![]() |
Imagem: Reprodução |
Autora que mais vendeu livros no Brasil em 2021, escritora e fundadora da agência Lápis Raro falou sobre a importância da narrativa para um mundo em transformação.
“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca vão se conhecer. Nasceram em um lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores”. Esse trecho de Tudo é Rio, a primeira obra que escreveu, em 2014, mas que só faria sucesso – e entraria na lista dos livros mais vendidos do Brasil – em 2020, sinaliza a interpretação de Carla Madeira acerca das conexões humanas e, sobretudo, das histórias de cada um.
Para falar das narrativas e de seu poder para a sociedade e também para o ambiente dos negócios, a escritora participou do painel de encerramento da primeira edição do Women to Watch Summit, realizada na quarta-feira, 13, no Hotel Unique, em São Paulo.
Em conversa com a jornalista Cris Bartis, âncora do podcast Mamilos, Carla relatou como as narrativas e histórias humanas permeiam a sua vida em duas vertentes: como escritora e como líder da Lápis Raro, agência de publicidade fundada por ela, há 30 anos, em Belo Horizonte.
A história faz a humanidade
Carla não se define como autora de composição, ou seja, não constrói uma personalidade para cada um de seus personagens, atribuindo-lhes características físicas, psicológicas e sociais para, a partir daí, criar as narrativas. “Construo histórias com a ideia de praticidade. Aquilo que o sujeito faz, o faz como ser humanos. Contar histórias é se fazer humanos. E quanto mais histórias podemos viver e mais contar, mais chance temos de sermos humanos mais ricos”, declarou.
Essa visão que a escritora tem acerca das histórias também é compartilhado em sua atividade como publicitária. Ao longo dessas três décadas à frente da Lápis Raro, agência cujo board é composto essencialmente por mulheres, Carla Madeira conta que vem exercitando a perspectiva de que contar a história de uma marca não significa falar daquela empresa, e sim do mundo que ela deseja construir para viver junto com as pessoas, seus consumidores. Ela alerta que marcas fazem parte da vida e que por isso precisam estar atentas aos movimentos e vivências das pessoas ao redor para não pisarem na bola nos discursos e nas atitudes.
O perdão na literatura e na vida
![]() |
“Se a gente não incluir o erro e a imperfeição nunca entenderemos a condição humana”, diz Carla Madeira - Foto: Gustavo Scatena/Imagem Paulista - Reprodução |
Tudo é Rio, a primeira e mais conhecida de suas obras – ela também escreveu, posteriormente, os romances A Natureza da Mordida e Véspera – aborda essencialmente o posicionamento das pessoas acerca do perdão. Cris Bartis destacou o assunto ao questionar Carla a respeito de como lidar com as pessoas que, em um ambiente tão necessitado por mudanças urgentes, ainda não foram tocadas acerca da gravidade de determinadas ações e comportamentos. A escritora destacou que é preciso equilibrar a equação entre o trabalho da evolução pessoal de cada um e o investimento que fazemos na transformação social.
“Se a gente não incluir o erro e a imperfeição não entenderemos nunca a condição humana. Se colocamos as pessoas apenas naquele lugar de monstros, o que faremos com aquele indivíduo? Meus livros falam sobre atitudes imperdoáveis e questionam se é possível, de alguma maneira, perdoar coisas imperdoáveis. Eu acredito que as atitudes são imperdoáveis, mas as pessoas não são. Só o perdão tira o agredido das mãos do agressor e o coloca em um caminho de transformação”, acredita.
Sem exaustão
Conseguir provocar as movimentações que a sociedade tanto precisa para evoluir exige tempo, investimento e dedicação, como lembrou Cris. “Para quem está sofrendo, apanhando e sendo excluído, a mudança está acontecendo muito devagar. Não se trata de uma corrida de 100 metros e sim de uma maratona”, colocou a apresentadora do Mamilos.
Carla concordou e disse que as empresas têm papel fundamental nessa transformação, já que o dinheiro, com seu poder de impulsão, acaba fazendo as coisas acontecerem.
E para que essa jornada aconteça, segundo ela, não é possível dar vazão ao cansaço. “Temos que nos livrar da ideia de estar exaustos. Estamos sim, exaustos, mas não podemos parar porque a luta será longa. Queria, claro, transformação mais rápidas e mais consistentes, mas já vejo as coisas avançando de forma irreversível”, disse.
Fonte: meioemensagem