quinta-feira, 25 de março de 2021

Mercado de carne vegetal e flexitarianismo: como o segmento está no Brasil?

Imagem: Reprodução
O Brasil e o mundo têm produzido carnes vegetais que buscam se assemelhar à animal em sabor, cor e textura.

E se existisse uma alternativa para aquele pedaço de bife que fosse nutritivo, saboroso e ainda diminuísse os impactos ambientais? Graças à tecnologia e seu avanço, novos processos são desenvolvidos todos os dias. Na alimentação não é diferente: o Brasil e o mundo têm produzido carnes vegetais que buscam se assemelhar à animal em sabor, cor e textura.

A chamada “carne vegetal” visa manter o prazer e o apelo visual de ter uma proteína no prato, utilizando menos recursos do planeta e promovendo qualidade de vida. Em entrevista ao G1, especialistas dizem que um dos grandes desafios, neste momento, é tentar entregar ao consumidor brasileiro pedaços inteiros de carne vegetal, como se fossem um bife, por exemplo.

Ainda custa caro

Um grande desafio é tornar esses produtos mais baratos: uma caixa de hambúrguer comum, com 672 gramas, por exemplo, sai por R$ 27 em uma grande rede de supermercados, enquanto a embalagem de 230g do produto feito com plantas custa cerca de R$ 19, segundo o G1. Utilizar mais ingredientes nacionais na produção é uma das estratégias para inverter o cenário.

O Brasil importa toda a lentilha e a maior parte do grão-de-bico e da ervilha, de acordo com o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Esses alimentos, juntamente com a soja – apesar de ser o maior produto de exportação, ainda é processada em outros países -, fazem parte da base proteica da carne vegetal e fazem parte de um grupo chamado “pulses” (sopa grossa), que são as leguminosas altamente ricas em proteínas e fibras.

Contudo, os números ajudam a ilustrar a popularidade da carne vegetal. Segundo estimativa do Barclays, o mercado estimado de carnes à base de planta vai movimentar aproximadamente US$ 140 bilhões até 2030. Atingindo, assim, 10% do valor que a carne animal representa globalmente. De acordo com uma pesquisa do Ibope Inteligência, conduzida em 2018, cerca de 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos. 

O que são flexitarianos?

Se você está pensando que o mercado agrada apenas os vegetarianos e veganos, está enganado: os chamados flexitarianos têm impulsionado mais ainda a nova alternativa. Sem ter uma quantidade de proteína estipulada, o flexitarianismo é baseado numa alimentação equilibrada. A nutricionista Patricia Davidson explica que os flexitarianos consomem uma dieta vegetariana em até 80% do tempo.

Segundo a especialista, devido à flexibilidade há uma melhor socialização pela ausência de alimentos proibidos, o que agrada quem não consegue cortar totalmente a proteína animal. Ela explica que o consumo de vegetais vem crescendo em razão da maior consciência ambiental da população. Assim, o flexitariano acaba impulsionando o mercado de produtos de origem vegetal e é uma constatação de que o movimento está crescendo.

Dados crescem

A ONG The Good Food Institute, que promove alternativas vegetais para carne, ouviu 2 mil pessoas em todo o Brasil, em maio de 2020, e concluiu que metade dos entrevistados afirmou ter diminuído o consumo de carne animal durante o dia ou na semana, nos 12 meses anteriores. Na pesquisa anterior, de 2018, esse percentual era de 29%.

Somente 1% disse que parou totalmente de comer carne animal. Ainda conforme o levantamento, a maioria dos flexitarianos é mulher (58%) e jovem, entre 18 a 34 anos (47%). Outra constatação foi que 37% dos que reduziram dizem estar substituindo a proteína animal por carnes à base de plantas.

Mercado e alternativas

A indústria brasileira já consegue formular alimentos à base de produtos triturados, como os hambúrgueres, nuggets, kibes e linguiça, por exemplo. Agora, segundo o G1, o principal desafio é desenvolver o que a indústria chama de “músculo íntegro”. Cortes inteiros são uma outra questão. Como produzir um pedaço de picanha de origem vegetal?

Janice Ribeiro Lima, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio de Janeiro, explica que já existem técnicas para se obter esses produtos, mas o custo ainda é alto. Então, de acordo com a especialista, o grande desafio é produzir esses cortes inteiros de análogos com qualidade sensorial que agrade o consumidor e com preço acessível.

A indústria alimentícia já conhece diversas plantas compatíveis com a produção desse tipo de alimento em termos nutricionais. Geralmente, como já citado, ela é composta de soja, ervilha e outros ingredientes como beterraba, principalmente nas versões que procuram imitar características de carne animal, como textura, sabor e suculência. 

Renda no campo

O mercado de carne vegetal não tem um bom potencial para gerar renda no campo brasileiro por ainda ser pouco aproveitado, uma vez que boa parte das matérias-primas e produtos prontos são comprados de outros países, mas poderiam ser desenvolvidos aqui, comenta representante do Good Food Institute (GFI).

A demanda dos brasileiros por proteínas vegetais vem aumentando: o avanço da importação de ervilha (+19%), lentilha (+47%) e grão-de-bico (+30%) em 2020, em relação a 2019, comprova isso. Para a especialista do GFI, 2021 é um momento de realismo e de tentar entender os impactos da pandemia de Covid-19 na economia.

Fonte: saoluisdofuturo