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Imagem: reprodução |
Próteses impressas em 3D resistentes à infecção serão produzidas e distribuídas aos hospitais do SUS de todo o país
Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2023, mais de 260 mil internações hospitalares na rede pública foram causadas por acidentes de trânsito, sendo 76% envolvendo pedestres, ciclistas e motociclistas. Os acidentes de trânsito ampliam a demanda pelo uso de próteses, pois frequentemente resultam em lesões graves que levam, em muitos casos, à necessidade de amputações ou ao comprometimento irreversível de membros.
Estima-se que cerca de 15 mil implantes de próteses de quadril e joelho sejam realizados anualmente pela rede pública de saúde. Contudo, o uso de próteses traz desafios adicionais, entre os quais se destacam as infecções associadas. De acordo com artigo publicado na Revista Brasileira de Análises Clínicas, próteses utilizadas para correção em cirurgia de coluna vertebral, por exemplo, estão relacionadas a uma taxa de infecção de 2% a 20%.
Essas complicações representam um grande desafio para a saúde pública no Brasil, pois impactam diretamente os resultados de reabilitação e a qualidade de vida dos pacientes, além de aumentar o tempo de permanência deles em hospitais e gerar custos adicionais para os próprios acidentados e para o sistema de saúde.
Esse panorama evidencia a importância de medidas preventivas e protocolos eficazes de controle de infecções. Diante desse desafio, um estudo do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde (PPGCS) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), desenvolveu próteses impressas em 3D resistentes à infecção com custo bem abaixo do verificado no mercado e que pode ser fundamental para a reabilitação do paciente.
A solução envolve a incorporação de um antibiótico ao termoplástico utilizado como polímero nas impressões 3D das próteses. Essa combinação previne a formação de biofilmes, estruturas resultantes da aderência de micro-organismos a superfícies, uma das principais causas das infecções.
“Usamos a tecnologia de impressão 3D com um polímero desenvolvido na PUCPR que, além de apresentar resistência, também contém substâncias que evitam infecções. A liberação do antibiótico de forma prolongada garante um efeito antimicrobiano de longo prazo, o que pode ser valioso para prevenir ou controlar infecções em aplicações ortopédicas”, explica Felipe Francisco Tuon, professor do PPGCS da PUCPR.
Avanço tecnológico na ortopedia
O pesquisador comenta que, até o momento, 15 pacientes já receberam os implantes que previnem infecção e o próximo passo é convocar instituições de todo o Brasil para ampliar os testes clínicos. O potencial da solução foi reconhecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) que aprovou um financiamento de R$ 3 milhões para estruturar um Centro de Impressão 3D na Universidade. As próteses que previnem infecção produzidas na PUCPR serão fornecidas sem custo aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 2025.
Essas próteses ortopédicas são dispositivos desenvolvidos para recuperar a funcionalidade e melhorar a qualidade de vida de pessoas que enfrentam traumas. “A tecnologia de impressão 3D trouxe um avanço significativo nesse campo, permitindo a produção de próteses personalizadas, que não apenas reduzem o tempo cirúrgico e minimizam complicações pós-operatórias, mas também potencializam os resultados nos processos de reabilitação graças à individualização do tratamento”, destaca Tuon.
Publicação
O artigo Antimicrobial Action of a Biodegradable Thermoplastic Impregnated with Vancomycin for Use in 3D Printing Technology (Ação antimicrobiana de um termoplástico biodegradável impregnado com vancomicina para uso em tecnologia de impressão 3D) foi publicado no Brazilian Archives of Biology and Technology.
O artigo é assinado por Tuon, em coautoria com os pesquisadores Celso Júnio Aguiar Mendonça e Jamil Faissal Soni, ambos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), Unidade do Sistema Neuro-Músculo-Esquelético (UNME) e Leticia Ramos Dantas, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), vinculada ao Laboratório de Doenças Infecciosas Emergentes da PUCPR.
Fonte: PG1 / Aline Anile