sábado, 23 de janeiro de 2021

Jovem brasileira é cofundadora do Latitud, projeto que quer criar rede latina de startups

Foto: Reprodução

Latitud fortalece conexão entre empreendedores da América Latina

Gina Gotthilf, de 34 anos, é brasileira, mas vive há mais de 15 anos nos Estados Unidos, onde estudou filosofia e neurociência na Universidade Brandeis, e chegou a ser vice-presidente de marketing e growth na Duolingo e integrou a equipe executiva. Neta de sobreviventes do Holocausto — que emigraram da Polônia e da Alemanha para o Brasil —, Gotthilf estudou em uma escola bilíngue no Morumbi, em São Paulo. Aos 18 anos, migrou para os EUA em busca de um leque maior de possibilidades de trabalho. 

Atualmente, ao lado de Brian Requarth, cofundador do marketplace de imóveis Viva Real, e Yuri Danilchenko, executivo da startup de compras inteligente Escale, Gotthilf é cofundadora da rede de empreendedorismo Latitud. O projeto fornece mentorias a startups latino-americanas e ajuda na conexão de empreendedores da região. 

Em entrevista a Folha de São Paulo, Gotthilf explicou que a ideia surgiu durante um curso que fez com Brian no Vale do Silício, quando os dois se perguntaram quais motivos, além do capital, faziam com que menos startups unicórnios — aquelas cujo valor de mercado ultrapassa US$ 1 bilhão — saíssem da América Latina do que do Vale. 

Segundo Gotthilf, latinos entendem e pensam em problemas de escala global. Problemas que pessoas do Vale nem imaginam que existem. Só que estão desenvolvendo soluções para cada país. O Latitud vem como uma forma de unir essas pessoas e criar uma rede para fortalecer e aumentar a chance de que grandes startups surjam da região.

O projeto da Latitud já recebeu a primeira turma com aproximadamente 100 empreendedores latinos que, por um mês, tiveram mentoria virtual gratuita com tutores de diversos países. A segunda turma já tem data definida para começar a receber mentoria. Em 1º de fevereiro, 50 empreendedores embarcam nas formações da Latitud. 

Para Gotthilf, o maior problema para iniciar startups em países emergentes, como os latino-americanos, é a falta de acesso a mentoria e dicas de quem já criou ou trabalhou em startups que deram muito certo, uma vez que a maioria das startups de sucesso estão fora desses países e a maior parte dos funcionários não fala português ou espanhol. 

Outro desafio é o acesso à capital. Não só porque existe menos capital sendo investido em startups no Brasil do que nos Estados Unidos, por exemplo, mas também porque a maioria dos empreendedores não têm a oportunidade de conversar com investidores e outros empreendedores para receber dicas de como fazer um pitch. De acordo com ela, o mundo de investidores ainda é bastante fechado para “insiders”. 

Também falta uma comunidade de empreendedores para trocar conhecimentos, além de fornecer apoio já que a jornada é difícil e solitária.

Segundo ela, empreendedores na América Latina têm muitos obstáculos parecidos: burocracia, problemas de infraestrutura, ter que começar muito mais “do zero” para solucionar problemas comparado a startups americanas, ou acesso limitado aos melhores conteúdos por conta da falta de conhecimento do inglês ou até porque cursos nos EUA são caros demais pra quem ganha em real ou peso. 

Outra similaridade é a tendência de olhar muito para o próprio país como mercado, em vez de enxergar necessidades similares em outras partes do mundo. Apesar de nos EUA e na Europa, existir muita desigualdade em termos de quem considera o empreendedorismo como opção, na América Latina esse problema é mais grave.

A dica de Gotthilf para quem está começando a empreender é bem simples: encontrar um problema antes de inventar uma solução. O novo empreendedor deve pensar “qual é o problema que essa startup vai resolver?”. Também é preciso ter foco e clareza em relação ao que se está fazendo, as prioridades da empresa, as métricas que importam, e tentar não desviar a atenção, mesmo que pareça existir oportunidades de todos os lados. A vontade de abraçar o mundo destrói muitas startups.

Ela aconselha o empreendedor a levar a parte de tecnologia e engenharia da startup a sério. Se não souber desenvolver produto, é importante contratar alguém ou virar sócio de quem já tem experiência – ou criar um negócio que não seja um aplicativo.

Por outro lado, para quem está bem no começo e não tem acesso a engenharia, existem cada vez mais recursos “no-code”, que permitem criar protótipos e sites sem conhecimento técnico para avaliar as ideias antes de recrutar.

Fonte: saoluisdofuturo