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terça-feira, 21 de novembro de 2023

Imposto Único, devolução de dinheiro e exceções: veja o que muda com a reforma tributária

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Alvo de tentativas de votação há quase 40 anos no Congresso, a reforma tributária tem como ponto central criar um novo modelo de tributação do comércio e dos serviços no Brasil. A proposta de emenda à Constituição finalmente avançou no Congresso nos últimos meses. Agora, deputados e senadores correm para tentar promulgar o texto ainda em 2023.

O principal objetivo da reforma tributária é simplificar os impostos no Brasil. Para isso, cria o chamado IVA dual, com a unificação de cinco impostos em dois na tributação de comércio e serviços. Atualmente, cinco tributos são cobrados na área de serviço e comércio:

  • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);
  • Programa de Integração Social (PIS);
  • Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins);
  • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); e
  • Imposto Sobre Serviços (ISS).

Com a reforma, serão criados a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) para substituir o IPI, PIS e Cofins, no âmbito federal; e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) para unir o ICMS e o ISS, com gestão dos estados e dos municípios.

Outro ponto central da PEC é que a cobrança de impostos passará a ser feita no destino da mercadoria ou serviço e não mais na origem. Com isso, a reforma tributária tenta acabar com a guerra fiscal entre os estados, no qual cada um dava benefícios fiscais para atrair investimentos para a sua região.

Conceitos básicos

Para entender o texto da PEC da reforma tributária, é necessário compreender alguns dos conceitos básicos, fundos e órgãos criados a partir do texto. São eles:

Exceções e regimes especiais

Um dos principais pontos para entender a reforma tributária é que, ainda que o novo sistema tributário estabeleça uma alíquota geral, alguns setores terão tratamento diferenciado. Os motivos são distintos, mas a passagem pelo Senado aumentou as exceções.

Os tratamentos diferenciados são criticados porque, com a alta de exceções, a alíquota geral aumenta. Ou seja, se um setor deixa de pagar parte do imposto, o público geral pagará um pouco mais para compensar. A alíquota será definida posteriormente, por meio de lei complementar. A expectativa, dentro do Ministério da Fazenda, é de que o novo imposto fique entre 25,45% a 27,5%.

 

Em um manifesto, 72 economistas e empresários criticaram o aumento de exceções na reforma tributária. “Reconhecemos que concessões são necessárias para viabilizar politicamente a aprovação da reforma, mas advertimos que, sob a perspectiva técnica, o limite razoável já foi atingido ou mesmo superado”, diz o documento.

A divulgação da carta foi feita antes da aprovação do relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AL) no Senado, em 8 de novembro. Ainda que com críticas, os economistas defenderam a aprovação do texto e a simplificação do sistema tributário. Leia aqui a íntegra do manifesto.

Segundo entidades do Fisco, ainda que a reforma tributária do consumo e de serviços seja fundamental para a economia brasileira, a mais importante é a reforma do Imposto de Renda. O texto deve ser enviado pelo governo Lula (PT) em até 90 dias depois da promulgação da PEC atual e já está em fase avançada no Ministério da Fazenda.

A reforma do IR deve avançar na ideia de justiça tributária, com os mais pobres pagando realmente menos impostos que os mais ricos. Ao menos esse é o discurso do governo e de defensores da proposta no Congresso.

Tramitação

Politicamente, um dos temas de mais atenção na reforma tributária é a data em que ela será transformada em emenda à Constituição, ou seja, promulgada.

O objetivo dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é promulgar a reforma ainda em 2023. A PEC também é prioridade para o governo federal.

Por causa disso, os congressistas discutem a possibilidade de fatiar a reforma. Depois da aprovação no Senado, o texto retorna para a Câmara. Se os deputados alterarem o texto, a PEC volta novamente para a análise dos senadores.

Como a reforma é uma PEC, é necessário que o texto aprovado nas duas Casas seja o mesmo. Ou seja, não há a possibilidade da Câmara alterar uma parte da proposta depois da revisão dos senadores e o resultado seguir para promulgação. Até que deputados e senadores concordem, não há chance de promulgação da reforma.

Lira já defendeu o fatiamento como uma forma de garantir a promulgação ainda este ano. Na última quinta-feira (16), Pacheco afirmou que irá conversar com Lira e pediu que Braga converse com o relator da Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), sobre o tema.

O governo já considera o fatiamento uma possibilidade. A ideia seria promulgar somente as partes em que há acordo entre a Câmara e o Senado. Em um segundo momento, os pontos de convergência seriam discutidos. O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), disse ao Congresso em Foco que não trabalha mais com o cenário do fatiamento nem de que o texto volte ao Senado.

“Chegou a ser aventado [o fatiamento], é verdade, até cogitei em um momento quando estava mais tortuoso. Mas tenho que cumprimentar o trabalho do senador Eduardo Braga [MDB-AM]. Nós estamos na expectativa de ter um bom texto, um texto unificado promulgado em dezembro”, declarou. “Se Aguinaldo Ribeiro quiser fazer ajustes de bom tom, o governo dá a missão como cumprida. O que o governo considera fundamental é nós chegarmos a um ponto em comum para promulgarmos o texto neste ano”, acrescentou.

Déficit zero só depende do Congresso, diz Randolfe Rodrigues


Fonte: congressoemfoco


sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Reforma tributária: a corrida para a pec ser aprovada em 2023

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Com a apresentação do relatório da reforma tributária na última semana, a expectativa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é de que a promulgação seja realizada ainda em 2023. Depois da entrega do relatório de Eduardo Braga (MDB-AM), o presidente do Senado se disse “muito otimista” sobre finalizar a reforma esse ano.

A ambição de promulgar a Proposta de Emenda à Constituição ainda em 2023 é dividida entre Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O governo Lula (PT) também coloca a reforma tributária como uma de suas prioridades para o fim de 2023.

O problema para essa intenção para os planos dos três presidentes de Poderes é o tempo.

Como a reforma é uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), é necessário que o texto aprovado nas duas Casas seja o mesmo. Ou seja, não há a possibilidade da Câmara alterar uma parte da PEC depois da revisão dos senadores e o resultado seguir para promulgação. Até que deputados e senadores concordem, não há chance de aprovação da reforma.

Para evitar as idas e voltas, os presidentes do Senado e da Câmara adotaram a estratégia de diálogo permanente entre Braga e o relator da reforma na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Os deputados aprovaram o texto em julho. Depois da definição de Braga como relator na Casa Alta, Pacheco reuniu ambos e pediu o diálogo constante.

Na última quarta-feira (1), Braga encontrou novamente com Aguinaldo, depois de uma série de encontros durante os últimos meses. Na última reunião, o autor da PEC da reforma tributária, Baleia Rossi (MDB-SP).

O encontro se deu faltando uma semana para a Comissão de Constituição e Justiça começar a votação da reforma. A sessão é prevista para terça-feira (7). Pacheco quer levar o texto para o plenário já na próxima quinta-feira (9).

O objetivo é chegar a um acordo sobre o texto em que os principais pontos já tenham a anuência dos líderes partidários da Câmara a fim de que, quando voltar aos deputados, a tramitação seja facilitada.

Ainda que os senadores consigam finalizar a votação na próxima semana, o que por si só já será um feito, restará menos de 2 meses para chegar ao texto final na Câmara e no Senado.

Além disso, o Congresso enfrentará uma pauta cheia para a análise. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda não foi votada. A discussão do Orçamento vem acompanhada de diferentes pautas econômicas para aumentar a arrecadação que são a prioridade do governo.

Reforma tributária

A reforma tributária unifica os impostos brasileiros. Atualmente, cinco tributos são cobrados na área de serviço e comércio:

  • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);
  • Programa de Integração Social (PIS);
  • Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins);
  • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); e
  • Imposto Sobre Serviços (ISS).

Com a reforma, serão criados a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) para substituir o IPI, PIS e Cofins, no âmbito federal; e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) para unir o ICMS e o ISS, com gestão dos Estados e dos municípios.

Essa reforma é focada no consumo. O governo e o Congresso defendem a reformulação como forma de simplificar, racionalizar e unificar a tributação. A expectativa é que com a redução da assim a burocracia, e incentivar o crescimento econômico.

A próxima etapa será a reforma tributária sobre a renda e o patrimônio. No entanto, ainda não há previsão de quando o texto será enviado pelo governo para o Congresso e quando começará a tramitar.

Fonte: congressoemfoco


quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Novas regras para empréstimos pessoais viram lei; veja principais mudanças

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Foi publicado na edição de terça-feira (31) do Diário Oficial da União o chamado Marco Legal das Garantias de Empréstimos. A lei, que entra em vigor hoje mesmo, estabelece novas regras relativas ao tratamento do crédito e das garantias concedidas em empréstimos. A medida é considerada importante pelo governo para destravar a concessão de crédito.

O texto amplia as formas do credor cobrar os bens dados como garantia pelo devedor em caso de empréstimo, como imóveis e veículos; além de permitir o uso de um mesmo bem em mais de um empréstimo, o que não era possível. Trata ainda de penhora, hipoteca ou transferência de imóvel para pagamentos de dívidas.

Um dos pontos que foi vetado, por ser considerado inconstitucional, é o que prevê a retomada sem autorização judicial de um veículo dado em garantia de um empréstimo.


“Em que pese a boa intenção do legislador, a proposição legislativa incorre em vício de inconstitucionalidade, visto que os dispositivos, ao criarem uma modalidade extrajudicial de busca e apreensão do bem móvel alienado fiduciariamente em garantia, acabaria por permitir a realização dessa medida coercitiva pelos tabelionatos de registro de títulos e documentos, sem que haja ordem judicial para tanto, o que violaria a cláusula de reserva de jurisdição e, ainda, poderia criar risco a direitos e garantias individuais, como os direitos ao devido processo legal e à inviolabilidade de domicílio, consagrados nos incisos XI e LIV do caput do art. 5º da Constituição”, alega o governo em sua justificativa.

 

Veja a íntegra do marco legal das garantias de empréstimos

O novo marco pretende regulamentar e desburocratizar os mecanismos para quem quer tomar empréstimos. A legislação determina ainda as formas de cobrança de garantias por vias extrajudiciais. Ela possibilita recuperar o crédito por meio de cartórios, que poderão intermediar a execução das dívidas junto dos devedores. O projeto cria ainda a figura do agente de garantia, que será designado pelo credor e atuará em seu benefício.

O texto aguardava sanção do presidente Lula desde 3 de outubro. A proposta original foi enviada ao Congresso no final de 2021 pelo então presidente Jair Bolsonaro. A principal mudança feita pelo Congresso foi a exclusão do serviço de gestão de garantias. Esse serviço faria a gestão dessas garantias e de seu risco, o registro nos cartórios no caso dos bens imóveis, a avaliação das garantias reais e pessoais, a venda dos bens se a dívida for executada e outros serviços.

Incentivo à renegociação

Outro dispositivo permite ao credor delegar ao tabelião a proposta de medidas de incentivo à renegociação, inclusive podendo receber o valor da dívida já protestada e indicar eventual critério de atualização desse valor. Se a dívida for liquidada dessa forma, caberá ao devedor arcar com os custos de emolumentos pelo registro do protesto e seu cancelamento, e demais despesas.

WhatsApp

O novo marco legal permite ao tabelião de protesto de qualquer tipo de dívida não paga enviar intimação para o devedor por meio de aplicativos de mensagem instantânea (Whatsapp, por exemplo). Essa intimação será considerada cumprida apenas com a funcionalidade de recebimento liberada na plataforma.

Prova de vida

Em relação aos cartórios, o marco muda a lei de registros públicos para permitir aos cartórios de registro civil das pessoas naturais emitirem certificados de vida, de estado civil e de domicílio físico ou eletrônico do interessado. Para isso, deverá haver um convênio com a instituição interessada e comunicação imediata e por meio eletrônico a ela da prova de vida atestada.

Mesmo credor

A proposta permite ainda ao devedor contrair novas dívidas com o mesmo credor da alienação fiduciária original, dentro do limite da sobra de garantia da operação inicial, contanto que seja no âmbito do Sistema Financeiro Nacional e nas operações com Empresas Simples de Crédito (ESC), que concedem empréstimo, financiamento e factoring (aquisição de direitos creditórios) exclusivamente para microempreendedores individuais (MEI), microempresas e empresas de pequeno porte.

O Congresso estipulou como exceção a essa regra do mesmo credor a escolha de outra instituição desde que ela seja integrante do mesmo sistema de crédito cooperativo da instituição credora da operação original. Por exemplo, se o valor garantido por um imóvel no primeiro empréstimo for de até R$ 100 mil e a dívida original for de R$ 20 mil, o devedor poderá tomar novo empréstimo junto ao mesmo credor em valor de até R$ 80 mil.

No entanto, não poderá haver operações garantidas pelo mesmo imóvel com outros credores; e todas as operações garantidas poderão ser transferidas pelo credor apenas conjuntamente e para um único novo titular.

Agente de garantia

O projeto cria ainda a figura do agente de garantia, que será designado pelos credores e atuará em nome próprio e em benefício dos credores. Ele poderá fazer o registro do gravame do bem, gerenciar os bens e executar a garantia, valendo-se inclusive da execução extrajudicial quando previsto na legislação especial aplicável à modalidade de garantia. Terá ainda poder de atuar em ações judiciais sobre o crédito garantido.

Esse agente poderá ser substituído a qualquer tempo por decisão do credor único ou dos titulares que representarem a maioria simples dos créditos garantidos. Após receber o valor da venda do bem dado em garantia, o agente deverá realizar o pagamento aos credores em dez dias úteis. Enquanto não for transferido para os credores, esse dinheiro constituirá patrimônio separado daquele do agente de garantia e não poderá responder por suas obrigações pelo período de até 180 dias.

Apesar de ser um representante dos credores, esse agente também poderá manter contratos com o devedor para pesquisar ofertas de crédito mais vantajosas entre os diversos fornecedores, ajudar nos procedimentos para a contratação de nova dívida para quitar a que está garantida ou oferecer serviços não vedados em lei.

Fonte: congressoemfoco - (Com informações das agências Brasil e Câmara)



terça-feira, 3 de outubro de 2023

Brasil precisa investir na indústria de semicondutores ou ficará para trás

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A crise sanitária provocada pela covid-19 escancarou a importância dos semicondutores e os impactos dessa indústria na economia global. Esses pequenos chips estão presentes no nosso dia a dia de diversas formas, desde celulares e computadores, até em itens como carros, cartões de banco e eletrodomésticos.

Com a falta de insumos tecnológicos, diversos segmentos tiveram que parar sua produção e aguardar a chegada de novos semicondutores, o que provocou um aumento expressivo na demanda por chips e escassez de inúmeros produtos em todo o globo.

Também ficou evidente no período uma concentração geográfica na produção de semicondutores. Segundo relatório da TrendForce, empresa de inteligência de mercado nas indústrias de tecnologia, a Ásia é responsável por 91% da capacidade de produção global de semicondutores. Dessa produção, 66% é concentrada unicamente em Taiwan. Portanto, ampliar a participação na cadeia produtiva de semicondutores é uma questão estratégica para qualquer país que queira reduzir a sua dependência externa para esses insumos essenciais.

Criado em 2007, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) promoveu avanços na indústria brasileira, mas ainda há um grande caminho para percorrer. Atualmente, o Brasil conta apenas com nove empresas no setor em manufatura, encapsulamento e teste (backend), e oito empresas de projeto de circuitos integrados (frontend), concentradas em sua maioria no Sul e Sudeste.]



Visando o desenvolvimento dessa indústria no país, a Intel realizou, em julho deste ano, o evento “Desafios e oportunidades para o desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil e no mundo”. As propostas apresentadas no encontro foram unificadas em uma carta aberta, que elenca os caminhos que o país deve seguir para ampliar a sua participação na indústria.

Entre os pontos discutidos estão a criação de uma estratégia de Estado que promova capacitação, retenção de talentos, pesquisa e desenvolvimento, incentivos fiscais e inovação tecnológica para a indústria de semicondutores; e a necessidade de mecanismos de apoio à exportação e a redução de encargos associados.


“Os semicondutores, para além de matéria-prima na produção de diversos equipamentos de tecnologia, são chave para a economia de dados. Desenvolver o setor é fundamental para mais autonomia e crescimento econômico do Brasil no século XXI. Apenas assim o país deterá uma posição de destaque na corrida global pela inovação”, conclui a carta.

 

Confira a íntegra da carta:

“Carta aberta pelo desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil

No cenário global atual, a tecnologia desempenha papel fundamental em diversas esferas da sociedade, sendo responsável por avanços significativos em áreas como comunicação, serviços e indústria em geral. Tal importância foi fortemente percebida no transcorrer da crise sanitária provocada pela pandemia do COVID-19. Vários segmentos produtivos sofreram com a descontinuidade no fornecimento de insumos críticos, a exemplo dos semicondutores. Os mais diversos setores produtivos foram afetados, desde a indústria da computação, passando pela automotiva e mesmo linha branca.

Passada a fase aguda da crise, países ao redor do mundo participam ativamente de uma grande e rápida corrida tecnológica em busca de maior resiliência em suas fontes de suprimentos e maior equilíbrio entre os diversos mercados fornecedores de insumos. O processo de globalização das últimas décadas do século XX gerou uma forte concentração de diversas indústrias na Ásia. Segundo relatório da TrendForce, empresa de inteligência de mercado nas indústrias de tecnologia, a Ásia é responsável por 91% da capacidade de produção global de semicondutores (foundries), sendo: 66% de Taiwan, 17% da Coreia do Sul e 8% da China – apenas uma empresa na Ásia detém 54% da produção mundial. Assim, qualquer evento crítico em poucos países asiáticos, com poder de interromper linhas de produção, tem efeito imediato em todo o globo.

A força da indústria de semicondutores pode ser vista através de seus números pós pandemia. Em 2022, segundo o Market Research Future, o mercado global de semicondutores movimentou US$ 574 bilhões, sendo: 30% em comunicações, 26% em informática, 14% em automóveis, 14% em bens de consumo, 14% em indústria e 2% em governo. Nos últimos dez anos, os semicondutores estiveram no centro das inovações tecnológicas, seu mercado dobrou de tamanho e os investimentos na indústria acompanharam esse movimento, gerando um dos ciclos de maior alta desde o desenvolvimento do primeiro circuito integrado.

Diante desse cenário, fica evidente que a participação na cadeia produtiva de semicondutores é uma questão estratégica para o Brasil. Mesmo com todos os avanços promovidos pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores – PADIS, criado em 2007, e com o entendimento da importância da indústria para a nova política industrial nacional, a participação do Brasil nas cadeias globais de semicondutores ainda é tímida. Hoje, o país conta com 9 empresas no setor em manufatura, encapsulamento e teste (backend), e 8 empresas de projeto de circuitos integrados, concentradas em sua maioria no Sul e Sudeste.

Não há operação significativa de manufatura no frontend da cadeia produtiva no país. Por ser uma fase muito mais complexa tecnicamente e cara, o frontend requer grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, mão de obra altamente especializada e infraestrutura de ponta. Dessa maneira, participar de forma competitiva do frontend da cadeia de semicondutores seria um grande desafio para o Brasil, principalmente considerando o avanço técnico no continente asiático e as limitações orçamentárias nacionais, que dificultam investimentos tão robustos quando os feitos por outros países.

No entanto, apesar da dificuldade de atuação no frontend da cadeia, o Brasil ocupa posição de liderança na América Latina e tem ainda boas oportunidades para ampliar sua participação na indústria. Em discussões realizadas no painel “Desafios e oportunidades para o desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil e no mundo”, organizado pela Intel, em julho deste ano, diversos palestrantes apresentaram caminhos para o desenvolvimento da indústria no país. Apresentamos a seguir nossas reflexões a partir do que foi exposto pelos debatedores e outros especialistas brasileiros que se dedicam a refletir sobre o tema:

  • Semicondutores como prioridade estratégica – Dada a criticidade do domínio das tecnologias associadas à tecnologia de semicondutores, é fundamental a existência de uma estratégia de Estado de longo prazo, coordenada entre os diversos ministérios relevantes, com prioridades e foco, que possam levar o país a uma posição de maior autonomia no setor, abordando – para além da manufatura – capacitação, retenção de talentos, pesquisa e desenvolvimento, incentivos fiscais e inovação tecnológica;
  • Inserção internacional – O ecossistema de semicondutores é, por sua própria escala, global. É fundamental atrelar os elos internos já existentes à dinâmica internacional, levando ganhos de competitividade e desempenho às própias empresas aqui instaladas. Nesse sentido, mecanismos de apoio à exportação, como financiamentos a operações com clientes internacionais, redução de encargos associados e mesmo eventuais subsídios, podem ajudar a robustecer nosso parque industrial, estimulando o adensamento da cadeia no país;
  • Parcerias – Considerando os diferentes níveis de especialização dos países, é interessante que o Brasil estabeleça parcerias com outros esforços nacionais e segmentos industriais complementares para se posicionar favoravelmente em relação aos investimentos estrangeiros implicados no rebalanceamento regional das cadeias de semicondutores. Essas parcerias podem ser para subsidiar investimentos, transferência direta de tecnologia ou apoio a estudos e pesquisas;
  • Fortalecimento do parque de backend – Mesmo sendo uma etapa onde o Brasil já atua de forma consolidada, ainda há espaço de expansão no mercado. Os Estados Unidos, por exemplo, têm apenas 5% do backend em seu território e vem tentando transferir o restante para países mais próximos e independentes das pressões da China, como o México, Costa Rica e Brasil;
  • Expansão da capacidade de projetos – Outro ativo nacional importante é a rede de desenvolvedores estabelecida. É importante a ampliação dessa rede, com formação de novos projetistas e engajamento das design houses locais em encomendas internacionais para sua efetiva inserção nas cadeias globais do segmento;
  • Insumos críticos – O país conta com matérias-primas importantes para a indústria de semicondutores. É importante o adequado mapeamento desses elementos e desenho de uma estratégia de exploração que busque uma maior agregação de valor.

Os semicondutores, para além de matéria-prima na produção de diversos equipamentos de tecnologia, são chave para a economia de dados.

Desenvolver o setor de semicondutores é fundamental para mais autonomia e crescimento econômico do Brasil no século XXI. Apenas assim o país deterá uma posição de destaque na corrida global pela inovação.

Fontes: Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (ABISEMI) • Market Research Future • Semiconductor Industry Association (SIA) • TrendForce • World Semiconductor Trade Statistics (WSTS)” - via congressoemfoco

INTEL A Intel é uma das principais fabricantes globais de semicondutores, manufaturando tanto seus próprios processadores como para terceiros. A Intel também desenvolve soluções em diferentes áreas para além de processadores, como memória, gráficos, segurança, computação em nuvem e conectividade - tanto 5G, como Wi-Fi. A empresa conta com mais de 120 mil funcionários em cerca de 50 países.


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Câmara adia urgência para minirreforma eleitoral

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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que o requerimento de urgência para o projeto de minirreforma eleitoral será votado em plenário na quarta-feira (13). O requerimento estava originalmente previsto para votação nesta terça, mas foi adiado junto ao projeto de lei que estabelece a taxação aos jogos de apostas.

A minirreforma eleitoral, segundo seu relator Rubens Pereira Júnior (PT-MA), tem por objetivo preencher até as eleições municipais de 2024 as principais lacunas que restaram após a reforma política de 2017, buscando reduzir os conflitos na Justiça Eleitoral. Apesar da intenção não envolver polêmicas, seu texto resultou em uma série de alertas entre entidades da sociedade civil.

Por um lado, o projeto facilita doações para campanhas eleitorais, regulamentando doações via Pix e permitindo valores menores do que os exigidos atualmente. Por outro, ela flexibiliza as normas de aplicação das cotas orçamentárias de raça e gênero em campanhas eleitorais, medida vista com preocupação por entidades da sociedade civil de defesa dos direitos das mulheres e da igualdade de gênero.

O projeto também elimina diversas exigências na prestação de contas por parte de candidatos, e altera a pena para a compra de votos, estabelecendo uma multa no lugar da cassação do mandato. Ele tramita paralelamente à PEC 9/2023, que anistia diversas irregularidades na aplicação do Fundo Eleitoral em 2022.

O texto inicial foi apresentado pela deputada Dani Cunha (União-RJ) durante a tarde ao Colégio de Líderes da Câmara. O projeto, porém, não foi oficialmente protocolado até o final da sessão, impossibilitando a votação da urgência.

Em seu lugar, a Câmara votou e aprovou em dois turnos a PEC 16/2021, vinda do Senado que permite com que brasileiros obtenham uma segunda cidadania sem perder a original, na prática legalizando a dupla cidadania. A proposta recebeu apoio de todos os partidos, e foi encaminhada à promulgação.

Fonte: congressoemfoco


"UM PASSO PARA TRÁS", diz Dimas Ramalho sobre REFORMA ELEITORAL



Segundo o conselheiro do TCE/SP, Dimas Ramalho, as mudanças não são razoáveis.

"É um passo pra trás em relação a Ficha Limpa, em relação às conquistas que o povo brasileiro teve", declarou Dimas.


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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Desfile de 7 de setembro reúne cerca de 30 mil pessoas em Brasília

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O tradicional desfile cívico-militar do 7 de setembro, em Brasília reuniu cerca de 30 mil pessoas na Esplanada dos Ministério em Brasília na quinta-feira (7). Principal evento comemorativo da Semana da Pátria, o desfile terá início às 9h, com previsão de durar 2 horas.

O presidente Lula (PT) participa do evento, e não deve se manifestar publicamente. Um forte esquema de segurança foi montado na Esplanada dos Ministérios, onde ocorre o desfile. O presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, acompanharam a cerimônia ao lado de Lula, na tribuna de honra. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), não acompanhou o desfile em Brasília.

São esperados cerca de 200 autoridades e convidados na tribuna de honra ao lado de Lula, entre ministros, chefes de poderes e representantes das Forças Armadas. No carro oficial, Lula estava com a faixa presidencial. A primeira dama, Janja, escolheu um vestido vermelho para a cerimônia. Durante parte do percurso, ela saudou o pública fazendo o “L” com a mão.

Em seu pronunciamento de comemoração para o Sete de Setembro, exibido em rede nacional na quarta-feira (6), os planos e resultados econômicos pautaram o discurso do presidente Lula. Iniciativas de seu governo, como a elaboração do Arcabouço Fiscal, o novo Programa de Aceleração do Crescimento e a retomada de políticas de preservação ambiental estiveram entre os temas principais de sua fala.

O pronunciamento, conforme previamente anunciado pelo governo, girou ao redor das palavras-chave “democracia, soberania e união”. Os dois primeiros tópicos foram abordados dentro de perspectivas econômicas.

A democracia foi descrita por Lula como “o direito de participar das discussões que impactam as vidas das pessoas”. O presidente citou como exemplos de exercícios democráticos de sua gestão a elaboração de um plano plurianual participativo, bem como o retorno de conferências nacionais e conselhos sociais para a construção coletiva de políticas públicas.

Fonte: congressoemfoco




sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Documentos revelam fazendas de Lira não declaradas à Justiça

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A legislação eleitoral exige desde 1997 que todo candidato apresente a declaração de bens e valores que compõem o seu patrimônio para concorrer a um mandato. Em tese, a exigência legal torna o processo mais transparente e coíbe o enriquecimento ilícito. Na prática, porém, a realidade é outra: muitos candidatos omitem da Justiça eleitoral imóveis e outras propriedades, impedindo o eleitor de fiscalizar sua evolução patrimonial e abrindo margem para eventuais questionamentos sobre a origem desses recursos.

Considerado atualmente um dos homens mais poderosos da República, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), era um deputado estadual quando pagou, entre 2004 e 2006, quase R$ 5 milhões (valor da época, ou cerca de R$ 16 milhões, em valor atual, conforme correção pelo IGP-M) por quatro fazendas em Pernambuco. Essas propriedades não constam da declaração de bens entregue por ele à Justiça eleitoral em 2006. Os bens declarados por Lira, na ocasião, somavam R$ 695.901,55 (valor da época).

Documentos obtidos pelo Congresso em Foco em buscas realizadas em Pernambuco e Alagoas revelam que ao menos R$ 3,7 milhões foram pagos em “moeda corrente” – termo utilizado pelos cartórios, segundo a Associação Nacional dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg), para se referir à moeda do país, no caso, o real. Não há especificação, nos papéis, se o montante foi pago em dinheiro vivo, cheque ou transferência bancária.


Questionado sobre o motivo de não ter declarado esses bens à Justiça eleitoral, Arthur Lira não retornou os contatos feitos com sua assessoria, antes da publicação desta reportagem. Publicada a matéria, a assessoria enviou nota na qual afirma que “todo o patrimônio do deputado Arthur Lira encontra-se devidamente declarado à Receita Federal e à Justiça eleitoral, fruto do sucesso na gestão de sua atividade agropecuária”.


site está impedido desde julho de veicular uma entrevista feita com a ex-esposa do deputado. Jullyene Lins, que foi casada com Lira entre 1996 e 2006, acusou o ex-marido de violência física e sexual. O texto foi retirado do ar por determinação do juiz Jayder Ramos de Araújo, da 10ª Vara Cível de Brasília, a pedido do presidente da Câmara. Lira tentou excluir conteúdo semelhante de outros veículos, mas teve o pedido negado. O parlamentar e Jullyene travam, desde a separação, uma guerra na Justiça.

Pantaneiro e Estrela

Comprada por R$ 1.901.554,82, a fazenda Pantaneiro foi quitada em cinco parcelas, segundo documento anexado em um processo em que Lira é réu ao qual a reportagem teve acesso. A primeira parcela foi paga em 19 de julho de 2004, no valor de R$ 679.000,00. A última, em 30 de julho de 2005, foi no valor de R$ 253.333,08, conforme recibo de pagamento em nome de Lira.

Antes mesmo de terminar de pagar pela Pantaneiro, o então deputado estadual fez outra aquisição: a fazenda Estrela. Um recibo registrado em cartório, que integra um dos processos em que Lira é réu – e que tramita em segredo de Justiça – mostra que a propriedade foi comprada por ele em 7 de julho de 2005. Pela fazenda, o parlamentar pagou R$ 1.084.000,00, de acordo com o documento, sendo que R$ 150 mil foram entregues no “ato do contrato”.

Uma das parcelas, no valor de R$ 300.000,00, foi quitada com a entrega de um apartamento. O imóvel foi comprado por Lira por meio de uma negociação feita com uma construtora em 31 de julho de 2003, conforme documentos assinados pelo parlamentar obtidos pela reportagem. Os apartamentos ficam no Edifício Mirai, erguido em área nobre de Maceió.

Taquari e Samambaia

O imóvel nunca apareceu nas declarações de bens do deputado à Justiça eleitoral, apesar de seu advogado à época, Fábio Ferrario, ter afirmado em processo que o apartamento fazia parte de um conjunto de oito unidades recebidas pelo então deputado estadual de uma construtora. Em 10 de abril de 2006, Lira adquiriu a Fazenda Taquari, em Pernambuco, por R$ 1.233.000,00. Uma das parcelas, também no valor de R$ 300 mil, foi quitada com a entrega de um dos apartamentos.

Um terceiro apartamento da construtora também foi usado para quitar parte de outra fazenda comprada pelo presidente da Câmara. Localizada em Quipapá (PE), a fazenda Samambaia teve a compra assinada por Lira em 14 de abril de 2006, apenas quatro dias após ele ter adquirido a Taquari no mesmo estado. Lavrado em cartório, o documento afirma que Lira pagou, “em moeda corrente”, R$ 300.000,00 no ato da assinatura do contrato: “Recebe, neste ato, das mãos do prometido comprador, em moeda corrente, a quantia de R$ 300.000,00. Que contou, achou certo e guardou, dando a este comprador (Arthur Lira), quitação irrevogável desse recebimento”.

Em um processo judicial no qual defendia Lira, Ferrario admitiu, em abril de 2007, que a fazenda Taquari pertencia ao deputado desde antes da eleição de 2006. “Esse imóvel, não se nega, foi indiscutivelmente adquirido pelo senhor Arthur Lira em 10 de abril de 2006”, afirmou o advogado na defesa. 

Ferrario é, desde julho de 2022, desembargador do Tribunal de Justiça de Alagoas. Ele ingressou no Tribunal de Justiça de Alagoas pelo critério do Quinto Constitucional, em vaga destinada à indicação feita pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL). Procurado pela reportagem, o desembargador disse que é impedido, legalmente, de se manifestar sobre processo por não exercer mais a advocacia.

 

Em um dos processos aos quais o Congresso em Foco teve acesso, o advogado também escreveu, em 2007, que a Samambaia pertencia, então, ao pai de Lira, Benedito de Lira. Ex-senador e ex-deputado federal, Benedito é hoje prefeito de Barra de São Miguel, na região metropolitana de Maceió.

Omissão da Justiça eleitoral

Embora tenham sido compradas antes da eleição de 2006, nenhuma das fazendas apareceu na declaração de bens entregue pelo então deputado estadual à Justiça eleitoral naquele ano. Delas, apenas a Taquari foi declarada – ainda assim, a partir de 2014, quando Lira se elegeu para o segundo mandato de deputado federal.

De acordo com o advogado e ex-juiz eleitoral Márlon Reis, a não declaração de bens por qualquer candidato poderia ensejar a abertura de processo por falsidade ideológica eleitoral. Mas, na prática, o jurista reconhece que essa não tem sido a postura da Justiça brasileira. A exigência de declaração patrimonial está prevista no artigo 350 do Código Eleitoral. “Ele fala de falsidade ideológica eleitoral, o que atinge todas as declarações falsas prestadas à Justiça eleitoral, o que inclui a intimação relativa aos bens”, explica Márlon. “Esse dispositivo, porém, nunca foi utilizado com essa finalidade, infelizmente”, lamenta.

Para ele, a legislação deveria exigir dos candidatos que declarassem à Justiça eleitoral todos os bens informados à Receita Federal, cujos dados hoje são protegidos por sigilo fiscal. “Não há multa prevista para quem deixa de declarar à Justiça eleitoral. Mas a não declaração desses bens à Receita pode ensejar problemas tributários para o candidato”, destaca o ex-juiz, um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa.

Operação Taturana

A passagem de Arthur Lira pela Assembleia Legislativa de Alagoas foi sacudida pela Operação Taturana, da Polícia Federal, em dezembro de 2007. Cerca de 20 deputados estaduais foram investigados, suspeitos de participar de uma quadrilha que se apropriava de recursos da casa através de sua folha de pagamentos, com a inclusão de funcionários fantasmas e laranjas. Os envolvidos também declaravam à Receita Federal retenções de imposto de renda em valores superiores aos efetivamente retidos, além de se beneficiarem das restituições do IR feitas aos falsos funcionários. As fraudes, segundo a PF, chegavam a R$ 300 milhões (valor da época) no período de cinco anos.

Quando a operação foi deflagrada, Lira já havia deixado o cargo de primeiro-secretário da Mesa Diretora. No capítulo dedicado ao deputado no processo, ele é apontado como um dos beneficiários do esquema de manipulação da folha de pagamento com descontos indevidos de cheques e obtenção fraudulenta de empréstimos consignados.

A Taturana rendeu duas condenações na esfera cível por improbidade administrativa a Lira, em primeira e segunda instância, em 2012 e 2016, respectivamente. Em abril deste ano, o ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), anulou as condenações, determinando que o processo voltasse à fase inicial em Alagoas. Segundo ele, Lira não foi devidamente comunicado no início da ação para que pudesse exercer o direito de defesa.

No último mês de julho, ele foi absolvido no processo criminal após a anulação da investigação sob a justificativa de que deveria ter sido realizada pela Justiça Estadual, e não pela Federal. A decisão foi do Tribunal de Justiça de Alagoas. O Ministério Público de Alagoas anunciou que vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.

De Alagoas para Brasília

Formado em direito pela Universidade Federal de Alagoas, Lira começou sua trajetória política em 1992, quando se elegeu vereador pela primeira vez, no rastro do pai, mais conhecido no estado como Bil de Lira. Em 1998, Arthur Lira se elegeu deputado estadual. Na Assembleia Legislativa foram três mandatos até chegar à Câmara, em fevereiro de 2011.

Na Casa, Lira herdou a vaga do pai, que assumia então um mandato de oito anos no Senado. Articulador habilidoso, chegou à presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante, e à liderança de seu partido. Com a derrocada do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), de quem era um dos aliados mais próximos, despontou como líder do Centrão, bloco partidário informal caracterizado por práticas fisiológicas e clientelistas. Nessa condição, virou aliado do então presidente Jair Bolsonaro e chegou à presidência da Câmara.

Com Lira no poder, Bolsonaro conseguiu escapar das denúncias de impeachment e aprovar projetos de interesse do governo, construindo uma base parlamentar. Ganhou um poder poucas vezes visto na República ao controlar o chamado orçamento secreto, direcionando recursos federais entre aliados. Decretada a derrota de Bolsonaro, telefonou no mesmo instante para o presidente eleito Lula, num gesto saudado por muitos como apreço democrático.

Naquele mesmo instante, no entanto, apresentava suas credenciais ao novo chefe do Executivo. Ajudou a aprovar, antes mesmo da posse, a chamada PEC da Transição, que permitiu ao novo presidente começar o mandato cumprindo promessas sociais. No papel de credor do governo, ganhou o apoio do Planalto em sua reeleição à Câmara. E, agora, vive uma queda de braço com o petista em torno da reforma ministerial e da pauta econômica pendente de votação.

Um dos principais críticos do presidente da Câmara, o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) vê com preocupação a relação do governo com o presidente da Câmara. “Lira é um chantagista geral da república. A opção do governo foi por um pacto de conciliação com ele. Só que quem inicia a chantagem, no caso o Lira, sempre quer mais espaço e poder. Se não colocam limites, ele nunca vai se sentir satisfeito com aquilo que recebeu de resposta positiva”, observa. “Ele se impõe também pelo medo, mas pelos recursos oriundos do poder que acumula”, acrescenta. Procurado pelo Congresso em Foco para comentar as declarações de Glauber, Lira não quis comentar as declarações do deputado fluminense.

ÍNTEGRA DA NOTA DE ARTHUR LIRA:

“Todo o patrimônio do deputado Arthur Lira encontra-se devidamente declarado à Receita Federal e à Justiça eleitoral, fruto do sucesso na gestão de sua atividade agropecuária.

No mais, alguns questionamentos se mostram improcedentes, requentados, vazados de ações em segredo de justiça, e já foram analisados pela Justiça competente, que deu ganho de causa ao deputado, inclusive determinando não mais sua veiculação em qualquer meio, por se tratar de assunto analisado e comprovadamente inverídico.

Além disso, a exposição de tais fatos só atentam contra a honra do deputado e ferem a decisão já proferida no Judiciário.

Assim, esperamos que mais essa decisão da Justiça seja cumprida.

Assessoria de Imprensa”


Nota da Redação – Esclarecemos que:
(1) A documentação obtida pela reportagem demonstra que Lira declarou à Justiça eleitoral apenas uma das quatro fazendas citadas. Mesmo assim, em 2014. Ou seja, cerca de uma década após sua aquisição.
(2) Até 2022, data em que entregou pela última vez uma declaração de bens à Justiça eleitoral, o deputado não tinha informado a propriedade das outras três fazendas.
(3) Teremos prazer em publicar os devidos documentos comprobatórios caso o parlamentar tenha regularizado tal situação posteriormente.
(4) Não há na matéria, ou nas práticas profissionais deste veículo, qualquer intenção de atentar contra a honra do presidente da Câmara ou de quem quer que seja. Tentamos apenas fazer jornalismo independente e de qualidade.
(5) Ignoramos qualquer ordem de censura prévia relacionada com os temas tratados na reportagem. O que nos chegou ao conhecimento foi uma ordem judicial de remoção de conteúdo, cumprida tão logo dela tomamos conhecimento.
(6) O Congresso em Foco renova, de público, o pedido de entrevista com Arthur Lira para aprofundar a apuração do assunto e prestar informações absolutamente corretas e precisas, como nos empenhamos a fazer há quase 20 anos.

Edição: Edson Sardinha e Carlos Lins
Artes: Thiago Freitas

Fonte: congressoemfoco


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