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Estudo em Portugal sugere que o efeito da bebida não depende da cafeína, mas sim da experiência impulsionada por fatores como cheiro, sabor e expectativa psicológica.
Você não dispensa tomar um café logo cedo para ficar acordado? Pois saiba que o efeito da bebida pode ser apenas o de um placebo. É o que sugere um estudo publicado na quarta-feira (28) na revista Frontiers in Behavioral Neuroscience.
Pesquisadores da Universidade do Minho e da Universidade de Coimbra, em Portugal, e da Universidade Jaume, da Espanha, descobriram que o efeito do café não depende da cafeína, mas sim da experiência completa de tomar uma deliciosa xícara.
Os cientistas recrutaram para a pesquisa 47 portugueses que bebiam no mínimo uma xícara de café por dia. Eles pediram que os voluntários não comessem ou bebessem bebidas com cafeína pelo menos três horas antes do estudo.
Os pesquisadores entrevistaram os participantes para coletar dados sociodemográficos e, em seguida, fizeram duas breves ressonâncias magnéticas funcionais: uma antes e outra 30 minutos depois dos voluntários tomarem cafeína ou beberem uma xícara de café. Durante os exames cerebrais, as pessoas foram convidadas a relaxar e a deixar suas mentes vagarem.
Devido aos efeitos neuroquímicos do café, os cientistas esperavam que as ressonâncias mostrassem que os participantes que haviam tomado a bebida tivessem maior integração das redes ligadas ao córtex pré-frontal, associadas à memória executiva, e da rede de modo padrão, envolvida em processos de introspecção e autorreflexão.
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Mas, o que de fato ocorreu foi que a conectividade da rede de modo padrão diminuiu tanto depois das pessoas tomarem café quanto depois de ingerirem cafeína. Isso indica que consumir tanto a substância quanto o próprio café deixou as pessoas mais alertas.
Por outro lado, beber o café trouxe uma vantagem que tomar só a cafeína não trouxe: aumentou a conectividade na rede visual superior e na rede de controle executivo direito, partes do cérebro envolvidas na memória de trabalho, controle cognitivo e comportamento direcionado a objetivos.
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Ou seja, se você quer se sentir não apenas alerta, mas também pronto para o trabalho, a cafeína sozinha não resolve. É necessário ter a experiência de tomar uma xícara de café. Assim como em um placebo, o efeito psicológico também pode trazer benefícios, independente de não haver um impacto farmacológico significativo.
“Levando em conta que alguns dos efeitos que encontramos foram reproduzidos pela cafeína, poderíamos esperar que outras bebidas com essa substância compartilhassem alguns desses resultados”, observa Maria Picó-Pérez, primeira autora do estudo, em comunicado. “No entanto, outros efeitos eram específicos para o consumo de café, impulsionados por fatores como o cheiro e o sabor específicos da bebida ou a expectativa psicológica associada ao consumo dela.”
Apesar disso, a pesquisa não conseguiu diferenciar os efeitos da experiência isoladamente da experiência combinada com a cafeína. Existe também uma hipótese de que os benefícios relatados pelos voluntários possam ser devido ao alívio dos sintomas de abstinência, algo que o estudo não testou.
“Qualquer associação com processos psicológicos e cognitivos é interpretada com base na função comum atribuída às regiões e redes encontradas, mas isso não foi testado diretamente”, esclarece Nuno Sousa, autor correspondente do estudo e pesquisador da Universidade do Minho. “Além disso, pode haver diferenças individuais no metabolismo da cafeína entre os participantes que seriam interessantes de explorar no futuro.”
Fonte: revistagalileu