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Vacina, que teve como base o vírus da gripe espanhola de 1918, deve focar em estruturas do influenza que não se alteram com novas mutações. Entenda
A gripe afeta um bilhão de pessoas pelo mundo todos os anos. Desse total, algo entre três a cinco milhões desenvolvem formas graves da doença. O alto potencial do vírus influenza para acumular mutações faz com epidemias de gripe sejam anuais, tornando a gripe uma pedra no sapato de epidemiologistas. Mas, agora, cientistas deram um passo importante para a criação de uma vacina que diminua o caráter epidêmico da doença.
Pesquisadores da Oregon Health & Science University, nos Estados Unidos, trabalham em uma vacina universal única, que garante uma imunidade vitalícia. Em um novo estudo, publicado na sexta-feira (19) na revista Nature Communications, eles divulgaram resultados promissores com testes em animais.
A pesquisa se baseou em uma abordagem de vacina patenteada pela universidade, já usada nas etapas iniciais de criação de um imunizante contra o vírus influenza subtipo A (H5N1), mais conhecido por causar gripe aviária.
Contudo, na criação dessa vacina universal, o vírus empregado foi o da gripe espanhola de 1918, que infectou 500 milhões de pessoas – cerca de um quarto da população mundial na época.
Como a vacina foi produzida?
O método consiste em introduzir pequenas porções dos patógenos-alvo no vírus causador da herpes comum, conhecido como citomegalovírus (CMV). Esse patógeno infecta a maior parte da população em algum momento da vidas, e geralmente causa poucos ou nenhum sintoma. O CMV é utilizado para estimular uma resposta dos glóbulos brancos do próprio organismo, ativando o sistema imunológico.
Essa técnica é diferente das vacinas convencionais no mercado. Normalmente, elas utilizam a variante mais recente do vírus -- sendo necessária, portanto, uma atualização constante em sua formulação. “O problema com a gripe é que não é apenas um vírus”, afirmou Sacha. “Como o vírus SARS-CoV-2, ele está sempre evoluindo para uma próxima variante. Isso faz com que a gente fique sempre tentando perseguir onde o vírus estava, não onde ele estará.”
Os pesquisadores, então, elaboraram uma vacina baseada em CMV usando o vírus da gripe espanhola como modelo. Dessa forma, o imunizante desencadearia uma resposta imune que levasse em consideração a estrutura interna do vírus, que não muda com novas mutações.
Resultados promissores
Durante os testes, o grupo aplicou a vacina em primatas, para testar sua resposta imune ao vírus H5N1. Seis de 11 macacos imunizados sobreviveram à exposição ao H5N1. Em contraste, um grupo controle de seis cobaias -- não vacinadas e infectadas -- morreu por causa da doença.
“É emocionante porque, na maioria dos casos, esse tipo de pesquisa científica representa um avanço muito gradual para a ciência; em 20 anos, pode se tornar algo grande”, disse Jonah Sacha, pesquisador do Oregon National Primate Research Center envolvido no estudo, em comunicado. “A técnica pode realmente se tornar uma vacina em cinco anos ou menos.”
O estudo aproxima a ciência da possibilidade do desenvolvimento de uma vacina protetora contra o H5N1 -- derivada da gripe aviária. Desde 2020, uma variante extremamente virulenta do H5N1, chamada 2.3.4.4b, tem sido detectada em aves, além de, mais recentemente, mamíferos. Como você viu aqui na GALILEU, um funcionário que trabalhava em uma fazenda contaminada contraiu a infecção nos EUA, apresentando vermelhidão e conjuntivite. Contudo, apesar da identificação desse caso, não há evidência de transmissão entre humanos.
Fonte: revistagalileu