reportagem, a prefeitura de Manaus também destacou números preocupantes de pessoas morrendo em suas casas, longe de médicos ou aparato hospitalar.

Dos 120 mortos da última quarta, "23 foram de óbitos em domicílio", segundo dados oficiais.

O número equivale a aproximadamente 20% das mortes.

Na véspera, terça-feira (21), a porcentagem de óbitos domésticos foi maior: mais de 30%, de acordo com dados da prefeitura. Foram 136 sepultamentos, dos quais 42 por morte em domicílio.

"(Isso) aponta que muitas pessoas já estão indo a óbito sem atendimento médico e motivo pelo qual a causa da morte não está sendo bem definida", afirma a prefeitura em nota.

Mesmo sem considerar a subnotificação, o Amazonas tem a pior taxa de mortalidade do país: 45 óbitos por milhão de habitantes. Em seguida vêm Pernambuco e Rio de Janeiro, com 24 mortes para cada milhão.

Manaus também ocupa o topo quando o parâmetro são mortes registradas. "Entre as capitais, Manaus, Recife, São Paulo, Fortaleza e Rio de Janeiro apresentaram os maiores coeficientes de mortalidade", diz o Ministério da Saúde.

O estado também tem a pior taxa de incidência do novo coronavírus em todo o país - 521 casos por milhão de habitantes, segundo o boletim último do Ministério da Saúde (20/04) - algo em torno de 2,7 vezes a média nacional.

Faltam testes

Segundo o Ministério da Saúde, até 16 de abril, pouco mais de 8 mil testes laboratoriais para covid-19 haviam sido enviados ao Amazonas.

O total no Brasil era de 476.272 testes.

 Baixa testagem não permite saber real tamanho da epidemia local
e controlar contágios - Foto: Reprodução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) insiste que testes em massa estão entre as principais medidas de combate contra a pandemia.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que testar qualquer caso suspeito de covid-19, a doença causada por esse vírus, é essencial para identificar e isolar o máximo de pessoas infectadas e saber quem pode ter entrado em contato com elas para que se possa quebrar a cadeia de transmissão.

Na semana passada, médicos de Manaus relataram a dificuldade imposta pela falta de exames.

"São pessoas com suspeita de covid-19 contaminando todo mundo. A gente não sabe quem tem, quem não tem, porque até os exames estão em falta", disse uma profissional que atua em uma emergência da capital.

Fonte: BBC Brasil