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sexta-feira, 25 de junho de 2021

ENTREVISTA - Flávio Dino: Bolsonaro não vai conseguir, mas vai tentar golpe de Estado

Imagem: Reprodução

Em entrevista na quarta-feira (23) ao programa Ponto a Ponto, apresentado por Monica Bergamo e Antonio Lavareda na BandNews TV, Dino explicou crer que um eventual golpe teria apoio de determinados setores das Forças Armadas. Para o governador maranhense, o presidente da República busca deslegitimar instituições “por dentro”.

“A história brasileira, infelizmente, não autoriza um pensamento mais otimista quanto ao ethos legalista das Forças Armadas. Desde sempre, no Brasil, houve, infelizmente, essa presença exacerbada do fator militar na vida institucional civil, a chamada tutela militar”, argumentou.

“(Os militares) podem ser levados a uma aventura, sim. Não todas as Forças Armadas, todos os militares, mas setores podem, sim, aderir a este intento inconstitucional, golpista, a outros setores sociais que hoje são muito atraídos por essa visão belicista, militarista, que o Bolsonaro representa. Vejo um golpismo processual, que busca a deslegitimação das instituições por dentro, que pode - dependendo a conjuntura - levar até a uma tentativa aberta de golpe.”

Até aqui, segundo Dino, Bolsonaro protagonizou “um catálogo inesgotável” de crimes à frente da Presidência da República - em especial, ao acusar sem provas fraudes nas eleições de 2018. Segundo o governador, a lista de Bolsonaro inclui crimes de responsabilidade e improbidade administrativa.

O discurso faria parte, ainda de acordo com o governador, de uma tentativa de desorganizar o processo eleitoral. E, em última instância, tentar o já citado golpe de Estado.

“O Bolsonaro não pode ter uma disputa eleitoral em condições normais. Ele sabe disso (…). Qual é o objetivo disso? Ele não tem prova alguma (de fraudes eleitorais). O objetivo dele é apenas tumultuar para tentar vencer as eleições no grito, na marra, na violência. Ou, se perder, o que eu considero a hipótese mais provável, ter uma narrativa ou mesmo fazer uma virada de mesa”, afirmou.

“Ele vai ter um encontro marcado com vários tribunais ao longo dos próximos anos. Pela pandemia, por essas acusações, e pelo golpe de Estado que ele vai tentar fazer. Não vai conseguir, mas vai tentar”, acredita.


Veja entrevista

sábado, 19 de junho de 2021

‘O Brasil não está preparado para enfrentar um ataque cibernético. Nem de governos e nem de criminosos’

Foto: Reprodução

Especialista em defesa cibernética fala sobre aumento de invasões a sites públicos e desafios para as eleições de 2022.

Para Augusto Schmoisman, especialista em defesa cibernética e CEO da Citadel Brasil, falta consciência a respeito das consequências da falta de segurança básica na internet. “Hoje em dia você consegue quebrar a reputação de pessoas ou empresas de uma forma muito rápida”.

Entre os sites governamentais, o alerta é ainda mais urgente. O Ministério da Saúde, o TSE, o CNJ, o STJ e o TRF-1 são alguns dos que já foram alvos de invasões que provocaram desde a queda no sistema à exposição de dados sigilosos.

O mais recente ocorreu no site do Supremo Tribunal Federal e derrubou por algumas horas o sistema da corte. A investigação prosseguiu e culminou nesta terça-feira 8 na prisão de três suspeitos de envolvimento no caso. Para conter o avanço e regularizar a resposta legal em situações como essa foi criada a Lei Geral de Proteção de Dados, mas quais as expectativas de atuação a curto prazo com a nova legislação?

Confira na entrevista a seguir:

Diante da recorrência de ataques cibernéticos aos sites dos órgãos públicos brasileiros, quais diagnósticos você faz dessa situação? De forma geral, faltam ações de prevenção ou essas invasões de sistema são de fato de difícil controle? 

Augusto Schmoisman: O sistema brasileiro em relação à defesa cibernética, não é um sistema muito maduro, não somente passando pelo setor público mas que afeta também o setor privado. 

"Não é só um problema deste ou de outro governo, historicamente o País ficou para trás em base a essa necessidade. Precisa madurar no que se refere às questões de segurança. "

Os ataques estão acontecendo em todo mundo, tem alguns destaques mais agressivos e o Brasil não tem uma defesa cibernética à altura das suas necessidades. 

O que pode mudar nesse sentido com a LGPD? 

AS: É muito positivo no sentido que miramos em uma consciência digital.  Agora vale ressaltar que as medidas estão preocupadas no sentido da punição e não sobre a segurança, o Brasil não tem consciência sobre o risco em geral, como consequência não está tomando as medidas adequadas para uma defesa correta.

Creio que a partir de agosto com a aplicação das multas [da LGPD], vá se perceber que as medidas da parte legislativa está muito atrasada no que se diz respeito a realidade cibernética, porque são tempos muito distintos, o tempo tecnológico é muito mais rápido então para você atenuar as consequências [dos ataques], ter o marco legal e agir em determinada situação leva muito tempo. Agora a defesa é outro tema, as empresas estão mais preocupadas por ter um marco legal, do que pela segurança propriamente dita.

Quais seriam exemplos dessa lacuna temporal de atuação para a segurança cibernética?

AS: Bom, os Estados Unidos, a Europa e Israel estão mais avançados porque começaram há mais tempo. A LGPD, por exemplo, surge a partir de uma imposição da Europa e dos Estados Unidos para o Brasil. Isso foi o que pressionou a levar adiante um máximo de implementação, porque tanto nas empresas americanas, quanto europeias, as legislações são mais duras. 

E também quando a rede de proteção começou a atuar na Europa, a porcentagem de empresas que estavam realmente seguindo as normas, foi crescendo aos poucos, muitas por medo das multas e por medo de perder credibilidade. 

O sistema do TSE foi alvo de invasão nas eleições de 2020, à época foi explicado que o ataque não interferiu no resultado das eleições, mas olhando para 2022 o que precisa ser visto com mais atenção no que diz respeito aos ataques na web? 

AS: Veja, já deveria ter começado a trabalhar os cuidados, porque toda essa implementação leva bastante tempo, não é uma coisa que você compra rápido e implementa, precisa de tempo porque são processos internos muito específicos. Provavelmente será um período muito conflituoso nesse sentido [cibernético] por falta de segurança que pode gerar um roubo de informação.

Hoje em dia você consegue quebrar a reputação de pessoas ou empresas de uma forma muito rápida. Antigamente o acesso a tecnologia para fazer isso seria muito custoso e não tão fácil. Ou seja, a defesa deveria estar mais atenta, o Brasil não está  preparado por exemplo, para um ataque de governos externos e ciberneticamente nem contra organizações criminosas que atuam online. 

Fonte: cartacapital


sexta-feira, 19 de março de 2021

'Para vencer Bolsonaro, esquerda deve se unir ao centro', diz Flávio Dino

Foto: Reprodução
Governador do Maranhão afirma ser 'imperativo' uma união das forças políticas para impedir a reeleição do presidente.

Após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volte a disputar eleições, como consequência da anulação de suas condenações na Lava Jato, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), traçou o que considera o único cenário possível para vencer Jair Bolsonaro em 2022: "O centro democrático precisa estar junto para vencer a eleição. Se não der no primeiro turno, que seja no segundo."

Com boa articulação entre setores mais conservadores e liberais da sociedade, Dino disse ser "imperioso" a esquerda fazer esse movimento em direção ao centro político. "Não vejo Lula como um obstáculo para isso. Em primeiro lugar, porque ele já fez isso em 2002, quando se elegeu presidente com o José Alencar de vice, um empresário liberal que representava um sindicato patronal. E, segundo, porque já mostrou estar disposto a construir um projeto de nação que olhe para o futuro mais do que para o passado."

Entre os nomes que, segundo Dino, podem se aliar à esquerda num eventual segundo turno contra Bolsonaro estão os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), o apresentador Luciano Huck (sem partido) e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). O ex-juiz Sérgio Moro está fora da lista, segundo o governador maranhense. Veja principais trechos:

O senhor sempre defendeu que a esquerda fizesse um movimento ao centro na eleição de 2022 para impedir a reeleição de Bolsonaro. Isso é possível com Lula candidato?

Reafirmo que esse movimento de ampliação, no sentido de falarmos para além da esquerda, é imperativo. Para vencer Bolsonaro é preciso que nós façamos isso. E não vejo o Lula como obstáculo. Em primeiro lugar, porque ele já fez isso em 2002, quando se elegeu presidente com o José Alencar de vice, um empresário liberal que representava um sindicato patronal. E, segundo, porque já mostrou estar disposto a construir um projeto de nação que olhe para o futuro mais do que para o passado. O Brasil de 2022 não é igual ao Brasil de 2002, e espero que possamos estar juntos com o centro democrático para vencer a eleição. Se não der no primeiro turno, que seja no segundo.

O senhor acha possível, contra Bolsonaro, esses dois espectros - esquerda e centro - se unirem? Consegue ver o PSDB e o DEM, por exemplo, apoiando Lula num segundo turno ou vice-versa?

Já houve essa união antes. Em 1989, Mário Covas (ex-governador tucano) apoiou Lula contra Collor. Depois disso veio a polarização entre PT e PSDB, e essa aliança não foi mais possível. Já em 2018, ela deveria ter ocorrido em torno do nome de Fernando Haddad. Não ocorreu, e temos hoje a tragédia que é o governo Bolsonaro. Agora, nesta eleição, é o bolsonarismo que deve ser batido. Nós temos de nos unir por esse objetivo e acredito que, aos poucos, estamos cicatrizando as feridas de 2018. 

Há sinais de que isso possa ocorrer?

Todos os dias temos visto sinais. Veja o caso aqui do meu vice-governador, Carlos Brandão. Tinha sido obrigado a sair do PSDB por me apoiar e foi convidado agora a voltar e a comandar o partido no Maranhão. Essas alianças já ocorreram nas eleições municipais do ano passado. No Pará, por exemplo, Helder Barbalho (MDB) apoia o governo do PSOL em Belém. Em Fortaleza, Tasso Jereissati (PSDB) apoiou Sarto Nogueira (PDT). No Rio, todos votamos contra a reeleição de Marcelo Crivella (Republicanos). As coisas estão andando.

O senhor se refere sempre a "nós" quando fala de uma possível candidatura de Lula. Isso quer dizer que o senhor pessoalmente ou mesmo o PCdoB já fecharam com ele?

Quando me refiro a "nós" quero me referir a esse campo político social ao qual pertenço, que é menos partidário e mais progressista. Defendo lulismo, mas defendo o trabalhismo, todos juntos e com o centro liberal no segundo turno. Se eles passarem, nós apoiamos; se nós passarmos, eles vêm conosco. Não há outra maneira.

Muitas análises colocam Lula como o adversário ideal para o bolsonarismo. O senhor concorda?

Isso é um subterfúgio dos bolsonaristas, uma crença que tentam passar para frente. Ou, por acaso, alguém pode pensar que o Lula ou outro candidato do nosso campo possa ser um adversário fácil? No fundo, eles sabem que perdem para o campo democrático unido; Bolsonaro sabe disso. Vem dando sinais cada vez mais claros de que sabe também que a pandemia e a alta na inflação de preços estão corroendo sua popularidade. O povo não acompanha se as ações da Bolsa subiram ou se o câmbio variou. Mas sabe que os preços dos alimentos estão cada vez mais altos, assim como o litro da gasolina. Ai, o que faz Bolsonaro? Joga a culpa em seus ministros ou nos governadores. Nunca assume qualquer responsabilidade.

Mesmo antes de Lula recuperar a possibilidade de ser candidato, o senhor já conversava com esse centro que classifica como liberal. Quais são os nomes desse grupo hoje?

Acho que esse centro liberal tem um ou dois nomes. É da natureza das coisas haver um candidato nesse campo. Temos muitas diferenças programáticas, o campo deles e o nosso. O papel do Estado, por exemplo, é um deles. Mas, de fato, dialogo muito com muitos partidos. Falo com Luciano Huck, com Rodrigo Maia (DEM-RJ). Agora tenho falado bastante com o governador João Doria por causa da pandemia, e também com Eduardo Leite. Procuro sempre colocar que não podemos excluir pensamentos, mas extrair os melhores. Huck é um homem da mídia, não é um homem da política. Felipe Neto, a mesma coisa. Mas ambos são contrários ao Bolsonaro. Isso não é bom? Claro que é. Se estão dispostos a debater, melhor ainda.

O ex-juiz Ségio Moro está fora dessa lista?

Não tem ambiente para Moro na política. Ele é uma unanimidade negativa, não conheço mais de dez políticos que o apoiem para ser candidato. Nem sei se ele teria uma legenda para se lançar. Isso é o resultado do conjunto da obra. Ele teve acertos, reconheço, mas muitos erros. Não conheço todos os casos julgados por ele, mas, em relação a Lula, a parcialidade é muito clara. Acredito que o nome a ser apoiado pelo centro deva ficar entre Doria, Huck, Leite ou Mandetta. Sabe, não acho ruim o centro ter uma candidato; pelo contrário, até estimulo. Ter um centro forte é positivo para o Brasil. Ruim é Bolsonaro se reeleger.

Nesse contexto, onde Ciro Gomes se encaixa?

Sob o aspecto programático, certamente ele é mais próximo da esquerda. A visão dele de Brasil o coloca no nosso campo. Eu insisto que é errado excluir o PDT e uma liderança como Ciro Gomes desse processo. Até porque não o vejo como o candidato desse centro, como o candidato da Faria Lima. O ideal seria buscarmos uma aliança já no primeiro turno. Ciro já foi ministro de Lula, eu não fui. Não é possível que desse casamento só sobraram mágoas, tem que ter algum vestígio de amor ali.

E o Centrão? Acha que estará ao lado de Bolsonaro na eleição ou é ainda é cedo para afirmar isso? 

Acho que não dá para dizer que o Centrão vai com Bolsonaro, não. Esse grupo é pendular. O Centrão já esteve com o Lula, com o Michel Temer, com o Bolsonaro. Oscila de um lado para o outro. Para mim, essa turma vai se dividir, só atua em bloco no aspecto legislativo, não eleitoral.

Esse movimento de união dos governadores representa o ápice da atual crise federativa que vivemos? Acha que essa união deve permanecer até o fim do governo Bolsonaro?

Nesse dois primeiros anos de governo Bolsonaro, o que garantiu o mínimo de organização no País foi uma aliança entre os governadores, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Houve, de fato, uma forte atuação dos governadores, que encontrou guarda no Supremo. Foram várias as decisões que nos permitiram agir, especialmente na pandemia. O Congresso, sob Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, também foi muito importante ao assegurar o auxílio emergencial de R$ 600, por exemplo. Agora, muitas coisas são de competência da União. Somos uma federação, não uma confederação, é bom que se diga isso. Os governadores fazem muito, mas não podem fazer tudo. 

Fonte: ESTADÃO

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Medidas para evitar contágio precisam ser contínuas e não em fases, diz Teich

Foto: Reprodução

Tentando frear o avanço das transmissões pela Covid-19, onze estados e o Distrito Federal anunciaram medidas para restringir a circulação das pessoas.

Em entrevista à CNN na sexta-feira (26), o ex-ministro da Saúde Nelson Teich defendeu que as medidas de restrições dos governos sejam constantes e não em fases, com o objetivo de evitar novos casos de Covid-19 e o agravamento da pandemia.

“As pessoas ficam tentando adivinhar e interpretar, olhando o passado, e tentando dizer o que tinha que ter sido feito. Mas claramente temos que ter as medidas de distanciamento para evitar a transmissão, até por causa das variantes”, disse.

“Independente de qualquer situação, até que você possa liberar num futuro, as medidas de distanciamento, de estar em lugar mais aberto, da lavagem das mãos e do uso da máscara não tem hora para acabar. Tem que ser uma coisa contínua, e não em fase”.

No Brasil, mais de 250 mil brasileiros já morreram por causa do novo coronavírus. Tentando frear o avanço das transmissões, onze estados e o Distrito Federal anunciaram medidas para restringir a circulação das pessoas. São eles: Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Acre, Amazonas, São Paulo e o Distrito Federal.

Teich ainda afirmou ser inegável que estamos vivendo o pior momento da pandemia. 

“Nesse momento a gente tem duas coisas novas em relação ao ano passado: o aparecimento das variantes e as vacinas. Isso torna a situação um pouco mais complexa para trabalhar porque vamos ter que acompanhar como as variantes se espalham pelo país e qual vai ser a eficácia das diferentes vacinas em relação às variantes. É uma situação bastante delicada”, explicou.

Na avaliação do ex-ministro da Saúde, o agravamento da pandemia no país hoje está relacionado às variantes. "Não adianta interferir quando aquilo está totalmente espalhado, você só vai tratar o problema que já instalou. Então, nesse momento a gente vai ter que preparar o país inteiro para atender as pessoas que vão precisar de UTI, de oxigênio. Hoje [é preciso] avaliar a evolução [da Covid-19] em cada região. Se olhar a curva de Manaus e do Amazonas, é assustadora, é uma coisa completamente descolada de tudo o que aconteceu nesse país. E se você imaginar que isso é uma possibilidade para cada região do país, é realmente preocupante porque a chance de sobrecarregar o sistema é enorme.”

Fonte: CNN

sábado, 30 de janeiro de 2021

OITO PERGUNTAS PARA FLÁVIO DINO

Foto: Reprodução

Ao assumir o Consórcio da Amazônia Legal, o governador do Maranhão diz que percorrerá embaixadas para tentar desfazer o estrago causado pela política externa de Bolsonaro na agenda ambiental e aposta que o tema será decisivo nas eleições de 2022 — nas quais ele hesita sobre se lançar candidato.

1. Enquanto candidato, Joe Biden sugeriu que poderia impor sanções ao Brasil pela degradação da Floresta Amazônica. O consórcio quer buscar diálogo com o governo americano?

Sem dúvida! Temos um ambiente muito perigoso para o Brasil e para o interesse de nossa economia e de nossos produtores. Pode-se criar um cenário em que se conjuguem interesses diversos, todos convergindo na direção de impor sanções de algum modo a nosso país e nossos produtos. Isso é ainda mais preocupante tendo em vista que, em larga medida, a agricultura americana é concorrente da brasileira.

2. O mesmo se aplica à Europa?

Visitarei as embaixadas para sublinhar o interesse dos estados, sobretudo com a Alemanha e a Noruega, por conta do Fundo Amazônia. O foco número um é destravá-lo. O impasse (sobre o fim dos aportes ao Fundo Amazônia) deriva de uma premissa absolutamente equivocada da atual política externa brasileira segundo a qual é bom ficar isolado. O próprio chanceler usou a imagem de um pária internacional. Obviamente, em um mundo profundamente interconectado como o nosso, não existe espaço para modelos autárquicos, isolacionistas. Temos de procurar recuperar essa premissa. No lugar de se isolar, tem de procurar dialogar e convergir. Quando você se isola, você fica frágil e exposto, como está o Brasil na temática sanitária e ambiental.

3. O senhor defende uma nova economia amazônica. Qual seria a função do consórcio nesse processo?

O consórcio apresentou recentemente a um fundo de uma grande empresa brasileira vários projetos. Estou dando continuidade  para esses programas produtivos que sejam compatíveis com uma economia verde, que levem em conta a sustentabilidade. Isso seria feito por meio de edital. É objetivo do consórcio ter projetos bem-sucedidos que mostrem que, mais do que possível, é imprescindível viabilizar condições de sustentação econômica para as populações da região. Não se pode fazer apenas um discurso santuarista. Isso é incompatível com o fato de que existem pessoas que precisam comer e viver. É preciso buscar essa nova matriz econômica, aquilo que é mundialmente chamado de green new deal. O objetivo é fazer a ponte entre gestões estaduais, fundos de empresas privadas com esses projetos de economia real do povo da Amazônia, do extrativismo, turismo ambiental, da agroecologia, que permitam a convivência da produção com a própria floresta. Uma das propostas visa captar R$ 50 milhões, inicialmente.

4. O vice Hamilton Mourão integra essa estratégia?

O Bolsonaro tirou os governadores do Conselho da Amazônia e o Mourão reincluiu. O vice-presidente tem feito reuniões mensais com os governadores da Amazônia, sempre em um bom caminho de planejamento, diálogo e incorporação das ideias dos estados. Mourão é um interlocutor decisivo, mas não excluo o próprio Ricardo Salles (Meio Ambiente) e a Tereza Cristina (Agricultura). Temos na agenda da Tereza a proteção a nossa produção, o que envolve o combate ao desmatamento ilegal. Ela tem essa visão, acredito eu, e a imensa maioria dos produtores tem também, sobretudo em face dos riscos de sanções internacionais. É possível, sim, contar com aliados dentro do agronegócio, que querem produzir dentro da lei. No caso do Salles, esses temas passam por ele. A lei de pagamentos por serviços ambientais foi aprovada e sancionada. É algo que o consórcio cobrou ao longo de 2020. Claro que tenho críticas a todos os personagens que mencionei. Somos adversários ideológicos. Mas sempre trato essas coisas na institucionalidade.

5. A agenda da Amazônia terá peso na eleição de 2022?

A questão ambiental de um modo geral, não só a Amazônia. O governo Bolsonaro conseguiu ter três tragédias ambientais em dois anos, é um recordista. Houve o derramamento de óleo no Nordeste, incêndios no Pantanal e o desmatamento na Amazônia. É um dos passivos pelos quais o Bolsonaro responderá nas urnas em 2022 e perante a história, além do coronavírus. E terá peso eleitoral não apenas nos estados da Amazônia, mas nacionalmente.

6. O senhor vê as forças políticas se aglutinando em torno dessa agenda ou de uma candidatura capaz de fazer frente a Bolsonaro?

Tenho me empenhado por essa aglutinação. Às vezes, se você não organiza, a sociedade faz. O Rio não conseguiu fazer, mas São Paulo fez. Havia uma pluralidade de candidaturas e o povo convergiu na direção do (Guilherme) Boulos (PSOL) e o levou ao segundo turno. Nesse momento, se forma uma frente ampla em torno do Bruno Covas (PSDB) e ele ganha. Mas por que o Edmilson Rodrigues (PSOL) ganha em Belém? Porque teve o apoio inclusive do Helder Barbalho, governador do MDB. Por que meu colega (José) Sarto (PDT) venceu em Fortaleza? Porque tem o apoio do Tasso Jereissati (PSDB), PSOL, PT, todo mundo. Senão perdia para o Capitão Wagner (PROS). Deve-se em primeiro lugar aglutinar o máximo possível o campo da esquerda no primeiro turno. O ideal seria uma candidatura única. Se não for possível, que se chegue próximo a isso. E no segundo turno ampliar em direção aos liberais, do centro.

7. Hoje o governador João Doria tem ocupado o posto de principal adversário de Bolsonaro. Onde o senhor vê espaço para a esquerda?

Eu acho que eleição de 2022 muito provavelmente será uma disputa como na música de João Bosco e Aldir Blanc: Dois para lá, dois para cá. Dois candidatos mais do campo da esquerda e dois mais à direita. Não é o cenário que eu desejo. Defendo candidatura única. Mas é mais realista imaginar que serão dois-dois.

8. Ciro Gomes e Lula são nomes aventados à esquerda. O primeiro já concorreu três vezes e o segundo, defendido por setores do PT, não sabe se poderá ser candidato.Outros nomes podem emergir no campo da esquerda? O senhor gostaria de ser essa liderança?

Em meu caso, não me escalo. Sempre tem alguém que escala (meu nome). Se eu for mais um para criar divisão e eventualmente atrapalhar a ida da esquerda para o segundo turno, não me disponho a isso, seria uma incoerência de minha parte. Em nosso campo há nomes mais consolidados: o Ciro e o PT, de modo geral. Lula tem muito mais força eleitoral (entre os nomes do PT), mas o Haddad aparece bem nas pesquisas. O ideal seria juntar todo mundo.

Fonte: epoca

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Bolsonaro dará um golpe se puder, afirma Flávio Dino

Foto: Reprodução
Governador, ex-juiz, vê “acervo” de crimes do presidente, mas diz que debate sobre impeachment só ocorrerá depois da pandemia

Na linha de frente da oposição a Jair Bolsonaro, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirma haver no meio político a impressão generalizada de que o presidente “deseja turvar as águas brasileiras, por várias razões”, sendo a principal delas para “ocultar as suas carências administrativas escandalosas”. “Ele deseja águas turvas porque, se possível, não há dúvida que tentará algum empreendimento de face golpista”, enfatizou o maranhense, ao participar, ontem, da “Live” do Valor. “[Bolsonaro] é filho do ethos autoritário. Se puder, dará um golpe.”

O governador, que antes da pandemia vinha ocupando papel de destaque nas costuras políticas com lideranças de centro, diz ver com espanto a forma com a qual Bolsonaro hostiliza e sabota, inclusive promovendo aglomerações, a agenda do coronavírus. “Ele objetiva, de fato, desviar a atenção nacional deste drama, drama concreto, de centenas, de milhares de mortos todos os dias, sofrimentos nos lares, dos profissionais de saúde.” Essa postura do presidente, acrescenta Dino, faz com que questões administrativas cruciais sejam deixadas de lado, como a logística do pagamento do auxílio emergencial à população carente e informais, gerando filas intermináveis em frente a agências da Caixa Econômica Federal. “Ninguém cuidou disso. Bolsonaro tem que se ocupar da sua responsabilidade. Ele quer se desviar, mas tem que tratar do coronavírus. Ele é sócio do coronavírus.”

Segundo o governador, que teve uma carreira de juiz antes de entrar para a política, “do ponto de vista jurídico” não há dúvida de que há um “encontro marcado” com o debate sobre os crimes comuns e de responsabilidade cometidos por Bolsonaro. Mas isso só se dará mais adiante, reconhece. Dino afirmou que viu sim “provas contundentes” apresentadas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro contra o presidente, o que pode complicar sua situação política.

“Achei muito contundente [o depoimento de Moro]. O depoimento, do ponto de vista jurídico, já é uma prova, indício consistente. É um ex-juiz, um ex-ministro, apresentando uma versão gravíssima em que poderia, em tese, haver ocorrência de vários crimes, desde advocacia administrativa, prevaricação, eventualmente até obstrução à justiça. Isso se extrai muito facilmente na narrativa que o ex-ministro Sergio Moro fez. Além disso ele apresenta provas materiais, ou seja, provas de corroboração, aquelas que confirmam, documentalmente, a sua narrativa.”

Dino considera possível o andamento do inquérito no Supremo Tribunal Federal para apurar eventuais crimes e abuso de poder de Bolsonaro no caso que culminou na saída de Moro do governo, mas diz ser impossível que se avance, virtualmente, um debate sobre o impeachment. “Dada a gravidade do que Sergio Moro disse, e dadas as condutas que, mais do que de indiferença, são condutas ofensivas que o presidente tem adotado em relação à pandemia do coronavírus, temos um conjunto bastante expressivo que deve fazer com que, no período de cessação da pandemia, haja um debate jurídico e político diante deste acervo contundente de cometimento de atos ilícitos por parte do presidente.”

Por decisão judicial, prontamente acolhida pelo governador, o Maranhão está em “lockdown” em algumas regiões, com destaque para a capital, a ilha de São Luís, e parte da região metropolitana. O juiz que tomou a decisão do “lockdown”, Douglas de Melo Martins, está sendo ameaçado de morte. “Temos, infelizmente, em nível nacional, ainda uma tendência ascendente no que se refere à pandemia. No Maranhão, estamos com 5 mil casos. As semanas epidemiológicas mais complexas estão a se aproximar. Fizemos uma espécie de ‘lockdown’ profilático”, justificou. O fechamento mais radical da capital se estende até o dia 14, e poderá ser reavaliado. As escolas permanecerão fechadas pelo menos até 1º de junho no Estado.

Dino vê uma espécie de apagão de gestão no Ministério da Saúde, com lentidão de ações, mas não faz acusações ao atual ministro, Nelson Teich, nem a seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta. Diz que, com ambos, sempre foi possível exercer o diálogo e há cordialidade. Falta, no entanto, eficácia do ministério no combate ao coronavírus e grande parte do problema reside, na visão do governador, nas atitudes do “chefe”. “Nessas alturas, o ministro é vítima de um contexto muito difícil, em que o chefe da equipe não cuida do tema do coronavírus. Isso faz com que o trabalho de qualquer ministro da Saúde seja muito difícil. Você nota muito claramente que ele está tolhido, constrangido, pressionado. Aparentemente [Teich] tem conhecimento científico e sabe que as medidas preventivas são essenciais. E o presidente da República é visceralmente contra, não só em palavras, mas em ações.”

A seguir, os principais tópicos da conversa de 40 minutos:

Bolsonaro bonapartista

“Bolsonaro é filho do ethos autoritário. Se puder, dará um golpe. Ele não se conforma com o fato de não exercer um poder absolutista. Outro dia declarou: a Constituição sou eu. Ele resiste a todo tipo de decisão do Congresso, sobretudo do Supremo. Então se ele puder, ele atravessa aquela praça ali [dos Três Poderes]. Um dos filhos disse que bastaria um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Eles têm esse impulso autoritário. Ele pensa que exerce algum tipo de liderança bonapartista, de perfil autoritário.”

“Lockdown”

“Pressão econômica existe e é legítima, mas é preciso compatibilizá-la com os interesses da sociedade. Temos mantido atividades econômicas essenciais. Preservamos rodovias, portos, ferrovias, para não gerar danos de abastecimento. Temos sido cuidadosos, ponderados. A presença do empresariado é mais favorável do que desfavorável, até porque há decisão judicial e isso favorece o convencimento. A emergência sanitária legitima não a eliminação, mas a restrição a exercícios de direitos individuais. Às vezes a luta ideológica, o extremismo de direita faz com que raciocínios jurídicos fiquem distorcidos. Não tenho dúvida da constitucionalidade da medida.”

Auxílio emergencial

“Não fizemos ‘lockdown confinamento’. Foi ‘lockdown soft’, que fica num meio termo, porque mantivemos algum núcleo de serviços essenciais funcionando como os bancários. Organizamos aquilo que a Caixa Econômica não organizou. Contratei 200 bombeiros civis, mais o corpo de bombeiros militares e estamos organizando as filas da Caixa. Depois vamos cobrar os custos da Caixa. Sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, os bancos têm que cuidar disso. Estamos com equipes garantindo o fluxo da filas, segundo as normas sanitárias, e a total continuidade do pagamento.”

Ministério da Saúde e gestão

“Saímos de 232 leitos exclusivos para covid-19 e chegamos a 761. Triplicamos a rede estadual de atendimento. Nesta semana abriremos mais 150 leitos e a meta é chegar ao final de maio com 1.200 leitos exclusivos na rede estadual.  Infelizmente há muita dispersão de energia em função de crises políticas desnecessárias, causadas pelo próprio presidente, que atingiram o Ministério da Saúde. Tivemos a interrupção do trabalho. Por mais que tenha sido uma substituição rápida [do ministro], sempre é muito difícil fazer mudança de tripulação em pleno voo. Há realmente muita lentidão na atuação concreta. O Maranhão recebeu do ministério 20 kits de UTIs. Somos muito gratos, mas é uma contribuição muito modesta.”

Polêmica sobre respiradores

“No Brasil não houve a reconversão industrial. Nos EUA, a indústria automobilística está sendo mobilizada para fabricar respiradores, a indústria militar da Rússia fabricando respiradores... Esse processo deveria ter começado em janeiro no Brasil, e não começou. Isso criou uma alta dependência em relação ao internacional. Para o caso concreto do Maranhão [compra de 107 respiradores da China, passando pela Etiópia], além de não haver ajuda, ainda tentaram atrapalhar, com a equivocadíssima e escandalosa operação da Receita Federal, como se estivessem lidando com contrabandistas. Não houve nenhuma ilegalidade.

Impeachment para depois

“Só há uma circunstância em que pode mudar essa análise: se Bolsonaro for da palavra ao gesto, ou seja, se ele antecipar o desejo de algum tipo de ruptura institucional. Aí é óbvio que estaremos diante de situação inevitável de resistência. Se ele continuar com essa espécie de guerra fria, vamos cuidar do coronavírus, cobrar dele que cuide do coronavírus, e aí depois a gente trata desses problemas institucionais agudos que o Brasil atravessa.”

Articulação com forças de centro

“É possível e necessária. Não pode ter uma visão rígida em que não compreenda que diante de cada desafio você tem que ter uma flexibilidade, uma amplitude no diálogo. Temos o intuito de extrema direita, golpista no comando do país. Então precisamos de frentes de bom senso, que têm se formado no Parlamento, de forma geral. Tivemos o 1º de maio promovido pelas centrais sindicais, que eu tive a honra de participar ao lado do ex-presidente Lula, FHC, de lideranças de vários campos políticos. Esse é o certo para a conjuntura. É claro que a pandemia interrompe muito as conversas políticas. É normal que isso ocorra. No momento seguinte vamos retomar isso. Aliança eleitoral é outra questão para 2022. Não podemos confundir a atuação política conjunta com frente política. É uma frente do bom senso, contra a barbárie, contra o extremismo, contra o fascismo, contra o golpismo. Essa é a nossa emergência nacional, neste momento para proteger as instituições, defender a nossa nação e fazer com que a gente chegue até a eleição de 2022, que o calendário eleitoral seja mantido.”

Fonte: valor.globo






sexta-feira, 17 de abril de 2020

Flávio Dino diz que Bolsonaro nega pandemia por seu caráter fascista

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Em entrevista ao GGN, o governador do Maranhão diz que o presidente expressa “desejo pelo caos, desejo de produzir uma situação de anomia, desespero, medo, pânico, que inspira todos os fascismos desde sempre.”

Em entrevista exclusiva ao jornalista Luis Nassif, do GGN, o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), afirmou que Jair Bolsonaro tem um “objetivo” de caráter fascista por trás da negação da pandemia de coronavírus e da resistência ou lentidão na execução de medidas econômicas que podem mitigar os danos da crise.

Na visão de Dino, Bolsonaro expressa “desejo pelo caos, desejo de produzir uma situação de anomia, desespero, medo, pânico, que inspira todos os fascismos desde sempre.” O fascismo, disse o governador, “precisa do medo para fazer prevalecer suas teses autoritárias e violentas.”

“Acho que há, de fato, um conjunto de atitudes que prenunciam isso, esse desejo de produção de caos na sociedade brasileira. Seja pelo desprezo de uma situação sanitária obviamente grave – chamá-la de ‘gripezinha’ não é apenas irresponsabilidade, é algo criminoso – e, ao mesmo tempo, temos a negação da aplicabilidade rápida da renda básica do auxílio emergencial, exatamente para produzir desespero.”

Dino adicionou nesse contexto a “negação da equipe econômica, com base em dados infelizmente destituídos de base técnica, de proteger os serviços públicos estaduais e municipais”.

Na semana passada, a Câmara impôs uma derrota à equipe econômico de Paulo Guedes aprovando uma compensação a estados e municípios pela queda na arrecadação tributária durante os meses de isolamento. O projeto foi patrocinado por Rodrigo Maida. O impacto para a União seria de 89 bilhões de reais.

Segundo Dino, o governo tentou argumentar contra usando informações surreais. “Na Câmara, houve apresentação de dados absurdos, um cenário que me causa espanto, segundo o qual o projeto votado poderia ter impacto de 280 bilhões de reais.”

“Isso pressupõe uma coisa impossível, que seria zerar toda a arrecadação própria de estados e municípios durante 3 meses. Só há uma hipótese em que isso ocorreria: se não houve a compra de um único produto ou a prestação de um único serviço em 3 meses na sociedade. Ou seja, todas as pessoas morreram, aí não precisa Paulo Guedes se preocupar.”

Para Dino, a “sorte” é que “aos trancos e barrancos”, o Brasil teceu uma rede institucional forte, que envolve a imprensa tradicional e independente, setores do judiciário e do Ministério Público, os governadores e o próprio Congresso. “É esse cinturão que está evitando que os profetas do caos possam realizar seus intentos. Nosso objetivo é fazer o pacto do bom senso deter e derrotar o fascismo no Brasil.”

Fonte: Notícia dos Blogs






sexta-feira, 27 de março de 2020

Em entrevista à Rádio Timbira, governador Flávio Dino reforça medidas de combate ao coronavírus

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O governador Flávio Dino concedeu entrevista ao radialista Edivaldo Oliveira, no programa Comando da Manhã, da Rádio Timbira, na manhã de quinta-feira (26), com participação de pool de emissoras maranhenses. Na ocasião, o governador pontuou medidas adotadas pelo Governo do Estado para enfrentamento e combate ao novo coronavírus. Citou a ampliação do fechamento de escolas, flexibilização das atividades do comércio e reforço da rede de tratamento aos casos.

“Nesse momento de identificação crescente de novos casos, temos que manter atitude de distanciamento social como providência necessária para evitar curva rápida da doença, perdas humanas e sobrecarga dos profissionais da saúde”, reforçou Flávio Dino, iniciando a entrevista citando reunião de governadores com o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia. “Nesta reunião, reafirmamos união de todos em direção à manutenção das medidas preventivas”, pontuou.

Flávio Dino pontuou que a reunião foi “proveitosa para adoção de medidas compensatórias a serem tomadas, valendo para todo Brasil, a fim de amenizar os efeitos sociais desta pandemia”. Classificou de “fuga da responsabilidade” colocações do presidente da República e lembrou que “os instrumentos de política macroeconômica estão nas mãos do Governo Federal e este ente é que deve agir, não transferindo a responsabilidade aos Estados, quem não dispõem as atribuições legais, dispositivos jurídicos e recursos para agir”.

O governador destacou que o Maranhão foi beneficiado com medidas do Supremo Tribunal Federal (STF) com a suspensão da dívida dos estados por seis meses e garantia de autonomia aos estados e municípios para manter medidas restritivas no combate à pandemia. Lembrou que o Governo do Estado conseguiu na justiça o direito de monitoramento no Aeroporto Marechal Hugo da Cunha Machado.

A medida no aeroporto é para promoção de ações que venham proteger os maranhenses. Da mesma forma, a medida é aplicada no aeroporto de Imperatriz. “É uma medida que poucos estados estão tomando e que o Maranhão se antecipou e pôs em prática, como forma de proteção e identificação de casos”, disse o governador.

Sobre medidas do Governo do Estado para lidar com o cenário, Flávio Dino anunciou que deve ser ampliado o prazo de suspensão das atividades escolares públicas e privadas; e flexibilização do funcionamento do comércio. Vai editar Medida Provisória para zerar imposto sobre o álcool em gel e lembrou que “em casa, utilize água e sabão, que é tão ou mais eficaz que o álcool em gel, e nas ruas, utilize o álcool em gel”.

O governador frisou a importância de “adotar medidas preventivas para impedir avanço da doenças e mortes, então, precisamos fazer o distanciamento social para salvar vidas”.

Quanto ao abastecimento, Dino explicou que tomou medidas para reduzir circulação de pessoas, mantendo a circulação de cargas para que alimentos e medicamentos não tenham dificuldades para chegar. Aos caminhoneiros foi liberado um número exclusivo para comunicação direta com o Governo do Estado; aos artistas, edital para que possam atuar via internet, medida pioneira seguida por outros estados. Ações são pensadas para outros seguimentos como espaços de beleza e ambulantes.

Sobre as fake news, pontuou que “ninguém lucra nada com esta atitude” e que as redes oficiais do Governo estão informando com toda a clareza e transparência.

A infraestrutura preparada pelo Governo do Estado para lidar com o problema conta com leitos específicos; 800 respiradores adquiridos com apoio da iniciativa privada. “Temos uma rede preparada e em contínuo funcionamento para os casos que surgirem e aumentando ou diminuindo o nível de investimento, de acordo com a realidade que se apresentar”, enfatizou o governador.

Outras medidas incluem a preparação do Hospital HCI, no bairro Angelim, exclusivamente para tratamento de casos do coronavírus; repasse aos municípios para aquisição de equipamentos de proteção aos profissionais da saúde; e aquisição de mais 10 mil kits de testagem, a serem distribuídos às unidades regionais.

No Maranhão, até o momento, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou 10 casos da doença, todos com sintomas considerados leves e sendo tratados em isolamento domiciliar, informou o governador Flávio Dino, atualizando dados.

Sobre a vacinação contra a gripe H1N1, o governador Flávio Dino afirmou que há muitas doses disponíveis na rede de saúde, recebidas a partir de pedido ao Ministério da Saúde e que o cronograma de vacinação é organizado pelos municípios.

No encerramento, o governador Flávio Dino agradeceu à imprensa que realiza um trabalho sério para que todos se mantenham informados e esclarecidos; aos profissionais da saúde pela perseverança nesse cenário desafiador; e aos servidores e população maranhense pela confiança e apoio.

Fonte: ma.gov

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

'Luto para que Lula e Huck estejam juntos, ao menos no 2º turno', afirma Dino sobre 2022

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Escaldado com a eleição presidencial de 2018, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), não quer que a esquerda brasileira chegue ao pleito de 2022 isolada e tem trabalhado para construir uma aliança desse grupo com setores de "pensamentos liberais, mais pró-mercado".

Em janeiro, ele teve encontros, separadamente, com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e com o apresentador da Rede Globo Luciano Huck, que não é filiado a partido, mas participa de movimentos que buscam impulsionar novas lideranças políticas como Agora e Renova BR.

O governador também mantém diálogo frequente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

Em 2018, o PCdoB esteve unido com o PT na corrida presidencial, com Manuela D'Ávila concorrendo a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad. Para Dino, é preciso "extrair lições" dessa derrota, que evidenciou a dificuldade de vitória sem uma aliança mais ampla.

Seu desejo de juntar lideranças como Huck e Lula, no entanto, parece difícil de ser concretizado, já que o apresentador disse no segundo turno de 2018 que "no PT jamais votei e nunca vou votar", enquanto o petista tem adotado um discurso menos moderado que o que lhe permitiu vencer a eleição de 2002 e, recentemente, chegou a comparar a cobertura jornalística da Globo ao nazismo.

Apesar disso, Dino manteve seu tom otimista em entrevista à BBC News Brasil, argumentando que "as pessoas mudam".

"Eu espero e luto para que seja possível em 2022 uma articulação em que, se não no primeiro turno, mas pelo menos no segundo, todos estejam juntos. Eu acredito nisto", afirmou, após ser questionado sobre quem escolheria entre Lula e Huck.

O governador celebrou o fato do apresentador de TV estar se aproximando de agendas tradicionalmente apoiadas pela esquerda. Em artigo recente no jornal Folha de S.Paulo, Huck defendeu que o Estado brasileiro aumente os impostos sobre grupos de maior renda, amplie a rede de proteção social e priorize a educação pública.

"É preciso ser muito pequeno e não priorizar o país para achar negativo que outras pessoas migrem para posições mais próximas às nossas", afirmou.

"Acredito que o Brasil avançou quando, em outros momentos da vida do nosso país, nós fizemos alianças que envolveram a esquerda e setores que não pensam de acordo com nosso ideário, (com) pensamentos liberais, mais pró-mercado", ressaltou ainda, lembrando os governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Lula, este último eleito com um grande empresário como vice, José Alencar.


Confira a entrevista, concedida na quinta-feira (13/02), em que Dino responde também sobre a dificuldade em reduzir a miséria no Maranhão, seu apoio ao acordo com os Estados Unidos para viabilizar o uso comercial da Base de Alcântara, e o debate dentro do seu partido — o Partido Comunista do Brasil — para mudar de nome e reciclar sua imagem.

"Você não pode ficar preso a modelos, paradigmas, de dois séculos atrás e achar que isso dialoga com a realidade, até porque o mundo do trabalho hoje não é feito, graças a Deus, à base de foice e martelo", diz, em referência ao histórico símbolo do comunismo.
Fonte: BBC Brasil


sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Flávio Dino diz que a esquerda é mais próxima do Cristianismo do que outros segmentos da política

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Criticado pelo festival de nomeações de capelães na Polícia Militar do Maranhão, o que teria facilitado sua penetração no segmento evangélico, em 2018, o governador Flávio Dino (PCdoB), em entrevista ao portal UOL sugere uma maior aproximação dos partidos de esquerda dos templos protestantes e acusa, indiretamente, o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados de adotarem práticas anticristãs.  Segundo ele, a esquerda tem mais proximidade com o cristianismo, “do que segmentos que defendem a brutalidade, a barbárie, a venda de órgãos humanos, o nazismo, o assassinato de pessoas, a escravidão”.

Na entrevista, o governador defendeu a exoneração do ex-secretário da Cultura Roberto Alvim – “uma conquista civilizacional democrática importante” – e cobrou a demissão do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, que estaria recebendo, por meio de empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras e agências de publicidade contratadas.

“Se ele (Jair Bolsonaro) não agir, tenho plena convicção jurídica de que os órgãos de controle do Tribunal de Contas da União, Ministério Público, Poder Judiciário, vão ser chamados a decidir e, seguramente, vão aplicar a lei”.

Para vencer a eleição de 2022, Flávio Dino é a favor de que a esquerda agregue “não só filiados aos partidos, mas também pessoas que não têm identidade partidária, que é o principal desafio da esquerda”.

Sobre o papel de Lula nesse processo, afirmou que o ex-presidente é a maior liderança popular da vida brasileira.

Sobre sua entrada numa chapa encabeçada por Lula ou Fernando Haddad, disse que “está muito longe para discutir chapa para 2022, ainda não fui nem convidado. É desrespeitoso discutir chapa agora porque significa estabelecer uma linha de chegada, antes mesmo da partida, acaba excluindo pessoas. É hora de fazer com que a esquerda retome a iniciativa na sociedade”.

Flávio Dino chega a dizer que “nem na ditadura militar houve tanta destruição do direito dos mais pobres”. Dizendo-se “visceralmente crítico da ditadura militar”, disse que é preciso “conter isso (governo Bolsonaro), e não vai ser a esquerda sozinha, não vai ser o PT, ou qualquer outra liderança”.

Lula, de acordo com a interpretação do governador, em pesquisas recentes mostra que o ex-presidente teria todas as condições de ganhar uma eleição, se disputasse hoje contra qualquer candidato. “Daqui a pouco, a sociedade vai ver que os seus problemas não se referem aos desacertos que, infelizmente, ocorreram no passado de Dilma e Lula”.


Na entrevista ao UOL, Flávio Dino sinaliza que está mais inclinado a compor com Luciano Huck do que com Lula


Luciano – O governador disse ainda que prefere Luciano Huck dialogando com ele do que com Bolsonaro. “Se ele [Huck] está dialogando com outro campo, significa dizer que nós estamos alienando não apenas ele, mas afastando segmentos sociais que se sentem representados por ele”. Ele disse já ter convidado o apresentador para visitar o Maranhão, mas nega que tenha havido entre eles debate sobre 2022 “porque não tem sentido prático, temos uma estrada muito longa até lá”.

Indagado se entraria numa chapa com Huck, disse que “não posso descartar [a chapa com Huck], primeiro porque seria mal-educado da minha parte. Em segundo lugar, porque eu não sei exatamente para onde o conjunto de forças da esquerda vai caminhar.

Há preconceito por parte da esquerda em relação aos evangélicos? Quis saber dos entrevistadores. “Algumas pessoas da esquerda podem ter, mas é equivocado qualquer tipo de generalização. Como o mundo é plural, pode haver essa visão equivocada de afastamento de segmentos sociais.





Para quem está defendendo um projeto político nacional popular, a perspectiva não é de exclusão, a não ser da meia dúzia de 1% da população de multimilionários que defendem os seus privilégios e são contra políticas públicas para os mais pobres”.

Flávio Dino chega a colocar o ex-presidente Lula no rol dos seus adversários, ao ser perguntado reage aos que dizem “que não seria possível a eleição de um integrante do Partido Comunista do Brasil para presidente”, como frisou o ex-presidente numa entrevista à TV. Ele responde:  “Os mesmos que diziam que eu não posso concorrer à presidência pelo PCdoB são aqueles que achavam que eu jamais seria governador do Maranhão pelo PCdoB”.

Fonte: MAHOJE




terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Rubens Júnior defende gestão de Edivaldo: “FOI MARCADA POR HONESTIDADE E CONTAS EM DIA”

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Em entrevista ao programa Ponto Continuando, da Mais FM, na noite de sexta-feira (10), o secretário de Cidades e deputado federal licenciado, Rubens Júnior (PCdoB), avaliou a atual gestão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior. Ele destacou a honestidade e pulso na gestão das contas. “A gestão do prefeito Edivaldo não é marcada por corrupção. Além de ter saúde das contas, governando com pulso e com controle nesses aspectos”.

Segundo o secretário, o atual prefeito melhorou vários pontos da cidade, como o transporte coletivo. Ele também destacou a diversificação nos investimentos com a cultura. “Nunca houve tanta atenção para a cultura religiosa. Onde eventos do segmento são apoiados pela prefeitura. Também destaco que faltava condição, como agora, após conseguir um empréstimo, ele está mostrando que tem determinação para trabalhar e eu não tenho dificuldade em reconhecer esse legado”.

Rubens também lembrou a lealdade política de Edivaldo. “Desde as eleições de 2012, Edivaldo tem se mostrado muito leal ao governador Flávio Dino. Em 2014, a então governadora Roseana Sarney tentou de todas as formas comprar o prefeito, mas ele sempre marchou com Flávio Dino nos momentos bons e ruins”, disse Rubens ao destacar que o prefeito seguirá como aliado importante do governo nas eleições.





Trajetória e avaliações

Rubens, fez uma ampla avaliação do cenário político na capital e afirmou que, embora aliado e auxiliar do governador Flávio Dino, tem trajetória política própria.

“Não sou um poste do governador, sou um aliado dele desde 2006, ele foi meu professor e orientador de monografia e é o responsável pela minha escola de fazer política, um governo voltado para quem mais precisa”, disse.

Rubens também avaliou as pesquisas recentemente divulgadas e relembrou o cenário de quatro anos atrás.

“Veja o exemplo da eleição passada. Quem liderava a pesquisa era a hoje senadora Eliziane Gama. Depois ela deu a volta por cima se elegendo senadora, mas naquela eleição não chegou nem ao segundo turno, enquanto Braide tinha apenas 2% na semana da eleição. Neste momento o que mais importa é a pesquisa qualitativa e nossa disposição para fortalecer o diálogo com todos”, destacou.

Fonte: Notícia dos Blogs


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Década de rupturas: 'O Brasil precisa brigar menos e investir mais em educação', diz Jorge Paulo Lemann

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A educação e sua melhor forma de ser passada é a mais eficiente maneira de educar nossas crianças. Ondas de violência e desavenças políticas não levarão a nenhum resultado, o investidor Jorge Paulo Lemann, em uma entrevista cedida ao jornal O Globo, declarou que o Brasil briga demais. Briga-se muito na política. Isso é ruim. Esse clima todo de divergência impede a produção consensos. Não existe atalho para o país crescer no longo prazo se não for oferecer educação de qualidade às crianças.

Lemann disse ainda que todo mundo concorda que é preciso investir mais e melhor na educação, mas como fazer a decisão certa com tanta briga? País bom é onde as pessoas têm a mesma oportunidade. E a educação é a que gera oportunidade.

Questões ligadas às brigas políticas no país levam o investidor a duvidar de uma melhora social e econômica, ele frisa que não se mete em política partidária. Não influencia ninguém, não diz a ninguém como deve votar. Ressalta que a corrupção produz uma economia ineficiente, que acaba contaminando toda a sociedade.

Lemann declarou, a partir de seu ponto de vista sobre lição do fracasso, que não existe zona de conforto. É nos negócios, é no esporte, é na vida. Você não pode parar, não pode descuidar um minuto.

Através da Fundação com seu nome, Lemann criou projeto para replicar a experiência de Sobral, a cidade cearense de resultados acadêmicos consistentes, concede bolsas para servidores públicos e financia grupos de renovação na política.

Em duas raras entrevistas, em seu escritório em São Paulo, Lemann falou de política ao GLOBO. “Eu não influencio ninguém, não digo a ninguém como deve votar, não vou me meter em política partidária”.


Leia entrevista completa


Quais as lições para o Brasil desses últimos dez anos?

A de que a corrupção não funciona. Não estou nem falando apenas no sentido moral, porque é obvio, mas no sentido de resultado econômico. A corrupção distorce a competição entre as empresas e elimina a meritocracia. O  produto final, digamos uma estrada, passa a ser decidida pelo suborno pago, não pelo encurtamento da distância ou pela qualidade do asfalto ou o que seja. A corrupção produz uma economia ineficiente. Acaba contaminando toda a sociedade, todo o sistema econômico.

Qual lição o Brasil não aprendeu nesses dez anos?

O Brasil briga demais. Briga-se muito na política. Isso é ruim. Esse clima todo de divergência impede a produção de consensos. Todo mundo concorda que o Estado é ineficiente e perdulário, mas por que não é possível sentar e descobrir consensos básicos de como fazer o Estado entregar serviços públicos de maior qualidade? Todo mundo concorda que é preciso investir mais e melhor na educação, mas como fazer a decisão certa com tanta briga? O Brasil precisa brigar menos e investir mais em educação.

A elite brasileira, tanto política como empresarial, entende a importância da educação?

Não tem atalho para o Brasil crescer no longo prazo fora de oferecer uma educação de qualidade para todas as crianças. País bom é onde as pessoas têm a mesma oportunidade. É a educação é que gera oportunidade.   Nós temos que educar melhor  todas as nossas crianças brasileiras. A possibilidade de um país competir em um mundo moderno depende da educação que dá para suas crianças. Um país que educa bem vai progredir.

É possível que o Brasil nunca vire uma Singapura, mas já seria ótimo virar uma grande Sobral (cidade cearense com bons índices de educação).

O Brasil vale à pena?

Quer ver três coisas que funcionam bem no Brasil? A educação em Sobral, o vôlei do Bernardinho e Zé Roberto e a Ambev. São três exemplos brasileiríssimos de metas, cobranças e foco. Por que não podemos atingir esta excelência em todos os setores do País?

Os alunos das escolas públicas de Sobral disputam as olimpíadas mundiais de matemática, mostrando que é possível ter educação de qualidade em cidades pobres. Os técnicos Bernadinho e Zé Roberto ganharam várias  Olimpíadas e mundiais e mudaram a mentalidade do esporte brasileiro.

A Ambev começou como uma grande cervejaria brasileira e hoje é a maior do mundo (através da ABI, Anheuser-Busch InBev).

São três exemplos brasileiros de excelência mundial. Todos têm características parecidas: metas muito claras, medições constantes dos resultados, meritocracia e todos têm fanáticos que trabalham lá, gente que sonha grande, que prova que é possível.

Os três exemplos que o senhor deu lembram os mesmos eixos do que ficou conhecido como cultura da 3G, a companhia de private equity, na qual o senhor é sócio com o Marcel Telles e o Carlos Alberto Sicupira.

Sim, a nossa experiência tanto lá atrás no Garantia, como depois na 3G tem um peso. Trouxemos questões como metas e planos de meritocracia. Muitos executivos que trabalharam conosco, seguiram suas carreiras e levaram um pouco dessa cultura para outras empresas. Então pensando assim, sim, acho que ajudamos o sistema empresarial brasileiro a se aprimorar.

O senhor falou do que deu certo. O que da cultura 3G não funciona mais?

Viemos do mercado financeiro, nosso foco eram os resultados, nossa capacidade de cortar gastos e produzir com menos custos. A ABI produzia a melhor cerveja ao menor custo e  isso gerava um resultado final ao acionista. Isso deu muito certo por muito tempo, mas hoje é um momento diferente.

Como é esse momento diferente?

Vivíamos em um mundo no qual você podia apenas focar em ser mais eficiente e o resto estava dado. A cerveja de boa qualidade a um custo menor chegaria ao consumidor e tudo ficava bem. Só que as coisas mudaram, o comportamento do consumidor mudou e continua mudando.  Não basta ser eficiente dentro da fábrica.  Tem que ser eficiente compreendendo todas as mudanças na cabeça do consumidor. Eles querem produtos diferentes todos os dias, querem que seja entregue de uma forma mais fácil. Nós realmente temos que nos adaptar.

Essa mudança explica o fracasso da Kraft Heinz (grupo alimentício adquirido pela 3G em 2015)?

Quando compramos a Kraft Heinz, tentamos repetir o êxito da ABI, de fazer na indústria de alimentação o que fizemos no mundo da cerveja. Ser eficiente no controle de custos e manter a qualidade do produto. Só que isso não basta mais. O consumidor mudou e erramos ao não perceber isso a tempo. O sonho com Kraft Heinz não andou direito e agora estamos consertando. 

Qual a lição do fracasso?

Não existe zona de conforto. É nos negócios, é no esporte, é na vida. Você não pode parar, não pode descuidar um minuto. Nos especializamos em produzir, em cortar custos. Nunca fomos bons na aproximação com a clientela. Agora, estamos aprendendo.

Depois da crise da Kraft, senhor se definiu no ano passado como um dinossauro apavorado.

Eu já fui dinossauro apavorado, sim. Hoje eu continuo um dinossauro, mas um dinossauro que está aprendendo.





O que o senhor está aprendendo?

Estamos reestruturando nossas companhias e investindo em novos negócios. 

O que o senhor faria se estivesse começando sua carreira agora?

Se eu tivesse 20 e poucos anos iria passar dois anos no Vale do Silício ou em  Singapura, em um lugar de ponta de tecnologia. Iria aprender tudo o que eu pudesse e montaria meu próprio negócio.

Onde?

Eu voltaria ao Brasil. Aqui tem muita oportunidade.

Por que o empresariado brasileiro reclama tanto do Brasil?

Os outros países também têm confusão, tem briga politica, mas eles se unem para resolver alguns pontos. Tem vários países asiáticos mais pobres do que nós, mas que estão na nossa frente em termos de Educação. A Malásia, por exemplo, está atacando a questão da educação.

Como empresário, o senhor manteve uma posição politica discreta. Por que hoje está ajudando pessoas a entrar na política?

Quando eu era jovem, era o tempo dos militares, ninguém nem olhava a política. E eu queria ficar rico. Hoje, talvez eu me interessasse pela política.

Por que a Fundação Lemann entrou na política?

Não entramos na política partidária. Investir em educação não é uma questão de esquerda ou de direita. Vamos resolver, como é que resolve? Vamos fazer o prático. Provavelmente, isso é mais ou menos pelo meio, nem de esquerda nem de direita. Então, não estamos na política para eleger ninguém, mas para ajudar com a nossa experiência a produzirmos políticas públicas mais eficientes.

A Fundação concedeu 300 bolsas para jovens estudarem políticas públicas na Kennedy School,  Oxford e em Columbia para voltarem ao Brasil e preencherem funções publicas . Isso é importante. Apoiamos a Vetor Brasil, a ONG criada pela Joice Toyota, que ajuda prefeituras e governos de todos os partidos a contratar pessoas com os melhores critérios profissionais. É uma headhunter de graça para o serviço público. Na Fundação, chamamos o ex-prefeito de Sobral, Veveu Arruda, do PT, amigo dos irmãos Gomes, para montar um projeto para replicar a experiência de sucesso de Sobral em outras cidades brasileiras com menos de 200 mil habitantes. Estamos testando atualmente em 25 cidades com prefeitos de vários partidos que tem interesse no programa.  Se der certo, vamos fazer mais 250 cidades.

Hoje se fala em uma bancada Lemann no Congresso?

Isso não existe. Eu não influencio ninguém, não digo a ninguém como deve votar, não vou me meter em política partidária. Ajudamos os movimentos de renovação na política porque acreditamos que a política é importante. A minha intenção é ajudar em termos de consensos.

Como é o processo de escolha desses bolsistas?

São pessoas de todas os campos políticos, todas comprometidas com o bem público. Tem o Felipe Rigoni, a Tábata Amaral... Aliás, a Tábata está bem à minha esquerda no espectro político. Levei o Flávio Dino (governador do Maranhão, filiado ao PCdoB) para falar em Oxford, o Fernando Haddad (candidato presidencial do PT em 2018), o importante não é se o politico é de esquerda ou de direita, mas se ele dialoga.

O senhor acredita que esses movimentos de renovação vão um dia eleger um presidente da República?

A Tábata é jovem, tem 25 anos. O Eduardo Leite tem 34. Eles têm uma vida pela frente.


Fonte: soaluisdofuturo / via oglobo