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Foto: Reprodução |
O presidente Jair Bolsonaro reclamou nesta segunda-feira (29), da atuação da OAB na investigação sobre Adélio Bispo, autor da facada no então candidato do PSL, em setembro de 2018. Em sua fala, Bolsonaro disse que poderia explicar ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, como o pai dele sumiu em fevereiro de 1974, durante a ditadura militar.
“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, disse o presidente.
Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira foi preso junto com seu amigo Eduardo Collier Filho por agentes do DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Ele era estudante de direito e funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo e integrante da Ação Popular Marxista-Leninista. Segundo relatório da Comissão da Verdade, Fernando tinha, na época, “emprego e endereço fixos e, portanto, não estava clandestino ou foragido dos órgãos de segurança”. A família de Fernando e do amigo tentaram, sem sucesso, descobrir o paradeiro dos dois.
No relatório da Comissão Nacional da Verdade, responsável por investigar casos de mortos e desaparecidos na ditadura, não há registro de que Fernando tenha participado da luta armada.
O documento, inclusive, ressalta que Fernando à época do seu desaparecimento “tinha emprego e endereço fixos e, portanto, não estava clandestino ou foragido dos órgãos de segurança”.
O texto da Comissão da Verdade também revela que a família escreveu cartas à primeira-dama dos Estados Unidos, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a dom Helder Câmara, entre outras pessoas influentes.
Repercussão
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse na segunda (29/7), repudiar declarações do presidente sobre o desaparecimento do pai do presidente da OAB.
Dino, que participava de uma reunião dos governadores do Nordeste em Salvador, classificou a fala do presidente como execrável, por “evocar um ato de tortura e desaparecimento”.
“É realmente impactante, chocante e execrável sob todos os aspectos a declaração sobre o presidente do Conselho Federal da OAB […] Um dano familiar tão grave não deve ser evocado por ninguém em nome de interesses políticos”, disse o governador.
Dino ainda afirmou que as declarações de Bolsonaro configuram “uma gravíssima agressão familiar e pessoal” e refletem um método adotado pelo mandatário. “Esperamos que o presidente abandone essa postura.”
Quem foi Fernando de Santa Cruz Oliveira
Militante da Ação Popular (AP), grupo marxista ligado à juventude católica fundado em 1962, o pai do atual presidente da OAB foi visto pela última vez por seus familiares em 23 de fevereiro de 1974, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade.
Fernando de Santa Cruz Oliveira havia saído de casa para encontrar um amigo de infância e havia dito à família que, caso não voltasse até as 18 horas daquele dia, “provavelmente teria sido preso”.
A Comissão Nacional da Verdade, criada pelo Estado para fazer um registro oficial dos crimes do regime militar, relata que Fernando e seu amigo – Eduardo Collier Filho, também militante contra a ditadura – provavelmente foram presos por agentes do DOI-Codi no Rio.
O relatório narra a partir daí o esforço dos familiares dos dois para descobrir, sem sucesso, o paradeiro de Fernando e Eduardo.
A mãe de Fernando chegou a ir ao quartel-general do 2º Exército, em São Paulo, quando recebeu a informação, de um agente do local, de que seu filho e Eduardo estavam naquelas dependências. Ao retornar, pouco dias depois, recebeu de outro funcionário uma informação diferente: a de que ocorrera um equívoco e que Fernando e Eduardo não estavam no 2º Exército.
Os familiares seguiram com as buscas, ainda de acordo com o relatório da Comissão Nacional da Verdade. Foram enviadas cartas ao comandante do 2º Exército e ao general Golbery do Couto e Silva, que em março de 1974 assumiu a chefia da Casa Civil do governo Ernesto Geisel.
Presidente da OAB vai ao STF
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Felipe Santa Cruz - Foto: Reprodução |
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que irá ingressar com uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente Jair Bolsonaro preste explicações sobre o paradeiro de seu pai, Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, que desapareceu em 1974, após ser preso por agentes da ditadura militar no Rio de Janeiro.
“Vou ao STF interpelar para que ele esclareça”, destacou Santa Cruz. O advogado da ação será o ex-presidente da OAB, Cezar Britto.
Santa Cruz já constituiu o advogado Cesar Brito para entrar com uma ação na STF “para que o presidente diga o que sabe” sobre a morte de Fernando Santa Cruz, ocorrida em março de 1974.
“O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão”, disse Santa Cruz em nota.
“Se o presidente sabe, por ‘vivência’, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber”, destaca o texto.
Fonte: SRZD