terça-feira, 25 de novembro de 2025

Publicidade que não vende é só arte

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Quando a criatividade tem foco em resultado, a chance de sucesso no mundo real mais do que dobra

Nos últimos tempos, tem muito criativo achando que Cannes é KPI. Que trilha bonita, direção de arte conceitual e vídeo com filtro de cinema europeu bastam. Tudo lindo, tudo premiado. Mas ninguém passou no PDV para levar o produto pra casa.

A real é dura e simples: publicidade que não vende é só arte. E das caras.

Criatividade só vira legado quando vira resultado. Não é opinião — é fato. O estudo The Health of Creativity, da WARC, analisou mais de cinco mil campanhas e mostrou que 42% das ideias altamente premiadas em criatividade também foram premiadas por eficácia, enquanto apenas 20% das criativas em geral alcançaram o mesmo resultado. A conclusão é clara: quando a criatividade tem foco em resultado, a chance de sucesso no mundo real mais do que dobra.

Não me entenda mal — prêmio é ótimo. O brilho da estatueta enfeita a estante e massageia o ego. Mas o troféu não paga boleto. Venda, sim. Uma campanha memorável é aquela que gera conversa, gera desejo… e gera faturamento.

E há um desafio interno nas empresas: o relatório Building Belief: What It Takes to Instill a Culture of Creative Effectiveness (WARC + ANA) revela que 71% dos profissionais de marketing afirmam buscar excelência criativa, mas só 37% acreditam ter estrutura para torná-la eficaz. Ou seja, ainda existe um abismo entre o desejo de inovar e a capacidade de gerar resultado real.


Quando a criatividade é estratégia



Um exemplo emblemático é o “Whopper Detour”, do Burger King. A marca usou geolocalização para provocar o concorrente e, ao mesmo tempo, transformar uma mecânica criativa em vendas reais. Em apenas nove dias, o aplicativo registrou mais de 1,5 milhão de downloads, resultado que levou a um salto nas vendas via app e ao maior tráfego em lojas em anos, segundo dados publicados por veículos internacionais. Um caso que mostra como uma boa ideia pode virar resultado imediato no caixa.



Outro exemplo recente é o case “Handshake Hunt” do Mercado Livre. A campanha transformou o ícone do aperto de mãos em uma mecânica promocional ao vivo. 



O projeto conquistou o Grand Prix de Media em Cannes Lions 2024, foi altamente premiado no Effie Brasil 2024 e ainda marcou a maior Black Friday da história da marca — prova de que criatividade e performance podem andar de mãos dadas, literalmente.



E cá entre nós, somos publicitários – não artistas. Ou seja, não adianta nada pintar um quadro, deixar na galeria e ver a peça enfeitando a parede e ninguém comprando. Dá para fazer coisa bonita, criativa, que dá arrepios e ainda assim levar o consumidor às prateleiras ou ao botão de “compra”. E, neste caso, a gente lustra o ego não só com o trabalho perfeito, mas com a felicidade dos clientes que colheram resultados para as suas carreiras, de verdade. A diferença entre “criação” e “criatividade estratégica” está exatamente aí.

O CMO de hoje não precisa de agência que saiba fazer filme bonito. Precisa de um parceiro que entenda de gente, negócio e propósito de marca. Que saiba que “awareness” sem conversão é só vaidade. Que entenda que StorySelling bonito demais sem resultado é só story.

Publicidade boa emociona, engaja e, principalmente, vende.

Porque, no final do dia, o que separa a arte da propaganda é o boleto pago.

E eu sempre preferi pagar boleto com um trabalho que dá borboletas no estômago.

Por Fernando Figueiredo


Fonte: meioemensagem



Conar Suspende Campanhas da BYD e Aplica Advertência por Comparações Agressivas

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Montadora chinesa é punida por alegações de desvalorização e satisfação do cliente sem comprovação robusta; polêmica envolveu provocações diretas à Volkswagen

O Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar) determinou a suspensão e aplicou uma advertência à BYD por campanhas que faziam comparações diretas com veículos concorrentes e apresentavam dados sobre satisfação, pós-venda e desvalorização. A decisão, tomada por unanimidade, marca um ponto importante sobre os limites da publicidade comparativa no mercado automotivo.

As peças publicitárias questionadas incluíam afirmações enfáticas como: a BYD teria uma “reposição de peças 50% mais rápida que concorrentes”; que o modelo Dolphin Mini desvalorizaria “60% menos que a do carro mais vendido do varejo, Volkswagen Polo”; e que a marca ostentava os “clientes mais felizes” ou seria a “nº 1 em satisfação no Brasil”.

Violação dos Limites da Comparação

O Conar considerou que as peças extrapolaram as normas de comunicação ao utilizar pesquisas ou dados que não apresentavam comprovação considerada suficiente ou não estavam enquadrados no contexto necessário para sustentar alegações de cunho absoluto. O órgão regulador também concluiu que a comparação entre veículos de categorias, ciclos de produto e metodologias de análise distintas tinha potencial para induzir o consumidor ao erro.

O processo foi deflagrado após um comercial de televisão da BYD que confrontava diretamente a desvalorização do Dolphin Mini com a do Volkswagen Polo, o modelo de passeio mais vendido no País. O anúncio gerou grande debate e críticas por misturar bases de dados diferentes e colocar em xeque a paridade entre os modelos confrontados, o que atraiu a atenção do Conar. ** A Manobra do "Corte" Cômico**

Após o questionamento inicial, a BYD retirou o filme original do ar, mas lançou uma versão alternativa que manteve a polêmica acesa. Na nova peça, o narrador tentava repetir a frase comparativa, mas tinha sua fala interrompida sempre que o nome do Polo seria mencionado. Em seu lugar, surgiam imagens de jogadores de polo a cavalo – uma alusão indireta, porém clara, que flertava com o limite de comparação sem citação explícita. A decisão de sustação agravada por advertência indica que o Conselho identificou falhas significativas na sustentação das mensagens. Na prática, a medida reforça que, na publicidade comparativa, os dados devem ser ancorados em fontes auditáveis, metodologias equivalentes e um contexto adequado que garanta a proporcionalidade entre os elementos colocados em confronto.

Procurada pelo CORREIO, a Volkswagen afirmou que não comenta casos em andamento. A BYD Brasil informou que prefere não comentar o assunto.

Fonte: ADNEWS


Projetos comunitários impulsionam a geração de renda de microempreendedores em São Luís

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Feirinha do Território e Lembrança de Praia são iniciativas que fortalecem a economia local ao gerar oportunidades para microempreendedores comercializarem seus produtos e transacionarem suas carreiras, preservando o os saberes tradicionais e a cultura ancestral das comunidades

A social tech maranhense Reapp Mobi está desempenhando um papel importante na conexão entre organizações sociais, empreendedores e comunidades locais. Em São Luís (MA), dois projetos apoiados pela plataforma, o Feirinha do Território, promovido pelo Instituto Mariana, e o Lembrança de Praia, desenvolvido em parceria com empreendedores locais, estão fortalecendo a economia solidária e impulsionando o turismo de base comunitária em territórios tradicionais.

“Apoiar projetos em nosso Estado de fundação, fortalecendo-os  financeiramente e com orientação de governança comunitária, é importante para mostrar a potência e capacidade de auto gestão desses territórios para os grandes centros financeiros do país. Que por vezes cercam-se de protetivos administrativos ao apoiar comunidades e organizações distantes de seus escritórios, o que as fazem deixar de lado o principal: as ações efetivas para diminuição das desigualdades", comenta Jovemar Júnior, diretor-executivo da Reapp Mobi.

Feirinha do Território nasceu em 2022 como uma alternativa para empreendedores que perderam renda durante e após a pandemia de Covid-19. O projeto, que reúne de 20 a 25 expositores por edição, oferece uma vitrine para pequenos negócios locais, com produtos que vão desde alimentação e roupas até artesanato.


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“A Feirinha surgiu como uma forma de reunir pessoas que estavam sem renda. Começamos realizando os encontros no espaço Viva, na Cidade Operária, e depois trouxemos as atividades para o Instituto Mariana, onde conseguimos manter o evento”, explica Neuza Ribeiro, CEO do Instituto Mariana.

O projeto, que já beneficiou 42 empreendedores, está passando por uma pausa temporária devido à regulamentação da prefeitura sobre o uso de espaços públicos, mas deve retornar ainda neste ano. “Nossa previsão é retomar a Feirinha no início de novembro ou, no mais tardar, em dezembro, quando o público também está mais animado com as compras de fim de ano”, adianta Neuza.

Para participar, os interessados realizam um cadastro e integram grupos de comunicação, como o WhatsApp, nos quais recebem informações sobre datas, estrutura e seleção. “A estrutura é toda montada por nós. Nós fazemos a divulgação na comunidade e no Instagram do Instituto Mariana, onde as pessoas podem acompanhar as novidades”, completa Neuza.

A parceria com a Reapp Mobi fortaleceu a divulgação e a estrutura do projeto. “Eles estão conosco desde o início, registrando os dados das nossas ações e incentivando o fortalecimento das iniciativas locais”, complementa. 

Turismo comunitário que transforma realidades

Com o apoio da social tech, o projeto Lembrança de Praia ganhou força para promover a sustentabilidade social e econômica em comunidades tradicionais do litoral maranhense. A iniciativa facilita a transição de carreira de moradores de comunidades tradicionais da subsistência para o turismo de base comunitária, unindo gastronomia, cultura e meio ambiente em experiências que valorizam os saberes ancestrais e geram renda local. Voltado à região costeira  de São Luís, o projeto oferece aos visitantes um café da manhã regional feito pela comunidade e experiências  de pesca artesanal e outras atividades tradicionais, fortalecendo o protagonismo das comunidades e o compromisso com a preservação ambiental.

Presente em três comunidades (Araçagy, Olho de porco e Mangue-seco) do Maranhão, a iniciativa atua em parceria com organizações locais, como o Sesc Maranhão, promovendo autonomia e sustentabilidade por meio de capacitações e ações de educação ambiental. A meta é preparar 120 pessoas de comunidades tradicionais para atuar no turismo de base comunitária até 2027. Além disso, o projeto busca articulação com políticas públicas de turismo, cultura e meio ambiente, para garantir recursos e apoio à continuidade das atividades locais.

“Esse projeto trouxe muitos benefícios para o meu estabelecimento e para a comunidade”, conta Nilzete Ferreira, do Cantinho da Nil, empreendedora local e uma das responsáveis pela parte gastronômica do projeto. A cada edição, cerca de oito pessoas trabalham diretamente na experiência, entre cozinheiras, garçons e pescadores da região. “O projeto está trazendo visibilidade para o meu restaurante e para a nossa comunidade. Temos as meninas da cozinha, os garçons que servem e os meninos da vila que participam da demonstração da pesca. Todos estão envolvidos”, relata.

A iniciativa também impulsiona o desenvolvimento profissional dos participantes. “A Reapp foi essencial nesse nosso convívio e visibilidade, porque está trazendo muitas pessoas para o café da manhã, o passeio e a experiência da pesca. Melhorou para mim e para toda a equipe. Investimos mais no café da manhã, aumentamos a qualidade do serviço e tivemos mais movimento. O Lembrança de Praia foi uma das portas que mais deu visibilidade ao restaurante”, complementa Nilzete.

Conexão entre organizações sociais e doadores

Criada no Maranhão, a Reapp Mobi é uma social tech que conecta organizações sociais a empresas e doadores. A plataforma de captação de recursos e governança comunitária nasceu a partir da experiência do publicitário Jovemar Júnior, que decidiu direcionar sua carreira ao fortalecimento do terceiro setor.

Lançado em 2025, o aplicativo da Reapp Mobi foi desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e a Universidade de Lancaster, no Reino Unido, dentro do programa Digital Good Network — sendo a única iniciativa do Nordeste a integrar o projeto. Construída de forma colaborativa com 18 instituições de São Luís, a plataforma já reúne 110 organizações de 12 estados, com meta de chegar a 450 até o fim do ano.

Com uma interface inspirada nas redes sociais, a Reapp já incentivou mais de 25 projetos e distribuiu R$ 4 milhões em recursos, impactando mais de 2.600 famílias em todo o país. A social tech atua alinhada ao ODS 17 da ONU, que busca fortalecer as parcerias para o desenvolvimento sustentável. Mais informações sobre a plataforma estão disponíveis em @reappmobi -  reappmobi.org.


Fonte: DePropósito Comunicação de CausasJéssica Amaral


Ator de "The Big Bang Theory" lança app inovador para preservação de legados e proteção digital de documentos essenciais

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Kunal Nayyar idealizou o IQ121 durante a pandemia para ajudar pessoas a organizar e compartilhar documentos e memórias de forma segura e prática

Kunal Nayyar, ator de Hollywood e idealizador do aplicativo IQ121, conhecido por seu papel na série “The Big Bang Theory”

Durante a pandemia de Covid-19, o ator Kunal Nayyar, mundialmente reconhecido por seu papel na série The Big Bang Theory, enfrentou dificuldades ao organizar a viagem de seus pais da Índia para os Estados Unidos. A complexidade de reunir informações como números de voos, dados de passaporte e confirmações de hotel inspirou a criação de uma solução mais simples e segura para compartilhar essas informações. Foi assim que nasceu o IQ121, um aplicativo inovador voltado para a preservação de legados.

O IQ121 permite que os usuários organizem, armazenem e compartilhem de forma segura seus documentos e ativos digitais mais importantes, facilitando o acesso a registros essenciais por familiares e parceiros de negócios, além de promover conexão emocional por meio de memórias, fotos e vídeos. Quando um ente querido falece, as famílias enfrentam não apenas o impacto emocional, mas também tarefas legais e administrativas complexas. O IQ121 foi desenvolvido para aliviar esse peso, oferecendo conforto, organização e tranquilidade em momentos extremamente difíceis.

Dentro de seu ambiente digital seguro, o aplicativo armazena uma ampla variedade de itens essenciais, incluindo documentos legais como procurações, testamentos e registros de veículos; informações financeiras como dados bancários, investimentos e documentação de aposentadoria; apólices de seguro de vida, bens valiosos e itens de alto valor; registros de propriedades e coleções de joias; prontuários médicos; senhas, perguntas de segurança e instruções de recuperação de contas; diretivas médicas, além de vídeos, fotos, memórias e documentos pessoais como certidões de nascimento e casamento.

“Lidar com o luto já é insuportável; a última coisa que as famílias precisam é sentir-se confusas ou despreparadas. O IQ121 oferece conforto, organização e paz duradoura em momentos inimaginavelmente difíceis”, afirma Nayyar. “Queríamos criar uma forma de orientar qualquer pessoa que enfrente uma perda, com humanidade e dignidade, para que pudessem focar no que realmente importa: homenagear quem se foi e atravessar o luto. O IQ121 dá às pessoas o poder de controlar seu legado, porque toda história merece ser honrada, compartilhada e lembrada.”


Interface do aplicativo IQ121, solução digital segura para organização e preservação de documentos e memórias essenciais - Imagem: reprodução

O aplicativo não é exclusivo para idosos. Pessoas de todas as idades podem tornar-se membros para armazenar e proteger seus registros digitais acumulados ao longo do tempo, e os planos são automaticamente transferidos para sucessores confiáveis, garantindo a preservação e continuidade do legado familiar. “O IQ121 vai além do armazenamento simples de arquivos. É um espaço para preservar o que torna a vida de uma pessoa significativa”, ressalta Tim Ashley Sparks, porta-voz do IQ121. “Os membros podem criar mensagens em vídeo para aniversários futuros ou contar uma história para um neto. O app foi projetado não apenas para planejamento sucessório, mas também para fortalecer conexões e garantir que as memórias perdurem.”

O IQ121 agora oferece um modelo de assinatura simplificado, com armazenamento único de 5 GB, disponível em plano mensal de R$ 27,99 ou plano anual de R$ 259, o mesmo espaço da versão gratuita. Além disso, o aplicativo recebeu melhorias recentes, incluindo uma interface mais limpa e moderna, projetada para uma experiência mais intuitiva; orientação passo a passo que se adapta às metas do usuário; tempos de carregamento mais rápidos e navegação otimizada; maior confiabilidade graças a correções de bastidores; e layouts simplificados com instruções claras para facilitar a realização de tarefas.

A segurança é garantida por criptografia AES-256 de nível militar, a mesma tecnologia usada por bancos e governos. Disponível para iOS e Android, o IQ121 é o único aplicativo de planejamento de fim de vida que suporta seis idiomas principais — inglês, japonês, chinês, espanhol, português e russo — tornando-o acessível globalmente.

Sobre o IQ121

IQ121 (lê-se “IQ One-Two-One”) é um aplicativo digital abrangente e inovador, desenvolvido para ajudar indivíduos, famílias e profissionais a organizarem, gerenciarem e armazenarem com segurança documentos essenciais e ativos digitais. Diante da crescente demanda por soluções digitais seguras e de fácil acesso, o IQ121 oferece um aplicativo completo, com tecnologia de criptografia, que simplifica o planejamento sucessório, a gestão de ativos digitais e a preservação do legado.

Para saber mais, acesse: https://iq121.com/pt/index.html


Fonte: Sing ComunicaçãoVitória Andrade



MALANDRO É MALANDRO! O tribunal da lealdade pessoal

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A indicação de Jorge Messias consolida uma mudança no padrão de indicações ao STF – e não para melhor

A escolha de Jorge Messias para a vaga de Luís Roberto Barroso marca uma transformação no perfil do STF. Não se pode dizer que o tribunal tenha sido sempre uma instância técnica, despolitizada e estritamente republicana. Mas houve, nos últimos anos, uma inflexão. Caso a indicação de Lula seja avalizada pelo Senado, estaremos diante de uma Corte composta por uma maioria de ministros escolhidos sobretudo por sua irrestrita confiança e afinidade pessoal com o presidente da vez. Foi assim nas outras duas indicações de Lula neste mandato (Cristiano Zanin e Flávio Dino), assim como nas duas indicações de Bolsonaro (Kassio Nunes Marques e André Mendonça) e na única de Michel Temer (Alexandre de Moraes). Tudo indica que assim continuará sendo, salvo em situações excepcionais em que o presidente da República esteja enfraquecido demais para emplacar o seu postulante predileto.

Se o indicado tiver também profundo conhecimento jurídico e uma lustrosa biografia, tanto melhor. Alexandre de Moraes, por exemplo, gozava da confiança pessoal de Temer, mas não era definido apenas por ela. Kassio Nunes, ao contrário, era uma figura desconhecida, mas Bolsonaro confiava nele para blindar a si próprio e a seu governo. Moraes e Nunes são a melhor e a pior versão possíveis no leque de possibilidades desse critério de escolha.

Jorge Messias é seguramente inteligente e experiente em assuntos jurídicos da administração pública. Desempenhou bem as funções de advogado-geral da União e soube administrar as pressões que, num cargo tão importante e visível, vêm de todos os lados. Pode se revelar um excelente ministro e crescer na função, como aconteceu com Celso de Mello e Cármen Lúcia. Mas isso não deve nos impedir de constatar que os critérios impostos pela Constituição para a indicação de ministros ao STF – o notável saber jurídico e a reputação ilibada – são hoje secundários. Primordial é a lealdade pessoal que o indicante enxerga no indicado. Essa afinidade tornou-se condição não apenas necessária, mas suficiente para uma indicação.

Quais são as consequências disso para o Supremo? A primeira, e mais evidente: o perfil dos indicados tende a mudar. Dos ministros mais antigos, quais teriam chance hoje de ser indicados ao STF? Cármen Lúcia provavelmente ficaria de fora. Edson Fachin, atual presidente do tribunal, idem. Assim como Luís Roberto Barroso, cuja biografia profissional e intelectual impediram que ele fosse reduzido a mero apadrinhado pessoal de Dilma Rousseff. Esses três ministros foram indicados sem terem um compromisso explícito de lealdade com as pessoas que os escolheram.

Ministros importantes do passado, como Rosa Weber, Cezar Peluso e Sydney Sanches, também não se enquadravam nesse parâmetro. Eram respeitados entre juristas, mas não se esperava deles fidelidade irrestrita ao presidente, até porque isso é coisa que não se pede de um juiz. Muitos deles fizeram carreira em seus estados de origem, longe dos bastidores de Brasília. A confiança que inspiravam era antes pública do que pessoal: um crédito perante a comunidade jurídica e política por méritos de sabedoria, experiência e integridade. Os mesmos méritos que poderiam lhes conferir independência e distanciamento depois de empossados no cargo. 

O novo STF corre o risco de virar um tribunal que premia acima de tudo carreiras políticas de sucesso. De preferência, carreiras construídas em posições de proximidade com o Executivo, sobretudo dentro do próprio governo. Que nomes desse tipo sejam escolhidos não é novidade, mas é novo o risco de se tornarem hegemônicos. Afinal, uma vez aceito que o presidente pode escolher seus indicados por critérios de lealdade e fidelidade pessoal, quem abrirá mão dessa vantagem ao fazer suas indicações? Como Bolsonaro, quase todos querem ter a possibilidade de beber Tubaína com alguém que veste a toga mais importante do Brasil

A segunda consequência disso para o STF é que a falta de diversidade do tribunal deixará de ser apenas de raça e gênero, que já é inaceitável – será também de trajetórias geográfica e profissional. Um advogado baseado em São Paulo dificilmente será alçado ao tribunal, salvo numa circunstância excepcionalíssima como a de Cristiano Zanin, que atravessou um ordálio ao lado do presidente e acabou sendo recompensado por isso. É provável que, cada vez mais, os postulantes ao Supremo sejam figuras de destaque em Brasília, com acesso aos gabinetes da Esplanada. Juízes e promotores de justiça de carreira tendem a sair do mapa, pois suas trajetórias não lhes permitem conquistar tamanho grau de confiança de um presidente da República. O mesmo valerá para juristas especializados em assuntos que não orbitam a política, já que, nesses casos, construir uma carreira de destaque não requer a circulação de bastidores típica de cortes do Antigo Regime.

O Supremo, que nunca foi exemplo de diversidade, será ainda menos. A disputa da vez foi ilustrativa: Messias, Rodrigo Pacheco e Bruno Dantas foram adversários pela vaga, mas são tão diferentes entre si quanto os atores que interpretaram o papel de James Bond no cinema. Representantes distintos de um mesmo personagem.

Essa pasteurização não faz bem ao tribunal. A pluralidade de trajetórias e histórias favorece a deliberação em colegiados de julgadores. Há pesquisas demonstrando que processos por assédio sexual têm desfechos diferentes a depender da presença ou não de mulheres entre os juízes. E também que juízes brancos tendem a ser mais lenientes com acusados brancos do que com negros (juízes negros, enquanto isso, são mais equânimes). Na nossa sociedade, gênero e raça estruturam as experiências de vida, que importam na decisão do julgador.

Cada indicação ao STF deve buscar aperfeiçoar a composição do tribunal. A perda de diversidade de trajetórias de vida, que dão tempero único ao notável saber de cada um dos ministros, conduz ao oposto disso. Em um tribunal que tem por missão a proteção de direitos fundamentais de minorias, a perda é ainda mais dramática.

O maior desafio enfrentado pelo STF desde a redemocratização foi o ataque que sofreu do populismo de extrema direita – e que ainda está em curso. Também por esse aspecto, a mudança no perfil do tribunal pouco ajuda: um grupo de ministros cuja composição espelha o círculo íntimo da elite política acaba dando munição àqueles que o acusam de ser a representação máxima do “sistema”. Fica fácil retratar o STF como uma instância capturada pelos donos do poder, regida por critérios injustos, distante do povo e de seus interesses salvo por alguns ritos performáticos, como transmissões na TV Justiça e audiências públicas. Inimigos do tribunal terão mais facilidade em descredibilizá-lo. A indicação pautada por lealdade e confiança será facilmente desacreditada como um projeto de blindagem pessoal e política. Qualquer voto que beneficie o indicante, seu partido ou seu governo – o que sempre poderá ocorrer, dadas as competências do STF – será posto sob suspeita.

Ataques do gênero são minimizados quando o tribunal é capaz de convencer a sociedade de que seus integrantes são escolhidos por critérios de notoriedade intelectual e integridade pessoal (o que, no caso de juízes, inclui a independência para tomar decisões); que sua composição aproveita o potencial de diferentes trajetórias e experiências, que resultam em veredictos melhores do que qualquer um de seus membros seria capaz de atingir sozinho; que seu funcionamento respeita parâmetros republicanos, inclusive na escolha de seus integrantes; que suas decisões decorrem de critérios transparentes, publicamente controláveis e juridicamente reconhecidos; e que quando sua atuação resvala na política, o que é inevitável pelas características do tribunal, ela não se pauta pela politicagem das afinidades pessoais e dos laços facciosos.

A percepção positiva do Supremo, essa sim sua melhor blindagem contra o extremismo, será reduzida. É ruim que o tribunal acabe visto como o olimpo de bacharéis em direito com carreiras bem-sucedidas na política, onde se cultivam virtudes que não necessariamente combinam com aquelas esperadas da magistratura. Negros e mulheres encontrarão obstáculos intransponíveis se as indicações ficarem restritas a quem, ao longo de anos, conquista confiança em círculos de poder aos quais essas pessoas quase nunca têm acesso. Quem se emocionou com a cena do presidente eleito subindo a rampa com homenagens à diversidade se sente, com razão, passado para trás. Assim crescem a frustração, o ressentimento e a desesperança que servem de adubo ao populismo extremista – cujo maior sonho, no Brasil de hoje, é subjugar o tribunal e seus onze ministros.

Fonte: PIAUÍ


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MANÉ É MANÉ! Jair Bolsonaro é preso preventivamente pela Polícia Federal em Brasília

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A Polícia Federal (PF) prendeu preventivamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em sua casa, em Brasília, no sábado, 22 de novembro, pela manhã, por volta das 6h, e o levou para a sede da superintendência da PF em Brasília. A prisão preventiva foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e ainda não diz respeito ao cumprimento da pena referente à condenação na trama golpista decretada em 11 de novembro de 2025, na qual cumpria prisão domiciliar.

Em nota, a PF limitou-se a informar que cumpriu mandado de prisão preventiva autorizado pelo STF.

Segundo apurou a Agência Pública, Bolsonaro passou por exame de corpo de delito, o que é praxe para quem é detido e ficará em uma sala especial da PF, com 12 metros quadrados, cama, banheiro privativo e ar-condicionado. A previsão é de que o ex-presidente passe por audiência de custódia virtual até este domingo, 23 de novembro.

No pedido do STF que levou à prisão preventiva por descumprimento de medida cautelar, o ministro Alexandre Moraes instruiu a PF que não algemasse o ex-presidente da República e que a ação fosse feita de maneira discreta, sem exposição midiática.

A motivação da preventiva diz respeito à “garantia da ordem pública” e teria sido motivada pela convocação do senador Flávio Bolsonaro, na sexta-feira, 21 de novembro 11, para uma vigília religiosa em apoio ao ex-presidente em frente a seu condômino em Brasília. Em vídeo publicado nas redes sociais, o parlamentar chamava apoiadores para um encontro de oração “pela saúde de Bolsonaro e pela liberdade no Brasil”.


Bolsonaro está preso em sala de 12 metros quadrados na Polícia Federal de
Brasília; do lado de fora, imprensa e curiosos acompanham o movimento neste
sábado, 22 de novembro - imagem: reprodução


Ferro de solda: tentativa de romper tornozeleira eletrônica

A decisão monocrática de Moraes relata que o equipamento de monitoramento eletrônico de Bolsonaro, ou seja, a tornozeleira eletrônica, foi violado à meia-noite. A informação também embasa a decisão, apontando risco de fuga.

“O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025. A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho”, ressaltou Moraes.

Na decisão, Moraes pontuou que “embora a convocação de manifestantes esteja disfarçada de 'vigília', a conduta indica o mesmo “modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu, no sentido da utilização de manifestações populares com o objetivo de conseguir vantagens pessoais”.

“O tumulto causado pela reunião ilícita de apoiadores do réu condenado tem alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu”, frisou.

O ministro ainda afirmou que no vídeo gravado por Flávio, o senador “incita o desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias Instituições, demonstrando que não há limites da organização criminosa na tentativa de causar caos social e conflitos no País, em total desrespeito à DEMOCRACIA”.

Mais tarde, o STF divulgou vídeo no qual Bolsonaro mostra uma tornozeleira danificada. No vídeo, uma servidora da Polícia Penal questiona o ex-presidente:

“O senhor usou alguma coisa para queimar isso aqui?”, pergunta a servidora.

“Meti um ferro quente aí. Curiosidade”, diz o ex-presidente.

“Que ferro foi, ferro de passar?”, pergunta a servidora

“Não, ferro de soldar, de solda”, responde Bolsonaro.

Segundo o relatório da perícia divulgado pelo STF, a informação inicial que os agentes receberam quando chegaram na casa de Bolsonaro para verificar a tornozeleira era que ele tinha batido o equipamento na escada.

Na véspera de sua prisão preventiva, na sexta-feira (21), Bolsonaro havia recebido a visita do deputado federal Nicolas Ferreira (PL-MG).




Da condenação à prisão preventiva

A sentença que condenou Bolsonaro, proferida em 11 de setembro de 2025, marcou a política brasileira por ter sido a primeira vez que um ex-presidente da República foi condenado por liderar uma trama que visava um golpe de Estado. A maioria de 4 a 1 na Primeira Turma do STF – formada por Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin e o voto decisivo de Cármen Lúcia – considerou Bolsonaro o “líder da organização criminosa”, que “utilizou-se da estrutura do Estado brasileiro para implementação do projeto autoritário de poder”, nas palavras do relator, Alexandre de Moraes.

O voto dissidente de Luiz Fux, que absolveu o ex-presidente, tornou-se uma longa nota de rodapé na história do julgamento. A Agência Pública traçou o caminho que detalha de 2018 em diante a trajetória que culminou com os 27 anos e 3 meses de condenação de Jair Bolsonaro.

Fonte: agenciapublica


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