Primeiro a pergunta: e por que O Dia da mentira “cai” no Primeiro de Abril? Bom, a história mais verdadeira que eu conheço é esta: até o século XVI o Ano Novo era festejado no dia 22 de março, data que marcava a chegada da primavera. E as festas duravam uma semana e terminavam no dia 1º de abril, data oficial do início do ano.
Mas em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX, da França, determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1º de janeiro. Muitos franceses, sobretudo do interior e do campo (imaginem mudar uma tradição naquela época!) continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano se iniciaria em 1º de abril.
“Gozadores” , então, costumavam ridicularizar esses renitentes e passaram a enviar CONVITES PARA RÉVEILLONS que não aconteciam. Daí, é fácil imaginar o “ha! ha! caiu no primeiro de abril!” Aproximadamente duzentos anos mais tarde, essas brincadeiras se espalharam por toda a Inglaterra e, a seguir, para todo o mundo. No Brasil, o primeiro Estado a “aderir ao programa” foi Pernambuco, onde uma barriga ( furo jornalístico falso) foi publicada no jornal “A Mentira” (tudo a ver), noticiando a morte de D. Pedro II em 1° de abril de 1848!!!
O jornal, obviamente, desmentiu no dia seguinte. E o Imperador tirou de letra: na noite da sua “morte”, jantou em Petrópolis, com a família: canja e duas taças de vinho.
Mas as fake news são muito anteriores a tudo isso. Desde que o alemão (alsaciano) Gutenberg desenvolveu a primeira máquina de impressão, em 1439 e nos anos seguintes, houve um derrame de informações. Como hoje produzem as Redes Sociais. Teve um lado positivo, é óbvio: um século depois, por exemplo, Lutero traduziu a Bíblia do latim para o alemão e com isso conduziu a Reforma Protestante. Mas além de livros, vieram os jornais e os panfletos, com notícias verdadeiras ou … falsas. Não necessariamente por má fé: às vezes por visões distorcidas de fatos históricos, ou de filosofias de vida. Além disso, e como afirma o Pedro Doria em artigo sobre “o fim dos consenso”, quanto mais a informação circula, menos se acredita nas fontes tradicionais e, ironicamente, maior é a tendência a acreditar em histórias estapafúrdias!
Curiosidade: os norte-americanos são tão ligados nesse binômio verdade-mentira e, portanto, temem tanto a exaltação da MENTIRA (nos demais dias do ano), que o Walt Disney criou em 1940 uma versão construtiva da verdade, baseada no livro As Aventuras de Pinocchio (1883) , mostrando para a criançada o quanto mentir pode ser ruim e prejudicial para a vida das pessoas.
Também no Brasil o nosso Ziraldo, mestre da literatura infanto-juvenil (entre outras mestrices como o Caderno B, do Jornal do Brasil, milhões de charges, etc) combateu a mentira através do seu famoso Menino Maluquinho. Em “O Ilusionista”, o personagem descobre o mal provocado por roubar, fingir e mentir.
E no mundo real, (o que nem sempre acontece!) a mentira custou muito caro a um presidente americano, Richard Nixon, que em agosto de 1974 teve que RENUNCIAR à presidência da República dos EUA para não sofrer impeachment, porque mentiu, tentando esconder a sua participação no Caso Watergate.
Bom, quanto a mim, quando “me escapa” alguma inverdade, vou buscar consolo no poeta Mário Quintana quando afirma:
“A mentira (às vezes) é uma verdade que se esqueceu de acontecer!”
Se não prejudicar ninguém, vamos em frente…
Fonte: Coluna do Reinaldo Paes Barreto - JB