quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Pessoas recebem transfusão de sangue feito em laboratório em estudo inédito

Imagem: Reprodução

Pesquisadores do Reino Unido fabricaram glóbulos vermelhos a partir de células-tronco com o intuito de auxiliar pacientes com tipos raros de sangue e portadores de distúrbios sanguíneos.

Pela primeira vez, cientistas transfundiram sangue criado em laboratório em voluntários em ensaio clínico controlado. Nomeado Restore, o experimento é uma iniciativa de pesquisa conjunta do Serviço Nacional de Saúde, Sangue e Transplante (NHSBT, sigla em inglês) e da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

As células sanguíneas foram cultivadas a partir de células-tronco de doadores e administradas em outras pessoas por meio de transfusão. Até o momento, dois participantes receberam o sangue em pequenas quantidades e seguem em observação para analisar como as células se comportam no organismo.

O objetivo do estudo é atender principalmente pessoas com tipos raros de sangue e aquelas com distúrbios sanguíneos, como anemias falciformes. Muitas vezes, quando o sangue não é compatível, naturalmente o corpo começa a rejeitá-lo, o que compromete o tratamento.

“Pacientes que precisam de transfusões de sangue regulares ou intermitentes podem desenvolver anticorpos contra grupos sanguíneos menores, o que torna mais difícil encontrar doadores de sangue que possam ser transfundidos sem o risco de uma reação potencialmente fatal”, diz Farrukh Shah, diretor médico de Transfusão de Sangue e Transplante do NHS, em nota.

Fabricando sangue

Os voluntários foram recrutados da base de doadores de sangue do NHSBT. Eles doaram sangue para o ensaio e as células-tronco foram separadas da amostra sanguínea. Essas células-tronco foram então cultivadas para produzir glóbulos vermelhos em um laboratório da Unidade de Terapias Avançadas do NHSBT em Bristol.

Os receptores do sangue, por sua vez, foram recrutados de membros saudáveis do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Cuidados (NIHR) BioResource.

A quantidade de células cultivadas em laboratório sendo infundidas varia, mas de acordo com o estudo, de 5 a 10 ml estão sendo utilizados, o equivalente a uma a duas colheres de chá. Duas pessoas já receberam a transfusão, porém o objetivo é alcançar a marca de 10 participantes.

Uma vez atingida essa quantidade, os cientistas irão intercalar tanto o sangue fabricado quanto o sangue natural, com um intervalo de quatro meses para descobrir se os glóbulos vermelhos jovens feitos em laboratório duram mais do que as células produzidas no corpo.



Se comprovadamente seguras e eficazes, as células sanguíneas de laboratório poderiam, com o tempo, revolucionar tratamentos. Isso porque esses glóbulos vermelhos são mais “frescos” do que aqueles que são doados e que normalmente têm células de idades diferentes.

Qualidade de vida

Se as células fabricadas durarem mais tempo no corpo, isso significa que os pacientes que normalmente necessitam de sangue regularmente podem não precisar de transfusões com tanta frequência.

“Esperamos que nossos glóbulos vermelhos cultivados em laboratório durem mais do que aqueles que vêm de doadores de sangue. Se o nosso ensaio for bem-sucedido, ajudará a transformar seus cuidados, já que as transfusões podem diminuir”, explica Cedric Ghevaert, pesquisador-chefe e professor de Medicina Transfusional e Consultor Hematologista da Universidade de Cambridge e do NHSBT.

Mas o laboratório não descarta as doações, já que a maior parte das transfusões depende de doadores voluntários. Segundo os pesquisadores, no futuro, as células fabricadas só poderiam ser usadas para um número muito pequeno de pacientes com necessidades de transfusões muito complexas.

Fonte: revistagalileu